Por Hannah LuizaO baile estava bom, e Matheus e eu estamos tentando nos acertar. Claro que estou com os dois pés atrás; ele costuma agir como um idiota, e sei que confiar de novo não será fácil. Mas estou disposta a tentar.— Que foi, minha loira? Você ficou estranha? — Matheus pergunta, tentando atrair minha atenção.— Nada demais. Só pensando em algumas coisas.Ele afasta meu cabelo e começa a beijar meu pescoço. Nesse momento, Macla vê a Vany chegando e me puxa para descermos, mesmo com os protestos de Matheus.— Para de graça, MT, você vai ter muito tempo pra agarrar minha amiga.Ele resmunga algo, mas ela nem liga. Corremos para abraçar a Vany, que quase não aparece mais no morro.Pouco tempo depois, Macla volta e a música "Favela Chegou", da Ludmilla e Anitta, começa a tocar.— Vamos arrasar, meninas! — Vany diz, e nos jogamos na dança.A Bruna e suas seguidoras se aproximam, e eu já sabia que o barraco ia começar.— Olha só, se não é a puta e as projetinhos de vadia — Bruna di
Por Carlos Luiz (Luizinho)Finalmente, parece que a Halu e o MT tão se acertando. A história desses dois é longa pra caramba, mas o maior culpado é o MT, que traiu minha irmã. Eu sempre soube que aquela Malu não prestava. Ela vivia se jogando pra cima dele, e ele, por mais que tentasse desviar, uma hora acabou caindo. Justo no dia que a Halu não foi pro baile, a Malu viu que ele tava mal de droga e fez de tudo pra ficar com ele. Conseguiu até engravidar, achando que ele ia virar fiel dela, mas não adiantou nada. O coração do MT só tem espaço pra uma.Como irmão, sei que tenho que proteger minha irmãzinha, mas ela se vira sozinha e sabe atirar melhor do que eu e o MT juntos. Não é só porque é minha irmã, mas a Halu é braba mesmo, meio doida até. Se quisesse, comandava o morro melhor que nós dois juntos, porque, além de ser justa, tem a dose certa de maldade.— Qual foi, mano, tá com cara de quem tá pensativo demais aí — o MT aparece, querendo me zoar.— Vai pra lá, porra! Só tava pensa
Por Matheus (MT)Finalmente, convenci a Halu a ir para casa comigo. Quando chegamos, ela foi direto para o banheiro tomar banho, e eu fui até a dona Cida para pagar por ter ficado com a Carlinha. Quando tem baile, geralmente a Halu fica com nossa filha, mas, como ela foi pro baile, não podia cuidar, e eu não gosto que a Carlinha fique lá, vendo o pessoal usando droga ou se agarrando um com o outro. Também sei que a Halu chutaria minhas bolas se eu fizesse isso.Dou um beijo na minha filha e volto para o quarto. Minha mulher sai do banheiro só de toalha, secando o cabelo. Que visão gostosa! Ela sorri ao ver como eu a olho.— Tira foto, que dura mais — ela ri pra mim. — Pra quê tirar foto, se posso ver ao vivo? — respondo, me aproximando e acariciando o pescoço dela, mas Halu me empurra.— Sabe que precisamos conversar, né? — Ai, caralho, eu aqui com um tesão da porra, e ela querendo conversar… que porra.— Assim, você estraga o clima — digo, meio emburrado, e vou para o banheiro toma
Por Hannah LuizaAcordei na manhã seguinte com uma leve dor, lembrando da noite intensa que passei. Fui ao banheiro e fiz o que precisava. Não vi Matheus na cama, mas desci às pressas assim que senti o cheiro de café, e meu estômago roncou.Nada poderia ter me preparado para a cena deliciosa que vi: Matheus estava de costas, preparando o café, enquanto Carlinha, sentada à mesa, se deliciava com pão e chocolate.— Bom dia, loirinha. — Ele disse ao me ver se aproximando, e me deu um beijo.— Eca! — Carlinha fez uma careta, e rimos.— Isso mesmo, filha, só pode pensar nisso com trinta anos. — Matheus brincou, arrancando gargalhadas de mim.— Bom dia, mamãe! — Carlinha ergueu os braços para mim. Aproximei-me, dei-lhe um abraço e um beijinho na bochecha, que ficou ainda mais rosada com o sorriso dela.— Bom dia pra você também, meu amor. Eu amo você, sabia? — Toquei seu nariz e ela sorriu.— E o pai dela? — Matheus se aproximou sorrindo, e eu o observei por um momento.— Vamos ver como as
