EULÁLIA— Segundo os relatórios da alcateia Sangue Azul… — Reviraria os olhos só de ouvir o nome da minha antiga alcateia, se tivesse esse costume e se não estivesse sob tantos olhares, principalmente o dele.Enquanto o Beta continuava, eu sentia os olhares em cada parte de mim, mas apenas um tinha o poder de me atingir.Suspirei devagar e da forma mais sutil que pude, tentando continuar firme diante das acusações. Porém, os olhos cinzentos, com sua aliança vermelha ao redor das pupilas, me chamaram.Ele me prendeu em seu contato visual, como se tivesse escutado até o meu baixo suspirar cansado. Por um momento, pareceu que havia apenas nós.“Claro que ele ouviu. Ele escuta melhor que ninguém.”Recordei do que ele disse sobre meus batimentos cardíacos. Baixei os olhos, tentando não parecer ousada. Pus-me a prestar atenção nas palavras do Beta.— As acusações apontam Eulália Rivera não apenas como traidora de seu companheiro… — Levantei a cabeça imediatamente.“Companheiro? Que companhe
EULÁLIA— E por que eles fariam isso? — perguntou o Beta.— Eu sou descartável. Eu não passo de uma loba fraca e sem companheiro. Mas poderia estragar seus planos de atentar contra o supremo.Risos soaram pelo salão. Não me senti idiota por isso, eu sabia o quanto a ideia de Ciro era tola, mas ele não.Sua fixação por se autodenominar rei, sua vontade de ser alfa antes do tempo, isso tudo só percebi tarde demais.— Como isso poderia levar ao nosso supremo? Vocês não têm força contra o supremo. — desdenhou o Beta.— Eu não faço mais parte deles. — corrigi sem medo.Recebi em troca alfinetadas de suas íris verdes.— E qual é o plano dele? Nos enviar uma isca para nos distrair? — percebi seu tom irônico.“Ele quer dizer que se não sou a traidora, ainda estou fazendo a vontade de alguém e arquitetando com eles?”— Não. Eu deveria ser morta, é tudo que sei.— E por que ainda está viva? — Aquele Beta parecia ter um problema comigo.Havia um julgamento pessoal ali. Eu sentia.— Eu fugi!— E
ALFA SUPREMO (WULFRIC DRAVEN)Sob meu olhar, vi aquela mulher tremer levemente. Ela entendeu imediatamente o significado das minhas palavras. Eu não tornei nada difícil para haver compreensão. "Isso é real?" — ouvi seus batimentos acelerados, sua respiração falhar.Ela custou a acreditar. "Eu tenho mesmo um companheiro? É possível?" — Apertei a mandíbula, chateado.Esperava que essa negação passasse mais cedo do que tarde, mas me incomodou por começar justo agora, que seu cheiro rondava minhas narinas. Eu queria seus olhos apenas em mim.— O que faremos com ela agora? — alguém ousou perguntar de forma impertinente.— Vamos ter que cavar a história — disse William, meu Beta.— Por hora, esse assunto está encerrado! — declaro, quebrando nosso contato visual para procurar objeções nos rostos presentes.Ninguém se opôs ou fez barulho, então me movi, passando por minha bela companheira ainda ajoelhada.— Nos vemos mais tarde — murmuro para que ela escute.— William! — chamo assim que alc
WULFRIC DRAVEN William colocou o indicador embaixo do queixo, com o cotovelo apoiado no outro antebraço, assim como eu fazia quando pensava. — Ele será o alvo da alcateia por acreditarem que ele é mais fraco, e não irão imaginar que ele é do conselho. — Isso com certeza irá acontecer. — Recordei-me de como me insultaram fora daquele bar. — Então irei pedir para que ele se prepare. — William já estava prestes a se retirar. — Não se esqueça de adicionar uma observação curiosa ao seu relatório… — atrair sua atenção. — O novo alfa terá de pagar pelos insultos que recebi dos seus seguidores mais cedo. Portanto, Reymond não pode tirar os olhos deles. Eles são covardes também. — Então isso é quase uma prova de que nossa Luna está certa sobre aquele alfa desejar o seu poder? — Isso ele nunca terá! — asseguro. — Obviamente, não. A profecia foi cumprida quase completamente. Quem poderia com o grande reinado do nosso destino supremo? — me bajula. — Está na hora de ir avisar Reymond. —
