EULÁLIA
Lutei como podia, até perceber que ele queria me matar de verdade. Por isso, tive que empurrá-lo com tudo que tinha e pular de pé, mesmo machucada. Capturei a adaga que tinha no bolso da calça e encarei Ciro em sua forma de lobo, agora maior que antes, e sua suposta verdadeira namorada. — Por que está me atacando? — quase gritei. Ele, por sua vez, apenas me rondou. “Eles sempre planejaram me eliminar depois da ascensão de Ciro ao cargo de Alfa. Mesmo tendo sido eu a ajudá-lo a ganhar uma boa imagem.” — Porque você é a traidora, aquela que chamou os inimigos e fez o pai dele morrer antes da hora. — Era Rosalina falando por ele novamente. — Você não sabe mais falar, não? Só essa v***a aí? — explodi. Tudo estava se encaixando, e isso me deixava muito brava. Eu era o alvo de todos, principalmente daqueles dois. Então, recordei que o Beta foi o mesmo que entrou correndo, dizendo que estávamos sendo atacados, e foi ele quem me levou até ali, para esperar por meu suposto namorado. — Só não te mato porque jurei proteger as pessoas e não matá-las. — Disse Rosalina, enfurecida. — Oh! Que bonito. Então usou o cachorrão aqui para ser sua arma? — Um sorriso amargurado saiu de mim. Eu estava me desconhecendo, nunca havia ficado tão brava e nunca tinha sido tão traída. Minhas feridas cicatrizaram devagar, mas Ciro avançou novamente. Pulei raivosa para cima dele também e acertei-o bem perto do coração, pois passei por baixo de sua forma lupina e enorme. Seus olhos vermelhos brilharam enquanto ele voltava à forma humana, com Rosalina correndo até ele e gritando feito louca: — Ciro! Meu rosto estava úmido, e percebi que eram lágrimas de decepção, tristeza, amargura e raiva. Apertei a adaga com força nos dedos e os amaldiçoei com toda minha dor sendo derramada naquele momento: — Tomara que você morra logo! — Você é louca. — Rosalina tinha os olhos embargados, mostrando o quanto se importava com meu ex-traidor. “IEles já eram algo antes, não começou de repente.” Eu era a única ingênua ali. Olhei para o corpo de Michel com pena. “Você também foi traído pelo próprio filho, e ele agora quer me matar como fez com você.” Mais lágrimas caíam, e eu as limpava com raiva. — Você vai morrer hoje e, se isso não acontecer… — A voz de Ciro era forçada, ele estava extremamente fraco pela facada. — … O Grande Conselho do Supremo vai pegar você e matá-la por traição à sua matilha. — Disse, quase sem fôlego. — E você não vai durar muito. Pelo menos algo de bom eu fiz. — Tentei me manter firme e não mostrar que minha mão tremia. — Ele não vai morrer, porque eu não vou deixar. — Gritou Rosalina, estancando o sangue do seu companheiro. — Você não me serve mais. — Disse ele, se forçando a levantar, parecendo enojado. Sua companheira o ajudou. Agora, eu podia ver a marca de seu emparelhamento, acasalamento, seja lá como eles chamavam. Estava acima do peito dele, perto de onde eu o acertei. “Marca ao lado do coração.” Isso significava que eram almas gêmeas. “Droga!” Quase chorei novamente. — É isso. Eu nunca fui uma opção para você, não é? — Ele riu. Eu tive que me convencer de que tudo não passou de uma ilusão. Fui usada e pronto. — Claro que não. Você é patética! — reclamou. — Patética? Cerrei os punhos ao lembrar que ele me usou para tomar o lugar de seu pai. Então, olhei ao redor, tentando disfarçar minha angústia e o quanto estava afetada pela relação dos dois. — E quanto ao seu pai? — Ele seria contra os meus princípios. — Disse com tristeza, mas ciente de que estava me revelando quem matou seu pai. — Você o matou? — Meus olhos estavam arregalados. — Como você pôde? — Gritei, ciente de que estava em perigo assim como o pai dele esteve. — Baixe o tom. Não é porque você me colocou no meu posto que não irei te matar. Como viu, matei meu próprio pai porque ele não aprovaria o que farei. Meu coração batia descontrolado, o gosto amargo da culpa me consumindo. Eu o tinha colocado naquele lugar. Eu seria o primeiro alvo de qualquer um que investigasse aquele incidente. “Ele está curando?” Com horror, vi que ele se curava lentamente onde Rosalina tocava. Ele riu, ainda despido pela transformação. Agora, aquele homem não era nada atraente para mim. Era um traidor, um homem nojento e repulsivo. — Não o olhe assim. Você serviu bem ao seu Alfa. Eu, como sua Luna, serei misericordiosa quando vierem buscar você. — Ironizou a mulher