A festa

Há muito tempo que não me divertia tanto.

A sensação de liberdade tomava conta de mim, uma leveza que eu não sentia fazia tempo.

Marco , Rose e Clara são simplesmente incríveis.

Não me deixaram sozinha um minuto sequer, e, antes que eu percebesse, estava completamente envolvida na energia deles.

Resolvi me entregar àquela noite, sem pensar em mais nada, apenas em me divertir.

Já tínhamos decidido que a volta seria de carro de aplicativo, então não havia com o que me preocupar.

Era o momento perfeito para enfiar o pé na jaca.

Saí bebendo tudo o que os garçons traziam, os copos esvaziando na minha mão enquanto meus pés não paravam de se mover ao som alto da música.

A pista de dança era o meu refúgio, onde as batidas pulsavam no meu corpo e meus amigos estavam ao meu redor.

Vários caras se aproximavam, soltavam uma gracinha ou outra, mas eu não estava interessada.

Tudo o que eu queria era aproveitar a companhia deles, sentir o calor da amizade, e a noite era nossa.

No entanto, entre risos e movimentos no ritmo da música, senti algo diferente.

Um frio na espinha me percorreu, como se alguém estivesse me observando com mais intensidade.

Não dei muita bola a princípio, mesmo porque, poderia ser coisa da minha cabeça ou efeito do álcool e/ou das duas coisas ao mesmo tempo.

Mas de verdade, era melhor deixar isso para lá.

Mas então, em meio à multidão, ele apareceu.

Um homem usando uma fantasia que não revelava muito do seu rosto, o que tornava tudo ainda mais intrigante.

Seu olhar, porém, fixo em mim.

Por um momento, ficou ali, de longe literalmente me “comendo com os olhos”.

Mas não demorou muito e ele começou a sair de onde estava. Havia algo na postura dele, na forma como caminhava na minha direção, que me deixou inquieta.

Ele não pediu licença.

Simplesmente veio até mim, com uma confiança que beirava a arrogância.

Eu mal tive tempo de processar quando senti sua mão em minha cintura, me puxando para mais perto, como se soubesse que eu não recusaria.

O toque dele era firme, mas não invasivo, e a proximidade dele fazia meu coração disparar, mesmo que eu não quisesse admitir.

— Quem é você? — perguntei, tentando soar mais firme do que me sentia.

Ele inclinou o rosto, me encarando através da máscara que cobria boa parte de suas feições, mas deixando os olhos à mostra.

Olhos escuros, misteriosos, que brilhavam sob a luz fraca da pista de dança.

Ele não respondeu de imediato.

Ao invés disso, começou a me conduzir em uma dança lenta, contrastando com o ritmo agitado ao nosso redor.

Era como se o mundo tivesse desacelerado só para nós dois.

— O que importa quem eu sou? — ele finalmente respondeu, a voz grave e baixa, próxima o suficiente para que eu ouvisse sobre o som da música.

Eu deveria ter me afastado.

Era isso que minha cabeça gritava.

Mas meu corpo parecia ter vontade própria, e antes que percebesse, estava acompanhando seus passos.

A bebida na minha mão foi esquecida, e meus dedos se entrelaçaram aos dele, como se aquilo fosse o mais natural a se fazer.

— Você acha que pode simplesmente vir até aqui e…? — comecei, minha voz cheia de indignação.

Eu não estava acostumada com alguém tomando a iniciativa sem ao menos me perguntar, e isso me deixou nervosa.

— Sim… posso! — ele respondeu com uma convicção quase irritante, os olhos nunca deixando os meus.

— Porque… você quer que eu faça isso.

Suas palavras me atingiram como um choque.

Quem ele pensava que era para dizer algo assim?

Meu orgulho se feriu por um segundo, mas havia também algo profundo dentro de mim que queria que ele estivesse certo.

— Você não sabe de nada — Sibilei, tentando recuperar algum controle da situação, mesmo que meu corpo estivesse mais perto do dele do que deveria.

Ele sorriu de lado, um sorriso quase imperceptível por trás da máscara, mas que eu senti como se fosse uma provocação.

A música mudou, ficando mais lenta, e o som ao nosso redor parecia se tornar apenas um eco distante.

A maneira como ele se movia, a segurança com que me segurava, me fazia questionar se eu realmente queria me afastar.

Algo nele mexia com meus sentidos, confundia minha lógica.

Ele não se desculpou pela forma abrupta com que se aproximou, e eu não tinha certeza se queria que ele o fizesse.

Talvez fosse o mistério, a máscara que cobria seu rosto e deixava minha imaginação correr solta.

Ou talvez fosse a forma como ele me fazia sentir.

Um tipo de perigo irresistível.

Inesperadamente ele para, me empurra contra a parede sólida e me aperta contra ela.

— Então por que ainda está aqui? — ele perguntou, aproximando mais seu rosto do meu, sua voz baixa e rouca, como um desafio.

Meu corpo congelou por um instante, enquanto meu coração batia forte.

A resposta estava presa em minha garganta.

Eu queria ir embora, mas também queria ficar.

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