Capítulo Seis 

Por Hannah Luiza 

Por volta das dez horas, Macla invade minha casa com seu kit de maquiagem, e começamos a nos arrumar para o baile. Assim que terminamos, Gigante buzina lá fora, e subimos em sua moto.

— Amiga, vamos nos acabar essa noite! — diz Macla, empolgada, quando chegamos ao baile.

— Com certeza! Não vim toda produzida para fazer menos.

Entramos no baile, e o DJ nos vê imediatamente, mandando um salve:

— Salve, salve, rapaziada, que a nossa rainha chegou!

Ele solta a música e, ao ouvir os primeiros acordes de “Vermelho” da Gloria Groove, arrasto minha amiga para o meio da pista, e começamos a nossa coreografia. 

Descíamos até o chão e subíamos no ritmo da música. Os meninos nos aplaudiam e, quando olhei para o camarote, vi Matheus seguindo cada movimento meu. Eu sabia que estava arrasando, especialmente pelo jeito como Bruna e suas seguidoras me encaravam. Ela seguiu meu olhar até o camarote e fechou a cara ao ver Matheus me devorando com os olhos. Sorri debochadamente para ela e continuei a dançar.

Quando a música terminou, Gabriel e Gigante se aproximaram, e logo começou a tocar “Chama Ela”, da Lexa com Pedro Sampaio. Macla e eu puxamos os meninos para dançar. Estava de costas quando senti alguém me tocar, e pela reação do meu corpo, eu sabia exatamente quem era.

— Sua “mulher” está bem ali, nos olhando com cara de cú — digo apontando discretamente para Bruna.

— Minha mulher é você. Não sei por que não aceita isso. — Ele respondeu, alisando meu pescoço e deixando um beijo.

— Gosto disso — digo, me virando para ele, que me olha sem entender. — Quando você fala comigo sem aquela quantidade absurda de gírias.

Ele ri e, por alguma ironia do destino, “Malvadão” do Xamã começa a tocar. Matheus cola nossos corpos ainda mais.

— Você sabe que essa música é nossa, né?

— Sabia, não.

— Está sabendo agora. — Ele me vira e me dá um beijo na nuca. Puta que pariu, se ele continuar assim, não vai dar certo.

— Relaxa, gata! Todos sabem que somos um casal.

— As pessoas estão sabendo mais da minha vida do que eu.

— A gente já tem até uma filha juntos; só falta você dormir comigo.

— Meu querido, tira seu pangaré da chuva. — Digo, esfregando minha bunda contra ele, que solta um gemido.

— Porra, Halu! Se continuar assim, eu não aguento.

— Não usa nossa filha pra tentar me convencer de alguma coisa. E, aliás, pode esquecer esse negócio de dormir comigo.

— Eu disse que quero você comigo todo dia, Halu. Para de cú doce e fica comigo.

— Você foi o responsável pelo nosso término, querido. Mudando de assunto, preciso falar com você sobre a Bruna.

— Já sei o que ela fez. Carlinha me contou tudo, e pode ficar tranquila que ela não tem mais acesso lá na nossa casa.

— Corrigindo: sua casa.

— Não vai mesmo dar moral pro bandido aqui?

— Vamos parar de falar e dançar, que é a melhor coisa que fazemos. — Assim que digo isso, Matheus me puxa e me beija. 

Eu deveria negar o beijo e sair de perto dele, mas o meu corpo traçoeiro me traiu, aprofundamos e beijo e em um momento de lucidez me afastei de que protestou. 

— Amiga, larga seu homem um minutinho e vem comigo. — Macla me puxou para longe como uma salvadora. 

— Eu precisava sair de perto de Mateus. — Digo a minha amiga que riu de mim debochada. 

— Vocês estavam quase se pegando na frente de geral e agora tá me dizendo que precisava se afastar? Contar outra, miga que essa tá furada. — Minha amiga ainda ria.  — Por que não pega a mão dele e assume logo, vocês se gostam e tem muito tesão acumulado. 

— E muita tensão também. — Digo a ela. 

Pegamos nossas bebidas e demos um giro pelo baile cumprimentando nossos conhecidos e conversando com algumas pessoas, fazia um bom tempo que eu não socializava assim com eles. E lembro de como meus pais adoravam vir ao baile e interagir com a comunidade e os parceiros de outros morros, sei que se passaram muitos anos, mas tem dias que sinto muito falta dos meus pais e hoje é um dia desses. 

— Amiga, o que foi? Está tendo um flashback com você e o MT fodendo até o dia raiar? — Minha amiga gargalhava enquanto eu revirava os olhos. 

— Não pense idiotices, vamos voltar para a pista de dança e curtir um pouco mais. — A puxei para que ela calasse a boca. 

Quando chegamos no centro da pista o DJ pôs músicas animadas e demos tudo de nós na pista, minha amiga, depois de um tempo estavamos cansadas demais e sentamos para descansar um pouco. 

— Por que não vamos para o camarote? — Minha amiga perguntou. 

— Depois subimos lá, vamos aproveitar um pouco aqui. 

Na verdade, não estava muito afim de estar lá em cima com Matheus naquele momento. 

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