Em uma comunidade onde as escolhas são quase tão pesadas quanto as armas que carregam, Halu, Carlinhos e Matheus comandam o morro com mão firme e um senso de justiça peculiar. Halu, ao lado de seu irmão Carlinhos, luta para proteger os inocentes enquanto enfrenta o passado com Matheus, seu ex-namorado, que a traiu e a marcou com uma dor irreparável. Após a morte trágica da amiga que ele engravidou, Halu se vê assumindo o papel de mãe para a filha deles. Entre lealdade, violência e amores perdidos, esses três herdeiros do tráfico precisam descobrir até onde podem ir para salvar sua comunidade — e a si mesmos.
Ler maisEstava com Carlinha no sofá quando Matheus começou a me fazer uma massagem gostosa. — Aí, amor. Continua assim. — Pedi a ele que continuou com as suas mãos firmes. — Ixi! Daqui a pouco Halú vai gozar no sofá. — Macla estava rindo. — Mamãe, o que é gozar? — Carlinha perguntou e encarei minha amiga e cara feia. — É coisa de adulto meu amor. — Minha pequena apenas assentiu. Dona Jacira nos chamou para comer e agradecemos a ela, Rafaela estava ao meu lado quando meu irmão chegou, ele estava com os olhos vermelhos e o encarei. — Carlos Luiz não me diz que você estava se drogando de novo? — Perguntei a ele que abaixou a cabeça. — Depois tu come meu rabo no esporro, agora tô na ‘mó’ larica. Meu irmão não muda mesmo,já conversei com ele sobre se drogar assim, mas as vezes ele sucumbe a tentação, essa é a merda de quem se enfia nessas merdas. Matheus me encarou sabendo como me sinto quando meu irmão se mete nessas merdas. Carlinha terminou de comer e foi pra sala. — Tamo de olho no f
Hannah Luiza (Halú)O trabalho penal que tínhamos que fazer era denso e cheio de detalhes que podiam definir o futuro do réu na nossa análise fictícia. — Olha, eu ainda acho que a pena poderia ser reduzida se considerarmos o histórico dele — argumentou Rafaela, sublinhando uma passagem do texto com a caneta. Luigi balançou a cabeça, discordando: — Reduzir a pena pode até ser justo, mas o cara precisa pagar pelo que fez. Se a gente considerar só os atenuantes, parece que estamos ignorando o impacto das ações dele. Suspirei, colocando o papel de lado: — Mas, Luigi, a justiça não é só sobre punir. É sobre reabilitar também. Se apresentarmos um bom argumento, podemos mostrar que ele merece uma chance de se reintegrar. Não dá para tratar todo mundo como um caso perdido. Estávamos nesse vai e vem há quase uma hora, quando senti uma mãozinha tocar meu braço. Virei para ver Carlinha ao meu lado, segurando seu ursinho de pelúcia. — Mamãe, me dá colo? — ela pediu, com aquele olhar
Matheus (MT)Acordar com a Halu do meu lado era uma das poucas certezas boas que eu tinha na vida. Halu sempre teve a cabeça mais no lugar do que Luizinho e eu. Levantei e fui direto pra cozinha. O café da manhã era minha forma de compensar por tudo que eu fiz a ela. Fiz panquecas porque sabia que Carlinha adorava, e o sorriso dela quando chegou à mesa valeu a correria.Mas o melhor momento não foi ela me chamar de "papai". Foi ver Halu rindo enquanto cortava a panqueca pra Carlinha.Depois de deixar as duas na escola, eu sabia que o dia ia ser pesado. O "dia do arrego" era sempre assim. Um risco aqui, outro ali. Mas, quando eu vi a Halu preocupada, prometi que ligaria se algo desse errado. Claro que era mentira. Não porque eu não queria falar com ela, mas porque eu sabia que, se ela soubesse de qualquer problema, ia largar tudo pra resolver por conta própria. O dia começou tranquilo até a ligação do Pé de Pano. Fuba tinha sido pego pelos canas. — Qual foi do B.O, por que agarraram
O despertador tocou cedo demais e, ao tentar me mexer, percebi que Matheus estava com um braço pesado sobre mim.— Você vai me deixar levantar ou pretende me prender aqui o dia todo? — perguntei, empurrando de leve seu braço.— Cinco minutos a mais — ele murmurou, com os olhos ainda fechados.— Matheus... — insisti, mas ele me puxou para mais perto.— Tá bom, tá bom. Vou levantar. Mas só se você me der um beijo de bom dia.Revirei os olhos, mas atendi ao pedido. Ele finalmente se mexeu, me soltando.Enquanto eu seguia para o quarto de Carlinha para acordá-la para a escola, Matheus ficou na cozinha começando a preparar o café. Quando voltei com ela pronta, ele estava terminando de servir panquecas. O cheiro delicioso já tomava conta do ambiente.— Uau, papai, isso tá com uma cara boa! — Carlinha exclamou animada enquanto subia na cadeira.— É porque fiz com amor — ele respondeu, piscando para mim.Carlinha comeu rapidamente, conversando sobre a escola, as amigas e o que planejava fazer
