Capítulo 4

Não aguentando mais ficar na minha "festinha de aniversário", jogo no lixo o guardanapo com o resto do bolo e, antes de sair, pego um copo de café puro. Discretamente, deixo para trás meus colegas, que ainda continuam conversando, e ando rapidamente pelo corredor. Quero chegar logo à minha sala e me jogar de cabeça nos relatórios.

Ao chegar à porta, ouço passos atrás de mim. Olho por sobre o ombro e vejo Gustavo, caminhando despreocupado, com as mãos nos bolsos e o olhar fixo em mim.

Meu coração traiçoeiro erra algumas batidas, lembrando-me de que, sim, ainda tenho sentimentos por ele. Ao passar por mim, ele mantém o olhar e, antes de entrar na sala, sua voz me atinge, com aquele tom de zombaria que sempre me tira do sério:

— Cuidado para não escorregar na baba.

Sua risada no final me alcança e faz meu sangue ferver. Sentindo-me uma completa idiota, entro na minha sala.

Furiosa, caminho até a mesa sem perder mais um minuto sequer. Sento-me e ligo o computador, tentando me concentrar nos relatórios de vendas para a reunião dos acionistas. Preciso esquecer que, mais uma vez, dei brecha para aquele traste me afetar. Não sei quantos minutos ou horas se passam, meus dedos já reclamam do tanto que digito quando ouço batidas na porta, seguidas pela figura de Raquele entrando.

— Bom dia, Júlia! Parabéns mais uma vez pelo seu aniversário.

Suspiro discretamente, incapaz de evitar revirar os olhos.

— Obrigada.

— Espero que tenha gostado da surpresa. Fiz com muito carinho.

— Agradeço, Raquele. O bolo estava delicioso.

Ela sorri com seu sorriso radiante tão típico dela.

— Bom, eu gostaria de lhe apresentar o seu novo assistente, Luiz Eduardo. — Ela diz, sem perder tempo.

Antes que eu possa raciocinar sobre o que está acontecendo, um jovem alto, de cabelos ondulados e negros, entra na minha sala. Assim que nossos olhares se encontram, ele sorri suavemente, revelando dentes perfeitamente alinhados. Um sorriso que, estranhamente, me faz querer sorrir de volta.

Olho discretamente para a minha agenda aberta na mesa e vejo, em letras garrafais: ENTREVISTA COM O CANDIDATO A VAGA DE ASSISTENTE, ÀS 11H. Mil vezes merda!!!

Ultimamente, tenho trocado de assistentes com a mesma frequência com que troco de roupas. Isso me frustra, especialmente porque sempre invisto tempo treinando-os, apenas para vê-los pedir demissão ou mudar de setor assim que surge uma oportunidade melhor.

Luiz Eduardo se aproxima da minha mesa e me fita. Ao contrário de outros candidatos, seu olhar não demonstra timidez; ele sustenta o contato visual. Já começo a me incomodar com isso, mas disfarço.

— Prazer em conhecê-la, Dona Júlia! — Ele diz, com uma voz grave que me causa um leve arrepio.

Levanto-me da cadeira e, em vez de apertar a mão que ele oferece, volto minha atenção para Raquele, deixando o rapaz visivelmente desconcertado.

— Poderia me mostrar o currículo dele, por favor? — pergunto.

Raquele, acostumada com minha forma de trabalhar, entrega-me um envelope pardo contendo o currículo.

— Sente-se, vai levar só um minuto — comento, tentando manter a situação o mais profissional possível.

Retiro o currículo e, de pé mesmo, passo os olhos rapidamente pelo papel. Antes de ler, olho discretamente para as pernas do rapaz, que estão quietas, um sinal de que ele não está nervoso nem ansioso. Ponto para ele.

O nome dele é Luiz Eduardo, tem vinte e três anos e recentemente se formou em administração. Trabalha desde os dezesseis anos e tem diversos cursos na área administrativa. Além disso, fala inglês e espanhol fluentemente — uma habilidade que, por mais que eu não queira admitir, me deixa levemente com inveja. Concluo a análise um pouco decepcionada; ele se encaixa perfeitamente na função e, por mais que eu quisesse encontrar uma desculpa, não tenho como não aceitá-lo.

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