Acordei com o sol entrando pelas frestas das cortinas, uma luz suave e quase calorosa, que contrastava com o desconforto que me tomou ao me dar conta de onde eu estava. O quarto ao meu redor era grande e bem decorado, tudo meticulosamente arrumado, e logo me lembrei: a casa do doutor Isaías Castellar. O gosto amargo da noite anterior voltou à minha boca como uma onda — o encontro na pista de dança, o beijo imprudente, a bebedeira que me soltou com ele, e a forma como me trouxe até aqui, teimoso e inflexível, insistindo em cuidar de mim como se tivesse esse direito.Impondo sua vontade acima da minha e priorizando sua própria necessidade em ter controle sobre tudo. Eu queria sair. Levantei-me devagar, tentando ser silenciosa. Estava ainda com a camiseta dele, e aquele toque de sua presença me irritava, como se estivesse me invadindo mais uma vez. Que droga! Arranquei aquele incômodo de mim e coloquei a roupa da noite passada. Precisava da minha dignidade de volta, porque termin
Aqueles olhos estavam fixos em mim agora, e algo dentro de mim quis recuar. Mas, ao mesmo tempo, eu me senti puxada para ele.Era como se um fio invisível nos unisse, algo que passou a acontecer em alguns momentos nossos. Isaías baixou o olhar e suspirou, como se revelasse mais do que pretendia.— Eu não sou perfeito, Alby, e nunca vou ser. Mas não vou pedir desculpas por querer te proteger ontem. Senti um misto de alívio e raiva. Ele realmente achava que eu precisava de sua proteção?Ou era uma desculpa para tentar exercer controle sobre mim? Ele de verdade não me conhece.— Você acha que preciso de um protetor, Isaías? Como se eu fosse alguma boneca frágil que não sabe se cuidar? Eu sou muito mais do que você pensa, muito mais do que qualquer um pensa — minha voz vacilou, mas eu me mantive firme. — Talvez seja você quem precise de alguém para te fazer enxergar que o controle que quer ter sobre tudo e todos... só está te destruindo por dentro.Ele permaneceu em silêncio, mas pu
Isaías segurou meu rosto por um segundo a mais do que deveria, sua mão firme mas delicada, enquanto uma tensão pesada pairava entre nós. Meu coração estava em um ritmo enlouquecedor, como se reconhecesse a profundidade do momento, algo além daquelas palavras murmuradas.— Alby… — ele começou, com a voz baixa, como se também estivesse a sussurrar para si mesmo. — Talvez não seja o momento ideal, mas… — Ele pausou, parecendo buscar coragem. — Preciso que saiba que me importo com você mais do que gostaria de admitir. Não vim atrás de você por obrigação ou responsabilidade. Estou aqui porque eu escolhi estar aqui.Essas palavras caíram sobre mim como uma revelação, abalando as certezas que eu insistia em guardar. Por tanto tempo, imaginei Isaías como o homem arrogante e inatingível, aquele que jamais permitiria qualquer vulnerabilidade. E agora ele estava ali, escancarando mais uma vez seu coração para mim, algo que eu não esperava viver de novo. Abracei meu próprio corpo, tentando
Ele se ajoelhou ao meu lado, o olhar dele suavizando ao me observar, como se o tempo tivesse parado apenas para ele absorver cada detalhe, cada expressão minha. Seus olhos percorriam meu rosto lentamente, como se ele estivesse gravando minha imagem em sua memória, guardando-a como algo precioso. Os dedos dele tocaram minha pele com uma delicadeza que eu nunca esperaria de alguém como Isaías, afastando uma mecha de cabelo que caía sobre meus olhos. Aquele gesto era tão simples e, ao mesmo tempo, carregava uma ternura inexplicável, que me aquecia por dentro, fazendo com que todas as minhas barreiras começassem a se dissolver.Sua respiração era leve, porém intensa, e estava tão próxima que senti o calor exalar dele, misturando-se ao meu.Era como se o mundo inteiro tivesse desaparecido, e tudo o que restava era ele e eu, naquela quietude em que apenas nossos corações podiam falar. Ele murmurou meu nome, tão suave, como se pronunciar cada sílaba fosse uma confissão.— Alby — ele suss
