10 Uma escolha

Isaías estava de pé, com o rosto fechado, e as palavras saíam dele como facas afiadas, cortando qualquer vestígio de esperança que eu ainda pudesse ter.

— Não vou fazer isso, senhorita Leclerc. Não tenho o menor interesse em cuidar da minha sobrinha. Faça o que for melhor para ela, porque claramente, eu não sou esse "melhor". É mais justo para Alice ter uma família que realmente a queira, que a ame, do que ser jogada aos cuidados de um tio que nem sequer a conhece.

Eu podia sentir minha respiração ficar mais pesada, as palavras dele me atingindo como um golpe.

Como alguém podia ser tão cruel? Tão... vazio?

— Você está falando como se ela fosse um fardo! — gritei, a voz transbordando de indignação.

— Ela é só uma criança, Doutor Castellar! Sua sobrinha! Sangue do seu sangue! Como pode dizer isso com tanta frieza?

Ele cruzou os braços, o olhar inabalável.

— Você não entende, senhorita Leclerc. Cuidar de uma criança não é simplesmente dar comida e teto. Requer tempo, dedicação, paciência... coisas que eu não tenho. E, sinceramente, prefiro que ela seja colocada em uma família que possa dar isso a ela, do que viver comigo, uma pessoa que não pode lidar com uma criança nesse momento.

— Não é questão de poder! — eu explodi, sentindo meu corpo inteiro vibrar de raiva.

— É questão de querer! Você está tentando se livrar de qualquer laço emocional, Doutor Castellar. Tudo para não sair da sua zona de conforto! Denis confiou em você, ele acreditava que poderia haver algo de bom aí dentro, mas você está provando exatamente o contrário.

Ele ergueu as mãos em rendição, com um sorriso sarcástico.

— Que seja. Se Denis realmente me conhecia, sabia que eu nunca iria querer isso. E é por isso que estou sendo honesto agora. Não vou me forçar a fazer algo que não posso sustentar. Alice merece mais do que isso. Ela merece alguém que a ame de verdade, e não alguém que a veja como uma obrigação.

Essas palavras me quebraram.

Eu tremia de raiva, de frustração.

Como ele podia falar sobre amor quando estava simplesmente desistindo?

Abandonando a menina que, em algum lugar, devia estar esperando que a família dela viesse buscá-la?

— Você é inacreditável... — murmurei, a voz falhando.

— Como pode se ouvir e não sentir vergonha? Alice já perdeu os pais, e agora você quer que ela perca a única família que ainda tem? Como pode ser tão egoísta?

Ele se virou para mim, os olhos faiscando com algo entre a raiva e a indiferença.

— Eu não sou egoísta, senhorita Leclerc. Sou realista. Não vou mentir para mim mesmo nem para ninguém. Não tenho o que é necessário para cuidar dela. E não vou me desculpar por isso. Talvez em seu mundo de “Alice, no país das maravilhas”, as coisas sejam rosas e doces. Mas aqui, na vida real, não é bem assim que acontece.

Eu estava à beira de perder o controle.

Tudo dentro de mim gritava, e eu queria, mais do que nunca, que ele visse o erro monstruoso que estava cometendo.

Ele continuava firme, com sua máscara de frieza intocada.

Com seus argumentos toscos e sem noção.

Eu não poderia deixar essa pequena ser jogada no meio de estranhos, por mais difícil que fosse, eu não iria deixar isso acontecer.

Por mais absurda que fosse a escolha que Denis e Ana fizeram, uma coisa era minha história com eles, outra bem diferente era Alice, uma menininha que muito possivelmente estava apavorada, sozinha e sem nenhuma expectativa de futuro, de como seria seis dias.

Eu não iria deixar com que um erro dos pais recaísse na pequena Alice.

Não sou tão boa assim, mas também não serei cruel com alguém que nem fazia parte da história, quando tudo aconteceu.

Se Isaías tem seus motivos para não aceitar sua própria sobrinha, eu tenho os meus, para tentar ao menos ser alguém que se importa com ela.

— Pois eu vou assumir a responsabilidade — declarei, com a voz trêmula de emoção.

— Eu não vou deixá-la sozinha, não vou abandoná-la como você está fazendo. Não sei como vai ser, não sei se estou pronta, não sei se irei conseguir. Mas eu prefiro enfrentar o desconhecido do que deixar Alice cair no sistema de adoção. Mesmo não entendendo porquê Denis e Ana fizeram essa escolha, ainda assim, eu não vou deixar Alice sozinha.

Isaías me olhou com uma expressão de quem finalmente havia encontrado uma solução.

— Então faça isso, senhorita Leclerc. Se é isso que você quer, que assim seja. Mas eu não vou me envolver. A adoção seria o melhor para Alice, e no fundo, você sabe disso.

Aquelas últimas palavras me atingiram como um soco no estômago.

Isaías não iria mudar.

Ele não iria se comover, não importava o quanto eu gritasse, chorasse, ou tentasse fazê-lo enxergar.

— Eu vou fazer o que Denis pediu, Doutor Castellar. Vou cuidar de Alice, mesmo que eu tenha que fazer isso sozinha. E um dia, você vai perceber o que de fato deixou passar.

Isaías apenas deu de ombros, se afastando como se a decisão já estivesse sido tomada.

Ele não ia mudar.

Fiquei ali, de pé, o coração partido, a raiva queimando em minhas veias.

Eu não sabia o que viria depois, não tinha ideia de como seria cuidar de Alice.

Mas de uma coisa eu tinha certeza: eu não iria deixá-la sozinha.

Assinamos os documentos, Isaías abriu mão da guarda e passei a ser a única responsável por Alice.

Diante disso, era só passar no abrigo onde ela estava e levá-la para minha casa.

Meu Deus!

Ela não me conhece e eu… eu também não a conheço… que Deus e os anjos nos ajudem…

Será que Alice aceitará a mudança tão repentina em sua vida, ou ela se recusará a aceitar quem eu sou?

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