Capítulo 5

— Raquele, obrigada por trazê-lo. Gostaria de ter uma conversa com ele.

— Claro, Júlia. — Raquele se vira para Eduardo com um sorriso caloroso. — Seja bem-vindo!

— Obrigado, Raquele. — Ele responde.

Observo a gestora de recursos humanos sair da sala e fechar a porta. Meus olhos se encontram com os dele. Mantenho o contato visual, apesar de sentir um pequeno arrepio, ele, por sua vez, não desvia. Seu sorriso desaparece um pouco, e a intensidade de seu olhar aumenta, o que me faz estremecer.

Desconfortável com a estranha situação, respiro fundo e volto minha atenção para o currículo que ainda estou segurando.

— Então, Eduardo, né? — começo, tentando soar o mais profissional possível, apesar do nervosismo.

— Isso mesmo, Dona Júlia. — Ele responde, com uma voz suave e confiante demais para meu gosto.

Sento-me na cadeira, sentindo o clima na sala se tornar denso, e o silêncio entre nós dois parece pesar mais do que o normal.

— Posso chamá-la de Júlia? — Ele pergunta, sem desviar os olhos de mim.

Não sei o que diabos me ocorre, mas por um momento, imagino o quão sexy seria ele me chamar de "Júlia". Ele se aproximando e sussurrando meu nome bem rente ao meu ouvido. Um arrepio percorre minha pele, enquanto meu rosto esquenta e começa a corar. Constrangida, forço-me a olhá-lo, para ver se ele percebe o efeito que causou. Para minha surpresa, vejo que o rosto dele também está ligeiramente corado.

Sem saber como lidar com a situação, faço um som baixo, quase como uma tosse, para limpar minha garganta e tentar quebrar o clima estranho.

— Claro... Então, hum... antes de iniciarmos as atividades, gostaria de fazer algumas perguntas.

— Tudo bem. — Ele diz, com a mesma calma de antes.

— Eduardo, conte um pouco sobre você.

— Bom, meu nome é Luiz Eduardo, tenho vinte e três anos, sou recém-formado e tenho experiência na área administrativa e em outros ramos também. Moro a quatro quarteirões daqui.

Entrevisto o rapaz por quase uma hora. Mesmo diante das perguntas mais difíceis, ele mantém a postura firme e suas respostas são claras e sinceras. Eduardo demonstra ser inteligente e perspicaz, o que me agrada. Se eu estava relutando no início, agora começo a mudar de opinião. Ele não se parece em nada com os assistentes anteriores. Ao menos, isso é o que a entrevista indica.

Quando ele termina de responder à última pergunta, verifico as horas e percebo que, devido ao tempo da entrevista, não terei mais tempo para o treinamento.

— Bem, essa foi a última pergunta, Eduardo. Agradeço por suas respostas e seja bem-vindo! Espero que essa experiência lhe proporcione muitas oportunidades. Amanhã, aguardo você aqui pontualmente às oito horas. Espero termos tempo para um breve treinamento antes da minha primeira reunião, que é às nove e meia. Pode ir agora.

— Obrigado, Júlia. Tenho certeza de que a senhora não irá se arrepender.

Ao vê-lo sair, solto um suspiro. Não sou fã do período de adaptação de um novo colaborador, especialmente quando ele trabalhará diretamente comigo. Até que essa pessoa prove sua competência, fico em alerta constante, revisando seu trabalho de perto. Minha atenção se intensifica, e logo me vejo uma pilha de nervos. Como gerente de vendas regional, estou constantemente cercada de papelada, relatórios, reuniões e viagens. Qualquer erro pode ter consequências graves, não só para mim, mas para outros também. A pressão é imensa.

Enquanto observo a tela do computador, minha mente se distrai. O rapaz, embora novo, é incrivelmente bonito. Talvez o assistente mais atraente com quem já trabalhei. Nem mesmo Kaio, com seus quase dois metros de altura, olhos claros e um sorriso travesso, consegue competir com a beleza do meu novo assistente. No entanto, como diz o ditado, a beleza não é tudo. No mundo corporativo, o que realmente conta é o resultado, o lucro.

Decido me concentrar novamente no trabalho e, antes que eu perceba, já estou assinando o último relatório do dia.

— Esse é o último, Júlia — diz Cibele, estagiária do marketing, com uma expressão aliviada.

— Tudo pronto para o lançamento do novo perfume? — pergunto enquanto assino o documento.

— Quase tudo. Este mês, faremos as últimas fotos para as redes sociais e começaremos a gravar o comercial.

— Perfeito. Acha que tudo ficará pronto antes de novembro?

— Claro que sim.

— Ótimo!

Quando Cibele sai, recosto-me na cadeira e olho para o relógio: 17h. Só então me dou conta de que esqueci de almoçar. Solto um suspiro longo. Hora de encerrar o expediente. Desligo o computador e reviso a agenda para o dia seguinte. Após guardar o caderno na gaveta, meu olhar percorre a sala do meu ex. Gustavo ainda está na mesa dele.

Desvio o olhar quando ele levanta ligeiramente a cabeça. Nervosa com o quase flagrante, pego minha bolsa e saio apressada da sala, caminhando rapidamente em direção à saída. Mas antes que eu consiga alcançar o elevador, ele me alcança.

— Posso falar com você?

— Claro, Gustavo. Estou morrendo de vontade de ouvir o que você tem a dizer.

— Júlia...

Entro no elevador e aperto o botão do primeiro andar, fixando o olhar no painel de botões. Antes das portas se fecharem completamente, vejo Gustavo voltando para sua sala, os punhos cerrados. Ponto para mim! Um sorriso pequeno se forma nos meus lábios por essa pequena vitória.

Ao passar pela recepção, entrego meu crachá e saio do prédio. O ar fresco do fim de tarde me recebe, e eu rapidamente pego meus fones de ouvido e o celular da bolsa. Com movimentos ágeis, seleciono minha playlist favorita, que escuto quase todos os dias há um ano. Logo, a voz quente, aveludada e sexy de Lana Del Rey começa a ecoar nos meus ouvidos. Lana é a única que parece realmente me entender.

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