Onde eu estava com a cabeça quando fui para cima daquela desconhecida? Uma completa estranha. Eu, Isaías Castellar, com tantas opções ao meu redor, terminei a noite com alguém cuja vida eu não sabia nada, com uma desconhecida.Que tolice. Mas, honestamente? Valeu cada segundo.Aquela mulher... surreal. Do tipo que você encontra uma vez na vida, se tiver sorte. Desde o momento que a vi, senti que seria diferente. Não sou de perder o controle assim, mas havia algo nela. Um mistério que me puxava. E, naquele instante, pensei: por que não? Nunca fui do tipo que foge de uma boa oportunidade. A vida é feita dessas jogadas imprevisíveis. Eu a levei para minha cama. Uma noite que começou quente e terminou ainda melhor. Não foi como as outras noites que andei tendo ultimamente – rápidas, superficiais, onde tudo se resume a prazer momentâneo. Com ela foi intenso, algo que não experimento com frequência. O jeito como ela se entregou, sem questionar, sem hesitar... foi como se est
A ligação veio inesperada, um número desconhecido piscando na tela do meu telefone logo pela manhã. O advogado do outro lado da linha falou com uma formalidade cortante, pedindo que eu comparecesse ao escritório o mais rápido possível.— É um assunto de seu interesse, senhorita Leclerc — ele disse, sem dar muitos detalhes.Algo no tom dele me fez sentir que não poderia ignorar. Meu coração acelerou, uma mistura de curiosidade e receio invadindo minha mente.O que seria tão urgente?Cheguei ao escritório pouco tempo depois, a cabeça girando com hipóteses sobre o que me aguardava. A sala era fria, estéril, e o ar estava pesado, quase sufocante. O advogado, um homem de meia-idade com óculos grossos e uma expressão impenetrável, esperou que eu me sentasse antes de começar a falar.— Obrigada por ter vindo tão prontamente, senhorita Leclerc — ele disse, olhando fixamente para mim. — Sinto muito pela forma como as circunstâncias se desenrolaram, mas temos uma situação que exige sua pre
Meu Deus! Não havia dúvidas. Aquela voz… Era impossível de esquecer. Ficou em mim muito mais do que eu poderia imaginar. Jamais pensei que o reencontraria, e agora, aqui estava ele: Isaías. O irmão do meu ex. O estranho que havia cruzado meu caminho tempos atrás. Ele não me olhou com o mesmo choque. Na verdade, parecia não dar a mínima para a minha presença. Seu olhar estava fixo no advogado, os braços cruzados, a postura rígida como uma muralha de indiferença. O que ele estava fazendo aqui? E por que, de todas as pessoas, fui eu a convocada para essa reunião bizarra?Dr. Moon pigarreou, atraindo nossa atenção.— Vamos direto ao ponto — ele disse, ajeitando os óculos sobre o nariz. — Vocês foram chamados aqui porque há disposições importantes no testamento de Denis e Ana.Isaías bufou, inclinando-se para frente com um semblante de quem não tinha tempo a perder.— E o que isso tem a ver comigo? — Ele quase rosnou. — Não era o suficiente eu lidar com os problemas do meu ir
Dr. Moon abriu o envelope com uma calma que só aumentava a tensão no ar. Cada movimento dele parecia arrastar o tempo, e eu mal conseguia controlar minha respiração enquanto Isaías continuava de pé ao meu lado, a fúria ainda estampada em cada linha de seu rosto. Eu, por outro lado, sentia um redemoinho de emoções crescendo dentro de mim, misturado com a incredulidade de que o destino de uma criança havia sido colocado em nossas mãos.O advogado começou a ler, a voz dele ecoando pelo ambiente como se estivesse nos puxando para uma realidade que nenhum de nós queria enfrentar:— Isaías, meu irmão… Ana e eu discutimos muito antes de chegarmos a essa decisão. Sabemos que você vai nos odiar por isso, mas confiamos que, no final, você entenderá. Você sempre foi tão sozinho, se escondendo atrás de sua vida agitada, sem tempo para nada, muito menos para sentir. Você se fechou em seu próprio mundo e por diversas vezes tentei adentrar, mas fracassei em cada uma delas. Mas, meu querido irmão,
