EULÁLIA Nosso primeiro jantar íntimo não foi opressivo ou tenso. Por mais estranho que parecesse, permaneceu em um clima leve e até mesmo íntimo. Vez ou outra, quando acreditei que estava imersa em meus próprios pensamentos, esquecendo-me de seu dom, o encontrava com seus olhos divertidos sobre mim. — Tenho uma pergunta… — quis parecer o mais séria possível. — Faça! — Essa, por acaso, é a minha última refeição? — Ele afastou os talheres depois de largá-los, colocou as mãos sobre a margem da mesa e me encarou. — Acredita que já terá sua morte? — Não é esse o sentido de ter me trazido a refeição? — Estou compartilhando-a com você. — Seu tom saiu quase amargo. — É mais um ponto estranho. — Deixei meus talheres na mesa igualmente, dando total atenção ao homem à minha frente. — Vou compartilhar meus pensamentos em voz alta, mesmo que o soberano não precise disso. — O vi apertar os olhos. — De repente, enquanto espero minha sentença de morte, surge um jantar magnífico que, ao i
EULÁLIA Já sentia a tristeza me inundar, pelo que teria que fazer. O companheiro que eu achei que não existisse era, na verdade, alguém que já existia mesmo antes de nascer: através das profecias. Era bom demais para ser verdade, e eu também tinha que ser boa o suficiente para não ser egoísta. Fechei os olhos por alguns segundos, buscando coragem para continuar. Quando os abri, a tempo de falar, o supremo me agarrou pela cintura, me levantando. Como um flash, me jogou na cama e pairou sobre mim. Aquela ação me surpreendeu tanto que me calou. Em vez de continuar minha frase de rejeição, o que escapou dos meus lábios foi somente um pequeno grito: — AH, VOCÊ ESTÁ ASSUSTADA? — seus olhos vermelhos se aproximaram ainda mais dos meus. Sua voz tremia nas minhas veias. — VOU MOSTRAR PARA VOCÊ QUEM DEVE SER! Seu corpo me prendeu, e sem aviso, suas mãos afastaram os fios ruivos do meu pescoço, descendo até o ponto acima do peito. “O quê?” Não tive tempo de pensar. Mesmo trêmula,
WULFRIC DRAVEN Dois dias haviam se passado. Já havia caído a noite e, mesmo conectado à minha parceira, ainda havia o crime que ela não havia cometido. Eu esperava ansiosamente por desvendar a verdade ao conselho, que pressionava William por respostas. Nenhum lobo vinha me perguntar, ninguém tinha tamanha coragem. Mas eu sentia o que eles queriam. Eles queriam o sangue dela, a morte da minha companheira, manipulados pela pessoa que ainda estava nas sombras daquele cargo, os incentivando a me colocar contra o destino e a minha companheira. Eles queriam me ver mais fraco, querem um buraco no lugar do meu coração. Pois se torna muito difícil sobreviver com uma dor tão grande e ainda continuar reinando da mesma forma. Com o coração em pedaços, eu poderia ter a mente colapsando constantemente, assim seria facilmente manipulado e derrotado. Apertei os punhos, irritado, impaciente, ansioso por vê-la. Não me permiti visitá-la outra vez porque queria dar boas notícias e não a queria nega
WULFRIC DRAVEN — Não há ninguém com esse nome no conselho. — avisou William. — Não. Ele não seria tão burro. — Continuei minha leitura… “Ciro, que era apenas um lobo ambicioso até então, estava nas sombras, sussurrando aos ouvidos do pai doente sobre sua suposta lealdade e a instabilidade de Eulália. Não foi a doença que matou o velho Alfa. Ouvi isso de uma loba anciã, chamada Maedra, que ainda cultiva as ervas no limite da floresta. Ela não teve objeções para nada. O truque de ter feridas nas costas como punição injusta provocadas pela minha “antiga alcateia” foi o que facilitou tudo. — Com certeza isso ainda dói. — William comentou, lendo no tablet. — Fala isso por experiência própria? — ironizei, vendo William desmanchar o sorriso. — Peço desculpas, senhor. Estou ciente de que fui eu quem causou aquelas marcas que ele carrega. — Meu Beta se corrigiu no mesmo instante. Quanto maior a posição, maior poderia ser a força aplicada ou mais tempo para cicatrização. Foi isso que
