09 A decisão

— Onde eu preciso assinar para deixar a guarda para ela? — Isaías resmungou, com desdém, mal esperando Dr. Moon terminar a leitura.

Fiquei parada, boquiaberta.

Não podia acreditar no que acabara de ouvir.

Não era possível que as palavras do irmão não tivessem sequer tocado o coração dele.

Era como se o que acabara de ouvir, não fosse nada importante.

— Você só pode estar brincando, Isaías! — rebati, sentindo o sangue ferver.

— Como você pode ser tão frio? Seu irmão confiou a você a coisa mais preciosa da vida dele e você só quer... se livrar disso?

Ele bufou, cruzando os braços.

— Eu não pedi para ser o tutor de ninguém, Alby! Não tenho tempo nem paciência para isso. E se Denis realmente me conhecesse, saberia disso.

A menção ao nome do irmão morto com tanta indiferença fez meu coração apertar ainda mais de raiva.

Eu me aproximei dele, tentando manter o controle, mas a indignação era evidente na minha voz.

— Ah, claro, porque você está tão ocupado, não é? E o que Denis esperava? Que você continuasse sendo o homem egoísta que nunca se importa com ninguém além de si mesmo? Ele queria te dar uma chance de mudar, Isaías!

Ele me encarou com aqueles olhos frios, a mandíbula travada.

— E o que te faz pensar que você é tão perfeita, hein? Você está aqui discutindo comigo, mas no fundo sabe que também não quer essa responsabilidade. Quer ser babá de uma criança que nem é sua? Isso é um fardo, senhorita Leclerc!

— Não se atreva a me comparar com você! — gritei, sentindo minha voz falhar de raiva.

— Eu posso não ter pedido por isso, mas pelo menos eu não fujo da responsabilidade quando as pessoas que fizeram parte da minha vida precisam de mim. Você é covarde, Isaías. Isso é o que você é!

Ele deu um passo à frente, os olhos faiscando de ódio.

— Cuidado com o que você diz. Eu não tenho que ouvir lições de moral de alguém como você. Acha que pode simplesmente se meter na minha vida e me dizer como devo viver?

Eu estava prestes a responder quando Dr. Moon, que até então observava a discussão em silêncio, interveio, sua voz firme cortando o ar.

— Se os dois declinarem da responsabilidade, Alice irá para adoção.

As palavras dele caíram como uma bomba.

Eu fiquei imóvel, e Isaías finalmente pareceu hesitar por um segundo.

Adoção?

A pequena Alice sendo entregue a desconhecidos, quando seus pais confiaram em nós?

Aquilo me atingiu como um soco no estômago.

— Você está brincando, certo? — murmurei, incrédula.

— Isso não pode ser uma opção.

Isaías balançou a cabeça, ainda visivelmente irritado.

— Ótimo! Melhor ela ir para adoção do que ser jogada nas minhas costas. Eu nunca pedi por isso!

Meu corpo tremia de raiva, e antes que eu percebesse, as palavras saíram da minha boca.

— Talvez seja por isso que você esteja tão sozinho, Isaías. Porque não consegue enxergar além do seu próprio ego! Que merda! Dá para descer do pedestal e ver que não trata-se de você, mas da sua sobrinha Alice.

Era impossível segurar a raiva diante de tanta indiferença, diante de tanta falta de empatia, diante de tanta falta de amor.

Ele parecia ter uma pedra no lugar do coração, porque só assim seria aceitável uma postura dessa.

Não consigo entender porque um homem como ele, estava sendo tão irracional.

Sim, uma criança é uma responsabilidade e tanto, mas se essa responsabilidade passa a ser sua, assuma e pronto.

O silêncio que seguiu foi cortante.

Ele me lançou um olhar cheio de desprezo, mas dessa vez, havia algo mais profundo por trás daquela máscara de frieza.

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