É curioso como o tempo se estica quando estou sofrendo e se encurta quando estou feliz, completamente envolvida no momento. Depois da terceira música, o cantor faz uma pausa.Não quero abandonar o conforto que encontro nos braços de Eduardo, mas, ao entrelaçar sua mão na minha, ele me guia até a praia.À medida que caminhamos, deixamos o grupo de pessoas para trás. Eduardo permanece em silêncio, enquanto tento assimilar que, há poucos minutos, estava dançando tão próxima dele, sentindo a música, o corpo, o calor, e até as batidas de nossos corações, como se estivessem em sintonia.— Vamos sentar aqui — ele diz, apontando para um pequeno montículo de areia. Antes que eu consiga responder, Eduardo tira o blazer preto, dobra-o com cuidado e o estende na areia, improvisando um assento.Em seguida, ele se senta e estende a mão, ajudando-me a acomodar ao seu lado. De dia, a praia é um lugar animado, repleto de grupos festejando na areia, mas à noite tudo muda. O ambiente se torna mais ínti
Faço exatamente o que Eduardo disse ou ordenou, às vezes acontece isso, Eduardo de um jeito peculiar transita entre duas personalidades, uma é gentil, um bom ouvinte, cavalheiro e a outra é um homem que sabe como ordenar de um jeito que não faz parecer. Diferente do Gustavo, que fazia questão de demonstrar quem mandava, muitas vezes brigamos justamente porque ele não aceitava que em algumas campanhas de produtos da New lux, eu fosse colocada como a líder e não ele. Eram semanas de mau-humor, caras feias até que consegui implementar um setor apenas para o marketing, algo que seu Carlos não queria, por dizer que não havia necessidade, mais uma prova de que ele parou no tempo. Assim que consegui implementar o novo o setor, passei a não me envolver mais, não diretamente.Fecho o chuveiro, pego meu roupão, me visto e ao voltar para meu quarto, um cheiro delicioso faz minha barriga roncar. Motivada pelo cheiro apetitoso me visto rapidamente, escovo meus cabelos, borrifo uma colônia e ansio
O aroma de café trouxe minha mente do mundo dos sonhos para o presente. Não sonhei, mas o sono foi profundo o bastante para me fazer sentir descansada.Abro os olhos e encaro o janelão aberto. A brisa fresca vinda do mar me faz querer continuar deitada, mas a voz de Eduardo interrompe minha contemplação.— Preparei café — diz ele, sentando ao meu lado e me estendendo uma xícara.Ainda sonolenta, sento-me e aceito a bebida com gratidão.— Achou café?— Temos que ir ao supermercado. Enquanto não formos, não vou sossegar. Agora toma isso logo. — Ele diz, levantando-se e indo até a cozinha.— Você não tem nada melhor para fazer? Não tem amigos? Um lugar para ir? — rebato, levantando-me também e indo na direção dele. — Não precisa estragar seu final de semana comigo, Eduardo.Tomo a xícara das mãos dele e a coloco na pia com um gesto firme.— Vai, vai cuidar das suas coisas. Qualquer dia desses eu vou ao supermercado.Quando me viro para encará-lo, ele já está bem perto. Perto demais.— Nã
Enfim 33 anos!"Parabéns pra você, nesta data querida..." Por favor, parem! É tudo que minha mente consegue repetir, enquanto sorrio e bato palmas. Tenho plena consciência de que meu sorriso é tão falso quanto uma nota de R$ 3,00, mas o que posso fazer?Quando, enfim, param de cantar, respiro fundo e agradeço a cada um pelas felicitações. — Parabéns, Julia! — Meu ex-namorado me estende a mão, acompanhado de um sorriso que ainda faz meu coração fraquejar. — Obrigada, Gustavo! — Aceito o aperto com uma cordialidade ensaiada, me contendo para não cruzar o olhar com o dele. Raquele me entrega o primeiro pedaço de bolo. Com passos resignados, caminho até a mesa próxima à porta. Segurando o doce envolto em um guardanapo, dou uma mordida sem pressa. O glacê derrete em minha boca, inundando-a de açúcar, mas nem isso é capaz de me animar. Mastigo devagar, sentindo cada grama de peso em meu peito. Eu só queria estar na minha sala, com a mente ocupada no trabalho — longe de tudo isso.
