Isaías endireita os ombros, e vejo aquele desconforto momentâneo sumir enquanto uma faísca de irritação se acende em seu olhar. Seus olhos estão duros, incisivos, e posso ver que ele não vai deixar essa situação passar sem resposta.— Fernanda, achei que já tínhamos superado essas provocações infantis — ele rebate, com a voz controlada, mas carregada de um desdém cortante. — Você ainda está presa nisso, não está? Acredita que tem algum tipo de controle sobre a minha vida? Essa ilusão, Fernanda, já passou faz muito tempo.Ela arqueia a sobrancelha, cruzando os braços com um sorriso venenoso, aquele tipo de sorriso que só quer ver o outro desmoronar.— Ah, doutor Castellar, tão seguro de si. Foi exatamente por isso que te deixei, sabia? Sempre tão previsível, tão… correto. — Ela lança um olhar rápido na minha direção, quase como se eu fosse invisível, um mero acessório. — Acredite, querida, você vai se cansar rapidamente. Eu sei do que estou falando.Isaías solta uma risada curta, am
Estávamos ali, em um silêncio que parecia confortável, até que Henrique rompeu essa calma com uma frase simples:— Alby, esqueci de deixar meu cartão como combinamos. Espero sua ligação.Ele se despediu com um sorriso despreocupado e um leve aceno, mas o efeito foi imediato. A atmosfera do ambiente mudou como um raio em céu claro, e vi o semblante de Isaías se transformar. Qualquer calma que ele pudesse estar sentindo se desfez, e seus olhos me encararam com uma intensidade que me fez congelar. Antes mesmo que a porta se fechasse, Isaías deu um passo à frente, seus olhos faiscando com algo entre a raiva e uma fúria contida. Ele cruzou os braços, e seu olhar era pesado, cheio de perguntas que ele ainda não sabia como verbalizar.— Então… “combinamos”, Alby? — Ele repetiu a palavra de Henrique, sua voz carregada de um sarcasmo que me fez querer fugir para longe dali. — Desde quando você e ele têm combinações?Respirei fundo, tentando manter a calma, mas a intensidade dele me fez va
Saí apressada, meu coração batendo forte, minhas mãos trêmulas enquanto tentava me afastar o mais rápido possível. Olhei para os lados, procurando qualquer forma de fugir dali, e, por sorte, vi um táxi parado na calçada, enquanto os passageiros desembarcavam. Não pensei duas vezes. Entrei no carro e fechei a porta, pedindo ao motorista, com a voz embargada, que me tirasse dali.Assim que o táxi começou a se mover, ouvi Isaías gritar meu nome do lado de fora, sua voz desesperada.Eu queria ser forte, mas a urgência e a raiva na voz dele me atingiram como uma faca. Fechei os olhos, tentando afastar sua imagem da minha mente. O motorista pareceu entender o que eu sentia, acelerando enquanto o carro se misturava ao trânsito, me levando para longe de Isaías.Então, as lágrimas, que eu segurava com tanto esforço, começaram a descer descontroladamente. Senti meu rosto umedecer, e a dor que estava tentando reprimir se transformou em uma onda avassaladora. Meus soluços eram baixos, mas
Isaías ainda tentou falar comigo por telefone, até encheu meu aparelho com mensagens. Mas nem me dei ao trabalho de ler. Já basta um calhorda em minha vida; dois é muita burrice. Por mais que tenhamos uma coisa ardente e forte entre nós, já sei que Isaías não serve para mim. No momento, minha prioridade é me adaptar à novidade de ter Alice em meus dias.Ela está desabrochando, dia após dia, aprendendo que a vida pode ser diferente, mas que ainda assim é possível seguir em frente e ser feliz. Não é nada fácil assumir a responsabilidade de cuidar de uma menininha do dia para a noite, mas eu me esforço para dar o meu melhor.Tenho muito medo de não conseguir ser aquilo que Alice precisa, mas estou empenhada em buscar esse melhor para nós duas. E com isso, as coisas vão seguindo seu próprio ritmo. Hoje precisei sair para almoçar com um cliente. Não costumo fazer muito isso, sempre deixo para os demais da equipe, mas como se trata de uma nova empresa importante, pediram que eu mesma
