Em uma comunidade onde as escolhas são quase tão pesadas quanto as armas que carregam, Halu, Carlinhos e Matheus comandam o morro com mão firme e um senso de justiça peculiar. Halu, ao lado de seu irmão Carlinhos, luta para proteger os inocentes enquanto enfrenta o passado com Matheus, seu ex-namorado, que a traiu e a marcou com uma dor irreparável. Após a morte trágica da amiga que ele engravidou, Halu se vê assumindo o papel de mãe para a filha deles. Entre lealdade, violência e amores perdidos, esses três herdeiros do tráfico precisam descobrir até onde podem ir para salvar sua comunidade — e a si mesmos.
Ler maisPor Hannah LuizaAcordei na manhã seguinte com uma leve dor, lembrando da noite intensa que passei. Fui ao banheiro e fiz o que precisava. Não vi Matheus na cama, mas desci às pressas assim que senti o cheiro de café, e meu estômago roncou.Nada poderia ter me preparado para a cena deliciosa que vi: Matheus estava de costas, preparando o café, enquanto Carlinha, sentada à mesa, se deliciava com pão e chocolate.— Bom dia, loirinha. — Ele disse ao me ver se aproximando, e me deu um beijo.— Eca! — Carlinha fez uma careta, e rimos.— Isso mesmo, filha, só pode pensar nisso com trinta anos. — Matheus brincou, arrancando gargalhadas de mim.— Bom dia, mamãe! — Carlinha ergueu os braços para mim. Aproximei-me, dei-lhe um abraço e um beijinho na bochecha, que ficou ainda mais rosada com o sorriso dela.— Bom dia pra você também, meu amor. Eu amo você, sabia? — Toquei seu nariz e ela sorriu.— E o pai dela? — Matheus se aproximou sorrindo, e eu o observei por um momento.— Vamos ver como as
Por Matheus (MT)Finalmente, convenci a Halu a ir para casa comigo. Quando chegamos, ela foi direto para o banheiro tomar banho, e eu fui até a dona Cida para pagar por ter ficado com a Carlinha. Quando tem baile, geralmente a Halu fica com nossa filha, mas, como ela foi pro baile, não podia cuidar, e eu não gosto que a Carlinha fique lá, vendo o pessoal usando droga ou se agarrando um com o outro. Também sei que a Halu chutaria minhas bolas se eu fizesse isso.Dou um beijo na minha filha e volto para o quarto. Minha mulher sai do banheiro só de toalha, secando o cabelo. Que visão gostosa! Ela sorri ao ver como eu a olho.— Tira foto, que dura mais — ela ri pra mim. — Pra quê tirar foto, se posso ver ao vivo? — respondo, me aproximando e acariciando o pescoço dela, mas Halu me empurra.— Sabe que precisamos conversar, né? — Ai, caralho, eu aqui com um tesão da porra, e ela querendo conversar… que porra.— Assim, você estraga o clima — digo, meio emburrado, e vou para o banheiro toma
Por Carlos Luiz (Luizinho)Finalmente, parece que a Halu e o MT tão se acertando. A história desses dois é longa pra caramba, mas o maior culpado é o MT, que traiu minha irmã. Eu sempre soube que aquela Malu não prestava. Ela vivia se jogando pra cima dele, e ele, por mais que tentasse desviar, uma hora acabou caindo. Justo no dia que a Halu não foi pro baile, a Malu viu que ele tava mal de droga e fez de tudo pra ficar com ele. Conseguiu até engravidar, achando que ele ia virar fiel dela, mas não adiantou nada. O coração do MT só tem espaço pra uma.Como irmão, sei que tenho que proteger minha irmãzinha, mas ela se vira sozinha e sabe atirar melhor do que eu e o MT juntos. Não é só porque é minha irmã, mas a Halu é braba mesmo, meio doida até. Se quisesse, comandava o morro melhor que nós dois juntos, porque, além de ser justa, tem a dose certa de maldade.— Qual foi, mano, tá com cara de quem tá pensativo demais aí — o MT aparece, querendo me zoar.— Vai pra lá, porra! Só tava pensa
Por Hannah LuizaO baile estava bom, e Matheus e eu estamos tentando nos acertar. Claro que estou com os dois pés atrás; ele costuma agir como um idiota, e sei que confiar de novo não será fácil. Mas estou disposta a tentar.— Que foi, minha loira? Você ficou estranha? — Matheus pergunta, tentando atrair minha atenção.— Nada demais. Só pensando em algumas coisas.Ele afasta meu cabelo e começa a beijar meu pescoço. Nesse momento, Macla vê a Vany chegando e me puxa para descermos, mesmo com os protestos de Matheus.— Para de graça, MT, você vai ter muito tempo pra agarrar minha amiga.Ele resmunga algo, mas ela nem liga. Corremos para abraçar a Vany, que quase não aparece mais no morro.Pouco tempo depois, Macla volta e a música "Favela Chegou", da Ludmilla e Anitta, começa a tocar.— Vamos arrasar, meninas! — Vany diz, e nos jogamos na dança.A Bruna e suas seguidoras se aproximam, e eu já sabia que o barraco ia começar.— Olha só, se não é a puta e as projetinhos de vadia — Bruna di
