Acordei cedo, ainda perdida na noite que passamos juntos. Ao meu lado, Isaías ainda dormia, e, por um instante, só observei a serenidade no seu rosto, um contraste cruel com a maneira com que ele me tratou dias atrás. Mas aquele não era o momento de romantizar o que havia entre nós. Não dava para deixar situações mal resolvidas apenas passar, eu não sou assim e não será agora que começarei a ser. Era hora de sermos francos.Quando ele finalmente abriu os olhos e nossos olhares se encontraram, soube que ele sentia o mesmo peso. Nos vestimos em silêncio, e não demorou até que ele, hesitante, dissesse:– Precisamos conversar, Alby.Olhei para ele certa que precisávamos colocar na mesa tudo o que havia acontecido.– Precisamos – concordei, sentindo meu peito se apertar.Sentamos na beira da cama, e por um momento o silêncio foi nosso maior diálogo. Mas eu não podia esperar que ele tomasse a iniciativa. Passei os dedos pelo cabelo e tomei fôlego.– Isaías, eu… eu não sei o que você
Ao longo dos dias que se seguiram, uma trégua silenciosa se instalou entre mim e Isaías. Algo que eu jamais esperaria, mas que era tão real quanto o toque de suas mãos firmes e a segurança inesperada que ele me transmitia. A conversa que tivemos naquela manhã, foi nosso ponto de partida, virando de vez qualquer resíduo de mágoa e incertezas. Era como se tivéssemos feito um acordo não verbal de deixar o passado doloroso fora disso. A convivência era inesperadamente… pacífica, o que, em se tratando de Isaías, era quase um milagre.No entanto, havia algo que eu não podia ignorar. Uma atração intensa e quase tangível. Toda vez que nos cruzávamos pelos corredores ou que ele entrava na sala, minha respiração mudava, meu coração acelerava. Isaías também parecia sentir o mesmo, ainda que escondesse sob a máscara de um controle impecável. Mas, em seus olhos, eu via as faíscas de algo não resolvido, algo que ambos evitávamos, mas que parecia cada vez mais impossível de ignorar.Numa noi
Nossos dias encontraram um ritmo próprio, tranquilo e inesperadamente harmonioso. Isaías fez questão de nos levar para sua casa em várias ocasiões, e até Bolofofo, para nossa surpresa, ganhou um cantinho especial lá. A casa parecia mais acolhedora, como se ele estivesse nos esperando sem saber.Alice estava maravilhada com as mudanças, a cada dia descobrindo algo novo. Mas o que realmente me tocou foi o carinho de Isaías ao preparar um quarto especialmente para ela. Quando vi aquele espaço pensado nos mínimos detalhes, meu coração se apertou; era um cuidado que eu não imaginava receber dele. A expressão de felicidade no rosto de Alice ao ver o próprio espaço fez meus olhos se encherem de lágrimas, e eu me vi amando ainda mais esse lado protetor e cuidadoso dele.Isaías e eu decidimos deixar as coisas acontecerem, sem pressa e sem rótulos. Não dissemos nada específico a Alice sobre nós dois, permitindo que tudo fluísse naturalmente.Não éramos algo que precisava de um nome — éram
A luz do sol filtrava-se pelas janelas do hospital, criando um ambiente quase acolhedor, mas eu sabia que a ansiedade ainda pairava no ar. Isaías havia me chamado para um almoço e eu estava nervosa. Era um convite inesperado, mas ao mesmo tempo, algo que eu desejava.Estava ansiosa para ver o que aquele dia poderia trazer para nós.Isaías vinha me surpreendendo todos os dias e aquele dia muito provavelmente não seria diferente.Enquanto esperava por ele, passei a observar o movimento ao meu redor. O hospital sempre teve um ar de incerteza, mas hoje havia uma expectativa diferente, como se algo estivesse prestes a mudar. Caminhei até a sala do Isaías, meu coração queimando de ansiedade.A perspectiva de um almoço incrível ao seu lado, me fazia sorrir feito criança. Foi então que ouvi vozes vindo de dentro da sala dele. A porta estava entreaberta e meu coração começou a acelerar.— Isaías, você não pode simplesmente ignorar isso! — A voz era familiar.Era Fernanda, a ex-namorada d