Meus olhos se estreitaram. Senhor Reed já estava completamente constrangido, e eu não sabia onde enfiar a cara.— Isaías, basta! — minha voz saiu mais alta desta vez. — O que você está fazendo aqui não é só ridículo, é completamente inapropriado. Está agindo como uma criança mimada.Ele parecia ainda mais inflamado pelas minhas palavras, como se eu tivesse tocado em uma ferida que ele mal sabia que carregava. Um silêncio tenso pairou sobre a mesa, espesso e sufocante, mas não havia a menor chance de eu recuar. Não dessa vez.Encarei Isaías, a voz firme e o olhar gelado. — Escute bem, Isaías. Eu não devo satisfações a você, entendeu? Pouco me importa o que acha. Nem eu, nem Alice precisamos de alguém que só sabe despejar rancor e raiva. Agora, mais do que nunca, tenho certeza: você não serve para estar ao nosso lado. Nem meu, nem dela.Eu vi o choque passar brevemente pelo rosto dele antes de se transformar em algo sombrio, quase perigoso. Seus olhos estreitaram-se, e ele deu um
Engoli em seco, respirando fundo enquanto tentava controlar o turbilhão que Isaías tinha deixado. O Senhor Reed ainda estava ali, calmamente sentado, com um olhar de compreensão que eu não esperava de um executivo tão sério. Ele continuava a me observar como se quisesse me tranquilizar, e de certa forma, isso me deixou menos desconfortável, apesar da cena constrangedora.— Senhorita Leclerc — ele disse, com um meio sorriso de compreensão — relaxe. Já tive uma ex-esposa que fazia muito mais do que isso. É horrível quando eles não conseguem entender um final de uma história. Sei que é terrível essa exposição, mas com o tempo seu... ex-marido vai tomar consciência e deixá-la em paz.Tentei forçar um sorriso, mas o esforço era quase doloroso. Nem tinha me dado conta de que meu cliente estava ali, assistindo ao espetáculo lamentável que Isaías e eu acabamos de protagonizar. Mas o que me surpreendia era a naturalidade com que ele agora me consolava, como se Isaías fosse mesmo meu ex-mar
Foi uma grande conquista eu voltar para empresa com o contrato com o senhor Reed fechado.Mesmo com o encontro desastroso com Isaías, ainda assim fechei o dia com resultado positivo.Parafraseando aquela fadada frase: sucesso nos negócios e azar no amor. Mesmo que essa não seja a frase certa, é assim que me vejo e estou bem com isso. Eu não sabia ao certo se era o entusiasmo de sair com adultos depois de tanto tempo ou a liberdade de finalmente deixar as preocupações para trás, mas minha energia estava lá em cima. Escolhi um modelito ousado e ao mesmo tempo que valorizasse meu corpo.Não sou exatamente um mulherão, mas com meu um metro e sessenta, sei muito bem como me destacar. Decidi que hoje eu me arrumaria para me sentir radiante, cheia de vida. Escolhi um vestido tomara que caia de um ombro só, elegante e ao mesmo tempo ousado. Nos pés, um salto agulha deslumbrante, daqueles que parecem feitos para uma noite especial — e nunca usados antes.Caprichei na maquiagem, afastando
A combinação do álcool e da música preenchia cada parte de mim, e a presença de Isaías parecia intensificar ainda mais a sensação de liberdade e euforia. Ele era um risco que eu sabia que não deveria correr, mas ao vê-lo ali, tão perto, não consegui evitar.Seus olhos estavam fixos em mim, penetrantes, escuros como uma tempestade prestes a se desatar.Ele se aproximou lentamente, cada passo uma declaração de poder e controle. Eu sentia a tensão entre nós crescer, quase palpável, como uma corda sendo esticada ao máximo. O mundo ao redor desapareceu, os amigos, as luzes, a música — tudo virou um borrão distante enquanto Isaías e eu nos tornávamos o único foco. Minha respiração ficou mais pesada, o coração batia descompassado, e de repente, parecia impossível continuar ignorando o que acontecia entre nós.Ele começou a se mover ao ritmo da música, e eu acompanhei, quase hipnotizada. Meu corpo respondia ao dele, de maneira quase automática, como se tivéssemos feito isso mil vezes. N