Eu não sabia que Isaías era médico. O choque da revelação me deixou atordoada. A necessidade de entender o que estava acontecendo com Alice era mais urgente do que qualquer troca de farpas com ele. Portanto, em vez de retaliar, procurei saber como estava minha minha pequena. — Como está a Alice? — perguntei, a voz tensa e desesperada.Isaías me olhou com aquele ar de desdém que parecia ser sua armadura. — Você realmente acha que a sua irresponsabilidade vai fazer alguma diferença agora? — disse ele, cruzando os braços, como se estivesse julgando um caso perdido.— Alice precisa de alguém que realmente se importe, e não de uma mulher que acha que pode se tornar mãe de uma hora para outra.Respirei fundo, tentando conter a frustração que crescia dentro de mim. Cada palavra dele era como uma facada. — Eu não quero saber sobre o que você acha de mim! — gritei, deixando a raiva transbordar. — Fale sobre a saúde da Alice e mais nada me interessa! Foque na sua paciente e esqueça que
Isaías deu alta a Alice assim que vencemos a infecção bacteriana. A luta contra a febre, as injeções de antibióticos e as noites mal dormidas finalmente chegaram ao fim. O médico, sempre meticuloso, prescreveu uma lista de medicações para casa e recomendou voltar ao hospital se qualquer sintoma diferente aparecesse.Foram dias intensos, quase uma semana no hospital, mas eu não consegui me afastar. Não voltei pra casa nenhuma vez. Clara, sempre atenta e sabendo como eu sou, veio me visitar e trouxe algumas roupas. Ela sabia que eu jamais deixaria Alice sozinha, nem por um segundo. Junto com as roupas, Clara trouxe algumas gostosuras, bolos e biscoitos que ela tinha feito, mas Alice não parecia interessada. A doença tinha levado seu apetite, e minha preocupação só aumentava, mesmo com a alta.Enquanto Alice dormia, Clara me puxou para o corredor, longe da vista de Isaías, que estava ocupado com os papeis da alta. — Alby, você está esgotada. — A voz de Clara estava carregada de
Eu sabia que Isaías não fazia nada sem um motivo. Desde que assumi a responsabilidade de cuidar de Alice e ela ficou doente, ele vem agindo como se tivesse um plano oculto. E a tal "surpresa" que ele nos preparou? Eu estava com um pé atrás desde o momento em que ele mencionou. Mas, por Alice, decidi seguir o jogo. Era impossível negar que a menina precisava de alguma alegria em meio ao caos que nossas vidas haviam se tornado.Quando chegamos à casa, senti meu coração parar por um segundo.Era o antigo lar de Denis e Ana. Percebi na hora que estávamos entrando na antiga casa dos pais de Alice. O portão de ferro maciço e o jardim com as flores que provavelmente Ana cuidava. A casa, com suas janelas grandes, parecia esperar por alguém. Alice, normalmente tão quieta, correu para a entrada, seus olhos brilhando pela primeira vez em semanas. Isaías me olhou de canto, com aquela expressão que me tirava do sério.— O que está achando? — perguntou ele, quase casual, como se aquela f
Acabamos nos mudando em pouquíssimo tempo.Alice parecia muito mais feliz, o que tornou a mudança algo bem vindo.Pedi que Isaías me deixasse fazer as coisas com relação a mudança do meu jeito. E por incrível que pareça, ele não interveio. Apareceu alguns dias depois falando que estava passando para ver como estávamos indo.Não demorou muito com o pretesto que tinha um plantão. Achei que ele iria ficar até mais tempo, mas foi uma visita rápida.O que achei bem oportuno, pois preciso ganhar uma certa distância dele. Tenho mantido algumas coisas guardada a sete chaves, mas a verdade é só uma, quando ele está por perto, as lembranças da noite de Halloween aparecem com força. Não que eu queira pensar naquela noite.Mas o cheiro dele, a presença, enfim, ele me causa um certo desconforto, sem contar na alegria que provoca em certos lugares aos quais não deveria se animar tanto assim, se é que você me entende. Pelo amor! Nunca fui de ficar pensando nessas coisas e agora aqui estou eu,