Gustavo congelou ao me ver, seus olhos quase saltando. Em questão de segundos, o sorriso desapareceu, dando lugar a um rosto pálido e tenso. Eu não esperei resposta. Girei nos calcanhares e fui embora, guiada por um único desejo: chegar em casa.O chão do shopping parecia conspirar contra mim. Aquele piso escorregadio, projetado para desacelerar os passos e seduzir os olhos para vitrines, era um obstáculo irritante. Caminhei o mais rápido que pude, torcendo para que meus saltos não me traíssem como ele fez. Não me importei com as pessoas encarando minhas lágrimas enquanto eu avançava, cega pela mistura de dor e raiva.Quando finalmente alcancei o estacionamento, Gustavo me alcançou também. Ele agarrou meu braço e me puxou para si.— Não é nada do que você está pensando.Aquela frase. Aquela maldita frase.— Você não acha que essa resposta é muito clichê, Gustavo? — retruquei, empurrando ele, desesperada para abrir a porta do meu carro.— Julia...Eu não olhei para trás. Entrei no carr
Olhei para ele enquanto, na minha mente, passava o filme da nossa história: desde o primeiro beijo até o momento em que o vi com aquela maldita ruiva. Meu coração estava em pedaços. Todos os sonhos e planos de uma vida a dois escorriam entre meus dedos. Eu não queria chorar na frente dele, mas como evitar? As lágrimas já rolavam pelo meu rosto quando o toque do celular dele me trouxe de volta à realidade. Olhei para o aparelho, sabendo exatamente quem poderia ser. Sem pensar duas vezes, arranquei o celular de sua mão e atendi.— Gustavo, o que está acontecendo? — A voz era de uma menina recém-saída das fraldas, o que me irritou ainda mais. Gustavo tentou pegar o celular, e, mesmo sabendo que eu nunca venceria em uma disputa de força, há momentos em que nós, mulheres, precisamos jogar sujo. Lembrei-me das aulas de defesa pessoal e, com um golpe certeiro, acertei-o em seu ponto sensível. Ele caiu no chão da sala, gemendo de dor. Aproveitei a oportunidade e corri para o meu quarto.Senta
Não aguentando mais ficar na minha "festinha de aniversário", jogo no lixo o guardanapo com o resto do bolo e, antes de sair, pego um copo de café puro. Discretamente, deixo para trás meus colegas, que ainda continuam conversando, e ando rapidamente pelo corredor. Quero chegar logo à minha sala e me jogar de cabeça nos relatórios.Ao chegar à porta, ouço passos atrás de mim. Olho por sobre o ombro e vejo Gustavo, caminhando despreocupado, com as mãos nos bolsos e o olhar fixo em mim.Meu coração traiçoeiro erra algumas batidas, lembrando-me de que, sim, ainda tenho sentimentos por ele. Ao passar por mim, ele mantém o olhar e, antes de entrar na sala, sua voz me atinge, com aquele tom de zombaria que sempre me tira do sério:— Cuidado para não escorregar na baba.Sua risada no final me alcança e faz meu sangue ferver. Sentindo-me uma completa idiota, entro na minha sala.Furiosa, caminho até a mesa sem perder mais um minuto sequer. Sento-me e ligo o computador, tentando me concentrar n
— Raquele, obrigada por trazê-lo. Gostaria de ter uma conversa com ele.— Claro, Júlia. — Raquele se vira para Eduardo com um sorriso caloroso. — Seja bem-vindo!— Obrigado, Raquele. — Ele responde.Observo a gestora de recursos humanos sair da sala e fechar a porta. Meus olhos se encontram com os dele. Mantenho o contato visual, apesar de sentir um pequeno arrepio, ele, por sua vez, não desvia. Seu sorriso desaparece um pouco, e a intensidade de seu olhar aumenta, o que me faz estremecer.Desconfortável com a estranha situação, respiro fundo e volto minha atenção para o currículo que ainda estou segurando.— Então, Eduardo, né? — começo, tentando soar o mais profissional possível, apesar do nervosismo.— Isso mesmo, Dona Júlia. — Ele responde, com uma voz suave e confiante demais para meu gosto.Sento-me na cadeira, sentindo o clima na sala se tornar denso, e o silêncio entre nós dois parece pesar mais do que o normal.— Posso chamá-la de Júlia? — Ele pergunta, sem desviar os olhos d