Acordei cedo, ainda perdida na noite que passamos juntos. Ao meu lado, Isaías ainda dormia, e, por um instante, só observei a serenidade no seu rosto, um contraste cruel com a maneira com que ele me tratou dias atrás. Mas aquele não era o momento de romantizar o que havia entre nós. Não dava para deixar situações mal resolvidas apenas passar, eu não sou assim e não será agora que começarei a ser. Era hora de sermos francos.Quando ele finalmente abriu os olhos e nossos olhares se encontraram, soube que ele sentia o mesmo peso. Nos vestimos em silêncio, e não demorou até que ele, hesitante, dissesse:– Precisamos conversar, Alby.Olhei para ele certa que precisávamos colocar na mesa tudo o que havia acontecido.– Precisamos – concordei, sentindo meu peito se apertar.Sentamos na beira da cama, e por um momento o silêncio foi nosso maior diálogo. Mas eu não podia esperar que ele tomasse a iniciativa. Passei os dedos pelo cabelo e tomei fôlego.– Isaías, eu… eu não sei o que você
Ao longo dos dias que se seguiram, uma trégua silenciosa se instalou entre mim e Isaías. Algo que eu jamais esperaria, mas que era tão real quanto o toque de suas mãos firmes e a segurança inesperada que ele me transmitia. A conversa que tivemos naquela manhã, foi nosso ponto de partida, virando de vez qualquer resíduo de mágoa e incertezas. Era como se tivéssemos feito um acordo não verbal de deixar o passado doloroso fora disso. A convivência era inesperadamente… pacífica, o que, em se tratando de Isaías, era quase um milagre.No entanto, havia algo que eu não podia ignorar. Uma atração intensa e quase tangível. Toda vez que nos cruzávamos pelos corredores ou que ele entrava na sala, minha respiração mudava, meu coração acelerava. Isaías também parecia sentir o mesmo, ainda que escondesse sob a máscara de um controle impecável. Mas, em seus olhos, eu via as faíscas de algo não resolvido, algo que ambos evitávamos, mas que parecia cada vez mais impossível de ignorar.Numa noi
Nossos dias encontraram um ritmo próprio, tranquilo e inesperadamente harmonioso. Isaías fez questão de nos levar para sua casa em várias ocasiões, e até Bolofofo, para nossa surpresa, ganhou um cantinho especial lá. A casa parecia mais acolhedora, como se ele estivesse nos esperando sem saber.Alice estava maravilhada com as mudanças, a cada dia descobrindo algo novo. Mas o que realmente me tocou foi o carinho de Isaías ao preparar um quarto especialmente para ela. Quando vi aquele espaço pensado nos mínimos detalhes, meu coração se apertou; era um cuidado que eu não imaginava receber dele. A expressão de felicidade no rosto de Alice ao ver o próprio espaço fez meus olhos se encherem de lágrimas, e eu me vi amando ainda mais esse lado protetor e cuidadoso dele.Isaías e eu decidimos deixar as coisas acontecerem, sem pressa e sem rótulos. Não dissemos nada específico a Alice sobre nós dois, permitindo que tudo fluísse naturalmente.Não éramos algo que precisava de um nome — éram
A luz do sol filtrava-se pelas janelas do hospital, criando um ambiente quase acolhedor, mas eu sabia que a ansiedade ainda pairava no ar. Isaías havia me chamado para um almoço e eu estava nervosa. Era um convite inesperado, mas ao mesmo tempo, algo que eu desejava.Estava ansiosa para ver o que aquele dia poderia trazer para nós.Isaías vinha me surpreendendo todos os dias e aquele dia muito provavelmente não seria diferente.Enquanto esperava por ele, passei a observar o movimento ao meu redor. O hospital sempre teve um ar de incerteza, mas hoje havia uma expectativa diferente, como se algo estivesse prestes a mudar. Caminhei até a sala do Isaías, meu coração queimando de ansiedade.A perspectiva de um almoço incrível ao seu lado, me fazia sorrir feito criança. Foi então que ouvi vozes vindo de dentro da sala dele. A porta estava entreaberta e meu coração começou a acelerar.— Isaías, você não pode simplesmente ignorar isso! — A voz era familiar.Era Fernanda, a ex-namorada d