WULFRICO vento frio batia no meu rosto enquanto eu corria em uma velocidade razoável, estabelecendo contato com meu ômega assim que pus os pés naquele território.De repente tive que parar. Meu olfato captou algo no ar: um cheiro estranho. Olhei ao redor das árvores, para as copas altas, deixando o vento leve soprar no meu rosto com menos intensidade que soprava as folhas nos galhos.Respirei fundo, o frescor da madrugada me proporcionava a sensação de liberdade. Mas aquele cheiro de lobo era incomum.“Alguém passou por aqui há onze horas.” Esse alguém mascarou seu cheiro com perfume e incenso.“Eu odeio incenso.” Torci o nariz. Era algo a se pensar.Ainda no mesmo lugar, comecei a deduzir, em busca das peças certas. Aquela pessoa se preveniu sobre a minha chegada, pois não faria sentido mascarar seu cheiro justamente com a mistura que me irritava.“Ele me conhece bem.” Estreitei os olhos.“Se ele é alguém tão bem informado, só pode ser alguém que me espiona desde o início…” Saí do l
WULFRIC — Soberano. — Ouvi a voz de Reymond atrás de uma das casas mais próximas. O encontrei com o olhar. Ele não havia gritado, apenas murmurado. Minha audição era melhor que a dos demais, isso ajudava a não criar alarde. Fiz um sinal de cabeça, inclinando-a para o lado oposto dele, chamando-o. Reymond quebrou a distância entre nós dentro de segundos. — Como está indo? — Primeiro perguntei a ele sobre sua saúde, seu bem-estar. Nos lábios meio rosados dele, por causa de sua pele pouco corada, quase pálida, ele sorriu com timidez. — Estou bem, soberano. — Como eles te tratam? — Fiz sinal com os dedos, pedindo para ele mostrar suas costas na minha frente. — Como um ômega sem matilha. — Revelou suas costas maltratadas. — Eles tocaram em você? — Apertei as mãos. Reymond era meu ômega. Ninguém podia tocar no meu lobo de confiança. “Cabeças vão rolar em breve.” — Eles basicamente só não deixam cicatrizar, “para me mostrar de onde vim”, segundo o que eles pensam. Ele baixou
WULFRIC Não me importava se essa pessoa era ou não muito próxima de mim, mas, se estava desde o início tramando contra mim, era a maior prova de que não devia estar ao meu lado. Reymond apertou os olhos por alguns segundos, encarando a grama abaixo de seus pés. — E então, o que descobriu além disso? — perguntei, sem desviar o olhar do casal à frente. “Eles são muito confiantes.” Percebi aquilo porque Ciro nunca sentiu minha presença, mesmo que eu já estivesse ali há muitos minutos. — Ciro mantém um dos antigos conselheiros do pai sob vigilância. Ainda é leal ao sangue do último alfa, Michel, mas finge submissão ao novo. Tive acesso a parte dos arquivos que ele esconde na biblioteca oculta da mansão. O conselheiro registrou que Rosalina tem contatos fora da alcateia. Um deles é humano. Estreitei os olhos, atento. — Humanos? — Parecia brincadeira. “Estão testando mesmo minha paciência?” Eles haviam até mesmo passado dos limites incluindo humanos no nosso mundo. “Eu deveria mes
EULÁLIA“Licaon foi o primeiro lobisomem da história, segundo as lendas gregas. Ele ousou cozinhar a carne de um escravo para oferecê-la a Zeus e, como punição, o deus o amaldiçoou. Desde então, ser um lobisomem sempre foi visto como uma maldição.”“Agora somos sinônimos de poder.”Aquela seria a noite em que minha vida mudaria, não que eu soubesse se seria uma mudança boa ou ruim.— Estão invadindo… — foi tudo muito rápido.O novo Beta da matilha Sangue Azul me puxou pela mão para longe de toda a confusão. A princípio, acreditei que seria pela posição de Luna que meu namorado havia prometido.— Por aqui. — Ele me levou rumo à floresta.— Mas eu posso ajudar as mães e crianças desamparadas se estiver lutando junto com todos.— Sua segurança é mais importante. E são ordens diretas.— De Ciro? — perguntei, seguindo-o. Ele ainda me puxava com pressa.— Sim.Meu sorriso ampliou. Por dentro, estava muito feliz por ele não estar mais estranho como antes.“Ele está me protegendo.”Acompanhei
