Antes da uma traição... Eulália sempre acreditou que não tinha um companheiro destinado, até cruzar o caminho do Supremo Alfa. Temido e reverenciado, ele a reivindica sem hesitação, abalando todas as suas certezas. Agora, entre inimigos à espreita e segredos perigosos, Eulália precisa decidir: resistir ao vínculo ou aceitar que sempre pertenceu a ele.
Leer másEULÁLIA — ...Então me diga se alguém da mesma alcateia o calou, nos impedindo de ouvir sua preciosa informação por completa!— Estão debochando de nós? — Rosalina quase gritou.O homem que tinha os papéis na mão ficou em silêncio por sua ousadia.— Por acaso tem algo a acrescentar? — A voz de Wulfric nunca soou tão rígida para mim. Aquela repreensão foi, de fato, muito aterrorizadora.Rosalina se encolheu.— Uma loba adulta, com suas faculdades mentais em perfeitas condições, saberia onde está.Aquilo foi um insulto? Ciro murchou, Rosalina quase chorou. Mas os olhos do supremo não saíram deles.— Isso foi o que, para você, “luna da Sangue Azul”? Um deboche?“Eu vou gamar nesse lobo.” Não foi premeditado.Imediatamente, ele respondeu, sem olhar para mim, ainda esperando a resposta dos dois patetas.— Corrija suas palavras — disse ele.“Está falando comigo?” Seus olhos saíram deles para mim por apenas um segundo.“Eu não sou um lobo. Sou o seu companheiro supremo e o rei de todos os lo
EULÁLIA— Mas nem podemos nos defender. — Rosalina disse com pressa e receio.Mas tentou disfarçar, fingindo nervosismo por considerar não ter voz no julgamento.— Vocês que a acusaram, por que querem se defender?— Podemos dizer o contrário? — foi a vez de Ciro, ele não olhou para ninguém além do meu suposto advogado.— Estão aqui para falar. — recordou o homem. — O que os dois têm a dizer sobre isso?— Ela também conspira com alguém para tirar o trono do supremo. — Rosalina devia ter fritado o cérebro de Ciro, ele insistiu no que já havia sido falado.“Ele sempre foi tão imbecil assim?”Foi a pior mentira que eu ouvi. Todos murmuraram entre si, o homem olhou para seu rei e William repetiu a ação apenas por um segundo, depois todos se voltaram para mim, que permanecia embasbacada com os dois acusadores.O assunto foi mudado para as perguntas que ainda não tinham vindo, mas que William me avisou — não por bondade, certamente.— Tudo está ligando até agora a senhorita Rivera à sua alca
EULÁLIATodo o ar mudou, era a voz de Wulfric, interrompendo o momento para reforçar sua presença inesquecível.Naquele momento, eu não disfarcei como relaxei imediatamente, troquei olhar com o supremo por meros dois segundos, mas foi o suficiente para os dois ao lado perceberem.Rosalina, como sempre, não se conteve em murmurar para o companheiro suas descobertas de forma venenosa.— Ela é louca, como pode olhar assim para ele diretamente? Certamente está desejando a morte.Ciro sussurrou algo e ela respondeu:— O supremo não aceitaria uma criminosa ou comum como ela, só por ser uma loba sem destinado… — Se eu, mesmo perto deles, conseguia ouvir, ela não pensou que o supremo poderia ouvir também?“Ela não vê que estamos em um julgamento?” A encarei, evitando colocar a imagem do seu companheiro na frente dos meus olhos, borrei seu rosto na minha mente e esperava que aquilo funcionasse na vida real.O vestido azul acinzentado abraçava sua silhueta, manteve o queixo erguido, denunciando
EULÁLIANaquele dia, eu estava pisando novamente no salão que nunca foi acolhedor para mim. O salão de julgamento não era o mesmo salão de festas, de banquete ou do trono.Havia outro trono ali, mas era o lugar de um rei juiz, não apenas um rei. O brasão do reino em alto-relevo atrás do assento de Wulfric, tudo permanecia igual.Tudo, exceto a forma como me olhavam. Hoje, eu não era mais acusada. Mas tampouco estava livre.Além do meu companheiro, vestido de negro e dourado - entre sapatos, calça negra, camisa social e uma longa capa negra com detalhes dourados bordados nas suas extremidades.Ele estava perfeito, apesar das cores que carregava. Seus olhos de duas cores me atraíam como nunca, tanto que eu quase sussurrei um “olá” de forma íntima. Me contive.Nossos olhos se prenderam por um instante, até que eu fiz uma reverência leve, aceita por todos, já que eu era a companheira do Supremo, e todo o conselho tinha conhecimento disso.“Por que só o estou vendo agora?”, choraminguei em
