O silêncio da Alice se arrastava, uma sombra pesada que pairava entre nós. Cada dia que passava era uma nova batalha, e, apesar de meus esforços, eu mal conseguia arrancar um sorriso do rosto da menina. Levá-la a lugares que prometiam diversão — parques, museus, até o zoológico — se tornava um ritual amargo. Não importava o que eu fizesse, Alice permanecia imersa em seu próprio mundo, grudada ao seu ursinho como se ele fosse a única proteção contra a realidade. A cada risada de outras crianças, eu sentia meu coração se apertar mais, sabendo que estava perdida em um mar de silêncio.Em uma tarde ensolarada, decidi que era hora de uma nova tentativa. O parque parecia ser o lugar ideal para dar um pouco de cor à nossa vida cinzenta. Deixei Alice sentada em um banco, cercada pelo riso e pela alegria ao redor, enquanto eu ia até o quiosque pegar os lanches que havia encomendado.“Hoje pode ser diferente”, eu pensava, a esperança pulsando em meu peito como um tambor.Mas, ao atravessa
O dia começou como uma tormenta silenciosa, e eu sabia que algo estava prestes a desmoronar. No trabalho, as horas arrastavam-se, e a reunião parecia um labirinto sem saída. Enquanto meus colegas discutiam números e estratégias, minha mente estava longe, perdida na preocupação com Alice. O tempo estava escorrendo, e a urgência crescia dentro de mim.Quando a reunião finalmente terminou, um peso se instalou em meu peito. O relógio parecia zombar de mim, e eu sabia que estava atrasada para buscar Alice. Na verdade, estava absurdamente atrasada para pegar a pequena. A pressa tomou conta de mim, e eu saí correndo do escritório, o eco dos meus passos reverberando em meu desespero.Que merda! As coisas já estão difíceis, agora essa de me atrasar para buscar a Alice. Que droga! Ao chegar à escola, encontrei Isaías parado na porta, uma figura imponente que exalava desprezo. Alice estava sentadinha ao lado do que parecia ser seu motorista,Isaías, com sua expressão fechada e Alice co
Os dias se arrastaram como sombras pesadas, e a situação de Alice parecia estar se deteriorando. A pequena estava cada vez mais fechada, como uma concha que se recusa a se abrir, e isso me consumia.Na escola, a equipe educacional observava a menina com uma preocupação crescente. Conversaram comigo sobre o comportamento dela e recomendaram que eu buscasse ajuda médica. As palavras deles ressoavam na minha mente, como um eco constante: “É preciso entender a situação da Alice. Precisamos buscar um meio de trazê-la de volta”A cada dia que passava, a dor de não conseguir alcançar minha pequena aumentava. Eu me sentia como se estivesse falhando, como se estivesse perdendo Alice de uma maneira que não sabia como evitar. As noites eram silenciosas, mas cheias de angústia. Uma noite em particular, a chuva batia contra a janela, ecoando meu desespero.Um temporal machucava a cidade lá fora e eu acompanhava pela janela do meu quarto, exausta mas sem nenhum sono a chegar. De repente, o
Quem esse idiota pensa que é para sair falando assim comigo?!Ele não perde por esperar e assim solto:— Como se você tivesse o direito de me julgar! — retruquei, a indignação fervendo em minhas veias. — Você não tem ideia do que eu estou passando!— Não, eu não tenho, porque você está ocupada demais brincando de mãe para perceber o que realmente importa! — Ele se inclinou, seu olhar se tornando intenso. — A menina está sofrendo, e você a deixou chegar a esse ponto.Senti o golpe de suas palavras, cada uma delas como uma lança atravessando meu coração. Era verdade. Alice estava ali, doente, e eu não conseguia agir da maneira certa. A culpa começou a me consumir, mas a raiva por Isaías também crescia.— E o que você sugere? Que eu venha até você, o grande Dr. Castellar, para me dizer como ser mãe? — respondi, a voz carregada de sarcasmo.— Não estou aqui para te ensinar a ser mãe, Alby. Estou aqui para cuidar da menina. Então, talvez, você devesse parar de se preocupar com o que e
