Isaías ainda tentou falar comigo por telefone, até encheu meu aparelho com mensagens. Mas nem me dei ao trabalho de ler. Já basta um calhorda em minha vida; dois é muita burrice. Por mais que tenhamos uma coisa ardente e forte entre nós, já sei que Isaías não serve para mim. No momento, minha prioridade é me adaptar à novidade de ter Alice em meus dias.Ela está desabrochando, dia após dia, aprendendo que a vida pode ser diferente, mas que ainda assim é possível seguir em frente e ser feliz. Não é nada fácil assumir a responsabilidade de cuidar de uma menininha do dia para a noite, mas eu me esforço para dar o meu melhor.Tenho muito medo de não conseguir ser aquilo que Alice precisa, mas estou empenhada em buscar esse melhor para nós duas. E com isso, as coisas vão seguindo seu próprio ritmo. Hoje precisei sair para almoçar com um cliente. Não costumo fazer muito isso, sempre deixo para os demais da equipe, mas como se trata de uma nova empresa importante, pediram que eu mesma
Meus olhos se estreitaram. Senhor Reed já estava completamente constrangido, e eu não sabia onde enfiar a cara.— Isaías, basta! — minha voz saiu mais alta desta vez. — O que você está fazendo aqui não é só ridículo, é completamente inapropriado. Está agindo como uma criança mimada.Ele parecia ainda mais inflamado pelas minhas palavras, como se eu tivesse tocado em uma ferida que ele mal sabia que carregava. Um silêncio tenso pairou sobre a mesa, espesso e sufocante, mas não havia a menor chance de eu recuar. Não dessa vez.Encarei Isaías, a voz firme e o olhar gelado. — Escute bem, Isaías. Eu não devo satisfações a você, entendeu? Pouco me importa o que acha. Nem eu, nem Alice precisamos de alguém que só sabe despejar rancor e raiva. Agora, mais do que nunca, tenho certeza: você não serve para estar ao nosso lado. Nem meu, nem dela.Eu vi o choque passar brevemente pelo rosto dele antes de se transformar em algo sombrio, quase perigoso. Seus olhos estreitaram-se, e ele deu um
Engoli em seco, respirando fundo enquanto tentava controlar o turbilhão que Isaías tinha deixado. O Senhor Reed ainda estava ali, calmamente sentado, com um olhar de compreensão que eu não esperava de um executivo tão sério. Ele continuava a me observar como se quisesse me tranquilizar, e de certa forma, isso me deixou menos desconfortável, apesar da cena constrangedora.— Senhorita Leclerc — ele disse, com um meio sorriso de compreensão — relaxe. Já tive uma ex-esposa que fazia muito mais do que isso. É horrível quando eles não conseguem entender um final de uma história. Sei que é terrível essa exposição, mas com o tempo seu... ex-marido vai tomar consciência e deixá-la em paz.Tentei forçar um sorriso, mas o esforço era quase doloroso. Nem tinha me dado conta de que meu cliente estava ali, assistindo ao espetáculo lamentável que Isaías e eu acabamos de protagonizar. Mas o que me surpreendia era a naturalidade com que ele agora me consolava, como se Isaías fosse mesmo meu ex-mar
Foi uma grande conquista eu voltar para empresa com o contrato com o senhor Reed fechado.Mesmo com o encontro desastroso com Isaías, ainda assim fechei o dia com resultado positivo.Parafraseando aquela fadada frase: sucesso nos negócios e azar no amor. Mesmo que essa não seja a frase certa, é assim que me vejo e estou bem com isso. Eu não sabia ao certo se era o entusiasmo de sair com adultos depois de tanto tempo ou a liberdade de finalmente deixar as preocupações para trás, mas minha energia estava lá em cima. Escolhi um modelito ousado e ao mesmo tempo que valorizasse meu corpo.Não sou exatamente um mulherão, mas com meu um metro e sessenta, sei muito bem como me destacar. Decidi que hoje eu me arrumaria para me sentir radiante, cheia de vida. Escolhi um vestido tomara que caia de um ombro só, elegante e ao mesmo tempo ousado. Nos pés, um salto agulha deslumbrante, daqueles que parecem feitos para uma noite especial — e nunca usados antes.Caprichei na maquiagem, afastando
