08 O testamento

Dr. Moon abriu o envelope com uma calma que só aumentava a tensão no ar.

Cada movimento dele parecia arrastar o tempo, e eu mal conseguia controlar minha respiração enquanto Isaías continuava de pé ao meu lado, a fúria ainda estampada em cada linha de seu rosto.

Eu, por outro lado, sentia um redemoinho de emoções crescendo dentro de mim, misturado com a incredulidade de que o destino de uma criança havia sido colocado em nossas mãos.

O advogado começou a ler, a voz dele ecoando pelo ambiente como se estivesse nos puxando para uma realidade que nenhum de nós queria enfrentar:

— Isaías, meu irmão… Ana e eu discutimos muito antes de chegarmos a essa decisão. Sabemos que você vai nos odiar por isso, mas confiamos que, no final, você entenderá. Você sempre foi tão sozinho, se escondendo atrás de sua vida agitada, sem tempo para nada, muito menos para sentir. Você se fechou em seu próprio mundo e por diversas vezes tentei adentrar, mas fracassei em cada uma delas. Mas, meu querido irmão, você precisa aprender que ter uma família é uma das experiências mais preciosas da vida. Não estou dizendo que será fácil, mas Alice vai te ensinar algo que eu nunca consegui: o que é o amor sincero.”

Meu coração apertou.

A voz de Dr. Moon continuava, mas parecia distante, como se eu estivesse me afogando nas palavras que Denis havia deixado para o irmão.

Eu olhei para Isaías, e por um segundo, ele pareceu congelado.

Havia dor em seus olhos, uma dor que eu não sabia se era pela perda do irmão ou pelo medo da responsabilidade que ele estava sendo forçado a carregar.

— "Você pode achar que não tem tempo, que sua vida está muito ocupada para isso. Mas, Isaías, o amor faz o tempo parar. Ele te muda, te molda. E Alice vai precisar de você. Não só para alimentá-la ou cuidar de suas necessidades, mas para ser o homem que eu sei que você pode ser: alguém que finalmente entende o poder do perdão, que percebe que amar não é fraqueza."

Eu não conseguia segurar as lágrimas.

As palavras de Denis me atingiam de uma maneira inesperada, e eu sentia que cada linha dele era escrita com uma intensidade que eu jamais tinha visto em vida.

Era como se, de alguma forma, ele estivesse tentando salvar o irmão de si mesmo.

Dr. Moon virou a página, agora se dirigindo a mim:

— "Alby… você foi a melhor coisa que aconteceu na vida do Denis. Foi com você que ele aprendeu a amar, a valorizar pequenas coisas, a tornar tudo mais fácil de ser vivido, a enxergar beleza onde ninguém mais enxerga. Você pode nem saber o quanto sua presença o marcou, mas eu sei. Denis e eu sempre soubemos que, se algo nos acontecesse, você seria a única pessoa capaz de mostrar a Alice o que é o verdadeiro amor. Sua bondade, sua compaixão, e sua paciência são tudo o que nossa filha precisará para florescer. E Isaías… ele também precisa de você, Alby. Não para ser seu guia, mas para lembrá-lo de que ele não está sozinho. Você, com sua generosidade e coração aberto, será a luz que ele precisa. Você é a melhor versão de nós dois que poderíamos desejar para Alice."

Cada palavra parecia ecoar em minha alma, deixando claro o peso e a profundidade daquela confiança.

Eu sempre tive o desejo de ajudar, de cuidar, mas não imaginava que meus gestos significavam tanto.

Agora, diante de tudo, me perguntava se eu realmente seria capaz de honrar esse legado de amor e responsabilidade.

O que os dois me fizeram, parecia nada, diante dessa responsabilidade recém descoberta.

Eu estava destruída.

Aquelas palavras, a confiança que eles tinham depositado em mim, a expectativa… como eu poderia ser isso tudo?

Eu não era perfeita, eu tinha minhas falhas, mas, para Denis e Ana, eu era a pessoa certa. Eu era a esperança que eles queriam deixar para Alice, o amor que ela precisaria.

Isaías ainda estava parado, sua respiração pesada, seus punhos cerrados.

Ele não conseguia se mover, talvez porque, no fundo, sabia que Denis estava certo.

Pelo que entendi, ele precisava aprender a amar, a perdoar.

E seu irmão e cunhada, acreditavam que Alice seria o caminho para isso.

Dr. Moon fechou o documento, deixando o silêncio preencher o espaço.

Meu coração batia forte, as palavras reverberando na minha mente.

Isaías continuava sem dizer nada.

Eu olhei para ele, esperando… algo. Uma palavra, uma reação. Mas o que veio foi o vazio.

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