Quando Denis e Ana morrem tragicamente, deixam para trás não apenas a pequena Alice, mas um testamento que vira o mundo de Alby, e Isaías, de cabeça para baixo. Marcada por um passado de traições e feridas ainda abertas, Alby se vê obrigada a dividir a tutela de Alice com Isaías, o irmão do homem que um dia destruiu seu coração. Isaías, consumido pela raiva e pelo peso de ser um herdeiro solitário, encara a situação como um fardo imposto. Entre acusações inflamadas e verdades dolorosas, eles são forçados a enfrentar as cicatrizes do passado enquanto aprendem a lidar com a inocência e o amor de uma criança que depende deles para ter uma família. Conforme o convívio os empurra para a beira de seus próprios limites emocionais, Alby e Isaías descobrem que, às vezes, os laços mais improváveis podem surgir das tragédias mais profundas.
Leer másAlguns anos depois A azia não dava trégua. Desde que aquela maldita dor começara, Alby tentou de tudo: chá de ervas, remédios naturais, e até os comprimidos que eu trouxe com a certeza de que resolveriam o problema. Eu me via correndo de um lado para o outro, suando frio, com um semblante de preocupação estampado no rosto. Tudo o que eu queria era que ela ficasse bem, e nada parecia funcionar.— Isaías, não precisa exagerar — Alby me disse com uma voz calma, mas exasperada, enquanto eu observava ela se revirando na cama.— Exagerar? — Eu estava quase entrando em pânico. — Você mal comeu hoje e essa azia não passa. Eu não vou esperar mais. Vamos ao hospital.Antes que ela pudesse protestar, já a ajudei a levantar, quase a conduzindo para o carro como se fosse uma criança. Minha cabeça estava em um turbilhão de pensamentos. O que se passava com ela? Por que ela estava assim? Por que ela não estava melhorando?Eu dirigia sem
O som das ondas quebrando contra a areia era quase hipnotizante. A lua alta no céu refletia sua luz prateada sobre o mar tranquilo, criando um cenário mágico que parecia saído de um sonho. Mas não era um sonho. Era real. Era nossa lua de mel.Eu estava na varanda da nossa suíte, sentindo a brisa morna acariciar minha pele enquanto observava Isaías dentro do quarto, ocupado em abrir uma garrafa de vinho. Cada movimento dele era deliberado, cheio de uma calma encantadora que me fazia sorrir. Ele sempre parecia tão seguro de si, mas ali, sob o brilho suave das velas espalhadas pelo quarto, havia algo diferente nele. Algo mais leve. Como se, por um momento, todas as pressões do mundo tivessem se dissipado.Quando ele finalmente se aproximou, carregando duas taças, seus olhos escuros brilharam com algo indescritível. Um sentimento que fez meu coração acelerar. Ele me entregou uma das taças e, antes que eu pudesse levar o vinh
O altar, os votos, as palavras trocadas... tudo parecia fluir em um ritmo próprio, como se o tempo tivesse decidido parar para nos dar uma chance de sentir cada segundo. Quando o beijo foi trocado, aplaudido por todos ao redor, o mundo parecia ter se ajeitado em sua ordem natural. Era como se, finalmente, todas as peças do quebra-cabeça estivessem se encaixando. Eu e Isaías, depois de tantas lutas internas e externas, estávamos finalmente nos tornando algo sólido, real. Mas foi então que olhei para ela, para Alice, nossa princesinha, e a emoção que se apossou de mim foi tão forte que eu mal conseguia respirar. Alice, com o vestido de daminha que parecia brilhar com a pureza de sua alma, olhava para nós com aquele olhar sincero e cheio de amor. Ela havia sido nossa menina desde o momento em que entrou em nossas vidas, mas agora, ali, diante de todos, ela parecia ser a peça que faltava
O dia amanheceu com uma suavidade que eu nunca tinha imaginado possível. O céu estava limpo, sem nuvens, e a brisa suave de outono entrava pela janela do nosso quarto, trazendo consigo uma sensação de paz que me envolvia. Eu estava nervosa, é claro. O coração batia rápido, e minhas mãos, que há instantes estavam tranquilas, agora tremiam levemente. Mas, ao mesmo tempo, havia uma felicidade tão imensa dentro de mim que qualquer medo parecia pequeno demais para me afetar.Era o dia do nosso casamento. O dia que nós dois esperávamos, cada um de um jeito diferente, mas com o mesmo desejo ardente de nos entregarmos completamente um ao outro. O que antes parecia um sonho distante, agora estava aqui, a poucos passos de se tornar realidade. E, mesmo com tudo o que passamos, com as inseguranças e os obstáculos que surgiram, o que importava era que, finalmente, estávamos juntos, prontos para construir nossa vida.Isaías ainda estava dormindo ao meu l
