Capítulo 6

Ouvindo a melodia dramática de "Summertime Sadness", caminho lentamente, sem pressa de chegar em casa. Tanto faz se chego cedo ou tarde, o vazio me aguarda de qualquer maneira. À medida que o sol se põe no horizonte, os últimos raios de luz desaparecem e a temperatura escaldante de 37°C começa a ceder, proporcionando um clima mais agradável. Imersa na música e aproveitando o tráfego, atravesso a movimentada Avenida Beira Mar em direção ao calçadão. Entre os pedestres indo e vindo, diversos aromas de comida enchem o ar, despertando meu apetite: acarajé, camarão, churrasco, batata frita... Uma infinidade de delícias.

Quem conhece a Avenida Beira Mar sabe o quanto ela é animada. As pessoas aproveitam o início da noite para passear com seus pets, com seus filhos; turistas exploram a cidade, enquanto outros se exercitam. E há os casais de namorados, que, sem pressa, andam de mãos dadas, admirando o mar. Isso me faz lembrar do Gustavo, de como éramos antes de tudo desmoronar. Eu realmente pensei que éramos felizes, que logo iríamos casar.

Estou completamente imersa nas minhas lembranças, tentando entender em que momento estraguei tudo, quando uma mão toca meu ombro. Assustada, com o coração acelerado, olho para a pessoa.

Um sorriso largo me cumprimenta. Tentando disfarçar meu descontentamento e o medo que senti, tiro os fones de ouvido e os guardo na bolsa.

— Oi, Luiz.

— Eduardo — ele sorri, meio sem jeito — prefiro que me chame assim.

E eu preferiria que você não tivesse vindo falar comigo...

— Está indo para casa? — pergunta ele.

Antes de responder, olho para ele. Está vestido de forma casual, nem parece o mesmo rapaz que entrevistei mais cedo, que, apesar da simpatia, tinha um tom sério e profissional. Agora, tudo que consigo ver é sua jovialidade, e principalmente a tatuagem que começa no ombro e vai até o cotovelo, visível graças à camiseta sem mangas.

— Sim, e você?

— Eu também, moro naquele condomínio. — Ele aponta para um prédio mais à frente, que, inclusive, é o mesmo onde moro.

Merda, merda, como não vi isso no currículo...

— Que coincidência, eu moro lá também.

— É perfeito!

— Perfeito? Por quê?

— Podemos ir para o trabalho juntos.

— Ah, claro... — Ah, meu Deus, só me faltava essa...

Caminhamos em silêncio pelo restante do trajeto. Para evitar mais perguntas, coloco meus fones de ouvido de novo. Com o passar dos segundos, vejo que foi uma boa estratégia.

Ao chegarmos no prédio, ele se adianta e aperta o botão do elevador, que, por sorte, já está no andar térreo, abrindo as portas imediatamente. Entramos ainda em silêncio.

Meu apartamento fica no sétimo andar. Antes que ele tome a dianteira, aperto o botão correspondente ao meu andar e rapidamente pego o celular para conferir os últimos e-mails.

Quando a porta do elevador se abre, saio sem dizer tchau ou qualquer coisa que se assemelhe a uma despedida. No entanto, sinto que ele continua logo atrás, tentando me acompanhar.

Opa! Opa! Isso já é demais...

Paro no meio do corredor e o encaro seriamente.

— Não precisa me acompanhar, Eduardo.

Ele me olha como se estivesse se divertindo, coça a cabeça e, com os olhos semicerrados por causa do sorriso, diz algo que eu preferia que não fosse verdade.

— Na verdade, Júlia, acho que somos vizinhos.

Ambos olhamos para o final do corredor, onde estão as únicas duas portas, uma de frente para a outra.

Se a minha porta é a do lado direito, então...

Luiz Eduardo, meu novo assistente, é meu vizinho. Com certeza, alguém lá em cima adora me colocar em situações que eu odeio.

— Ah, sim... Que coincidência… Eduardo.

Mesmo tentando, não consigo disfarçar minha expressão de surpresa e descontentamento. Caminhamos em silêncio até nossas respectivas portas. Fixo o olhar em Eduardo, que está parado diante da sua porta, e ele me encara de volta.

Eu tinha uma pequena esperança de que ele estivesse brincando, mas, ao vê-lo com a chave na mão, minha esperança se desfaz por completo.

— Boa noite, Júlia — ele diz, com um sorriso gentil.

— Boa noite — respondo, sentindo um leve calor nas bochechas.

Entro no meu apartamento, ligo a luz da sala e sou recebida pelo silêncio, pela solidão que me deseja boa noite. Jogo minha bolsa no sofá e vou até a janela, abrindo as cortinas. O ponto positivo de onde moro é a vista deslumbrante, e hoje não poderia ser diferente. Uma lua imponente lança um rastro de luz prateada sobre o oceano. Diante dessa cena, solto os grampos do meu cabelo, desfazendo o coque, e, como se fosse um gesto de gratidão, meus cabelos caem até a cintura, envolvendo meu corpo em um abraço suave.

Dizem que cabelos longos não combinam com mulheres na casa dos trinta. Já pensei em cortá-los várias vezes, especialmente depois da traição de Gustavo, como se isso fosse um recomeço. Sempre que me olho no espelho, lembro dele acariciando meus cabelos, dizendo o quanto os adorava. Mas algo me impede, talvez a esperança de que ele volte...

Um ano. Um ano e ainda espero uma ligação, uma mensagem, algo dele querendo conversar.

Suspiro.

Ainda não me acostumei com a solidão.

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