03 A festa

Há muito tempo que não me divertia tanto.

A sensação de liberdade tomava conta de mim, uma leveza que eu não sentia fazia tempo.

Marco , Rose e Clara são simplesmente incríveis.

Não me deixaram sozinha um minuto sequer, e, antes que eu percebesse, estava completamente envolvida na energia deles.

Resolvi me entregar àquela noite, sem pensar em mais nada, apenas em me divertir.

Já tínhamos decidido que a volta seria de carro de aplicativo, então não havia com o que me preocupar.

Era o momento perfeito para enfiar o pé na jaca.

Saí bebendo tudo o que os garçons traziam, os copos esvaziando na minha mão enquanto meus pés não paravam de se mover ao som alto da música.

A pista de dança era o meu refúgio, onde as batidas pulsam no meu corpo e meus amigos estavam ao meu redor.

Vários caras se aproximavam, soltavam uma gracinha ou outra, mas eu não estava interessada.

Tudo o que eu queria era aproveitar a companhia deles, sentir o calor da amizade, e a noite era nossa.

No entanto, entre risos e movimentos no ritmo da música, senti algo diferente.

Um frio na espinha me percorreu, como se alguém estivesse me observando com mais intensidade.

Não dei muita bola a princípio, mesmo porque, poderia ser coisa da minha cabeça ou efeito do álcool e/ou das duas coisas ao mesmo tempo.

Mas de verdade, era melhor deixar isso para lá.

Mas então, em meio à multidão, ele apareceu.

Um homem usando uma fantasia que não revelava muito do seu rosto, o que tornava tudo ainda mais intrigante.

Seu olhar, porém, fixo em mim.

Por um momento, ficou ali, de longe literalmente me “comendo com os olhos”.

Mas não demorou muito e ele começou a sair de onde estava. Havia algo na postura dele, na forma como caminhava na minha direção, que me deixou inquieta.

Ele não pediu licença.

Simplesmente veio até mim, com uma confiança que beirava a arrogância.

Eu mal tive tempo de processar quando senti sua mão em minha cintura, me puxando para mais perto, como se soubesse que eu não recusaria.

O toque dele era firme, mas não invasivo, e a proximidade dele fazia meu coração disparar, mesmo que eu não quisesse admitir.

— Quem é você? — perguntei, tentando soar mais firme do que me sentia.

Ele inclinou o rosto, me encarando através da máscara que cobria boa parte de suas feições, mas deixando os olhos à mostra.

Olhos escuros, misteriosos, que brilhavam sob a luz fraca da pista de dança.

Ele não respondeu de imediato.

Ao invés disso, começou a me conduzir em uma dança lenta, contrastando com o ritmo agitado ao nosso redor.

Era como se o mundo tivesse desacelerado só para nós dois.

— O que importa quem eu sou? — ele finalmente respondeu, a voz grave e baixa, próxima o suficiente para que eu ouvisse sobre o som da música.

Eu deveria ter me afastado.

Era isso que minha cabeça gritava.

Mas meu corpo parecia ter vontade própria, e antes que percebesse, estava acompanhando seus passos.

A bebida na minha mão foi esquecida, e meus dedos se entrelaçam aos dele, como se aquilo fosse o mais natural a se fazer.

— Você acha que pode simplesmente vir até aqui e…? — comecei, minha voz cheia de indignação.

Eu não estava acostumada com alguém tomando a iniciativa sem ao menos me perguntar, e isso me deixou nervosa.

— Sim… posso! — ele respondeu com uma convicção quase irritante, os olhos nunca deixando os meus.

— Porque… você quer que eu faça isso.

Suas palavras me atingiram como um choque.

Quem ele pensava que era para dizer algo assim?

Meu orgulho se feriu por um segundo, mas havia também algo profundo dentro de mim que queria que ele estivesse certo.

— Você não sabe de nada — silibei, tentando recuperar algum controle da situação, mesmo que meu corpo estivesse mais perto do dele do que deveria.

Ele sorriu de lado, um sorriso quase imperceptível por trás da máscara, mas que eu senti como se fosse uma provocação.

A música mudou, ficando mais lenta, e o som ao nosso redor parecia se tornar apenas um eco distante.

A maneira como ele se movia, a segurança com que me segurava, me fazia questionar se eu realmente queria me afastar.

Algo nele mexia com meus sentidos, confundia minha lógica.

Ele não se desculpou pela forma abrupta com que se aproximou, e eu não tinha certeza se queria que ele o fizesse.

Talvez fosse o mistério, a máscara que cobria seu rosto e deixava minha imaginação correr solta.

Ou talvez fosse a forma como ele me fazia sentir.

Um tipo de perigo irresistível.

Inesperadamente, ele para, me empurra contra a parede sólida e me prende ali, como se precisasse me sentir presa, imobilizada sob seu domínio.

— Então por que ainda está aqui? — sua voz é um sussurro rouco, carregado de algo perigoso, algo que me deixava sem ar.

Meu corpo congela, mas não de medo.

É a proximidade, o calor que irradia dele, a tensão elétrica que se espalha entre nós.

Meu coração b**e forte, tão forte que tenho certeza de que ele consegue ouvir.

