Em uma comunidade onde as escolhas são quase tão pesadas quanto as armas que carregam, Halu, Carlinhos e Matheus comandam o morro com mão firme e um senso de justiça peculiar. Halu, ao lado de seu irmão Carlinhos, luta para proteger os inocentes enquanto enfrenta o passado com Matheus, seu ex-namorado, que a traiu e a marcou com uma dor irreparável. Após a morte trágica da amiga que ele engravidou, Halu se vê assumindo o papel de mãe para a filha deles. Entre lealdade, violência e amores perdidos, esses três herdeiros do tráfico precisam descobrir até onde podem ir para salvar sua comunidade — e a si mesmos.
Ler maisCarla Cristina (Carlinha)(Quinze anos Depois) Parece que foi ontem que eu era aquela menininha que mal entendia o que estava acontecendo ao meu redor. Agora, aqui estou eu, cheia de responsabilidades e amores, vivendo no meio da loucura que é a minha família.Meus irmãos, Matheus Miguel e Matheus Luiz ou Themi e Thelu, como todo mundo os chama, agora têm nove anos. E, sinceramente, eles não mudaram muito desde os tempos de "terroristas". Aliás, acho que só pioraram. Esses dois conseguem tirar qualquer um do sério, especialmente nossa mãe.Minha mãe é um exemplo. Advogada criminal, super requisitada, vive correndo de um lado para o outro, lidando com casos complicados e ainda achando tempo para ser mãe. Mas, às vezes, eu juro que ela parece ter mais paciência com os criminosos que defende do que com Themi e Thelu. Não que eu a culpe; os dois têm o dom de testar os limites de qualquer ser humano.E tem a Maria Sther, minha irmãzinha de dois anos. Um verdadeiro anjo! Sempre sorrindo,
Hannah Luiza (Halu)Quase dois anos se passaram desde que minha vida virou de ponta-cabeça com a chegada dos meninos. Matheus Miguel e Matheus Luiz, os "terroristas" como o pessoal gosta de chamar, estão maiores, mais ativos e mais cheios de energia do que nunca. Se eu achava que lidar com o morro era difícil, é porque ainda não conhecia o desafio de correr atrás de dois moleques com energia infinita.Além de ser mãe, estou na reta final da faculdade de Direito e eu estou contando os dias para me formar. Mas confesso, não é fácil. Entre a escola que trabalho meio expediente, a ONG que lidero, as responsabilidades com o morro ao lado do Matheus e do meu irmão Luizinho, tem dias que eu só queria dormir uma semana inteira.Lembro claramente do momento em que decidi me envolver mais diretamente no morro. Foi no meio do ano passado, quando Luizinho quase morreu em um confronto com os caras da Baixada. Ele ficou três meses em coma, e eu vivi os piores dias da minha vida. Perder o Luizinho s
Matheus (MT)Os dias que seguiram ao nascimento dos meninos foram um turbilhão. Entre visitas, ajustes e noites sem dormir, eu e Halu estávamos aprendendo a navegar nesse novo mundo com dois bebês em casa. No entanto, hoje era um dia especial. Decidimos fazer uma festinhas com os parças mais chegados para apresentar os meninos oficialmente. O quintal estava decorado de forma simples, com balões e luzes penduradas. Carlinha corria de um lado para o outro, animada. Luizinho e Gigante estavam na churrasqueira, enquanto Macla organizava as mesas. Halu apareceu na porta, com os dois bebês nos braços. Ela estava linda, mesmo com as olheiras que nenhum corretivo conseguia esconder. Todos se reuniram ao redor dela, e o silêncio tomou conta do lugar. — Obrigada por estarem aqui. Vocês são parte da nossa família, e queríamos compartilhar esse momento especial com vocês. — disse, emocionada. Segurei um copo de cerveja na mão enquanto olhava pro quintal cheio. Só tinha maluco que eu co
Hannah Luiza (Halu)Acordei com a luz suave do amanhecer entrando pela janela do quarto. Matheus estava sentado ao lado do bercinho, os olhos fixos nos meninos. Ele parecia absorto, como se estivesse tentando gravar cada detalhe. Meu coração se aqueceu ao vê-lo assim. Quem diria que aquele homem durão se derreteria desse jeito?— Não dormiu? — perguntei, minha voz ainda rouca do cansaço.Ele se virou e sorriu.— Dormir pra quê, se posso ficar olhando pra essas belezas aqui?Ri baixinho e estendi a mão. Ele se levantou e a segurou, beijando minha palma com carinho.— Você é incrível, sabia? — ele disse, sentando ao meu lado.— Não mais do que você. — Respondi, sincera.Nossa conversa foi interrompida pela chegada de Carlinha, acompanhada de Macla. Minha pequena entrou no quarto com um brilho nos olhos e correu até mim.— Mamãe! — disse antes de me abraçar.— Vem cá, minha princesa. — A abracei com força, sentindo sua energia vibrante.Quando ela viu os irmãos, seus olhos se encheram de