— Onde eu preciso assinar para deixar a guarda para ela? — Isaías resmungou, com desdém, mal esperando Dr. Moon terminar a leitura.Fiquei parada, boquiaberta. Não podia acreditar no que acabara de ouvir.Não era possível que as palavras do irmão não tivessem sequer tocado o coração dele.Era como se o que acabara de ouvir, não fosse nada importante.— Você só pode estar brincando, Isaías! — rebati, sentindo o sangue ferver. — Como você pode ser tão frio? Seu irmão confiou a você a coisa mais preciosa da vida dele e você só quer... se livrar disso?Ele bufou, cruzando os braços.— Eu não pedi para ser o tutor de ninguém, Alby! Não tenho tempo nem paciência para isso. E se Denis realmente me conhecesse, saberia disso.A menção ao nome do irmão morto com tanta indiferença fez meu coração apertar ainda mais de raiva.Eu me aproximei dele, tentando manter o controle, mas a indignação era evidente na minha voz.— Ah, claro, porque você está tão ocupado, não é? E o que Denis esperava? Que
Isaías estava de pé, com o rosto fechado, e as palavras saíam dele como facas afiadas, cortando qualquer vestígio de esperança que eu ainda pudesse ter. — Não vou fazer isso, Alby. Não tenho o menor interesse em cuidar da minha sobrinha. Faça o que for melhor para ela, porque claramente, eu não sou esse "melhor". É mais justo para Alice ter uma família que realmente a queira, que a ame, do que ser jogada aos cuidados de um tio que nem sequer a conhece. Eu podia sentir minha respiração ficar mais pesada, as palavras dele me atingindo como um golpe. Como alguém podia ser tão cruel? Tão... vazio? — Você está falando como se ela fosse um fardo! — gritei, a voz transbordando de indignação. — Ela é só uma criança, Isaías! Sua sobrinha! Sangue do seu sangue! Como pode dizer isso com tanta frieza? Ele cruzou os braços, o olhar inabalável. — Você não entende, senhorita Leclerc. Cuidar de uma criança não é simplesmente dar comida e teto. Requer tempo, dedicação, paciência... co
Cheguei em casa exausta, tanto física quanto emocionalmente. Minha cabeça ainda latejava, as palavras de Isaías ecoando como um peso que não conseguia tirar dos ombros. E agora?Como eu ia fazer isso? Minha casa não era exatamente um lar acolhedor para uma criança. Na verdade, era um caos organizado para uma adulta solteira, cheia de livros espalhados, caixas empilhadas e um escritório abarrotado de papeis. Mas era o que eu tinha, pelo menos por agora.Respirei fundo e comecei a caminhar pela casa, tentando visualizar o que precisava ser feito. O primeiro passo era transformar aquele escritório em algo que ao menos lembrasse um quarto. Me senti ridícula por não ter nada pronto, mas, como eu poderia estar preparada para algo assim? Desmontei algumas estantes, empurrei a mesa de trabalho para um canto e vasculhei a lavanderia até encontrar uma cama de montar que eu havia guardado há tempos, sem nunca imaginar que precisaria usá-la. Cada movimento parecia um reflexo do caos dent
Alice não respondeu, apenas o encarou com aquela expressão vazia que vinha mantendo desde o momento em que cruzou a porta. Seu pequeno corpo tremia, seus dedos agarrados à perna do Dr. Moon com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos.Eu observei a cena em silêncio, tentando esconder a angústia que crescia dentro de mim. Como eu poderia oferecer consolo a uma criança que mal sabia o que era confiar em mim? Como eu, uma estranha para ela, poderia ser a pessoa a preencher esse vazio? Não havia palavras que pudessem curar uma dor tão grande.Dr. Moon deu um leve sorriso a Alice e depois olhou para mim, como se dissesse "agora é com você". Senti minhas mãos suarem de nervosismo, e dei um passo à frente, meu coração batendo forte no peito.— Oi, Alice — murmurei mais uma vez, minha voz um tanto trêmula.Eu estava nervosa, mas tentei manter a calma por ela.— Eu sei que você está com medo agora... e tudo parece muito confuso. Mas eu estou aqui, e prometo que vamos descobrir