O Retorno à Vida

Eu voltei para casa naquela manhã com uma sensação estranha, uma mistura de liberdade e confusão.

No caminho mandei mensagem para meus amigos, avisando que havia acontecido algo inesperado na festa, mas que depois contaria para eles, pois já estava voltando para casa.

A noite anterior havia sido extraordinária, talvez a mais intensa da minha vida, mas também carregava uma loucura inesperada.

O estranho mascarado, a intensidade, o desejo… era difícil acreditar no que tinha acontecido, como se tudo fosse parte de um sonho ou um devaneio qualquer.

Assim que a porta do meu apartamento se fechou atrás de mim, soltei um suspiro profundo.

Pela primeira vez em muito tempo, senti que podia respirar de verdade.

Anos de celibato e isolamento emocional desabaram com aquela noite, e, ao mesmo tempo, uma parte de mim se sentia exposta, vulnerável.

Aquele encontro havia quebrado algo dentro de mim – ou talvez tivesse me libertado.

— Você está diferente — foi a primeira coisa que ouvi quando me encontrei com Clara dias depois.

Ela me observava com olhos curiosos enquanto tomávamos café numa das nossas cafeterias favoritas.

Clara sempre foi uma amiga que dizia o que pensava, sem rodeios.

E dessa vez, ela não estava errada.

—Eu me sinto diferente — admite, mexendo a colher na xícara, evitando seu olhar por um momento.

— Acho que finalmente deixei algo para trás. Sabe... voltei a viver.

Ela inclinou-se para frente, seu olhar se suavizando.

— Finalmente, Alby. Faz tanto tempo que você se escondeu de tudo. Eu tentei por diversas vezes te trazer a borda, mas você sempre se esquivou. Você merecia isso, merecia se soltar de novo.

As palavras dela tocaram um ponto sensível dentro de mim.

Eu sabia que, nos últimos anos, tinha me afastado de quase todos.

O trauma de um relacionamento que terminou de forma amarga, seguido por uma promessa silenciosa de nunca mais me entregar a ninguém, tinha me afastado da vida.

Vivia imersa em um mundo controlado e seguro, longe de qualquer emoção que pudesse me tirar do eixo.

— Foi estranho — confessei, um sorriso tímido surgindo nos meus lábios.

— Mas eu precisava daquela noite, precisava... sentir algo outra vez.

— Esse estranho mascarado mexeu com você, hein?

Ela riu, mas sua voz era carinhosa.

— E isso é bom, Alby. Você passou tanto tempo se protegendo. Às vezes, a gente precisa se jogar, viver o momento, sem pensar no que vem depois.

Eu sorri de volta.

— Você está certa. E eu acho que, pela primeira vez em muito tempo, estou pronta para isso.

Os dias que seguiram foram como uma lufada de ar fresco.

Meus amigos, Julia, Marco e Clara, me arrastaram para saídas que eu antes teria recusado sem pensar duas vezes.

Passávamos horas juntos, rindo, falando sobre a vida, resgatando memórias que pareciam perdidas no tempo.

Numa noite, enquanto estávamos todos reunidos num bar, Clara se virou para mim, com uma expressão séria, mas cheia de carinho.

— Alby, você precisa parar de se culpar pelo passado. Nós estamos aqui para te lembrar que você merece tudo de bom que a vida pode te oferecer.

Eu respirei fundo, sentindo o peso dessas palavras.

— Eu sei, Clara. Acho que estou começando a acreditar nisso... com a ajuda de vocês.

— Então é isso! — Marco ergueu o copo, sempre o mais empolgado do grupo.

— Um brinde ao renascimento de Alby!

— Um brinde!—repetimos todos, e por um momento, enquanto eu olhava ao redor, me senti grata de verdade.

Ali, com eles, eu era eu mesma.

Não a versão trancada de Alby que se escondia atrás das feridas do passado.

Eu estava reaprendendo a viver.

Depois do brinde, Clara me puxou para o lado, com um sorriso malicioso.

— Então, vai me dizer o nome do mascarado, ou ele é um mistério até para você?

Eu ri, balançando a cabeça.

— Nem sei o nome dele. E não acho que vou descobrir. Talvez ele seja apenas isso… um mistério.

Clara me olhou com curiosidade, mas sorriu.

— Talvez seja melhor assim. Algumas coisas são mais mágicas quando ficam inacabadas.

Ficamos em silêncio por um instante, e eu soube que ela estava certa.

Aquela noite com o mascarado tinha sido o começo de algo, mas não necessariamente algo que precisava de respostas.

Era apenas o empurrão que eu precisava para me lembrar de como era viver, sentir, respirar.

Não importava quem ele era ou se eu o veria de novo.

O que importava era que, por causa dele, eu estava finalmente me abrindo para o mundo novamente.

Eu voltei para casa naquela noite, sozinha, mas com um sorriso no rosto.

Olhei para a minha imagem refletida no espelho do corredor e, pela primeira vez em muito tempo, gostei do que vi.

Não era apenas a Alby que todos conheciam, mas uma versão renovada de mim mesma, alguém que estava pronta para o que viesse a seguir.

E pela primeira vez, eu senti que estava exatamente onde deveria estar: de volta à vida, cercada de amizade, alegria, e pronta para o próximo capítulo – seja ele com o estranho mascarado ou não.

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