— Que merda é essa?! — gritei, a raiva fervendo em minhas veias como um vulcão prestes a entrar em erupção.
A cena diante de mim parecia uma piada de mau gosto, um pesadelo que eu esperava apenas encontrar nas novelas mexicanas. Mas ali estava eu, diante da realidade cruel e suja, muito pior do que qualquer ficção. Depois de dias longe, me deparo com a imagem que jamais imaginei ver: meu namorado, jogado na cama da minha melhor amiga, com quem divido meu apartamento. Nu. Por cima dela. E Ana, aquela desgraçada, se contorcia como uma gata no cio, miando de tanto prazer, como se estivesse tirando um atraso de anos. Que pesadelo! A traição não era apenas uma facada; era uma tortura, um golpe baixo na confiança que eu havia depositado em ambos. Eles estavam me fazendo de trouxa esse tempo todo, fingindo uma animosidade na minha frente e se comendo pelas minhas costas. Meus olhos ardiam. Não sabia se era pela raiva ou pela decepção. Talvez pelos dois. E então, o passado veio como uma avalanche. Flashback – Dois meses antes Nossa respiração entrecortada preenchia o quarto, o som abafado dos lençois sendo revirados acompanhando o ritmo que nos envolvia. A noite lá fora era silenciosa, mas aqui dentro, tudo era feito de sussurros, toques e olhares intensos. Denis me segurava com firmeza, os dedos deslizando pela minha pele em uma reverência silenciosa, como se quisesse imprimir sua marca em mim. Seu corpo estava sobre o meu, quente, forte, uma âncora que me mantinha ali, presa ao momento, submersa nele. Seu olhar era puro desejo. O calor que emanava de nós dois se misturava ao ar do quarto, tornando tudo mais denso, mais carregado. Quando seus lábios encontraram os meus, o beijo veio urgente, faminto, uma dança de línguas e suspiros entrecortados que falava mais do que qualquer palavra. Nossas mãos exploravam um ao outro com avidez, como se nunca fosse o suficiente, como se precisássemos absorver cada fragmento da nossa existência juntos. Denis traçou um caminho de beijos pela minha pele, descendo por meu pescoço, meu colo, saboreando cada parte de mim com uma devoção que fazia minha pele arder. — Você é perfeita… — ele murmurou contra minha barriga, sua respiração quente me fazendo arfar. Meus dedos se enterraram em seus cabelos quando ele se demorou ali, brincando, provocando, me levando a um estado de euforia e desespero. Seu toque era preciso, hábil, explorando cada reação minha com um conhecimento perigoso. Então, sem aviso, ele subiu novamente, seus olhos cravados nos meus, escuros, intensos. Seu membro roçava contra mim, provocando um gemido baixo que escapou dos meus lábios antes mesmo que eu pudesse contê-lo. — Denis… — seu nome saiu quase como um suspiro, carregado de desejo. Ele sorriu, um sorriso torto, cheio de malícia, e então, sem pedir licença, adentrou-me em um único movimento, fazendo-me ofegar e arquear o corpo contra o dele. Seus quadris começaram a se mover, primeiro em um ritmo lento, intenso, cada investida nos levando mais fundo ao abismo do prazer. Meus dedos cravaram-se em seus ombros quando o ritmo se intensificou, o som de nossas respirações misturando-se ao deslizar das peles, ao ranger da cama, ao murmúrio rouco de palavras incompreensíveis que escapavam de sua boca contra minha orelha. Cada investida me puxava para mais perto do limite, cada saída e entrada me deixava à beira do colapso. Eu me perdi nele, me afoguei em seu toque, em sua boca, no calor de seu corpo colado ao meu. Nem sei em que momento ele se protegeu, nem quando foi que deixamos de ser dois para nos tornarmos um só. Tudo que sei é que, no instante em que atingimos o ápice juntos, meu mundo inteiro se dissolveu em um turbilhão de prazer e loucura, e por um breve momento, tudo que existia era ele e eu. Denis me olhava como se eu fosse a única coisa no mundo que importava. — Você é linda… — Denis murmurou contra meu pescoço, sua voz rouca fazendo meu coração acelerar. Suas mãos exploravam meu corpo sem pressa, como se estivéssemos dançando uma melodia que apenas nós dois podíamos ouvir. Eu arqueei as costas mais uma vez, quando ele deslizou os lábios pelo meu colo, o calor de