— Sim, vamos usar a mesinha de centro — anuncia. — Fique à vontade. Pode deixar sua sapatilha no carpete da entrada, se preferir.— Espera, Eduardo, como assim, jantar aqui? No chão? — pergunto, levando as mãos à cintura.Eduardo solta uma gargalhada contagiante diante da minha pergunta. — O que foi? O que achou engraçado? Olhando-me divertido, ele se aproxima, cruza os braços e levanta uma sobrancelha. — Nunca jantou sentada no chão? — questiona.— Claro que sim, mas... — hesito, procurando uma resposta adequada. Como posso dizer que me sentirei boba e infantil? — É no mínimo estranho, não é? — respondo finalmente. Sem tirar o sorriso dos lábios, Eduardo se aproxima e, para minha surpresa, seus dedos acariciam suavemente meu queixo. — Se permita, Júlia, você não vai se arrepender. Sente-se e relaxe. — Deixando-me sem jeito, ele se dirige para a cozinha. Sem saber o que fazer, decido seguir o que ele disse. Tiro a sapatilha e a coloco próxima à porta. Volto e encaro a mesi
Acordo sobressaltada, ainda presa entre a névoa do sono e da realidade. Por alguns instantes, demoro a reconhecer onde estou. Sento-me devagar, com o coração acelerado, e ao olhar para o lado, encontro Eduardo dormindo tranquilamente. Ele está cercado por travesseiros e coberto por uma manta. Sem saber que horas são, me levanto com cuidado para não acordá-lo. Pego minhas sapatilhas e saio do apartamento na ponta dos pés, fechando a porta atrás de mim sem fazer o menor ruído. Ao entrar no meu apartamento, sou recebida pelo frio vazio do lugar. A diferença entre o calor acolhedor da sala de Eduardo e a solidão da minha sala é gritante. Caminho direto para o quarto e me jogo na cama, esperando que o sono volte e me permita aproveitar o restante da madrugada. Mas ele não vem. Quanto mais eu tento, mais impossível parece. Frustrada, fico olhando para o teto, ciente de que algo está faltando. A lembrança de Eduardo dormindo tão tranquilamente ao meu lado me invade. É pensando nele que
A sensação ruim persiste, mesmo agora na sala de reunião, com quinze pessoas ao meu redor. Não consigo parar de lembrar a forma como Gustavo olhou para nós, nos julgando como se estivéssemos fazendo algo de errado.Mas não estávamos, mas por que sinto como se estivéssemos? O cansaço começa a pesar, e uma leve dor de cabeça ameaça surgir, enquanto o senhor Roberto, do departamento de crise, repete pela centésima vez que as lojas da New Lux têm reclamado da falta de produtos. O problema é real, mas o pior é saber que os donos da empresa não estão dispostos a investir na produção.Finalmente a reunião acaba, entro na minha sala e dou de cara com Eduardo segurando uma xícara de café e em seguida me oferece.De prontidão aceito e levo a xícara aos lábios, ansiando sentir o calor da bebida, mas sou interrompida pelas batidas na porta. Ao me virar, vejo Gustavo entrando na minha sala. — Quero falar com você na minha sala.Nossos olhares se encontram, e uma onda de desconforto me invade.—
Desesperada para ocultar meu sofrimento, cubro o rosto com as mãos, respiro fundo, tentando colocar ordem no caos dentro de mim, mas é inútil. A humilhação e a raiva continuam pulsando, vivas demais. — Ei. A voz suave de Eduardo atravessa a barreira do meu desespero. Sinto o calor das mãos dele envolvendo as minhas, afastando-as do meu rosto com uma gentileza que desmonta qualquer resistência que ainda tento impor.Evito olhar para ele. Não quero sua piedade. Não quero que ninguém me veja assim. Mas Eduardo não recua, permanece ali, sua presença forte e silenciosa. As mãos firmes pousam em meus ombros, como uma âncora que me segura no presente, me impedindo de ser arrastada de volta ao momento que acabei de passar. — O que aconteceu, Júlia? Não consigo responder. Como dizer em voz alta as palavras venenosas que Gustavo jogou sobre mim? Meu silêncio é tudo o que consigo oferecer, mas Eduardo não parece se incomodar. Ao invés de insistir, ele se aproxima e me envolve em seus bra