Ele ergueu os olhos lentamente, encontrando os meus, e naquele momento, vi algo que ele nunca havia deixado transparecer: uma vulnerabilidade crua, quase palpável. — A verdade, Alby... — Ele respirou fundo, como se reunisse forças para continuar essa batalha interna — A verdade… é que eu nunca deixei de pensar em você — Seus olhos se encheram de uma mistura de dor e intensidade que me atingiu como uma onda. — Cada noite, cada maldito segundo que se passava, eu revivia aquele momento. A forma como eu te deixei para trás... como eu escolhi a saída mais fácil. Isaías esfregou as mãos no rosto, os ombros caídos como se carregassem um peso insuportável. — Eu me odiava — A voz dele quebrou, e por um instante, parecia que ele estava à beira de desmoronar. — Ainda me odeio, na verdade. Porque eu não fui forte o suficiente. Porque, em vez de lutar por você, escolhi fugir. Escolhi preservar a mim mesmo da dor, quando deveria ter feito qua
Despertei com Isaías ao meu lado e foi uma sensação maravilhosa.Logo seus olhos me alcancaram e ele me puxou para si.Me refugiei em seus grandes braços e me senti em casa. — Alby, preciso falar sobre algo, antes de sairmos desse nosso momento.Eu fiquei esperando, não iria interromper seja lá o que ele estava prestes a falar. Isaías respirou fundo antes de começar, seus olhos fixos no horizonte como se buscasse coragem em algum lugar além da realidade. A tensão em seus ombros era visível, e sua voz, quando veio, era baixa, quase um sussurro carregado de emoções pesadas. — Alby, eu não consegui te explicar... — ele hesitou, mordendo o lábio, como se as palavras fossem difíceis demais de sair. — Mas eu acho que agora você merece saber. Eu fiquei em silêncio, esperando por suas palavras.— O dia em que você foi levada pelos rebeldes… eu nunca me senti tão impotente na minha vida — Ele fechou os olhos, como se revivesse o momento.
Eu estava ali, em frente a Isaías, na mesa onde acabávamos de compartilhar uma refeição simples, mas que, de alguma forma, nos uniu de uma maneira tão profunda que eu ainda não sabia como explicar. Os olhares trocados, o silêncio preenchido por uma tensão que não podia mais ser disfarçada, uma intensidade sutil que parecia crescer a cada segundo.Nossas carícias, nossos beijos estavam nos levando a algo mais. Era como se o ar tivesse ficado mais quente, e eu me dei conta de que não era só a comida que estava sendo digerida ali, mas algo mais profundo. Algo que ambos sentíamos, mas que até então não ousávamos dizer em palavras.Ele estava ali, tão perto de mim, os olhos fixos nos meus. Tudo o que eu precisava estava bem diante de mim: ele. E, naquele instante, foi como se o tempo tivesse desacelerado. Não havia mais nada ao nosso redor, a casa, a mesa, o jantar. Nada disso importava.Foi então que ele se aproximou ainda mais, seu movime
Eu havia saído apressada para uma reunião, deixando Isaías sozinho em casa com Alice. Naquele momento, sentia uma ansiedade. Não que eu duvidasse dele, mas ver os dois juntos ainda era algo novo para mim. Isaías estava se acostumando com o papel de tio, e eu com o de observadora, tentando compreender as mudanças que estavam acontecendo na nossa vida. No entanto, ao voltar para casa, fui tomada por uma surpresa inesperada. A porta estava entreaberta, e à medida que eu adentrava, percebi a casa em uma luz suave, uma atmosfera acolhedora que parecia ter surgido do nada. O cheiro delicioso de comida no ar logo tomou conta de meus sentidos, e me vi caminhando sem pressa, como se o tempo tivesse desacelerado naquele momento. A mesa estava posta com todo o cuidado, pratos e talheres brilhando à luz suave das lâmpadas. E lá estava Isaías, de avental, sorrindo para mim, com uma expressão que transmitia tran
Alice já estava melhorando, a febre que antes parecia não ceder agora não passava de um vestígio, e os vômitos, que pareciam intermináveis, haviam cessado. Ela ainda estava fraca, mas seu sorriso, ainda frágil, era o suficiente para encher o ambiente de uma luz renovada. Ela tinha vencido a batalha, e agora tudo o que precisávamos fazer era garantir que ela descansasse, que se recuperasse completamente. Dei alta a ela, pois o ambiente hospitalar em situações assim não é favorável e como eu iria cuidar dela pessoalmente durante todo o tempo, achei melhor agir com prudência. E assim, levamos Alice para a casa, em uma ambulância, o que deixou a pequena eufórica. Eu sabia que ela iria gostar da viagem na ambulância, o que eu havia pensado aconteceu. Alby me perguntou se era necessário, falei que não, que era apenas mais uma aventura para Alice poder contar aos amigos. E Alby balançou a cabeça, sabendo que eu esta