sua boca incendiando cada centímetro que tocava. Ele sabia exatamente como me levar ao limite e me puxar de volta, como me fazer desejar mais, como transformar cada momento entre nós em algo único, inesquecível. E naquela noite, ele fez isso de novo, e de novo, me amando com uma intensidade que me fez esquecer de tudo, de qualquer preocupação, de qualquer medo. O mundo se dissolveu ao nosso redor. Eu estava envolta por seus braços, meu corpo ainda sensível ao seu toque, enquanto o calor da nossa união permanecia no ar. — Eu te amo, Alby, você sabe disso, não sabe? — Denis sussurrou contra meus lábios, sua voz baixa, rouca, embriagante. Nós estávamos deitados na minha cama, os lençois embolados ao nosso redor, minha perna entrelaçada à dele. O quarto estava iluminado apenas pelo abajur fraco, criando sombras suaves em seu rosto. Eu sorri, deslizando os dedos por seus cabelos escuros. — Às vezes, acho que você só diz isso para me manter por perto — provoquei. Denis riu, segurando meu rosto entre as mãos. — Se eu quisesse alguém só por conveniência, você acha que escolheria justamente você? A mulher mais teimosa, geniosa e impossível que eu já conheci? — Ei! — bati de leve em seu peito, rindo, mas ele me puxou para mais perto. — É sério — sua expressão ficou mais intensa. — Eu nunca faria nada para te magoar. Nunca. Você é a única pessoa no mundo que eu realmente amo. Meus olhos se fecharam enquanto ele selava nossas promessas em um beijo lento, profundo. Atualmente Mentiroso. Minha mente gritou. Cada palavra dele agora parecia ridícula. Uma piada sem graça. Eu estava parada ali, vendo o homem que me fez promessas vazias entre os lençois de outra mulher. E não era qualquer mulher. Era minha melhor amiga. A ironia era cruel. — Alby, eu... — começou Ana, sua voz trêmula, os olhos arregalados. — Cala essa sua boca nojenta! — cuspi as palavras, sentindo a bile subir na garganta. Meu olhar cortou para Denis, que ainda tentava puxar os lençois para cobrir a própria vergonha. Tarde demais para isso. — E você? — avancei até a cama, apontando o dedo no rosto dele. — Vai falar o quê? Que não é o que parece? Que foi um erro? Que o diabo te fez fazer isso? Denis respirou fundo, a culpa estampada em sua cara de canalha. — Foi um erro, Alby... — Não, Denis. Um erro é esquecer o leite fora da geladeira. Um erro é perder o horário de uma reunião. Isso aqui?! — gargalhei, mas minha risada saiu ácida, carregada de ódio — Isso é escolha! Você escolheu me trair! Escolheu subir nessa vadia e destruir tudo o que a gente tinha! Ana arfou, ofendida. — Olha como você fala comigo! — Com você?! — me virei para ela, meu corpo inteiro fervendo de fúria. — Com você eu devia era falar com os punhos! Mas sabe o que é pior? Eu não preciso levantar um dedo. Você se destruiu sozinha, sua cobra. Ana apertou o lençol contra o peito, as bochechas vermelhas. — A culpa não é só minha. Dei um passo para frente, tão perto que pude sentir sua respiração descompassada. — Você me dizia que ele ia me trair. Que ele não prestava. Agora sei o porquê! — minha voz saiu entrecortada, carregada de desgosto. — Porque era você a vadia rastejante esperando a oportunidade. Denis bufou, se sentando na cama, os olhos cheios de culpa e impaciência. — Eu não planejei isso, tá bom? Revirei os olhos, cruzando os braços. — Ah, claro! Você tropeçou e caiu pelado em cima da minha amiga. Super convincente. — Você estava sempre ocupada! Sempre colocando outras coisas na frente do nosso relacionamento! — Denis rebateu, como se a culpa fosse minha. — Ah, entendi! — bati palmas, a raiva pulsando em cada célula do meu corpo. — Então, em vez de conversar como um adulto, você decidiu abrir as pernas dela? O silêncio foi ensurdecedor. Ele não tinha desculpa. Nenhuma palavra poderia justificar isso. E, de repente, me dei conta de que eu não queria mais ouvir nada. Minha raiva era uma tempestade devastadora, mas por trás dela vinha algo pior: o desprezo. Fui até meu quarto e comecei a jogar minhas roupas na mala com violência, minha respiração acelerada. Peguei meu telefone e disquei um número. — Ainda está de pé sua oferta? — minha voz saiu