WULFRIC DRAVEN Dois dias haviam se passado. Já havia caído a noite e, mesmo conectado à minha parceira, ainda havia o crime que ela não havia cometido. Eu esperava ansiosamente por desvendar a verdade ao conselho, que pressionava William por respostas. Nenhum lobo vinha me perguntar, ninguém tinha tamanha coragem. Mas eu sentia o que eles queriam. Eles queriam o sangue dela, a morte da minha companheira, manipulados pela pessoa que ainda estava nas sombras daquele cargo, os incentivando a me colocar contra o destino e a minha companheira. Eles queriam me ver mais fraco, querem um buraco no lugar do meu coração. Pois se torna muito difícil sobreviver com uma dor tão grande e ainda continuar reinando da mesma forma. Com o coração em pedaços, eu poderia ter a mente colapsando constantemente, assim seria facilmente manipulado e derrotado. Apertei os punhos, irritado, impaciente, ansioso por vê-la. Não me permiti visitá-la outra vez porque queria dar boas notícias e não a queria nega
WULFRIC DRAVEN — Não há ninguém com esse nome no conselho. — avisou William. — Não. Ele não seria tão burro. — Continuei minha leitura… “Ciro, que era apenas um lobo ambicioso até então, estava nas sombras, sussurrando aos ouvidos do pai doente sobre sua suposta lealdade e a instabilidade de Eulália. Não foi a doença que matou o velho Alfa. Ouvi isso de uma loba anciã, chamada Maedra, que ainda cultiva as ervas no limite da floresta. Ela não teve objeções para nada. O truque de ter feridas nas costas como punição injusta provocadas pela minha “antiga alcateia” foi o que facilitou tudo. — Com certeza isso ainda dói. — William comentou, lendo no tablet. — Fala isso por experiência própria? — ironizei, vendo William desmanchar o sorriso. — Peço desculpas, senhor. Estou ciente de que fui eu quem causou aquelas marcas que ele carrega. — Meu Beta se corrigiu no mesmo instante. Quanto maior a posição, maior poderia ser a força aplicada ou mais tempo para cicatrização. Foi isso que
Aquele dia não foi como os outros: presa, cheia de angústia e ansiedade. Não conseguia nem identificar se a ansiedade era inteiramente minha por não ter notícias do ômega de Wulfric, ou se ele e eu, por mais que não nos víssemos nos últimos dias, compartilhávamos dos mesmos sentimentos através da marca. Era como se não fosse sangue correndo nas nossas veias, mas sensações — e, um dia, seriam sentimentos. Aquele dia foi agitado e irritante. Esperava pelo meu desjejum como sempre, mas, ao invés de saírem após colocar a mesa, uma das lobas se aproximou de repente e avançou para cima de mim. — Está louca? — foi minha primeira pergunta quando ela tentou me pressionar contra a parede mais próxima. Apertei a mão que ela tinha contra meu pescoço, colocando a outra contra o seu pescoço também. Mas, quando acreditei que conseguiria afastá-la com um golpe de defesa, a outra loba, que sempre a acompanhava, veio ajudá-la a me manter presa. Rosnei com elas me segurando. — Vai ca***a! Rosna c
EULÁLIA— Supremo! — ambas falaram em uníssono. A voz de uma delas tremeu, mas ambas agora cheiravam a medo.Ele me olhou por mais um segundo. Algo no fundo, como se analisasse meu estado físico. Meus olhos também desceram sobre o meu próprio corpo: calça jeans intacta, blusa de alças apenas amarrotada e os saltos agulha no lugar.Para mim, eu estava bem. Alisei meus fios avermelhados com os dedos, tirando-os da frente do corpo para jogá-los para as costas. Nesse momento, senti queimar os lados do pescoço.Os olhos dele fixaram nesses pontos de queimação imediatamente. Eu senti. Então, levei as mãos até ali para tocar. As garras da primeira atacante tinham afundado um pouco na minha pele. Meus dedos vieram sujos.“Droga! Quando isso aconteceu?” Quase bufei, mas, antes, o rosnado dele fez os móveis tremerem: inclusive a cama em que eu quase me recostava.— Como ousam?As lobas baixaram as cabeças, quase chorando, até mesmo tentando explicar. Wulfric não ouviu.— Eu disse que ninguém to
