Capítulo 3

Olhei para ele enquanto, na minha mente, passava o filme da nossa história: desde o primeiro beijo até o momento em que o vi com aquela m*****a ruiva. Meu coração estava em pedaços. Todos os sonhos e planos de uma vida a dois escorriam entre meus dedos. Eu não queria chorar na frente dele, mas como evitar? As lágrimas já rolavam pelo meu rosto quando o toque do celular dele me trouxe de volta à realidade. Olhei para o aparelho, sabendo exatamente quem poderia ser. Sem pensar duas vezes, arranquei o celular de sua mão e atendi.

— Gustavo, o que está acontecendo? — A voz era de uma menina recém-saída das fraldas, o que me irritou ainda mais. Gustavo tentou pegar o celular, e, mesmo sabendo que eu nunca venceria em uma disputa de força, há momentos em que nós, mulheres, precisamos jogar sujo. Lembrei-me das aulas de defesa pessoal e, com um golpe certeiro, acertei-o em seu ponto sensível. Ele caiu no chão da sala, gemendo de dor. Aproveitei a oportunidade e corri para o meu quarto.

Sentada na cama, com o celular nas mãos, resolvi, pela primeira vez, descobrir o que aquele aparelho tinha para me dizer. Infelizmente, eu não sabia a senha. Nunca quis saber. Eu confiava cegamente. Tentei várias combinações até que me lembrei da data em que ele comprou seu primeiro carro: 25/04. Quando digitei, a mágica aconteceu. Fui direto para as mensagens, e, diante dos meus olhos, apareceram várias provas da infidelidade: incontáveis conversas, fotos e trocas de nudes. Melissa, esse era o nome da ruiva.

O conto de fadas no qual eu acreditava estar vivendo era, na verdade, uma grande farsa. Eu confiei nele e me entreguei completamente a alguém que não merecia. Gustavo berrava do outro lado da porta. Os socos não paravam, sabendo que a porta cederia a qualquer momento, me sentindo fraca destranquei a porta e abri.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu entregava o celular de volta para ele. Ele pegou o aparelho, olhou para a tela e viu que a conversa com a tal Melissa estava aberta.

Os olhos de Gustavo arregalaram-se ao ver a tela. Por um instante, ele ficou em silêncio, encarando o celular como se estivesse diante de uma bomba prestes a explodir.

— Você não tinha o direito de fazer isso! — rugiu, apertando o celular como se quisesse esmagá-lo.

— Direito? E você acha que tinha o direito de destruir a nossa história? Sabe o que é o pior de tudo, Gustavo? — falei, tentando controlar a raiva. — Foi ver como você olhava para ela. Em oito anos, nunca vi aquele olhar, nem aquele sorriso, sendo dirigidos a mim.

— Eu errei, Júlia, mas não fui o único culpado. Quantas vezes eu te convidei para sair, para jantar? Mas você sempre escolheu o trabalho. Relatórios, reuniões intermináveis... e eu aqui, tentando fazer a nossa vida funcionar, mas só encontrando uma mulher cansada e distante, com a cara amarrada, parecendo uma velha. Eu tenho apenas 36 anos, Júlia. Quero viver, me divertir, conhecer pessoas novas, viajar...

— Então você achou que poderia fazer tudo isso com a Melissa? — gritei, deixando a dor e a raiva transbordarem da minha voz.

Ele me encarou, os olhos vazios de arrependimento.

— A vida com você se tornou monótona, previsível. Eu precisava de algo mais, algo que me fizesse sentir vivo de novo.

Eu queria entender, queria que suas palavras fizessem sentido, mas tudo o que eu sentia era dor.

— Mas por que com a Melissa? Por que você não tentou lutar por nós, ao invés de se entregar a outra pessoa?

Gustavo abaixou a cabeça, visivelmente desconfortável.

— Eu sei, Júlia, sei que fui egoísta. Deveria ter lutado mais, mas a Melissa trouxe algo diferente... Ela é divertida, alegre, e me faz sentir vivo de novo.

Ele se aproximou lentamente, mas eu já não queria ouvir mais. Não havia mais palavras que pudessem consertar o que estava quebrado.

— Eu sei que errei, Júlia. Nunca quis te magoar.

Derrotada olhei para ele, buscando algum sinal de sinceridade, mas seus olhos... seus olhos estavam vazios.

— Mentira! Você mente descaradamente, Gustavo! — gritei, minha raiva se acumulando, crescendo, até explodir. Antes que eu pudesse me controlar, o tapa ecoou pela sala, quebrando o silêncio entre nós.

Gustavo levou a mão ao rosto, surpreso pela força do meu gesto. Eu também fiquei chocada comigo mesma, mas o pior ainda estava por vir.

Com a raiva brilhando em seus olhos, Gustavo se aproximou de mim. Recuei, com medo de que ele fosse revidar fisicamente, mas o que ele fez foi muito pior.

— A Melissa é tudo o que você nunca foi: divertida, alegre e... — seus olhos me analisaram de cima a baixo com desdém — apetitosa.

As palavras me atingiram como um soco no estômago.

— Sai da minha casa! — gritei, correndo em sua direção, batendo nele, arranhando-o. Eu queria que ele sentisse o que eu estava sentindo. — Seu cretino, miserável...

Gustavo, se defendeu, segurando minhas mãos com força.

— Eu sinto muito. Juro, não queria que fosse assim.

— Você é um cretino! Volta para aquela vaca, então!

— Eu entendo sua revolta, mas espero, Júlia, que isso não afete nosso trabalho...

Imediatamente parei, só para em seguida perder totalmente o controle; peguei o primeiro objeto à minha frente e atirei nele, em seguida arremecei outro e mais outro, destrui toda a minha coleção de ursinhos de parcelana.

Agora, um ano depois, as palavras e as lembranças ainda me torturam todos os dias. Me afundei no trabalho, tentando esquecer, tentando ocupar minha mente. Mas não importa o quanto eu tente fugir de tudo isso, no fundo, meu coração ainda doi.

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