Ao sairmos das instalações da New Lux, Eduardo volta a me puxar, me fazendo correr novamente como dois adolescentes. Sua mão firme segura a minha, guiando-me com a mesma determinação despreocupada que me trouxe até aqui. Atravessamos a avenida juntos, desviando de carros que buzinam freneticamente. Apesar do caos, não consigo conter um sorriso. Toda essa situação parece saída diretamente de um filme de comédia romântica. Meus saltos altos tornam a corrida desconfortável, mas isso pouco importa diante da alegria que me invade. É como se todas as preocupações e amarras que me seguravam tivessem ficado para trás. Sinto uma liberdade quase infantil, uma euforia que há tempos não experimentava. Eduardo não me leva para longe. Assim que chegamos ao calçadão da orla, um palco montado na areia chama minha atenção. Meu assistente não para, continua me conduzindo na direção da festa. Antes que qualquer pensamento negativo me desanime, tiro meus scarpins de forma desajeitada, segurando-os
É curioso como o tempo se estica quando estou sofrendo e se encurta quando estou feliz, completamente envolvida no momento. Depois da terceira música, o cantor faz uma pausa.Não quero abandonar o conforto que encontro nos braços de Eduardo, mas, ao entrelaçar sua mão na minha, ele me guia até a praia.À medida que caminhamos, deixamos o grupo de pessoas para trás. Eduardo permanece em silêncio, enquanto tento assimilar que, há poucos minutos, estava dançando tão próxima dele, sentindo a música, o corpo, o calor, e até as batidas de nossos corações, como se estivessem em sintonia.— Vamos sentar aqui — ele diz, apontando para um pequeno montículo de areia. Antes que eu consiga responder, Eduardo tira o blazer preto, dobra-o com cuidado e o estende na areia, improvisando um assento.Em seguida, ele se senta e estende a mão, ajudando-me a acomodar ao seu lado. De dia, a praia é um lugar animado, repleto de grupos festejando na areia, mas à noite tudo muda. O ambiente se torna mais ínti
Faço exatamente o que Eduardo disse ou ordenou, às vezes acontece isso, Eduardo de um jeito peculiar transita entre duas personalidades, uma é gentil, um bom ouvinte, cavalheiro e a outra é um homem que sabe como ordenar de um jeito que não faz parecer. Diferente do Gustavo, que fazia questão de demonstrar quem mandava, muitas vezes brigamos justamente porque ele não aceitava que em algumas campanhas de produtos da New lux, eu fosse colocada como a líder e não ele. Eram semanas de mau-humor, caras feias até que consegui implementar um setor apenas para o marketing, algo que seu Carlos não queria, por dizer que não havia necessidade, mais uma prova de que ele parou no tempo. Assim que consegui implementar o novo o setor, passei a não me envolver mais, não diretamente.Fecho o chuveiro, pego meu roupão, me visto e ao voltar para meu quarto, um cheiro delicioso faz minha barriga roncar. Motivada pelo cheiro apetitoso me visto rapidamente, escovo meus cabelos, borrifo uma colônia e ansio
O aroma de café trouxe minha mente do mundo dos sonhos para o presente. Não sonhei, mas o sono foi profundo o bastante para me fazer sentir descansada.Abro os olhos e encaro o janelão aberto. A brisa fresca vinda do mar me faz querer continuar deitada, mas a voz de Eduardo interrompe minha contemplação.— Preparei café — diz ele, sentando ao meu lado e me estendendo uma xícara.Ainda sonolenta, sento-me e aceito a bebida com gratidão.— Achou café?— Temos que ir ao supermercado. Enquanto não formos, não vou sossegar. Agora toma isso logo. — Ele diz, levantando-se e indo até a cozinha.— Você não tem nada melhor para fazer? Não tem amigos? Um lugar para ir? — rebato, levantando-me também e indo na direção dele. — Não precisa estragar seu final de semana comigo, Eduardo.Tomo a xícara das mãos dele e a coloco na pia com um gesto firme.— Vai, vai cuidar das suas coisas. Qualquer dia desses eu vou ao supermercado.Quando me viro para encará-lo, ele já está bem perto. Perto demais.— Nã