Eu já estava no meu limite. Deixar Alice na escola havia sido um desafio emocional que me desgastou por completo. Cada lágrima dela, cada silêncio, cada recusa me destruía por dentro. Senti o nó na garganta se apertar quando virei as costas para aquela porta, mas sabia que não tinha outra escolha. Precisava voltar ao trabalho. Precisava manter a compostura. No entanto, o universo parecia disposto a testar minhas forças até o último fio. Assim que atravessei o portão, dei de cara com Isaías. Justo ele. O rosto dele se contorceu numa expressão que misturava desprezo e frieza. Não precisei de mais nada para saber que aquele encontro não terminaria bem.— Que surpresa desagradável — ele disse, o tom de voz afiado como uma lâmina. — Deixando Alice, ou melhor, tentando deixá-la na escola, imagino. Sempre um drama.Eu cerrei os dentes, tentando manter a calma, mas sabia que qualquer tentativa de diálogo com Isaías era como andar em um campo minado.— Não é da sua conta, senhor Cast
Apertei o copo de whisky com tanta força que meus dedos doíam. Como se a bebida pudesse, de alguma forma, dissolver a raiva que crescia dentro de mim. O bar ao meu redor era um reflexo do que eu sentia por dentro: escuro, abafado, cheio de sombras distorcidas que se espalhavam pelos poucos rostos presentes. Meu amigo Josef estava sentado à minha frente, em silêncio, apenas escutando enquanto eu despejava minha frustração entre goles amargos. Era o que ele sabia fazer melhor: ouvir e não dizer nada até eu explodir por completo.— Eu já sabia que meu irmão ia aprontar mais uma antes de morrer — comecei, a voz cheia de desprezo. — Mas, merda, ninguém nunca está preparado para isso. Você imagina... até se força a acreditar que ele vai se levantar daquela cama e tudo vai voltar ao normal. Mas, claro, não voltou.Joguei a cabeça para trás e terminei o copo de uma vez só. Meu rosto estava firme e frio. Eu era o cara que não se abalava. Mas a voz... essa não me deixava esconder a tempe
Cheguei ao trabalho furiosa. Meu corpo inteiro estava tenso, e meu humor era um reflexo direto de tudo o que aconteceu naquela manhã com Alice. Ficar longe dela, sabendo que estava lutando contra seus próprios demônios silenciosos, me corroía por dentro. Tentei, em vão, deixar esses pensamentos de lado assim que passei pela porta da empresa, mas eles continuavam lá, martelando na minha cabeça.Assim que entrei na minha sala, respirei fundo. Havia muita coisa para resolver, e meu foco tinha que estar nas responsabilidades à minha frente. Mas era impossível ignorar aquela mistura de frustração e impotência que se alojava no meu peito. No entanto, trabalho é trabalho, e não tinha como fugir das responsabilidades que me aguardavam.Peguei os documentos da reunião do dia, organizei alguns relatórios, e segui direto para encarar o que precisava ser feito. O mundo corporativo não parava para esperar meus dramas pessoais, e eu não podia me dar ao luxo de deixar as emoções tomarem conta
O silêncio da Alice se arrastava, uma sombra pesada que pairava entre nós. Cada dia que passava era uma nova batalha, e, apesar de meus esforços, eu mal conseguia arrancar um sorriso do rosto da menina. Levá-la a lugares que prometiam diversão — parques, museus, até o zoológico — se tornava um ritual amargo. Não importava o que eu fizesse, Alice permanecia imersa em seu próprio mundo, grudada ao seu ursinho como se ele fosse a única proteção contra a realidade. A cada risada de outras crianças, eu sentia meu coração se apertar mais, sabendo que estava perdida em um mar de silêncio.Em uma tarde ensolarada, decidi que era hora de uma nova tentativa. O parque parecia ser o lugar ideal para dar um pouco de cor à nossa vida cinzenta. Deixei Alice sentada em um banco, cercada pelo riso e pela alegria ao redor, enquanto eu ia até o quiosque pegar os lanches que havia encomendado.“Hoje pode ser diferente”, eu pensava, a esperança pulsando em meu peito como um tambor.Mas, ao atravessa
