Herdeiros do Tráfico
Herdeiros do Tráfico
Por: S.R.Silva
Prólogo

Por Hannah Luiza

— Mamãe, o que está acontecendo? — pergunto ao ouvir barulhos de tiros.

— Meu amor, está havendo uma invasão. Vou levar você para o cofre.

— Não, mamãe, eu quero ficar com você, por favor! Por favor! — choramingo.

— Filha, vou te colocar no cofre e ajudar o seu pai e seu tio. Saiba que eu te amo muito! Não abra para ninguém, entendeu?

Ela me coloca no cofre, e eu começo a chorar. Por que o Matheus e o Carlinhos tinham que estar na escola? Por que eu tinha que ficar naquele lugar sozinha?

— Tá bom, mamãe.

Fico ali dentro sozinha, enquanto os tiros não cessam. Subo no banquinho que tem ali e abro o cofre para dar uma espiadinha lá fora. Assim que saio, vejo meu pai caído, ensanguentado, e minha mãe, com lágrimas nos olhos, apontando uma arma para um homem que a ameaça com uma arma também.

Um desespero profundo toma conta de mim, e eu grito seu nome. Ela me vê, se estremece e diz um "eu te amo". O resto acontece rápido demais: dois disparos, e minha mãe e o outro homem caem no chão. Corro até ela e vejo que meu pai já está morto e minha mãe, agonizando.

— Fi-Filha... o-obe...deça seu... tio e cui-cuide… do s-seu ir-irmão.

Foi a última coisa que ela me disse antes de abraçar o corpo do meu pai e fechar os olhos. Eu gritei, implorei para que ela ficasse comigo, mas sabia que ela não estava mais ali, que o que restava era apenas seu corpo sem vida.

O homem tentou se levantar, mas estava gravemente ferido. Com lágrimas escorrendo, peguei a arma da minha mãe e atirei na cabeça dele. Em seguida, soltei o objeto e continuei chorando, abraçada aos corpos dos meus pais. Finalmente, os tiros cessaram, e eu vi meu tio chegar correndo, me tirando daquele meio.

Enquanto meu tio me arranca dos corpos dos meus pais, tudo ao meu redor se torna uma névoa confusa. Eu ainda sinto o peso da arma nas mãos, o cheiro de pólvora no ar, o gosto salgado das lágrimas no rosto. Minhas mãos tremem, e meu peito dói como se estivesse sendo esmagado. Olho para o rosto do meu tio, e vejo nele a mesma dor que sinto, mas ele tenta ser forte por mim.

— Vamos, Hannah. Precisamos sair daqui — ele diz com a voz embargada, puxando-me com cuidado para fora da sala.

Tudo parece um borrão. Passamos por corredores destruídos, paredes com marcas de tiros e móveis derrubados. Vejo rostos conhecidos — seguranças que estavam sempre por perto — deitados no chão, inertes. Tento não olhar muito tempo, porque cada rosto me lembra de que nunca mais verei meus pais. Meu tio me carrega nos braços quando finalmente chegamos a um carro que nos espera na saída.

Assim que o carro arranca, ainda sinto meus olhos fixos na casa que está ficando para trás. É como se um pedaço de mim estivesse sendo arrancado ali, deixando apenas uma ferida aberta que nunca irá se curar. Meu tio segura minha mão firmemente, e percebo que, mesmo tentando ser forte, ele também está destroçado.

— Tio… o que vai ser da gente agora? — pergunto com a voz fraca, sem saber o que fazer.

Ele suspira profundamente, sem soltar minha mão.

— Eu vou cuidar de você, Hannah e do Carlinhos. Eles ainda não sabem… mas vamos superar isso. Seus pais amavam vocês mais do que tudo, e eles gostariam que vocês ficassem bem.

Abracei meu tio com todas as forças que me restavam, desejando que aquele abraço fosse suficiente para afastar toda a dor, todo o vazio. Eu sabia, mesmo sendo pequena, que nada voltaria a ser como antes.

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