A noite é uma criança

Alguns anos depois…

— Nossa gata, hoje você humilhou! Pensei que teríamos que tirar a senhora Gomes a força da sala de reuniões.

— Para você vê Marco , que ninguém mandou ela querer vir com mentiras, já havíamos alertado, que caso os números da franquia dela não melhorasse, iríamos pedir para que se retirasse do grupo. Ela pagou para ver… e agora, está fora!

Marco fica me olhando, sei que meu amigo ainda se espanta com a forma que eu levo meu trabalho.

Mas se ele soubesse que tudo isso aqui é apenas um disfarce, que na realidade inventei um personagem quando cheguei aqui e ainda faço uso dele.

Quando um amigo me ofertou essa vaga de trabalho na empresa de um amigo.

Eu quase declinei, porque não queria ficar longe do Denis e muito menos minha até então, “amiga”, Ana.

Mas quando vi os dois na maior safadeza em minha casa, aquilo foi o combustível que me faltava.

Eu não morria de amores pelo Denis, mas tínhamos algo legal.

E de repente ser sacaneada do jeito que eu fui.

Sumi, desapareci.

Os dois tentaram contato comigo durante esse tempo, mas eu não quero nada com eles.

Tiveram a cara de pau de me mandar o convite de casamento deles.

Acredita!

Só se meu cérebro tivesse virado sopa para eu ir contemplar o felizes para sempre deles.

Isso já faz quase cinco anos.

Soube por um amigo em comum, que tiveram um filho.

Mas cortei a conversa logo, não queria detalhes da vida deles.

Eles seguiram pela esquerda e eu fui pela direita sem nem olhar para trás.

Consegui me reerguer, alugo um espaço bacana para morar. Não muito grande, mas o suficiente para mim.

Não quis colega de quarto dessa vez.

Amizade para mim, só a minha mesma.

Depois da traição daqueles dois, fechei essa porta.

Tenho colegas e está bom assim.

Minha casa é meu refúgio, tenho um quarto confortável, uma cozinha onde consigo me virar, no outro quarto montei meu escritório para quando faço alguns trabalhos freelancer, a sala é bem aconchegante e o melhor, meu apartamento fica no último andar e não tenho vizinhos.

O prédio é aquelas construções antigas, sabe, de quatro andares e sem nenhum gasto extra.

A turma do trabalho me encheu o saco para vir com eles numa festa.

Nossa como durante todo esse tempo eu nunca havia aceitado, achei que por ser meu aniversário poderia me dar esse presente.

Claro que não contei para ninguém que é meu dia, amava essa data, mas com a mudança que provoquei na minha vida, passou a ser apenas mais um dia.

As meninas não param de falar, enquanto Marco segue reclamando.

— Nossa, porque elas precisam ficar enumerando com quantos caras irão sair hoje à noite.

— Porque são mulheres que querem a mesma coisa que você…ou seja, se dar bem!

— Ah, mais isso faz parte da minha natureza.

— Assim como faz parte da natureza delas também meu caro.

— Mas você não é assim, nunca te vi com ninguém - comenta Marco curioso.

Nunca falei muito sobre mim, não há o que contar.

— É que tenho outras prioridades.

— Prioridades?!

— Sim, e homens não fazem parte delas.

Marco entende ou finge entender o que falo.

Não importa.

Logo chegamos a danceteria que eles fizeram a reserva.

Na porta os seguranças estão todos mascarados.

Que estranho?!

Olho para Marco sem entender.

Ele logo sai falando.

— Halloween minha cara, dia de se fantasiar.

Que droga!

Não gosto dessas coisas e logo saio falando.

— Estou fora, não curto esses negócios e vou embora.

As meninas correram na minha direção.

— Ah não Alby, você prometeu que iria participar hoje - protesta Sandra.

— Nem pensar Alby, trouxemos uma bela fantasia para você e pode deixar que não falaremos sobre isso com ninguém na empresa.

Olho para elas desconfiada, o que será que estão aprontando.

— O que vocês estão deixando de me contar?! - saio logo falando.

— Nada - rebate Clara - só promete se divertir. Marco nos contou que é seu aniversário…

Eu olho para Marco querendo rancar fora a cabeça dele.

Ele levanta as mãos e sai falando:

— Você acha mesmo que eu iria mais uma vez deixar você passar seu aniversário sozinha. Nem pensar Alby! Chega de viver as merdas do passado. Vira essa página logo. Vamos ser felizes!

Fico olhando para ele, Marco tem quase um metro e noventa de altura, porte atlético, bem afeiçoado, gosta de se vestir e está sempre de bom humor.

As mulheres suspiram por ele e ele se aproveita bem disso.

Mas hoje parece que sua prioridade sou eu.

— Pare de pensar Alby, as meninas já organizaram tudo, tem um camarim prontinho te esperando. Agora vai, se anima e vamos comemorar seu dia.

E sem esperar resposta, as meninas do trabalho saem me arrastando porta adentro.

As meninas haviam preparado uma fantasia de enfermeira sexy para mim.

Ahhh mais isso não iria acontecer mesmo.

Peguei a fantasia da Rose, uma de motoqueira, com calça e jaqueta de couro, várias correntes para completar, fiz a Clara pintar meu rosto todinho, tipo uma caveira sabe. Escondendo o máximo de mim. Até uma peruca de cabelo preto, coloquei.

Eu queria me esconder.

Mas quando me vi no espelho… merda!

Estava perfeita demais.

As meninas ficaram eufóricas quando me viram.

— Alby, você querendo não chamar atenção, mas com esse poderio todo, ficará difícil minha amiga.

— E Alby, hoje você só sai daqui sozinha, se quiser.

Eu me olho no espelho, gostando do que ele está refletindo.

São cinco anos me escondendo, me boicotando, me anulando.

Porque vou continuar nisso.

Saímos do camarim e assim que chegamos a área vip, pego um dos copos que estão disponíveis para nós e falo:

— Amigos, a noite é uma criança!!!

E virou a bebida de uma vez.

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