Essa conversa com Alby reverbera em minha mente, cada palavra cravada como uma lembrança impossível de apagar. Eu sabia que tínhamos ultrapassado uma barreira, e isso me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir. O controle que sempre mantive sobre minha vida parecia ter se dissipado, e a casa do meu irmão, que antes era apenas um refúgio temporário em outros tempos, agora se tornava um campo minado de emoções.Desde que Alice adoeceu, permaneci aqui. Mas a verdade, que eu me recusava a encarar, era que eu não queria que Alby se afastasse. Não agora, não depois de tudo.Eu nunca fui o tipo de homem que lida bem com fragilidade, muito menos com a minha. Sempre encarei situações extremas com frieza, mas com ela... era diferente. Meus pensamentos ecoando como sombras indesejáveis.Admitir o que sentia havia sido como abrir uma comporta. Não era mais uma questão de querer ou não. Eu sabia que a queria, isso estava claro. O verdadeiro dilema agora era como manter o cont
Eu, Isaías, passei o dia tentando entender o que diabos estava acontecendo comigo. A raiva, que por tanto tempo me acompanhou… sempre que pensava em Alby, parecia ter se dissipado, e isso me deixava confuso. Quando foi que a vontade de me afastar se transformou nessa necessidade de estar por perto? Onde foi parar aquele ódio que alimentava como uma defesa? Não conseguia mais fugir dessa realidade, e encarar a verdade era a única coisa que restava.Ao voltar para casa do meu irmão naquela noite, eu sabia que não havia mais como adiar. Alice estava brincando no chão da sala, tão inocente e alheia ao turbilhão de emoções que eu carregava. Ela era o ponto central de tudo, a razão de estarmos juntos naquela casa, e ainda assim, o que acontecia entre mim e Alby parecia crescer como uma tempestade prestes a desabar. Quando Alby mandou Alice para o quarto, o silêncio caiu entre nós, tão denso que eu quase podia tocá-lo. Caminhei em sua direção, mas ainda hesitei, sentindo o peso das p
Sinto um aperto no peito, algo que não me deixa respirar direito. Nunca pensei que sentiria algo assim, não agora e não por ele. Mas aqui estou, confusa e com medo, como se a vida tivesse me colocado em um labirinto de sentimentos que eu não pedi para entrar. Como se a responsabilidade por Alice já não fosse o suficiente para me fazer questionar tudo, agora existe isso... esse sentimento crescendo por Isaías, um homem que parecia um bloco de gelo, mas que, de alguma forma, conseguiu me alcançar.Foi como se uma chavinha tivesse sido virada dentro de mim. Como se algo que sempre esteve lá, esperando o momento certo, finalmente tivesse despertado. E agora? Como lidar com essa mistura de receio e desejo, de curiosidade e temor? Eu sei que preciso ser honesta com ele, abrir meu coração, mas o que vou encontrar do outro lado?Isaías... ele me intimida de uma maneira que nunca experimentei antes. Com um simples olhar, ele desmonta minhas defesas, como se visse diretamente as partes
Alice apareceu do nada, esfregando os olhinhos sonolentos e segurando seu ursinho contra o peito. Seus passos arrastados fizeram Isaías e eu recuarmos do momento em que estávamos, quando nossos lábios estavam quase, quase se tocando. Parecia que Alice pressentia quando eu estava prestes a ultrapassar uma linha que até eu mesma desconhecia.Ela me puxou pela mão, ainda em seu silêncio, mas o recado estava claro. Precisava de mim ao seu lado para dormir. Sorri para ela e olhei para Isaías, que entendeu tudo. Ele, sempre tão observador, sempre tão atento aos detalhes. — Bom, meninas – ele começou, em um tom de voz suave, mas já me partindo o coração antes mesmo de terminar a frase. — Já está tarde, e eu tenho plantão cedo amanhã. Melhor eu ir para casa.Aquelas palavras fizeram meu coração despencar. Era um instante tão frágil, tão cheio de possibilidades e sentimentos à flor da pele… Ele nos deixaria? Ali, sozinhas com uma saudade que eu ainda nem tinha deixado nascer, mas já
