Sentada à minha mesa, olho discretamente para Eduardo, que se mantém frio e distante, falando comigo apenas o essencial. Por mais que eu tente não lembrar do que aconteceu no sábado à noite, minha mente insiste em me levar de volta àquele beijo — o gosto dele, o arrepio que senti ao ouvir o gemido que escapou da garganta dele e se espalhou pelo meu corpo, ao ponto de, por um momento, esquecer quem éramos.Mas também não consigo esquecer o que veio depois.Quando ele intensificou o beijo e me puxou ainda mais para si, estávamos completamente abraçados, quase nos fundindo, tornando-nos um só.Como se dançássemos uma música só nossa, ele me guiou até a parede da sala. Pude sentir cada um de seus músculos, principalmente o quanto ele estava aceso.Suas mãos percorriam meu corpo, explorando minha pele, fazendo-me experimentar pequenos choques.Não era um beijo selvagem, mas intenso, como se quisesse me marcar. Eduardo me beijava lentamente, explorando todas as extremidades. E, ao sugar mi
Jogo água no rosto, tentando afastar o desconforto pela péssima noite que tive. Volto para o quarto, abro o guarda-roupa e pego a primeira peça de roupa que vejo. Visto-me rapidamente e saio, desejando, mais do que nunca, não cruzar com meu vizinho da frente. Ao abrir a porta do apartamento, respiro fundo. A porta dele continua fechada. Encaro o retângulo de madeira pintada de branco e me pergunto se ele dormiu em casa. Será que aproveitou bem a noite com aquela garota? Reviro os olhos, tentando afastar o pensamento. Tranco a porta e sigo em passos firmes para o trabalho. Do lado de fora, o sol me aquece, e o som da cidade desperta o novo dia. Olho na direção que preciso seguir e, inevitavelmente, lembro da primeira vez que Eduardo me acompanhou. Achei estranho no início, mas me acostumei rápido. Agora, meses depois, a estranheza voltou — só que, desta vez, por ele não estar ao meu lado. Ajeito a bolsa no ombro e continuo caminhando. A cada passo, venço a distância, embora u
Apesar de todas as informações que Raquele jogou, só consigo pensar no que Eduardo falou sobre sua noite. Como é o nome dela mesmo? Virginia. Homens! Só mudam de endereço, não é? Um dia eles te beijam, falam sobre a ansiedade pelo momento, e no outro já estão com outra.Bestas somos nós, em... em... Bufo e me sento na cadeira, entalada com algo preso na garganta e uma inquietação que não sei de onde vem.Eduardo entra na sala. Mesmo não olhando diretamente para ele, sinto o peso do seu olhar sobre mim. Não querendo conversar, ligo o computador e clico no e-mail que Raquele acabou de enviar. Dentro da pasta, está o material sobre o tal perfume.Luna foi desenvolvido para mulheres que, ao longo dos anos, aprenderam a se reconhecer em sua verdadeira essência. Sua fragrância evolui com o pH da pele, refletindo a maturidade, a confiança e a autenticidade que crescem com o tempo. Como a lua, que se revela de diferentes formas, o Luna é uma assinatura única, iluminando a beleza da mulher que
Enfim 33 anos!"Parabéns pra você, nesta data querida..." Por favor, parem! É tudo que minha mente consegue repetir, enquanto sorrio e bato palmas. Tenho plena consciência de que meu sorriso é tão falso quanto uma nota de R$ 3,00, mas o que posso fazer?Quando, enfim, param de cantar, respiro fundo e agradeço a cada um pelas felicitações. — Parabéns, Julia! — Meu ex-namorado me estende a mão, acompanhado de um sorriso que ainda faz meu coração fraquejar. — Obrigada, Gustavo! — Aceito o aperto com uma cordialidade ensaiada, me contendo para não cruzar o olhar com o dele. Raquele me entrega o primeiro pedaço de bolo. Com passos resignados, caminho até a mesa próxima à porta. Segurando o doce envolto em um guardanapo, dou uma mordida sem pressa. O glacê derrete em minha boca, inundando-a de açúcar, mas nem isso é capaz de me animar. Mastigo devagar, sentindo cada grama de peso em meu peito. Eu só queria estar na minha sala, com a mente ocupada no trabalho — longe de tudo isso.