firme, mas meus dedos tremiam. A resposta do outro lado foi curta. — Ótimo. Já vou para o aeroporto. Eu saí daquela casa não como uma mulher derrotada. Mas como alguém que renasceria das cinzas, forjada pela dor, esculpida pela traição. O peso do que fizeram ainda ardia em meu peito, cada lembrança latejando, como uma ferida aberta, mas algo dentro de mim havia mudado. Eu não seria mais a mesma. Se Denis e Ana achavam que essa história terminava aqui… Eles estavam redondamente enganados.Alguns anos depois… — Nossa gata, hoje você humilhou! Pensei que teríamos que tirar a senhora Gomes a força da sala de reuniões. — Para você vê Marco , que ninguém mandou ela querer vir com mentiras, já havíamos alertado, que caso os números da franquia dela não melhorasse, iríamos pedir para que se retirasse do grupo. Ela pagou para ver… e agora, está fora! Marco fica me olhando, sei que meu amigo ainda se espanta com a forma que eu levo meu trabalho. Mas se ele soubesse que tudo isso aqui é apenas um disfarce, que na realidade inventei um personagem quando cheguei aqui e ainda faço uso dele. Quando um amigo me ofertou essa vaga de trabalho na empresa de um amigo. Eu quase declinei, porque não queria ficar longe do Denis e muito menos minha até então, “amiga”, Ana. Mas quando vi os dois na maior safadeza em minha casa, aquilo foi o combustível que me faltava. Eu não morria de amores pelo Denis, mas tínhamos algo legal. E de repente ser sacaneada do jeito que eu
Há muito tempo que não me divertia tanto. A sensação de liberdade tomava conta de mim, uma leveza que eu não sentia fazia tempo. Marco , Rose e Clara são simplesmente incríveis. Não me deixaram sozinha um minuto sequer, e, antes que eu percebesse, estava completamente envolvida na energia deles. Resolvi me entregar àquela noite, sem pensar em mais nada, apenas em me divertir. Já tínhamos decidido que a volta seria de carro de aplicativo, então não havia com o que me preocupar. Era o momento perfeito para enfiar o pé na jaca. Saí bebendo tudo o que os garçons traziam, os copos esvaziando na minha mão enquanto meus pés não paravam de se mover ao som alto da música. A pista de dança era o meu refúgio, onde as batidas pulsavam no meu corpo e meus amigos estavam ao meu redor. Vários caras se aproximavam, soltavam uma gracinha ou outra, mas eu não estava interessada. Tudo o que eu queria era aproveitar a companhia deles, sentir o calor da amizade, e a noite era no
Eu voltei para casa naquela manhã com uma sensação estranha, uma mistura de liberdade e confusão. No caminho mandei mensagem para meus amigos, avisando que havia acontecido algo inesperado na festa, mas que depois contaria para eles, pois já estava voltando para casa. A noite anterior havia sido extraordinária, talvez a mais intensa da minha vida, mas também carregava uma loucura inesperada. O estranho mascarado, a intensidade, o desejo… era difícil acreditar no que tinha acontecido, como se tudo fosse parte de um sonho ou um devaneio qualquer. Assim que a porta do meu apartamento se fechou atrás de mim, soltei um suspiro profundo. Pela primeira vez em muito tempo, senti que podia respirar de verdade. Anos de celibato e isolamento emocional desabaram com aquela noite, e, ao mesmo tempo, uma parte de mim se sentia exposta, vulnerável. Aquele encontro havia quebrado algo dentro de mim – ou talvez tivesse me libertado. — Você está diferente — foi a primeira coisa que
Onde eu estava com a cabeça quando fui para cima daquela desconhecida? Uma completa estranha. Eu, Isaías Castellar, com tantas opções ao meu redor, terminei a noite com alguém cuja vida eu não sabia nada, com uma desconhecida. Que tolice. Mas, honestamente? Valeu cada segundo. Aquela mulher... surreal. Do tipo que você encontra uma vez na vida, se tiver sorte. Desde o momento que a vi, senti que seria diferente. Não sou de perder o controle assim, mas havia algo nela. Um mistério que me puxava. E, naquele instante, pensei: por que não? Nunca fui do tipo que foge de uma boa oportunidade. A vida é feita dessas jogadas imprevisíveis. Eu a levei para minha cama. Uma noite que começou quente e terminou ainda melhor. Não foi como as outras noites que andei tendo ultimamente – rápidas, superficiais, onde tudo se resume a prazer momentâneo. Com ela foi intenso, algo que não experimento com frequência. O jeito como ela se entregou, sem questio