EULÁLIA — Se eu quisesse matá-la, já teria feito. Sem mais delongas. — E por que não fez? — Escolhi algo para comer. — Porque ainda não sei se prefiro vê-la viva ou morta. Ou apenas fora dos limites deste castelo — respondeu com naturalidade. Aquilo não me ofendeu. Na verdade, fez minha curiosidade aflorar. — E eu nem poderia querer — murmurou. “Então eu tenho mesmo um pouco de influência sobre ele.” Ele virou-se de costas, como se a conversa estivesse encerrada. E, por um instante, pensei que fosse sair. Então se voltou para mim, assistindo à maçã chegar perto dos meus lábios. “Seria uma coisa muito estúpida lembrar da Branca de Neve agora, William.” Eu mesma recordei, mas ainda assim dei uma mordida na maçã. — Haverá um julgamento secundário. — Tem a ver comigo, suponho. — Um dos guardas foi acusado de passar informações aos rebeldes — disse casualmente. — E? — Ele jurou ter ouvido de uma loba do seu clã que havia um plano para que você fugisse daqui antes do j
EULÁLIA Naquela manhã, alguém bateu na minha porta. No fundo, desejei que fosse Wulfric, por isso fui ao encontro dela com certa ansiedade, dando passos apressados até. — Seu desjejum. — Desta vez não era loba nenhuma, não era empregada ou encarregado. Os olhos verdes dele me deixaram desconfortável com a intensidade com que me olhou. — Beta… Ele sorriu, adentrando o quarto como se fosse seu. — Se me der licença… “Mesmo se não desse, você entraria, não é?” penso, enquanto espiava pelo corredor, verificando se os guardas ainda estavam lá. Eu não confiava nele por causa do acontecimento do julgamento. Aquilo parecia mais um problema pessoal comigo. Voltei-me para dentro com urgência ao sentir seu olhar. Ele arrumava a pequena mesa com prática; mesmo que com certo cuidado, ainda não deixava de me observar. — Está preocupada comigo? — Um sorriso zombeteiro beirava seus lábios. — E não deveria? — perguntei, enquanto fechava a porta. — Então não deveria fechar a porta. — Sorri
WULFRIC Não me importava se essa pessoa era ou não muito próxima de mim, mas, se estava desde o início tramando contra mim, era a maior prova de que não devia estar ao meu lado. Reymond apertou os olhos por alguns segundos, encarando a grama abaixo de seus pés. — E então, o que descobriu além disso? — perguntei, sem desviar o olhar do casal à frente. “Eles são muito confiantes.” Percebi aquilo porque Ciro nunca sentiu minha presença, mesmo que eu já estivesse ali há muitos minutos. — Ciro mantém um dos antigos conselheiros do pai sob vigilância. Ainda é leal ao sangue do último alfa, Michel, mas finge submissão ao novo. Tive acesso a parte dos arquivos que ele esconde na biblioteca oculta da mansão. O conselheiro registrou que Rosalina tem contatos fora da alcateia. Um deles é humano. Estreitei os olhos, atento. — Humanos? — Parecia brincadeira. “Estão testando mesmo minha paciência?” Eles haviam até mesmo passado dos limites incluindo humanos no nosso mundo. “Eu deveria mes
WULFRIC — Soberano. — Ouvi a voz de Reymond atrás de uma das casas mais próximas. O encontrei com o olhar. Ele não havia gritado, apenas murmurado. Minha audição era melhor que a dos demais, isso ajudava a não criar alarde. Fiz um sinal de cabeça, inclinando-a para o lado oposto dele, chamando-o. Reymond quebrou a distância entre nós dentro de segundos. — Como está indo? — Primeiro perguntei a ele sobre sua saúde, seu bem-estar. Nos lábios meio rosados dele, por causa de sua pele pouco corada, quase pálida, ele sorriu com timidez. — Estou bem, soberano. — Como eles te tratam? — Fiz sinal com os dedos, pedindo para ele mostrar suas costas na minha frente. — Como um ômega sem matilha. — Revelou suas costas maltratadas. — Eles tocaram em você? — Apertei as mãos. Reymond era meu ômega. Ninguém podia tocar no meu lobo de confiança. “Cabeças vão rolar em breve.” — Eles basicamente só não deixam cicatrizar, “para me mostrar de onde vim”, segundo o que eles pensam. Ele baixou
WULFRICO vento frio batia no meu rosto enquanto eu corria em uma velocidade razoável, estabelecendo contato com meu ômega assim que pus os pés naquele território.De repente tive que parar. Meu olfato captou algo no ar: um cheiro estranho. Olhei ao redor das árvores, para as copas altas, deixando o vento leve soprar no meu rosto com menos intensidade que soprava as folhas nos galhos.Respirei fundo, o frescor da madrugada me proporcionava a sensação de liberdade. Mas aquele cheiro de lobo era incomum.“Alguém passou por aqui há onze horas.” Esse alguém mascarou seu cheiro com perfume e incenso.“Eu odeio incenso.” Torci o nariz. Era algo a se pensar.Ainda no mesmo lugar, comecei a deduzir, em busca das peças certas. Aquela pessoa se preveniu sobre a minha chegada, pois não faria sentido mascarar seu cheiro justamente com a mistura que me irritava.“Ele me conhece bem.” Estreitei os olhos.“Se ele é alguém tão bem informado, só pode ser alguém que me espiona desde o início…” Saí do l