Gustavo congelou ao me ver, seus olhos quase saltando. Em questão de segundos, o sorriso desapareceu, dando lugar a um rosto pálido e tenso. Eu não esperei resposta. Girei nos calcanhares e fui embora, guiada por um único desejo: chegar em casa.O chão do shopping parecia conspirar contra mim. Aquele piso escorregadio, projetado para desacelerar os passos e seduzir os olhos para vitrines, era um obstáculo irritante. Caminhei o mais rápido que pude, torcendo para que meus saltos não me traíssem como ele fez. Não me importei com as pessoas encarando minhas lágrimas enquanto eu avançava, cega pela mistura de dor e raiva.Quando finalmente alcancei o estacionamento, Gustavo me alcançou também. Ele agarrou meu braço e me puxou para si.— Não é nada do que você está pensando.Aquela frase. Aquela maldita frase.— Você não acha que essa resposta é muito clichê, Gustavo? — retruquei, empurrando ele, desesperada para abrir a porta do meu carro.— Julia...Eu não olhei para trás. Entrei no carr
Olhei para ele enquanto, na minha mente, passava o filme da nossa história: desde o primeiro beijo até o momento em que o vi com aquela maldita ruiva. Meu coração estava em pedaços. Todos os sonhos e planos de uma vida a dois escorriam entre meus dedos. Eu não queria chorar na frente dele, mas como evitar? As lágrimas já rolavam pelo meu rosto quando o toque do celular dele me trouxe de volta à realidade. Olhei para o aparelho, sabendo exatamente quem poderia ser. Sem pensar duas vezes, arranquei o celular de sua mão e atendi.— Gustavo, o que está acontecendo? — A voz era de uma menina recém-saída das fraldas, o que me irritou ainda mais. Gustavo tentou pegar o celular, e, mesmo sabendo que eu nunca venceria em uma disputa de força, há momentos em que nós, mulheres, precisamos jogar sujo. Lembrei-me das aulas de defesa pessoal e, com um golpe certeiro, acertei-o em seu ponto sensível. Ele caiu no chão da sala, gemendo de dor. Aproveitei a oportunidade e corri para o meu quarto.Senta
Não aguentando mais ficar na minha "festinha de aniversário", jogo no lixo o guardanapo com o resto do bolo e, antes de sair, pego um copo de café puro. Discretamente, deixo para trás meus colegas, que ainda continuam conversando, e ando rapidamente pelo corredor. Quero chegar logo à minha sala e me jogar de cabeça nos relatórios.Ao chegar à porta, ouço passos atrás de mim. Olho por sobre o ombro e vejo Gustavo, caminhando despreocupado, com as mãos nos bolsos e o olhar fixo em mim.Meu coração traiçoeiro erra algumas batidas, lembrando-me de que, sim, ainda tenho sentimentos por ele. Ao passar por mim, ele mantém o olhar e, antes de entrar na sala, sua voz me atinge, com aquele tom de zombaria que sempre me tira do sério:— Cuidado para não escorregar na baba.Sua risada no final me alcança e faz meu sangue ferver. Sentindo-me uma completa idiota, entro na minha sala.Furiosa, caminho até a mesa sem perder mais um minuto sequer. Sento-me e ligo o computador, tentando me concentrar n
— Raquele, obrigada por trazê-lo. Gostaria de ter uma conversa com ele.— Claro, Júlia. — Raquele se vira para Eduardo com um sorriso caloroso. — Seja bem-vindo!— Obrigado, Raquele. — Ele responde.Observo a gestora de recursos humanos sair da sala e fechar a porta. Meus olhos se encontram com os dele. Mantenho o contato visual, apesar de sentir um pequeno arrepio, ele, por sua vez, não desvia. Seu sorriso desaparece um pouco, e a intensidade de seu olhar aumenta, o que me faz estremecer.Desconfortável com a estranha situação, respiro fundo e volto minha atenção para o currículo que ainda estou segurando.— Então, Eduardo, né? — começo, tentando soar o mais profissional possível, apesar do nervosismo.— Isso mesmo, Dona Júlia. — Ele responde, com uma voz suave e confiante demais para meu gosto.Sento-me na cadeira, sentindo o clima na sala se tornar denso, e o silêncio entre nós dois parece pesar mais do que o normal.— Posso chamá-la de Júlia? — Ele pergunta, sem desviar os olhos d