Por Hannah Luiza — Mamãe, o que está acontecendo? — pergunto ao ouvir barulhos de tiros.— Meu amor, está havendo uma invasão. Vou levar você para o cofre.— Não, mamãe, eu quero ficar com você, por favor! Por favor! — choramingo.— Filha, vou te colocar no cofre e ajudar o seu pai e seu tio. Saiba que eu te amo muito! Não abra para ninguém, entendeu?Ela me coloca no cofre, e eu começo a chorar. Por que o Matheus e o Carlinhos tinham que estar na escola? Por que eu tinha que ficar naquele lugar sozinha?— Tá bom, mamãe.Fico ali dentro sozinha, enquanto os tiros não cessam. Subo no banquinho que tem ali e abro o cofre para dar uma espiadinha lá fora. Assim que saio, vejo meu pai caído, ensanguentado, e minha mãe, com lágrimas nos olhos, apontando uma arma para um homem que a ameaça com uma arma também. Um desespero profundo toma conta de mim, e eu grito seu nome. Ela me vê, se estremece e diz um "eu te amo". O resto acontece rápido demais: dois disparos, e minha mãe e o outro home
Por Hannah Luiza Acordo cedo, faço minha higiene e me preparo para mais um dia de trabalho. Preparo um café e arrumo minha mochila. Logo, minha amiga me envia uma mensagem.“Halú, cuidado, amiga. Os meninos estão no alvoroço.”“Valeu, Macla, vou ficar na ativa.”Assim que travo o celular, os tiros começam. Nem sempre o morro é desse jeito, mas de uns tempos pra cá tem acontecido com frequência, e tudo culpa da facção rival, que quer tomar o controle daqui.Moro no Rio de Janeiro, especificamente na rua Gregory Copper, vulgo Morro do Chipre. Nome chique para uma favela.— Halú, se protege e não sobe pra escola, não! — meu irmão grita da minha janela.— Valeu! Vou esperar normalizar e subir. Cuidado aí.— Pode deixar, mana. — Ele solta uma lufada de ar, como sempre, e vai embora.Dia de tiroteio não me traz boas recordações. Meu irmão é o subchefe do morro. Na verdade, eu também sou uma subchefe. Já explico pra você entender melhor.Meu irmão, Carlos Luiz, é conhecido como Luizinho; no
Por Hannah Luiza Não demora muito, e Carlinhos chega com Matheus. Eles me procuram, e, assim que me veem, caminham na minha direção.— Vocês podem, por favor, abaixar as armas? — digo a eles, que me encaram. — Estão assustando as meninas.— Pedindo com esse jeitinho, eu faço qualquer coisa — Matheus responde com uma de suas gracinhas de sempre.— Sendo assim, então se mate, por favor — retruco, tentando manter um tom fofo, e ele sorri de lado.— Se eu fizer isso, você vai sentir falta do pai aqui — ele provoca, e eu reviro os olhos.— Vamos parar com esse papinho de casal, porra! Halu, o que aconteceu? Algum vizinho viu que porra aconteceu aqui? — Carlinhos interrompe.— Primeiro, maneira no palavrão, estamos numa escola. Segundo, não sei. Vou chamar a Rita; foi ela quem chegou primeiro e talvez tenha visto algo.Chamo Rita para falar com os meninos, e ela se aproxima, mais pálida do que já é. Vendo o desconforto dela, faço um sinal para Carlinhos, que entende e coloca o fuzil atrás
Por Hannah Luiza Pulei da moto ainda em movimento e vi o menino com um buraco de bala nas mãos. Ainda bem que ele está vivo. — Carlinho, o que está fazendo? — pergunto, me aproximando do menino. — Ladrãozinho não se cria aqui — Matheus responde com um baseado na mão. — Ele é só uma criança e estava com fome. Não precisava disso tudo! Era só ter dado uma advertência. — Halu, tu não pode proteger a favela inteira. — Meu irmão me olha friamente. — Solta ele agora! — olho para meu irmão. — Qual foi? Acha que manda em alguma porra aqui? — CARLOS LUIZ CHAVES, SOLTA ESSE MENINO AGORA!! Olho para meu irmão e vejo que ele está drogado. Toda vez que mistura entorpecentes, perde um pouco a razão, dificultando o diálogo. — Sai daqui, Halu! — ele diz, apontando a arma para o menino. Em um ato de valentia vindo de onde não faço ideia, entro na frente. — Se vai atirar nele, terá que atirar em mim primeiro. — Mas que caralho, Halu, sai da frente agora! — Não! — olho dentro do