O vento uivava lá fora, mas eu sentia que o verdadeiro caos não estava na tempestade que batia nas janelas, e sim dentro de Isaías. Cada rajada de vento parecia arranhar o silêncio da sala, e eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele explodiria. Quando voltei da preparação do quarto, ele estava lá, de pé, encarando o mundo do lado de fora como se estivesse à beira de um precipício. Tinha algo diferente nele, algo que nunca vi antes, uma suavidade que eu jamais associaria àquele homem tão rígido e impassível.— O quarto está pronto — eu disse, quebrando a tensão que pairava no ar, mas sabia que o silêncio carregava muito mais do que aquelas poucas palavras. Ele demorou para se virar, parecia preso em algo maior do que aquela tempestade lá fora.Quando finalmente falou, sua voz estava baixa, quase um sussurro grave.— Tempestades sempre trazem uma sensação de mudança, não acha?Não esperava essa profundidade. Não dele. Isaías sempre aparenta ser aquele tipo de homem que controla t
Havia algo maior do que nós tomando forma ali, algo que transcendia nossa compreensão ou controle. Era inevitável, como uma força silenciosa que já estava em movimento muito antes de percebermos. Quando ele voltou a me olhar, algo havia mudado em seus olhos. Não era apenas um olhar, mas um abismo carregado de significados que eu não conseguia decifrar por completo. A tempestade que seguia rugindo lá fora era insignificante perto da que estava prestes a explodir dentro daquela casa. Eu não precisava de palavras para sentir isso. O ar estava tão denso quanto a tempestade, e eu me sentia sufocada pela tensão entre nós dois. O toque de Isaías, ainda leve, parecia queimar minha pele, como se o simples fato dele estar tão perto quebrasse as barreiras que eu me esforçava tanto para manter. Era estranho... ou talvez previsível. Havia tanto ressentimento, que eu nunca imaginei esse tipo de proximidade, mas ali estávamos, no meio de uma tempestade que refletia perfeitamente a confusã
Eu não sabia exatamente o que estava prestes a acontecer, mas algo no ar entre nós dois havia mudado.Havia dias que eu sentia essa tensão crescendo, como uma corda esticada prestes a romper, e agora ela estava ali, pulsando entre nós. Isaías, com aquele olhar penetrante, sempre me desafiava, e por mais que eu quisesse me afastar, ele parecia estar em todos os lugares, preenchendo cada espaço, cada pensamento.Tentei ignorar a forma como o ambiente ficou mais pesado quando ele se aproximou. Meu coração batia tão forte que eu podia ouvir o som dentro da minha cabeça. E ele estava tão perto. Perto demais. O suficiente para me desestabilizar completamente. O que quer que estivesse se formando ali, entre nós, estava prestes a explodir, e eu não sabia como parar. Talvez, no fundo, eu nem quisesse.A forma como ele me olhava, como se pudesse enxergar cada pensamento que eu tentava esconder, me deixou sem fôlego. Eu senti o calor de sua presença, como se uma onda invisível me envolve
Levantei antes mesmo do sol despontar no horizonte. O silêncio da casa era quase insuportável, como se as paredes testemunhassem o que aconteceu na noite anterior e me pressionassem com a culpa que eu tentava, de alguma forma, sufocar.Cada passo que eu dava era calculado, suave, para não acordar Alby. Ela estava no quarto ao lado, e a última coisa que eu queria era forçar qualquer coisa depois do que já havia acontecido entre nós.O beijo. Inferno, aquele beijo. Ele não foi apenas um beijo. Foi o ponto final de toda a tensão que acumulamos. Uma sentença que selava o que eu vinha tentando negar desde o início. Agora, estava tudo claro. Não havia mais escapatória, não havia mais como fugir. Eu sabia que, o que quer que fosse acontecer, eu não estava mais disposto a lutar contra. Enquanto colocava minha camisa, ajeitando os punhos com dedos trêmulos, minha mente não parava. O que eu e Alby estávamos vivendo ia além de qualquer obrigação. Alice, a menina que agora estava em n