A ligação veio inesperada, um número desconhecido piscando na tela do meu telefone logo pela manhã. O advogado do outro lado da linha falou com uma formalidade cortante, pedindo que eu comparecesse ao escritório o mais rápido possível. — É um assunto de seu interesse, senhorita Leclerc — ele disse, sem dar muitos detalhes. Algo no tom dele me fez sentir que não poderia ignorar. Meu coração acelerou, uma mistura de curiosidade e receio invadindo minha mente. O que seria tão urgente? Cheguei ao escritório pouco tempo depois, a cabeça girando com hipóteses sobre o que me aguardava. A sala era fria, estéril, e o ar estava pesado, quase sufocante. O advogado, um homem de meia-idade com óculos grossos e uma expressão impenetrável, esperou que eu me sentasse antes de começar a falar. — Obrigada por ter vindo tão prontamente, senhorita Leclerc — ele disse, olhando fixamente para mim. — Sinto muito pela forma como as circunstâncias se desenrolaram, mas temos uma situaçã
Meu Deus! Não havia dúvidas. Aquela voz… Era impossível de esquecer. Ficou em mim muito mais do que eu poderia imaginar. Jamais pensei que o reencontraria, e agora, aqui estava ele: Isaías. O irmão do meu ex. O estranho que havia cruzado meu caminho tempos atrás. Ele não me olhou com o mesmo choque. Na verdade, parecia não dar a mínima para a minha presença. Seu olhar estava fixo no advogado, os braços cruzados, a postura rígida como uma muralha de indiferença. O que ele estava fazendo aqui? E por que, de todas as pessoas, fui eu a convocada para essa reunião bizarra? Dr. Moon pigarreou, atraindo nossa atenção. — Vamos direto ao ponto — ele disse, ajeitando os óculos sobre o nariz. — Vocês foram chamados aqui porque há disposições importantes no testamento de Denis e Ana. Isaías bufou, inclinando-se para frente com um semblante de quem não tinha tempo a perder. — E o que isso tem a ver comigo? — Ele quase rosnou. — Não era o suficiente eu lidar com os pr
Dr. Moon abriu o envelope com uma calma que só aumentava a tensão no ar. Cada movimento dele parecia arrastar o tempo, e eu mal conseguia controlar minha respiração enquanto Isaías continuava de pé ao meu lado, a fúria ainda estampada em cada linha de seu rosto. Eu, por outro lado, sentia um redemoinho de emoções crescendo dentro de mim, misturado com a incredulidade de que o destino de uma criança havia sido colocado em nossas mãos. O advogado começou a ler, a voz dele ecoando pelo ambiente como se estivesse nos puxando para uma realidade que nenhum de nós queria enfrentar: — Isaías, meu irmão… Ana e eu discutimos muito antes de chegarmos a essa decisão. Sabemos que você vai nos odiar por isso, mas confiamos que, no final, você entenderá. Você sempre foi tão sozinho, se escondendo atrás de sua vida agitada, sem tempo para nada, muito menos para sentir. Você se fechou em seu próprio mundo e por diversas vezes tentei adentrar, mas fracassei em cada uma delas. Mas, meu querido
— Onde eu preciso assinar para deixar a guarda para ela? — Isaías resmungou, com desdém, mal esperando Dr. Moon terminar a leitura. Fiquei parada, boquiaberta. Não podia acreditar no que acabara de ouvir. Não era possível que as palavras do irmão não tivessem sequer tocado o coração dele. Era como se o que acabara de ouvir, não fosse nada importante. — Você só pode estar brincando, Isaías! — rebati, sentindo o sangue ferver. — Como você pode ser tão frio? Seu irmão confiou a você a coisa mais preciosa da vida dele e você só quer... se livrar disso? Ele bufou, cruzando os braços. — Eu não pedi para ser o tutor de ninguém, Alby! Não tenho tempo nem paciência para isso. E se Denis realmente me conhecesse, saberia disso. A menção ao nome do irmão morto com tanta indiferença fez meu coração apertar ainda mais de raiva. Eu me aproximei dele, tentando manter o controle, mas a indignação era evidente na minha voz. — Ah, claro, porque você está tão ocupado, não é? E o qu