EULÁLIAQuando ele disse seu nome no salão, me fez perceber que, naquele momento, era como uma aceitação do nosso laço. Ele não me rejeitou.Seu nome foi escolhido assim que ele nasceu com aquela aparência — alguém dito como quase albino, com heterocromia central nos olhos: condição ocular em que a íris tem dois ou mais círculos de cores diferentes.É uma característica incomum, mas nada grave. Além de ser muito atraente para mim.A íris tem um anel externo de uma cor e um anel interno de outra.O anel interno pode ter "espinhos" de cores diferentes que irradiam da pupila.A cor externa é considerada a verdadeira cor da íris.Há casos esporádicos de causa não genética. Esse era o caso dele.O Supremo não herdava aquelas condições raras de ninguém da sua família.“Seus olhos voltaram ao normal quando ele disse aquelas palavras e ninguém contestou.” Continuei pensando em como tudo aquilo parecia loucura.“Eu achei que viraria Luna…” começo a contar nos dedos enquanto olho para o teto, d
EULÁLIAHesitei por um instante, não sabia se de fato seriam informações importantes agora.— Ciro... ele me contava histórias quando éramos crianças.Wulfric franziu o cenho.— Histórias?— Sim... Histórias sobre um lobo negro de olhos vermelhos. Sobre um rei de cabelos brancos e olhos de duas cores. — busquei seus olhos, procurando ver sua reação.— Ele contava a profecia? — a voz de Wulfric saiu mais grave, quase um rosnado.— Não exatamente... Ele nunca chamava de profecia. Mas dizia que um dia o mundo mudaria quando esse lobo surgisse.Ele esperou saber mais, pressentindo haver mais do que apenas as mesmas palavras de sempre.— Que ele seria temido por todos, menos por mim. — completei.“Ele só não voltou a falar sobre mim na profecia quando crescemos.”— Por que você? — Me fitava com intensidade.“Talvez ele soubesse…”— Porque, segundo ele, eu era a única que poderia reconhecer a alma dele mesmo quando o corpo ainda estivesse quebrado. — eu não havia entendido isso antes, mas p
EULÁLIA O dia nunca foi tão longo quanto aquele. Ao acordar em um ambiente estranho, o primeiro que pensei foi em como havia parado ali. Então recordei do Supremo, de como flertei com ele e por pouco não virou uma tentativa falida. Agora precisava ficar no quarto até segunda ordem. Não era uma prisão: não havia como ser comparado a uma, pois era um cômodo luxuoso, mas, naquela ocasião, era um ambiente preparado para deter qualquer intenção de fuga da minha parte, assim como manter minha segurança quanto a quem estiver tramando contra o meu companheiro. Minha mente estava cheia de pensamentos irritantes desde o momento do meu despertar, sobre Ciro e seus planos. “A mente vazia realmente é a oficina do d***o.” — suspirei, me aproximando da grande janela de vidro. Onde foi possível ver a grande extensão que a construção do castelo cobria. A floresta que antes me pareceu próxima, agora se mostrava tão distante daquelas paredes imponentes de pedras. “O que será de mim amanhã?” — não
EULÁLIA Nosso primeiro jantar íntimo não foi opressivo ou tenso. Por mais estranho que parecesse, permaneceu em um clima leve e até mesmo íntimo. Vez ou outra, quando acreditei que estava imersa em meus próprios pensamentos, esquecendo-me de seu dom, o encontrava com seus olhos divertidos sobre mim. — Tenho uma pergunta… — quis parecer o mais séria possível. — Faça! — Essa, por acaso, é a minha última refeição? — Ele afastou os talheres depois de largá-los, colocou as mãos sobre a margem da mesa e me encarou. — Acredita que já terá sua morte? — Não é esse o sentido de ter me trazido a refeição? — Estou compartilhando-a com você. — Seu tom saiu quase amargo. — É mais um ponto estranho. — Deixei meus talheres na mesa igualmente, dando total atenção ao homem à minha frente. — Vou compartilhar meus pensamentos em voz alta, mesmo que o soberano não precise disso. — O vi apertar os olhos. — De repente, enquanto espero minha sentença de morte, surge um jantar magnífico que, ao i