à minha frente. Era isso. Eu seria levada no lugar de todos que traíram o antigo regime. Eu seria morta. Como não tinha mais nada a perder, encarei-os com raiva. “Como eu pude amar alguém como você?” Senti nojo de mim mesma por ter feito tal coisa. A traição dele com Rosalina não significava mais nada comparado a perder minha vida e ter tamanha decepção, sendo considerada a traidora de toda a matilha.EULÁLIA — Você é uma loba bonita e fértil, mas só serve para isso, procriar. E eu nunca seria louco de me deitar com você para ter lobos ruivos. Lobos estranhos. Quando tenho minha companheira de verdade. Engoli o gosto da decepção. Eu era uma loba que não podia deitar-se com qualquer um; diziam que deveria ser apenas de um alfa, para procriar e elevar o nível da matilha, mas essa era a parte em que eu nunca contei a Ciro. Ele só sabia que eu era uma loba para ter filhos e não alguém dita como especial. — Eu sou especial. — Digo com os olhos cinzas já injetados de raiva. — Claro que é. Nunca achou seu par e não vai achar. Não era por isso que estava comigo? — Riu da minha fraqueza, magoando-me profundamente. Uma vez, aquele mesmo oráculo que me disse sobre meu modo especial também me disse que alguém como eu não tinha um par, que não tinha um companheiro de nascença. Só restava ter um de sangue, algo como uma segunda chance. Mas era quase impossível. — Eu ainda tenho uma chance
“Quem se disfarça tão bem quanto um humano?” Meu coração batia forte no peito, eu tentei me afastar, mas meus pés quase tropeçaram. Naquele nível, eu só cairia e atrairia toda a atenção indesejada para mim.— Quem é você? — perguntei, assustada.Desta vez, olhei ao redor e todos não passavam de meros humanos, incluindo a pessoa que os servia bebidas, menos aquele homem. Minha espinha arrepiou.— A pergunta é minha. Você que é nova aqui. — Senti que sua última frase soou uma ameaça disfarçada.“Ele não é um lobo comum.” Gravei rapidamente suas características enquanto dava passos vacilantes para trás.Eu nunca ouvi falar dele. Mas era notório que não deveria estar com ele.— Eu peço desculpas… Estou indo… — me virei para partir, mas a voz dele me parou, não soou audível para ninguém, só para mim.“Acha que pode escapar de mim?” Fiquei paralisada, sua voz estava na minha cabeça, aquilo era impossível.Eu já estava convencida de que minha forma e a forma de todos os lobos era uma maldiçã
EULÁLIA Éramos um emaranhado de meus cabelos entre nós, nos juntando ao mesmo tempo. Só notei isso quando ele se mexeu. — Espera um pouco! — pedi, tentando tirar meus fios de seu corpo e rosto. No processo, tive que deslizar meus dedos, tocando sua pele e seu corpo por cima da roupa. Meu rosto esquentou com o choque elétrico nas pontas dos meus dedos. Tentei não pensar se ele sentia ou não, porque ele leria meus pensamentos. Mas minha mente tinha vontade própria, e, uma hora ou outra, eu acabaria pensando em algo muito pior do que um choque elétrico e arrepios gostosos pelo corpo. Parecia que os segundos eram eternos. Os fios vermelhos dos meus cabelos o enrolando apenas o deixavam ainda mais bonito. Mas não durou muito, porque ele logo se desfez daquela situação e conseguiu se soltar. Ele não queria ser preso mais nenhum segundo. A situação seria engraçada se ele não fosse um completo desconhecido. "Devo pedir desculpas?" — Não há necessidade! — ele disse imediatamente. Mesmo
EULÁLIA “Certo. São mesmo uma decepção.” Eu estava feliz por não fazer mais parte deles. — Acha que ele aguenta um tapa? — riram entre si. — Se você aguentar um osso quebrado, ele aguenta um tapa, sim! — eu gritei, para chamar a atenção de todos para mim e dificultar a tentativa do outro de me pegar de forma silenciosa. O loiro me encarou no momento em que percebi que aquele que tentava me pegar dentro do carro havia se escondido atrás de alguma coisa. — Ela está louca. Devemos matá-la também. — Não vamos esperar o conselho? — Claro que não. Não vê que ela está se confiando em um humano? É patético. — Que tal você vir aqui dar um tapa nele? — insisti de novo. O loiro olhou para mim e então soltou uma risada divertida. “Eu espero que não seja uma tentativa de fuga.” — disse ele na minha cabeça. Era uma voz tão prazerosa que me deixou tímida. “Você é o único ceifador aqui. Vá em frente. Eu estarei aqui. Prometo!” Selei os dedinhos acima da porta do carro que eu ainda segurava.