Por Matheus (MT)O baile começou, e eu estava na beca, já que minha mulher estaria presente hoje. Sei que tô errado, que fico com umas outras por aí, mas o amor da minha vida é a Hannah, e ela sabe disso, só que não quer dar uma moral pra gente.— Que cara é essa, mano? — Luizinho se aproxima e me entrega um copão de energético com vodka.— Tava pensando na minha vida.— Sua vida se chama Halu, mano. Vocês têm que se acertar logo pro bem de todos, ninguém aguenta mais esse chove-não-molha.— Eu também não aguento, mas sua irmã não colabora — digo, dando um teco no baseado que ele me entrega.— Quem não colabora é tu, que fica pegando essas outras aí, traiu ela e ainda arrumou uma filha.— A filha é nossa — digo, ficando puto.— A filha é tua. Minha irmã ama a Carlinha, mas ela não é mãe de verdade.— Mas, se ela trata a Carlinha como filha, então ela é a mãe, e pronto. Foda-se o que os outros pensam. Mãe é quem cria, e a Halu faz isso muito bem, mesmo eu sendo vacilão.Luizinho ia res
Por Hannah Luiza Por volta das dez horas, Macla invade minha casa com seu kit de maquiagem, e começamos a nos arrumar para o baile. Assim que terminamos, Gigante buzina lá fora, e subimos em sua moto.— Amiga, vamos nos acabar essa noite! — diz Macla, empolgada, quando chegamos ao baile.— Com certeza! Não vim toda produzida para fazer menos.Entramos no baile, e o DJ nos vê imediatamente, mandando um salve:— Salve, salve, rapaziada, que a nossa rainha chegou!Ele solta a música e, ao ouvir os primeiros acordes de “Vermelho” da Gloria Groove, arrasto minha amiga para o meio da pista, e começamos a nossa coreografia. Descíamos até o chão e subíamos no ritmo da música. Os meninos nos aplaudiam e, quando olhei para o camarote, vi Matheus seguindo cada movimento meu. Eu sabia que estava arrasando, especialmente pelo jeito como Bruna e suas seguidoras me encaravam. Ela seguiu meu olhar até o camarote e fechou a cara ao ver Matheus me devorando com os olhos. Sorri debochadamente para ela
Por Matheus (MT)Mais um dia de confronto na favela, esses cuzões estão achando que vão conseguir tomar o morro, mas tão tudo fudido. — Coé, Pé de Pano, passa a visão! — falo para um dos vigias. — Aê, patrão! Os filhos da puta tão tudo recuando.— Fica na atividade aí, senão já sabe que sobra pra tu.Finalmente conseguimos fazer os caras recuar e, dessa vez, sem perder ninguém do nosso lado. Porra! O pai lá do céu nos protegeu, porque os caras tavam armados até os dentes, mas nós somos mais preparados, tá ligado?Tava fazendo a ronda quando vejo a Halú subindo. Sei que ela tá indo pra escola, então tento puxar um papo, mas a mina me trata frio. Ela nem liga pras minhas cantadas e segue o caminho dela.A gente tinha um lance maneiro, coisa firme mesmo, tá ligado? Mas o idiota aqui fez merda. Um dia, no baile, ela não foi, e eu acabei enchendo a cara, usando tudo quanto era droga que via pela frente. Vacilei feio e acabei transando com uma das amigas dela. Foi um caos. A mina ficou gr
Por Hannah Luiza Macla, Carlinha e eu descemos o morro até a pracinha. Deixo Carlinha brincando no escorregador e me sento ao lado de Macla, que ainda está irritada com Bruna. Digo a ela que aquele projeto de “puta” nem vale o esforço do ranço. Conversamos mais um pouco, e minha amiga insiste para que eu vá ao baile hoje à noite. Mesmo dizendo que não estou com vontade, ela continua insistindo tanto que acabo cedendo, especialmente depois que ela reclama que faz tempo que não apareço.Estávamos ainda conversando quando ouço o choro de Carlinha. Levanto-me rapidamente para socorrê-la. — Mamãe, eu e minha coleguinha caímos — ela diz, mostrando o joelhinho ralado. Compro uma garrafinha de água para limpar o machucado e coloco um curativo no local. — Você é uma boa mãe — comenta a mãe da outra menina, sorrindo. — Tento fazer o meu melhor — respondo, sorrindo de volta.Carlinha pede para tomar um sorvete, e vamos até a sorveteria. Depois de saborear o doce, digo que é hora de irmos p
Por Hannah Luiza Pulei da moto ainda em movimento e vi o menino com um buraco de bala nas mãos. Ainda bem que ele está vivo. — Carlinho, o que está fazendo? — pergunto, me aproximando do menino. — Ladrãozinho não se cria aqui — Matheus responde com um baseado na mão. — Ele é só uma criança e estava com fome. Não precisava disso tudo! Era só ter dado uma advertência. — Halu, tu não pode proteger a favela inteira. — Meu irmão me olha friamente. — Solta ele agora! — olho para meu irmão. — Qual foi? Acha que manda em alguma porra aqui? — CARLOS LUIZ CHAVES, SOLTA ESSE MENINO AGORA!! Olho para meu irmão e vejo que ele está drogado. Toda vez que mistura entorpecentes, perde um pouco a razão, dificultando o diálogo. — Sai daqui, Halu! — ele diz, apontando a arma para o menino. Em um ato de valentia vindo de onde não faço ideia, entro na frente. — Se vai atirar nele, terá que atirar em mim primeiro. — Mas que caralho, Halu, sai da frente agora! — Não! — olho dentro do