A aula foi bem cansativa, e quando cheguei em casa, Carlinha ainda estava acordada. Assim que me viu, ela correu e pulou no meu colo. Olhei para Matheus, que estava sentado no sofá, sorrindo.— Não me olha assim, ela quis te esperar — explicou ele, dando de ombros.— E você, como um bom pai, não a colocou na cama? — perguntei, cruzando os braços.Ele soltou uma risada baixa.— Essa menina é igual a você, uma pestinha. Mandei deitar três vezes, mas ela não quis.— Mamãe, não briga com o papai! — Carlinha protestou, me olhando com aqueles olhinhos pidões. — Eu não quis dormir porque queria te esperar. Achei que você não ia voltar mais.Senti um aperto no coração com aquelas palavras e a abracei apertado.— Não precisa se preocupar, filha. Sempre que eu precisar me afastar do seu pai, prometo que vou te levar comigo.— Você promete de dedinho? — ela perguntou, estendendo o mindinho.Sorri e entrelacei meu dedo no dela.— Prometo.Carlinha virou-se para Matheus e falou com a inocente petu
Hannah Luiza (Halú)Estava chegando no estacionamento da faculdade quando avistei Vanny descendo do carro de um rapaz. Assim que me viu, ela sorriu e veio em minha direção.— Haluzinha! Tudo bem com você? — perguntou com a habitual energia, e eu assenti.— Não sabia que estava trabalhando por aqui.— E não estou. Estava com Fael, ele me deu uma carona. Na verdade, queria conversar com você. Está com tempo?Pelo jeito que ela me olhava, percebi que era algo sério. Só esperava que não tivesse nada a ver com o meu irmão. Caminhamos até uma lanchonete próxima e nos sentamos.— Han, quer um suco de melancia? — perguntou ela.— Sabe que não resisto.— Vou pedir para nós duas. — Ela chamou o garçom e, assim que ele saiu, me encarou. — Como está o Luizinho? Macla me contou que ele foi baleado.— Sim, semana passada. Tivemos um confronto complicado no Morro do Farinha. Ele e o Matheus foram baleados de raspão.Vanessa suspirou profundamente, o olhar perdido por um instante.— Fiquei muito preo
Matheus (MT)Acordei com o barulho de risadas lá na cozinha. Eu estava com um pouco de dor ainda, mas nada que me impedisse de acordar e ir atrás deles. Halú estava lá, com aquele sorriso que só ela tinha, enquanto os outros conversavam como se fosse um domingo qualquer.Pulei da cama, me espreguicei e fui direto para a cozinha. Cheguei e vi Carlinha pulando em cima de Halú, tentando dar um abraço enquanto ela preparava o almoço. Não resisti e soltei um sorriso besta. Ela estava com o coração leve, como sempre, e isso me fazia sentir bem, embora eu tivesse os meus próprios fantasmas para lidar.— E aí, meu amor, já acordou? — Halú perguntou com um sorriso maroto, ainda segurando Carlinha no colo.— Tô acordado. Só tô pensando na dor que senti ontem; os caras não estão brincando mais. — Respondi, me encostando na porta da cozinha.— Não exagera, Matheus. — Carlinhos falou, mas eu sabia que ele estava só me zoando, como sempre. — Vai parar de ser criança e ajuda a arrumar essa casa.— A
Acordei no dia seguinte morrendo de dores nas costas, porque Matheus praticamente dormiu em cima de mim. Fiz as minhas higienes e preparei o café para todos, liguei a televisão e fiquei assistindo até que a cambada de preguiçosos se levantasse.— Oi, amor, por que você acordou cedo? — Matheus perguntou olhando para mim.— Você praticamente dormiu em cima de mim. Acordei com falta de ar por sua causa.— Foi mal aí, por isso tava tão gostoso. — Ele se levantou e foi até o banheiro. Eu continuei assistindo TV até que ele retornou. — Agora tô cheiroso. — Ele me colocou no colo e ficamos nos beijando.— Ah, não! A gente acorda de manhã e vocês já tão se agarrando? Vão caçar um quarto pra trepar! — Minha amiga falou, e Matheus fez uma cara feia.— Mais respeito, porque tu tá na minha casa. — Ela fez língua para ele, que retribuiu. Os dois estavam parecendo duas crianças do jardim.— Parem de palhaçada, porra! — Meu irmão gritou, já com seu péssimo humor matinal.— Crianças, vão tomar banho,
Hannah Luiza (Halú)Não acredito que aqueles desgraçados estão tentando invadir de novo! Como eu queria ir lá e acabar com pelo menos uns cinco deles. A raiva que eu sinto é tão grande que nem sei explicar.— Amiga, o que foi? — Macla perguntou enquanto caminhávamos para a casa do Matheus.— Tô puta, amiga. Queria ir lá e acabar com aqueles desgraçados, mas tenho que ficar em casa feito uma “dondoca”. Eles sabem que eu sei atirar bem, mas ainda assim me deixam de fora. — Apertei a arma na mão, frustrada.Estávamos quase chegando quando aparece um cara do morro do Farinha. Nem pensei: antes que ele tivesse a chance de puxar o gatilho, fui mais rápida e descarreguei a minha arma nele.— Credo, amiga! Você é terrível. — Macla disse, rindo.— Você não viu nada. Ela matou um cara com seis anos. Eu tava lá e vi tudo acontecer. — João comentou com aquela cara de sempre. Ele tá na tropa desde os tempos do meu pai e do meu tio.— Deixa isso pra lá. Bora logo pra casa do Matheus. Tô preocupada