Aquele dia não foi como os outros: presa, cheia de angústia e ansiedade. Não conseguia nem identificar se a ansiedade era inteiramente minha por não ter notícias do ômega de Wulfric, ou se ele e eu, por mais que não nos víssemos nos últimos dias, compartilhávamos dos mesmos sentimentos através da marca. Era como se não fosse sangue correndo nas nossas veias, mas sensações — e, um dia, seriam sentimentos. Aquele dia foi agitado e irritante. Esperava pelo meu desjejum como sempre, mas, ao invés de saírem após colocar a mesa, uma das lobas se aproximou de repente e avançou para cima de mim. — Está louca? — foi minha primeira pergunta quando ela tentou me pressionar contra a parede mais próxima. Apertei a mão que ela tinha contra meu pescoço, colocando a outra contra o seu pescoço também. Mas, quando acreditei que conseguiria afastá-la com um golpe de defesa, a outra loba, que sempre a acompanhava, veio ajudá-la a me manter presa. Rosnei com elas me segurando. — Vai ca***a! Rosna c
EULÁLIA— Supremo! — ambas falaram em uníssono. A voz de uma delas tremeu, mas ambas agora cheiravam a medo.Ele me olhou por mais um segundo. Algo no fundo, como se analisasse meu estado físico. Meus olhos também desceram sobre o meu próprio corpo: calça jeans intacta, blusa de alças apenas amarrotada e os saltos agulha no lugar.Para mim, eu estava bem. Alisei meus fios avermelhados com os dedos, tirando-os da frente do corpo para jogá-los para as costas. Nesse momento, senti queimar os lados do pescoço.Os olhos dele fixaram nesses pontos de queimação imediatamente. Eu senti. Então, levei as mãos até ali para tocar. As garras da primeira atacante tinham afundado um pouco na minha pele. Meus dedos vieram sujos.“Droga! Quando isso aconteceu?” Quase bufei, mas, antes, o rosnado dele fez os móveis tremerem: inclusive a cama em que eu quase me recostava.— Como ousam?As lobas baixaram as cabeças, quase chorando, até mesmo tentando explicar. Wulfric não ouviu.— Eu disse que ninguém to
EULÁLIA“Ele é o rei dos lobos. O meu rei. O meu companheiro.” Era tão bom e tão irreal ao mesmo tempo.Quando desci para sua barba feita há dois dias, ele agarrou minha mão para me impedir de traçar caminho até seu pescoço.— Esse não é o lugar, Eulália!— Por quê?“Não estamos em um quarto?” Não conseguia sentir timidez suficiente naquele momento, apenas consciência de sua presença e toque.— Tem corpos atrás de mim, o odor de sangue é repugnante.O olfato dele era muito melhor do que qualquer lobo comum ou alfa.— Eu havia esquecido. Eu nem o sinto — confessei.Mesmo que restasse algo desse mesmo material sanguíneo nos dedos dele ou debaixo de suas unhas.— Como que não sente? — novamente cheirou o ar, então apertou os olhos.— Você sente algo mais? — perguntei, quase inocentemente.— Claro que sinto. Mas não combina com esse ambiente.— Então me leve para o lugar certo! — pedi, hipnotizada, embriagada por ele.— Não foi assim que eu planejei — ele resmungou, lutando contra si mesm
WULFRICO vento frio batia no meu rosto enquanto eu corria em uma velocidade razoável, estabelecendo contato com meu ômega assim que pus os pés naquele território.De repente tive que parar. Meu olfato captou algo no ar: um cheiro estranho. Olhei ao redor das árvores, para as copas altas, deixando o vento leve soprar no meu rosto com menos intensidade que soprava as folhas nos galhos.Respirei fundo, o frescor da madrugada me proporcionava a sensação de liberdade. Mas aquele cheiro de lobo era incomum.“Alguém passou por aqui há onze horas.” Esse alguém mascarou seu cheiro com perfume e incenso.“Eu odeio incenso.” Torci o nariz. Era algo a se pensar.Ainda no mesmo lugar, comecei a deduzir, em busca das peças certas. Aquela pessoa se preveniu sobre a minha chegada, pois não faria sentido mascarar seu cheiro justamente com a mistura que me irritava.“Ele me conhece bem.” Estreitei os olhos.“Se ele é alguém tão bem informado, só pode ser alguém que me espiona desde o início…” Saí do l