Capítulo Cinco

Por Matheus (MT)

Mais um dia de confronto na favela, esses cuzões estão achando que vão conseguir tomar o morro, mas tão tudo fudido. 

— Coé, Pé de Pano, passa a visão! — falo para um dos vigias. 

— Aê, patrão! Os filhos da puta tão tudo recuando.

— Fica na atividade aí, senão já sabe que sobra pra tu.

Finalmente conseguimos fazer os caras recuar e, dessa vez, sem perder ninguém do nosso lado. Porra! O pai lá do céu nos protegeu, porque os caras tavam armados até os dentes, mas nós somos mais preparados, tá ligado?

Tava fazendo a ronda quando vejo a Halú subindo. Sei que ela tá indo pra escola, então tento puxar um papo, mas a mina me trata frio. Ela nem liga pras minhas cantadas e segue o caminho dela.

A gente tinha um lance maneiro, coisa firme mesmo, tá ligado? Mas o idiota aqui fez merda. Um dia, no baile, ela não foi, e eu acabei enchendo a cara, usando tudo quanto era droga que via pela frente. Vacilei feio e acabei transando com uma das amigas dela. Foi um caos. A mina ficou grávida, e a Halú terminou comigo direto. Minha filha é meu orgulho, porra! Ela e a Halú têm uma conexão, parecem até mãe e filha de verdade. Carla chama ela de mãe, mas, mesmo curtindo minha filha, Halú não quer papo comigo. Tento me aproximar, mas ela sempre me corta. Desde então, larguei as drogas pesadas, só dou um tapinha num baseado de vez em quando. É foda perder alguém especial na vida.

Não demora e vejo o Luizinho subindo em direção à escola. Pergunto qual foi o caô.

— Porra, mano! A Halú me mandou vir, parece que invadiram a escola e roubaram dois computadores.

— Vamo' lá desenrolar essa fita.

Chegamos e a Halú chama a tia, que tremia que nem vara verde. Perguntamos o que rolou, e ela conta tudo que sabe. A tia tava com mó medo, e Halú falou pra gente que era por causa do fuzil. Brinco com a tia e ela dá uma relaxada. Saímos pra fazer os corre.

Depois de meia hora, o Fala Fino manda um recado no radinho, dizendo que achou o moleque. O garoto não deve ter mais de dez anos, e tá chorando, dizendo que não vai fazer de novo. Como sou coração mole, lavo as mãos e deixo a decisão pro Luizinho.

Ele saca a arma e dá um tiro na mão do moleque, que começa a chorar. Enquanto isso, enrolo um baseado e fico só assistindo, mas tudo muda quando a Halú chega na garupa de um dos vapores. Ela entra na frente do moleque, e o Luizinho, cheio de pó nas ideias, quase meteu uma bala na testa dela. Ela teria morrido se eu não tivesse arrancado a arma da mão dele.

Depois que o caos se resolve, ela desce de moto com o vapor, levando o moleque. Os vapores me passaram a visão: ela comprou comida, remédio e levou o moleque pro postinho e depois pra casa. Halú é igual à minha tia, que sempre tentava ajudar a favela toda. Ela vive correndo pra resolver as merdas dos outros.

Vou pro escritório e, assim que chego, a vadia da Pamela entra, perguntando se quero me divertir. Rapidão, arreio as calças e boto ela pra mamar. Quando acabo, dou uma nota de cem pra ela, que sai sorrindo, mas sem ganhar beijo, que aqui é profissionalismo. Essas putas só pensam em dinheiro.

Dona Gema manda a comida, e como já tô na larica, corro pra forrar o estômago. Chamo o VT e mando ele pagar tudo que devemos na pensão.

A gente é bandido, mas é honesto, se ligou?

Vejo Luizinho chegando e jogando o corpo na cadeira.

— Qual foi, mano? — pergunto ao ver a cara de cú dele.

— Porra! Tenho que falar com a Halú. Sou um drogado de merda, como é que apontei a pistola pra minha irmãzinha?

Vejo que ele tá puto com o que fez mais cedo.

— Já te mandei o papo pra diminuir com as drogas. A gente que é chefe tem que tá com a mente boa.

— Tô ligado, mano! Vou dar uma parada nessas merdas, mas, porra! A Halú sabe como eu fico quando uso as paradas e entrou na frente, me desafiando na frente dos caras. Cê queria o quê? Que eu aceitasse de boa? Sou bandido, sujeito homem, não vou ficar sendo capacho de mulher.

— Pra começar, sua irmã também é uma de nós. Só questão de tempo pra ela se juntar de vez.

— Tá doido, cara? Se ela se juntar, a gente tá fodido. Sabe que ela é muito pior que nós dois. Quando ela tá pra maldade, adora umas torturas, e, sem contar, atira melhor que a gente junto.

— Tá com medo da sua irmã? — pergunto, rindo da cara dele.

— Claro que não, seu cuzão. Vou lá falar com ela, quero ficar de boa.

— Ela saiu com a Carlinha e a Macla. Os vapores já me avisaram, e tenho um na cola, caso precise agir.

— Sabe que minha irmã não vai gostar nada disso, né? — ele diz, e eu bufo.

— Qual foi, mano? Tô garantindo a segurança da minha filha e da minha mulher.

— Que eu saiba, sua mulher tá em casa e se chama Bruna.

— Aquela lá é pra trepar. Só sua irmã é mulher pra amar e cuidar.

— Não sei por que vocês não se acertam logo.

— Porque ela não quer. Mas sou paciente e vou ficar rodeando até ela aceitar o bandido aqui de volta.

— Vai tentando que um dia dá.

Ele ri da minha cara e eu mostro o dedo do meio. Meu vigia avisa que as meninas chegaram, então chamo o Carlinhos pra colar lá.

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