A combinação do álcool e da música preenchia cada parte de mim, e a presença de Isaías parecia intensificar ainda mais a sensação de liberdade e euforia. Ele era um risco que eu sabia que não deveria correr, mas ao vê-lo ali, tão perto, não consegui evitar.Seus olhos estavam fixos em mim, penetrantes, escuros como uma tempestade prestes a se desatar.Ele se aproximou lentamente, cada passo uma declaração de poder e controle. Eu sentia a tensão entre nós crescer, quase palpável, como uma corda sendo esticada ao máximo. O mundo ao redor desapareceu, os amigos, as luzes, a música — tudo virou um borrão distante enquanto Isaías e eu nos tornávamos o único foco. Minha respiração ficou mais pesada, o coração batia descompassado, e de repente, parecia impossível continuar ignorando o que acontecia entre nós.Ele começou a se mover ao ritmo da música, e eu acompanhei, quase hipnotizada. Meu corpo respondia ao dele, de maneira quase automática, como se tivéssemos feito isso mil vezes. N
Isaías me fitava com uma intensidade quase desconcertante, os olhos fixos em cada traço meu, como se tentasse decifrar o que se passava dentro de mim. Ele parecia menos o homem explosivo e impetuoso que eu conhecia, e mais alguém preocupado.Esse contraste desarmava qualquer resistência que eu tentasse manter.— Calma, Alby. Você não está bem, precisa de cuidados — ele murmurou com uma suavidade inesperada, quase como se quisesse me acalmar. A voz dele era gentil, um tom que eu jamais imaginaria vindo de Isaías Castellar.— Eu não preciso de nada, muito menos da sua ajuda! — protestei, mesmo sabendo que meu tom era fraco e hesitante. Queria fugir, mas meus passos cambaleantes e a embriaguez que latejava em minha mente me impediam.Isaías ignorou meu protesto, os dedos firmes tocando meu rosto com um calor que contrastava com minha pele fria. Seu olhar, de repente, parecia menos hostil e mais… protetor. Algo reluzia em seus olhos, uma preocupação quase camuflada, um brilho que só
Acordei com o sol entrando pelas frestas das cortinas, uma luz suave e quase calorosa, que contrastava com o desconforto que me tomou ao me dar conta de onde eu estava. O quarto ao meu redor era grande e bem decorado, tudo meticulosamente arrumado, e logo me lembrei: a casa do doutor Isaías Castellar. O gosto amargo da noite anterior voltou à minha boca como uma onda — o encontro na pista de dança, o beijo imprudente, a bebedeira que me soltou com ele, e a forma como me trouxe até aqui, teimoso e inflexível, insistindo em cuidar de mim como se tivesse esse direito.Impondo sua vontade acima da minha e priorizando sua própria necessidade em ter controle sobre tudo. Eu queria sair. Levantei-me devagar, tentando ser silenciosa. Estava ainda com a camiseta dele, e aquele toque de sua presença me irritava, como se estivesse me invadindo mais uma vez. Que droga! Arranquei aquele incômodo de mim e coloquei a roupa da noite passada. Precisava da minha dignidade de volta, porque termin
Aqueles olhos estavam fixos em mim agora, e algo dentro de mim quis recuar. Mas, ao mesmo tempo, eu me senti puxada para ele.Era como se um fio invisível nos unisse, algo que passou a acontecer em alguns momentos nossos. Isaías baixou o olhar e suspirou, como se revelasse mais do que pretendia.— Eu não sou perfeito, Alby, e nunca vou ser. Mas não vou pedir desculpas por querer te proteger ontem. Senti um misto de alívio e raiva. Ele realmente achava que eu precisava de sua proteção?Ou era uma desculpa para tentar exercer controle sobre mim? Ele de verdade não me conhece.— Você acha que preciso de um protetor, Isaías? Como se eu fosse alguma boneca frágil que não sabe se cuidar? Eu sou muito mais do que você pensa, muito mais do que qualquer um pensa — minha voz vacilou, mas eu me mantive firme. — Talvez seja você quem precise de alguém para te fazer enxergar que o controle que quer ter sobre tudo e todos... só está te destruindo por dentro.Ele permaneceu em silêncio, mas pu