Eu não sabia que Isaías era médico. O choque da revelação me deixou atordoada. A necessidade de entender o que estava acontecendo com Alice era mais urgente do que qualquer troca de farpas com ele. Portanto, em vez de retaliar, procurei saber como estava minha minha pequena. — Como está a Alice? — perguntei, a voz tensa e desesperada.Isaías me olhou com aquele ar de desdém que parecia ser sua armadura. — Você realmente acha que a sua irresponsabilidade vai fazer alguma diferença agora? — disse ele, cruzando os braços, como se estivesse julgando um caso perdido.— Alice precisa de alguém que realmente se importe, e não de uma mulher que acha que pode se tornar mãe de uma hora para outra.Respirei fundo, tentando conter a frustração que crescia dentro de mim. Cada palavra dele era como uma facada. — Eu não quero saber sobre o que você acha de mim! — gritei, deixando a raiva transbordar. — Fale sobre a saúde da Alice e mais nada me interessa! Foque na sua paciente e esqueça que
Isaías deu alta a Alice assim que vencemos a infecção bacteriana. A luta contra a febre, as injeções de antibióticos e as noites mal dormidas finalmente chegaram ao fim. O médico, sempre meticuloso, prescreveu uma lista de medicações para casa e recomendou voltar ao hospital se qualquer sintoma diferente aparecesse.Foram dias intensos, quase uma semana no hospital, mas eu não consegui me afastar. Não voltei pra casa nenhuma vez. Clara, sempre atenta e sabendo como eu sou, veio me visitar e trouxe algumas roupas. Ela sabia que eu jamais deixaria Alice sozinha, nem por um segundo. Junto com as roupas, Clara trouxe algumas gostosuras, bolos e biscoitos que ela tinha feito, mas Alice não parecia interessada. A doença tinha levado seu apetite, e minha preocupação só aumentava, mesmo com a alta.Enquanto Alice dormia, Clara me puxou para o corredor, longe da vista de Isaías, que estava ocupado com os papeis da alta. — Alby, você está esgotada. — A voz de Clara estava carregada de
Eu sabia que Isaías não fazia nada sem um motivo. Desde que assumi a responsabilidade de cuidar de Alice e ela ficou doente, ele vem agindo como se tivesse um plano oculto. E a tal "surpresa" que ele nos preparou? Eu estava com um pé atrás desde o momento em que ele mencionou. Mas, por Alice, decidi seguir o jogo. Era impossível negar que a menina precisava de alguma alegria em meio ao caos que nossas vidas haviam se tornado.Quando chegamos à casa, senti meu coração parar por um segundo.Era o antigo lar de Denis e Ana. Percebi na hora que estávamos entrando na antiga casa dos pais de Alice. O portão de ferro maciço e o jardim com as flores que provavelmente Ana cuidava. A casa, com suas janelas grandes, parecia esperar por alguém. Alice, normalmente tão quieta, correu para a entrada, seus olhos brilhando pela primeira vez em semanas. Isaías me olhou de canto, com aquela expressão que me tirava do sério.— O que está achando? — perguntou ele, quase casual, como se aquela f
Acabamos nos mudando em pouquíssimo tempo.Alice parecia muito mais feliz, o que tornou a mudança algo bem vindo.Pedi que Isaías me deixasse fazer as coisas com relação a mudança do meu jeito. E por incrível que pareça, ele não interveio. Apareceu alguns dias depois falando que estava passando para ver como estávamos indo.Não demorou muito com o pretesto que tinha um plantão. Achei que ele iria ficar até mais tempo, mas foi uma visita rápida.O que achei bem oportuno, pois preciso ganhar uma certa distância dele. Tenho mantido algumas coisas guardada a sete chaves, mas a verdade é só uma, quando ele está por perto, as lembranças da noite de Halloween aparecem com força. Não que eu queira pensar naquela noite.Mas o cheiro dele, a presença, enfim, ele me causa um certo desconforto, sem contar na alegria que provoca em certos lugares aos quais não deveria se animar tanto assim, se é que você me entende. Pelo amor! Nunca fui de ficar pensando nessas coisas e agora aqui estou eu,