Desde que Isaías começou a aparecer com mais frequência em nossas vidas, percebi que algo improvável tinha acontecido: ele se tornara o tio que Alice precisava, e, de certa forma, o apoio que eu jamais pensei que teria. Era estranho e reconfortante ao mesmo tempo, como se a vida tivesse dado uma volta inesperada e me presenteado com essa presença tranquila e forte ao meu lado.Depois que Alice se recuperou, imaginei que ele iria se afastar, que voltaria para a rotina de plantões no hospital e aos seus afazeres. Mas, surpreendentemente, Isaías continuou presente. Dividia seu tempo entre o hospital, sua casa e, agora, a nossa. Ele não deixava passar um dia sem checar se Alice estava bem, sem perguntar se precisávamos de algo. Essa nova rotina preenchia a casa de uma forma que eu não sabia que precisava.Então, um dia, ele apareceu com uma proposta inesperada.— Vamos fazer algo diferente? — perguntou com um sorriso suave, segurando Alice em seus braços enquanto ela brincava distraí
Quando sugeri levar Alice ao abrigo de animais, era apenas uma tentativa de trazer um pouco de alegria à vida dela, um momento de leveza no meio de tantos altos e baixos. Não fazia ideia de que esse gesto simples fosse nos mudar tão profundamente.Isaías, ao meu lado, aceitou o convite com uma animação que parecia quase juvenil. No caminho, ele conversava sobre a expectativa de ver Alice interagindo com os animais. E, mesmo que ele não dissesse, percebia que aquilo era também uma chance para ele se conectar mais com ela e, quem sabe, com alguma parte dele que ainda não tinha se revelado.Assim que chegamos ao abrigo, Alice praticamente saltou do carro, mal contendo sua alegria. Seus olhinhos brilhavam, e meu coração se encheu ao vê-la daquele jeito, tão curiosa, tão viva. Ela se movia de cercado em cercado, os olhos dançando entre os cães que, animados, abanavam o rabo e se aproximavam da cerca, como se também esperassem por ela.Isaías e eu ficamos um pouco afastados, observando,
Desde que o senhor Bolofofo entrou em nossas vidas, vi minha pequena Alice renascer. Ela, que antes habitava um mundo silencioso e trancado, começou a revelar fragmentos da criança que um dia fora. Era como se, com a chegada daquele peludo alegre e desajeitado, algo profundamente adormecido nela estivesse finalmente despertando. O senhor Bolofofo não era só um cachorrinho; ele era um milagre de quatro patas, a chave que começava a destrancar as portas da alma de Alice.No começo, observei com cautela, quase sem acreditar no que via. Logo nas primeiras manhãs, os risos dela ecoavam pela casa – risos que eu nem sabia como soavam. Ela, que antes caminhava devagar, agora corria atrás dele, deixando escapar pequenas gargalhadas quando ele pulava para alcançá-la ou quando escorregava no chão da sala. E eu, parada no canto da sala, só conseguia sentir o peito aquecer e os olhos marejarem, porque, pela primeira vez em muito tempo, eu a via feliz.Numa tarde, enquanto a chuva caía lá for
Dias depois…Os dias seguiram sem maiores novidades. Alice passou a interagir melhor na escola e em casa era surpreendente como a cada dia as coisas ganhavam uma normalidade que nem em meus melhores sonhos achei que fosse possível.Isaías continuava presente em nossas vidas, de uma forma leve, sem nenhuma obrigação. Um dia, ele apareceu com um convite inesperado para uma festa. Fiquei um pouco sem jeito de aceitar, mas sua insistência delicada me envolveu de tal maneira que acabei concordando em ir.Ele parecia genuinamente animado com a ideia de me ter ao seu lado no evento beneficente do hospital. A perspectiva de vê-lo em um ambiente além do familiar – um cenário onde ele realmente brilhava – me deixou empolgada e, ao mesmo tempo, nervosa. Era a primeira vez que ele me convidava para algo tão significativo em sua vida profissional, e senti o peso especial desse momento.Escolhi um vestido simples, mas elegante, tentando expressar uma confiança que, no fundo, eu ainda estava apr