EULÁLIA Paralisei, repassando tudo. “Eu só me ferrei!” — Para onde eu irei? — Segui o homem que era quase uma espécie de braço direito, assistente ou seja lá o que fosse do supremo. — Por ora, para um quarto. O depois é discutível. “Eles ainda não foram informados sobre mim, não é?” Aceitei sem hesitar. — E quanto ao supremo? — perguntei com cuidado. — Ele está com o conselho. — Esse cara devia ser um ômega ou algo assim. “Então agora devem estar discutindo sobre mim.” Não sabia identificar se seria muita sorte ou azar eles não saberem sobre a mentira que Ciro espalharia para tentar, ao menos, chegar perto do supremo. “Pensar que ele esteve tão perto daquele idiota e não pôde fazer uma visitinha para cortar seu pescoço pessoalmente.” De repente, fiquei amargurada. Um quarto me foi apresentado. Era divino para mim. Comparado a ser o último cômodo com regalias que teria antes da morte, aquilo era quase o céu na Terra. — Se instale. Para tudo que precisar, use a campainha ao la
EULÁLIA— Segundo os relatórios da alcateia Sangue Azul… — Reviraria os olhos só de ouvir o nome da minha antiga alcateia, se tivesse esse costume e se não estivesse sob tantos olhares, principalmente o dele.Enquanto o Beta continuava, eu sentia os olhares em cada parte de mim, mas apenas um tinha o poder de me atingir.Suspirei devagar e da forma mais sutil que pude, tentando continuar firme diante das acusações. Porém, os olhos cinzentos, com sua aliança vermelha ao redor das pupilas, me chamaram.Ele me prendeu em seu contato visual, como se tivesse escutado até o meu baixo suspirar cansado. Por um momento, pareceu que havia apenas nós.“Claro que ele ouviu. Ele escuta melhor que ninguém.”Recordei do que ele disse sobre meus batimentos cardíacos. Baixei os olhos, tentando não parecer ousada. Pus-me a prestar atenção nas palavras do Beta.— As acusações apontam Eulália Rivera não apenas como traidora de seu companheiro… — Levantei a cabeça imediatamente.“Companheiro? Que companhe
EULÁLIA— E por que eles fariam isso? — perguntou o Beta.— Eu sou descartável. Eu não passo de uma loba fraca e sem companheiro. Mas poderia estragar seus planos de atentar contra o supremo.Risos soaram pelo salão. Não me senti idiota por isso, eu sabia o quanto a ideia de Ciro era tola, mas ele não.Sua fixação por se autodenominar rei, sua vontade de ser alfa antes do tempo, isso tudo só percebi tarde demais.— Como isso poderia levar ao nosso supremo? Vocês não têm força contra o supremo. — desdenhou o Beta.— Eu não faço mais parte deles. — corrigi sem medo.Recebi em troca alfinetadas de suas íris verdes.— E qual é o plano dele? Nos enviar uma isca para nos distrair? — percebi seu tom irônico.“Ele quer dizer que se não sou a traidora, ainda estou fazendo a vontade de alguém e arquitetando com eles?”— Não. Eu deveria ser morta, é tudo que sei.— E por que ainda está viva? — Aquele Beta parecia ter um problema comigo.Havia um julgamento pessoal ali. Eu sentia.— Eu fugi!— E
ALFA SUPREMO (WULFRIC DRAVEN)Sob meu olhar, vi aquela mulher tremer levemente. Ela entendeu imediatamente o significado das minhas palavras. Eu não tornei nada difícil para haver compreensão. "Isso é real?" — ouvi seus batimentos acelerados, sua respiração falhar.Ela custou a acreditar. "Eu tenho mesmo um companheiro? É possível?" — Apertei a mandíbula, chateado.Esperava que essa negação passasse mais cedo do que tarde, mas me incomodou por começar justo agora, que seu cheiro rondava minhas narinas. Eu queria seus olhos apenas em mim.— O que faremos com ela agora? — alguém ousou perguntar de forma impertinente.— Vamos ter que cavar a história — disse William, meu Beta.— Por hora, esse assunto está encerrado! — declaro, quebrando nosso contato visual para procurar objeções nos rostos presentes.Ninguém se opôs ou fez barulho, então me movi, passando por minha bela companheira ainda ajoelhada.— Nos vemos mais tarde — murmuro para que ela escute.— William! — chamo assim que alc