O dia começou como uma tormenta silenciosa, e eu sabia que algo estava prestes a desmoronar. No trabalho, as horas arrastavam-se, e a reunião parecia um labirinto sem saída. Enquanto meus colegas discutiam números e estratégias, minha mente estava longe, perdida na preocupação com Alice. O tempo estava escorrendo, e a urgência crescia dentro de mim.Quando a reunião finalmente terminou, um peso se instalou em meu peito. O relógio parecia zombar de mim, e eu sabia que estava atrasada para buscar Alice. Na verdade, estava absurdamente atrasada para pegar a pequena. A pressa tomou conta de mim, e eu saí correndo do escritório, o eco dos meus passos reverberando em meu desespero.Que merda! As coisas já estão difíceis, agora essa de me atrasar para buscar a Alice. Que droga! Ao chegar à escola, encontrei Isaías parado na porta, uma figura imponente que exalava desprezo. Alice estava sentadinha ao lado do que parecia ser seu motorista,Isaías, com sua expressão fechada e Alice co
Os dias se arrastaram como sombras pesadas, e a situação de Alice parecia estar se deteriorando. A pequena estava cada vez mais fechada, como uma concha que se recusa a se abrir, e isso me consumia.Na escola, a equipe educacional observava a menina com uma preocupação crescente. Conversaram comigo sobre o comportamento dela e recomendaram que eu buscasse ajuda médica. As palavras deles ressoavam na minha mente, como um eco constante: “É preciso entender a situação da Alice. Precisamos buscar um meio de trazê-la de volta”A cada dia que passava, a dor de não conseguir alcançar minha pequena aumentava. Eu me sentia como se estivesse falhando, como se estivesse perdendo Alice de uma maneira que não sabia como evitar. As noites eram silenciosas, mas cheias de angústia. Uma noite em particular, a chuva batia contra a janela, ecoando meu desespero.Um temporal machucava a cidade lá fora e eu acompanhava pela janela do meu quarto, exausta mas sem nenhum sono a chegar. De repente, o
Quem esse idiota pensa que é para sair falando assim comigo?!Ele não perde por esperar e assim solto:— Como se você tivesse o direito de me julgar! — retruquei, a indignação fervendo em minhas veias. — Você não tem ideia do que eu estou passando!— Não, eu não tenho, porque você está ocupada demais brincando de mãe para perceber o que realmente importa! — Ele se inclinou, seu olhar se tornando intenso. — A menina está sofrendo, e você a deixou chegar a esse ponto.Senti o golpe de suas palavras, cada uma delas como uma lança atravessando meu coração. Era verdade. Alice estava ali, doente, e eu não conseguia agir da maneira certa. A culpa começou a me consumir, mas a raiva por Isaías também crescia.— E o que você sugere? Que eu venha até você, o grande Dr. Castellar, para me dizer como ser mãe? — respondi, a voz carregada de sarcasmo.— Não estou aqui para te ensinar a ser mãe, Alby. Estou aqui para cuidar da menina. Então, talvez, você devesse parar de se preocupar com o que e
Eu não sabia que Isaías era médico. O choque da revelação me deixou atordoada. A necessidade de entender o que estava acontecendo com Alice era mais urgente do que qualquer troca de farpas com ele. Portanto, em vez de retaliar, procurei saber como estava minha minha pequena. — Como está a Alice? — perguntei, a voz tensa e desesperada.Isaías me olhou com aquele ar de desdém que parecia ser sua armadura. — Você realmente acha que a sua irresponsabilidade vai fazer alguma diferença agora? — disse ele, cruzando os braços, como se estivesse julgando um caso perdido.— Alice precisa de alguém que realmente se importe, e não de uma mulher que acha que pode se tornar mãe de uma hora para outra.Respirei fundo, tentando conter a frustração que crescia dentro de mim. Cada palavra dele era como uma facada. — Eu não quero saber sobre o que você acha de mim! — gritei, deixando a raiva transbordar. — Fale sobre a saúde da Alice e mais nada me interessa! Foque na sua paciente e esqueça que