EULÁLIA“Ele é o rei dos lobos. O meu rei. O meu companheiro.” Era tão bom e tão irreal ao mesmo tempo.Quando desci para sua barba feita há dois dias, ele agarrou minha mão para me impedir de traçar caminho até seu pescoço.— Esse não é o lugar, Eulália!— Por quê?“Não estamos em um quarto?” Não conseguia sentir timidez suficiente naquele momento, apenas consciência de sua presença e toque.— Tem corpos atrás de mim, o odor de sangue é repugnante.O olfato dele era muito melhor do que qualquer lobo comum ou alfa.— Eu havia esquecido. Eu nem o sinto — confessei.Mesmo que restasse algo desse mesmo material sanguíneo nos dedos dele ou debaixo de suas unhas.— Como que não sente? — novamente cheirou o ar, então apertou os olhos.— Você sente algo mais? — perguntei, quase inocentemente.— Claro que sinto. Mas não combina com esse ambiente.— Então me leve para o lugar certo! — pedi, hipnotizada, embriagada por ele.— Não foi assim que eu planejei — ele resmungou, lutando contra si mesm
EULÁLIA“Licaon foi o primeiro lobisomem da história, segundo as lendas gregas. Ele ousou cozinhar a carne de um escravo para oferecê-la a Zeus e, como punição, o deus o amaldiçoou. Desde então, ser um lobisomem sempre foi visto como uma maldição.”“Agora somos sinônimos de poder.”Aquela seria a noite em que minha vida mudaria, não que eu soubesse se seria uma mudança boa ou ruim.— Estão invadindo… — foi tudo muito rápido.O novo Beta da matilha Sangue Azul me puxou pela mão para longe de toda a confusão. A princípio, acreditei que seria pela posição de Luna que meu namorado havia prometido.— Por aqui. — Ele me levou rumo à floresta.— Mas eu posso ajudar as mães e crianças desamparadas se estiver lutando junto com todos.— Sua segurança é mais importante. E são ordens diretas.— De Ciro? — perguntei, seguindo-o. Ele ainda me puxava com pressa.— Sim.Meu sorriso ampliou. Por dentro, estava muito feliz por ele não estar mais estranho como antes.“Ele está me protegendo.”Acompanhei
EULÁLIALutei como podia, até perceber que ele queria me matar de verdade. Por isso, tive que empurrá-lo com tudo que tinha e pular de pé, mesmo machucada. Capturei a adaga que tinha no bolso da calça e encarei Ciro em sua forma de lobo, agora maior que antes, e sua suposta verdadeira namorada.— Por que está me atacando? — quase gritei. Ele, por sua vez, apenas me rondou.“Eles sempre planejaram me eliminar depois da ascensão de Ciro ao cargo de Alfa. Mesmo tendo sido eu a ajudá-lo a ganhar uma boa imagem.”— Porque você é a traidora, aquela que chamou os inimigos e fez o pai dele morrer antes da hora. — Era Rosalina falando por ele novamente.— Você não sabe mais falar, não? Só essa v***a aí? — explodi.Tudo estava se encaixando, e isso me deixava muito brava. Eu era o alvo de todos, principalmente daqueles dois. Então, recordei que o Beta foi o mesmo que entrou correndo, dizendo que estávamos sendo atacados, e foi ele quem me levou até ali, para esperar por meu suposto namorado.—
EULÁLIA — Você é uma loba bonita e fértil, mas só serve para isso, procriar. E eu nunca seria louco de me deitar com você para ter lobos ruivos. Lobos estranhos. Quando tenho minha companheira de verdade. Engoli o gosto da decepção. Eu era uma loba que não podia deitar-se com qualquer um; diziam que deveria ser apenas de um alfa, para procriar e elevar o nível da matilha, mas essa era a parte em que eu nunca contei a Ciro. Ele só sabia que eu era uma loba para ter filhos e não alguém dita como especial. — Eu sou especial. — Digo com os olhos cinzas já injetados de raiva. — Claro que é. Nunca achou seu par e não vai achar. Não era por isso que estava comigo? — Riu da minha fraqueza, magoando-me profundamente. Uma vez, aquele mesmo oráculo que me disse sobre meu modo especial também me disse que alguém como eu não tinha um par, que não tinha um companheiro de nascença. Só restava ter um de sangue, algo como uma segunda chance. Mas era quase impossível. — Eu ainda tenho uma chance