A brisa leve que entrava pela janela do restaurante não conseguia dissipar a tempestade que se formava dentro de mim. Alby estava à minha frente, sorrindo, mas tudo o que eu conseguia pensar era no que tinha ouvido mais cedo. A conversa com Fernanda ecoava na minha mente, como uma melodia ensurdecedora que não me deixava em paz. O mundo à minha volta se desvanecia enquanto tentava encontrar um jeito de processar a possibilidade aterrorizante de que eu poderia ser pai de um filho que não planejei, com uma mulher que eu quero bem longe de mim.— Você está bem? — a voz suave de Alby me trouxe de volta à realidade. — Sim, claro — respondi, mas minha mente estava longe. Não era justo com ela, eu sabia, mas a ideia de Fernanda grávida, de um filho que poderia ser meu, estava me consumindo. Como ela pode fazer isso comigo? — Amanhã, podemos ir ao parque de diversões depois do almoço? — sugeriu Alby, com seu brilho natural, tentando iluminar meu dia. A proposta era tentadora. Era alg
O sol da manhã entrava pela janela, mas a luz não conseguia iluminar a escuridão que se instalara dentro de mim. Sentada na cama, os pensamentos giravam como uma tempestade em minha mente, e a revelação sobre a gravidez de Fernanda pesava como um tijolo em meu peito. Eu não sabia como lidar com isso. Tudo parecia confuso, uma colcha de retalhos de emoções desencontradas.A conversa que eu havia ouvido entre Isaías e Fernanda ecoava em minha mente, repetindo-se incessantemente como um mantra. Ele era o pai do filho que ela esperava? Como isso poderia ter acontecido sem que eu soubesse? Tudo bem, eles fizeram sexo, há essa possibilidade afinal.Mas quero dizer, porque isso só vem à tona agora?!Uma onda de insegurança e medo me dominou. Eu me sentia traída por não ter sido informada, mas, mais do que isso, sentia-me impotente diante de uma situação que poderia mudar tudo.Eu me levantei da cama, caminhando de um lado para o outro, tentando organizar os pensamentos. Por que Ferna
Eu não conseguia perder mais um segundo sequer. Agendei o exame de DNA o mais rápido possível, acionando toda a equipe do hospital para garantir que o processo fosse direto e discreto. O peso da situação apertava meu peito, cada vez mais. Fernanda poderia estar dizendo a verdade, e, se estivesse, toda a minha vida mudaria num piscar de olhos. Mas se ela estivesse mentindo… não tinha certeza se conseguiria conter minha raiva.Liguei para Fernanda, ajustando meu tom o mais firme que podia, tentando não deixar transparecer o desespero que corria por dentro.— Fernanda, o teste está marcado. Eu preciso que você compreenda… se você está mentindo, vai me perder para sempre. Isso não é uma brincadeira, tem muita coisa em jogo aqui.Do outro lado da linha, ela riu de forma seca e me respondeu com um tom desafiador:— Isaías, eu jamais mentiria sobre algo assim. Você acha que isso não significa nada para mim?Minhas mãos apertavam o telefone com força. Eu estava à beira do abismo, entre a
Cheguei no hospital para me encontrar com Isaías, ele estava com seu dia cheio, mas não queria desmarcar nosso almoço, propondo que almoçássemos perto do hospital. Concordei e vim me encontrar com ele, conforme combinamos, mas mal cheguei ao hospital e fui logo me deparando com Fernanda. Que legal!!!Urghhhhh…Ela estava ali, bem diante de mim, carregando não apenas um filho, mas a semente de todas as dúvidas e medos que cresciam em silêncio dentro de mim. A expressão no rosto dela era pura malícia.— Ora, ora, se não é a queridíssima senhorita Leclerc… — começou, aquele sorriso cheio de desprezo curvando seus lábios. — Sabe, eu estava mesmo querendo encontrá-la. Não temos muitas oportunidades de conversar, não é?Congelei no lugar, o coração pesado, as palavras dela me atingindo como um golpe. Parecia que o hospital ao redor desaparecia, como se tudo sumisse, e só restasse a voz dela, cortante e impiedosa.— Deve estar curiosa para saber, não é? — Fernanda disse, pousando a mã