Matheus (MT)Eu ainda estava processando tudo o que tinha acontecido. Quando Halu me ligou avisando que os bebês iam nascer, meu coração disparou de um jeito que parecia que ia sair pela boca. O medo, a ansiedade e a felicidade se misturaram como uma tempestade. Eu sabia que esse momento ia chegar, mas nada, absolutamente nada, poderia me preparar para o que senti quando vi meus filhos pela primeira vez.A imagem de Halu, suada, exausta, mas com um brilho nos olhos enquanto segurava nossos dois meninos, nunca sairia da minha cabeça. E quando os médicos colocaram aquele primeiro pequeno ser nos braços dela, foi como se todo o universo tivesse parado. O choro dele ecoou pelo quarto, e algo dentro de mim desmoronou. O gigante que eu sempre fui se tornou nada diante daquela cena. Eu chorei. Eu, Matheus, o brucutu, chorei feito uma criança.Depois que o segundo bebê nasceu, e ouvi o choro dele, a emoção só aumentou. Meu coração parecia que ia explodir. Eles eram tão pequenos, tão frágeis,
Dois meses haviam se passado, e minha barriga parecia ainda maior. O cansaço já era parte da rotina, mas, com tudo que eu tinha para fazer, não sobrava tempo para ficar parada. Apesar de tudo, eu estava ansiosa e animada com a chegada dos meus bebês. Estava sentada no sofá da sala, conversando com Macla, minha vizinha e amiga de longa data, quando senti uma dorzinha na barriga.— Ai... — Levei a mão à barriga, tentando disfarçar.— O que foi isso, Halu? — Macla perguntou, alarmada, me encarando com preocupação.— Acho que está na hora. — Respondi, tentando manter a calma.— Na hora? Como assim? Você está só com oito meses, mulher! — Ela se levantou num pulo, já agitada.— Eu sei... Mas estou sentindo que é a hora. — Respirei fundo e peguei meu celular para ligar para Matheus.O telefone chamou algumas vezes até que ele atendeu com aquela voz despreocupada de sempre.— Fala, amor. Onde você tá? — perguntei.— Tô com o Luizinho recebendo um carregamento grande. Tá tudo bem aí?— Acho qu
Os meses passavam, e minha barriga só crescia. Estava com seis meses de gestação, mas parecia que já estava com oito. A barriga estava enorme, a fome era de umas oito pessoas, e o cansaço era triplicado, mas nada disso me impedia de seguir com minha rotina. Eu ia para a faculdade, trabalhava meio período na escola, participava do projeto e ainda havia começado meu estágio com o professor Lopes. Além de tudo isso, eu ainda dava atenção à Carlinha, que, de uns tempos para cá, começou a sentir ciúmes, achando que Matheus e eu não daríamos mais atenção a ela. Ah, sem contar que ainda ajudava a cuidar do meu morro. Inclusive, mesmo depois de Matheus e Luizinho terem mandado um papo sério para o Riva, lá do morro do Jaguar, eu mesma também mandei meu recado. Já deixei bem claro que estou grávida, mas não morta.Matheus vive louco, dizendo que estou me esforçando demais, mas minha obstetra garantiu que estava tudo bem comigo. Disse que eu estava saudável e que era só continuar me cuidando.—
Hannah Luiza (Halu)A noite estava calma, e o silêncio da casa era quase hipnotizante. Matheus já tinha apagado há algum tempo, assim como a Carlinha. Mas eu… eu não conseguia pregar o olho. Estava cansada, mas a fome era maior. Sabe aquela vontade repentina de comer algo específico? Pois é, exatamente isso. Levantei devagar, tentando não fazer barulho. Matheus dormia profundamente, com a respiração pesada e um braço jogado sobre o rosto. Ele parecia um anjo assim. Mas, naquele momento, minha prioridade era outra: comida. Desci as escadas com cuidado, o chão gelado sob meus pés me arrepiando. A cozinha estava escura, iluminada apenas pela luz da rua que passava pela janela. Abri a geladeira e encarei os potes, tentando decidir o que queria. Tinha bolo, suco, um restinho de carne… mas o que me chamou mesmo a atenção foi o pote de geleia e o pão na bancada. Peguei tudo e comecei a preparar um sanduíche, mordendo os lábios de ansiedade. Era engraçado como a gravidez mudava a gente.
Matheus (MT)O som do carro ecoava baixo enquanto eu subia a ladeira. Meu coração ainda tava acelerado com a notícia de que eu ia ser pai de dois moleques. Dois! Caralho, era bom demais pra ser verdade. A Halu tava exausta, então deixei ela em casa pra descansar. Dei um beijo nela antes de sair, prometendo não demorar.Agora era hora de subir pro “escritório”. O morro não parava, e, mesmo com as melhores notícias do mundo, eu sabia que precisava resolver uns assuntos. Quando cheguei, os caras já estavam na esquina, fazendo o tradicional toquinho.— Olha quem chegou! O rei do morro e agora pai dos príncipes! — gritou Dudu, me zoando enquanto batia no peito em respeito.Dei risada e bati de volta.— Tá ligado, né, irmão? Dois pivetes pra tocar o terror aqui!Os caras riram, e fizemos o toquinho rápido antes de eu seguir pro barraco onde ficava o “escritório”. O Luizinho já tava lá, de pé, mexendo no celular. Assim que me viu, largou o aparelho e veio me cumprimentar.— MT! Já fiquei sab