EULÁLIALutei como podia, até perceber que ele queria me matar de verdade. Por isso, tive que empurrá-lo com tudo que tinha e pular de pé, mesmo machucada. Capturei a adaga que tinha no bolso da calça e encarei Ciro em sua forma de lobo, agora maior que antes, e sua suposta verdadeira namorada.— Por que está me atacando? — quase gritei. Ele, por sua vez, apenas me rondou.“Eles sempre planejaram me eliminar depois da ascensão de Ciro ao cargo de Alfa. Mesmo tendo sido eu a ajudá-lo a ganhar uma boa imagem.”— Porque você é a traidora, aquela que chamou os inimigos e fez o pai dele morrer antes da hora. — Era Rosalina falando por ele novamente.— Você não sabe mais falar, não? Só essa v***a aí? — explodi.Tudo estava se encaixando, e isso me deixava muito brava. Eu era o alvo de todos, principalmente daqueles dois. Então, recordei que o Beta foi o mesmo que entrou correndo, dizendo que estávamos sendo atacados, e foi ele quem me levou até ali, para esperar por meu suposto namorado.—
EULÁLIA — Você é uma loba bonita e fértil, mas só serve para isso, procriar. E eu nunca seria louco de me deitar com você para ter lobos ruivos. Lobos estranhos. Quando tenho minha companheira de verdade. Engoli o gosto da decepção. Eu era uma loba que não podia deitar-se com qualquer um; diziam que deveria ser apenas de um alfa, para procriar e elevar o nível da matilha, mas essa era a parte em que eu nunca contei a Ciro. Ele só sabia que eu era uma loba para ter filhos e não alguém dita como especial. — Eu sou especial. — Digo com os olhos cinzas já injetados de raiva. — Claro que é. Nunca achou seu par e não vai achar. Não era por isso que estava comigo? — Riu da minha fraqueza, magoando-me profundamente. Uma vez, aquele mesmo oráculo que me disse sobre meu modo especial também me disse que alguém como eu não tinha um par, que não tinha um companheiro de nascença. Só restava ter um de sangue, algo como uma segunda chance. Mas era quase impossível. — Eu ainda tenho uma chance
“Quem se disfarça tão bem quanto um humano?” Meu coração batia forte no peito, eu tentei me afastar, mas meus pés quase tropeçaram. Naquele nível, eu só cairia e atrairia toda a atenção indesejada para mim.— Quem é você? — perguntei, assustada.Desta vez, olhei ao redor e todos não passavam de meros humanos, incluindo a pessoa que os servia bebidas, menos aquele homem. Minha espinha arrepiou.— A pergunta é minha. Você que é nova aqui. — Senti que sua última frase soou uma ameaça disfarçada.“Ele não é um lobo comum.” Gravei rapidamente suas características enquanto dava passos vacilantes para trás.Eu nunca ouvi falar dele. Mas era notório que não deveria estar com ele.— Eu peço desculpas… Estou indo… — me virei para partir, mas a voz dele me parou, não soou audível para ninguém, só para mim.“Acha que pode escapar de mim?” Fiquei paralisada, sua voz estava na minha cabeça, aquilo era impossível.Eu já estava convencida de que minha forma e a forma de todos os lobos era uma maldiçã
EULÁLIA Éramos um emaranhado de meus cabelos entre nós, nos juntando ao mesmo tempo. Só notei isso quando ele se mexeu. — Espera um pouco! — pedi, tentando tirar meus fios de seu corpo e rosto. No processo, tive que deslizar meus dedos, tocando sua pele e seu corpo por cima da roupa. Meu rosto esquentou com o choque elétrico nas pontas dos meus dedos. Tentei não pensar se ele sentia ou não, porque ele leria meus pensamentos. Mas minha mente tinha vontade própria, e, uma hora ou outra, eu acabaria pensando em algo muito pior do que um choque elétrico e arrepios gostosos pelo corpo. Parecia que os segundos eram eternos. Os fios vermelhos dos meus cabelos o enrolando apenas o deixavam ainda mais bonito. Mas não durou muito, porque ele logo se desfez daquela situação e conseguiu se soltar. Ele não queria ser preso mais nenhum segundo. A situação seria engraçada se ele não fosse um completo desconhecido. "Devo pedir desculpas?" — Não há necessidade! — ele disse imediatamente. Mesmo