A resposta está presa em minha garganta.

Eu deveria ir.

Eu deveria querer ir.

Mas meu corpo tem outros planos.

Ele se inclina mais, sua respiração quente roçando minha pele, e minha mente fica enevoada, incapaz de raciocinar com clareza.

Suas mãos deslizam lentamente por meus braços, subindo até minha nuca, onde seus dedos se entrelaçam em meu cabelo.

O toque é firme, possessivo, como se ele quisesse me manter ali, me impedir de escapar — não que eu quisesse fugir.

— Você pode ir, se quiser — ele murmura, os lábios pairando perigosamente próximos aos meus — Mas não minta pra mim. Não diga que não quer ficar.

Minha respiração se torna irregular, meu peito subindo e descendo em um ritmo descontrolado.

O ar entre nós está pesado, carregado de algo que não pode mais ser ignorado.

— Eu... — Minha voz falha, traindo minha confusão.

Ele sorri, um sorriso de quem já sabe a resposta antes mesmo que eu a diga.

Então, sua boca encontra a minha, sem hesitação, sem espaço para dúvidas.

O beijo é intenso, cheio de tudo o que foi reprimido, de toda a raiva, desejo e frustração acumulados.

Suas mãos apertam minha cintura, me puxando mais para ele, enquanto seus lábios tomam os meus com fome, com urgência.

Um arrepio percorre minha espinha quando ele me pressiona ainda mais contra a parede, como se quisesse se fundir a mim.

Há alguém muito feliz com tudo o que nos acontece, pois sinto sua avidez rígida empurrando em mim.

Meu Deus!!!

Minhas mãos, antes incertas, agora se agarram a ele, puxando sua camisa, querendo sentir mais, querendo sentir tudo.

Que seja!

E com isso saio deixando o que espero dele, o que desejo dele, o que quero dele.

Ele me devora como se eu fosse sua última chance de redenção, e eu me entrego, porque a verdade é que eu nunca quis fugir.

Nosso beijo continua, voraz e urgente, até que, inesperadamente, ele quebra o contato.

Seus olhos escuros me encaram com uma intensidade que me faz tremer.

E antes que eu possa perguntar o motivo, ele segura minha mão com firmeza, seus dedos longos e quentes entrelaçam-se nos meus.

Sem dizer uma palavra, ele me guia por um corredor estreito e mal iluminado, suas passadas decididas, sua presença dominando cada centímetro ao nosso redor.

Meu coração martela contra meu peito, a respiração curta, a expectativa queimando sob minha pele.

Ele empurra uma porta entreaberta, revelando um pequeno escritório.

Pilhas de papéis desorganizados cobrem a mesa de madeira escura, uma única luminária acesa lançando sombras sobre o ambiente.

O cheiro de couro e tabaco paira no ar, uma mistura densa e marcante.

Assim que entramos, ele me puxa para perto, fechando a porta atrás de nós com um movimento firme.

Meu corpo já conhece o caminho até o dele, se encaixando sem resistência.

Suas mãos deslizam pela minha cintura, subindo por minhas costas até segurarem minha nuca, me puxando para mais um beijo.

Dessa vez, não há hesitação.

Seus lábios tomam os meus com uma fome crua, seus dedos exploram minha pele, desenham minha silhueta como se quisesse dominar cada detalhe.

Ele me vira, me pressionando contra a mesa, seus lábios descendo pelo meu pescoço, mordendo de leve, deixando marcas de posse pelo caminho.

Eu me arquejo contra ele, meus dedos cravando-se em seus ombros quando sinto suas mãos hábeis deslizando pelo tecido da minha roupa, desfazendo cada botão, cada barreira que há entre nós.

O calor da sua pele contra a minha me faz suspirar, me faz querer mais.

— Você sabe que não há volta depois disso — ele murmura contra minha clavícula, seus lábios desenhando um caminho perigoso e viciante.

Mas eu não quero voltar.

Quem disse que eu quero voltar para sei lá o que.

Estou na secura há muito tempo, deixei com que a raiva me mantivesse longe do play. E agora que cheguei até aqui, vou até o final e como vou!

Segurando seu rosto entre minhas mãos, faço questão de olhar em seus olhos antes de sussurrar:

— Então… não pare!

Isso foi tudo o que ele precisou.

Num movimento ágil, ele me levanta, me coloca sobre a mesa, seus lábios explorando, suas mãos exigentes, como se tivesse esperado por esse momento desde sempre.

Meu corpo responde ao dele com a mesma intensidade, cada toque uma promessa, cada suspiro um desafio.

Sem cerimônia, ele me preenche por completo, libertando um ruído que faz meu desejo aumentar ainda mais.

— Tão apertadinha… tão de-li-cio-sa-men-te… apertadinha — sílaba ele em meu ouvido, enquanto exerce seu ritmo sobre meu corpo.

E suas palavras explodem em mim como fogos de artifício me levando para celebrar o dia da minha independência pessoal em um único momento.

Ali, sob a luz fraca do escritório, não há mais barreiras, não há mais dúvidas.

Apenas pele contra pele, desejo ardente e a certeza de que, por mais errado que fosse, nenhum de nós queria… parar.

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