Capítulo 2

Gustavo congelou ao me ver, seus olhos quase saltando. Em questão de segundos, o sorriso desapareceu, dando lugar a um rosto pálido e tenso. Eu não esperei resposta. Girei nos calcanhares e fui embora, guiada por um único desejo: chegar em casa.

O chão do shopping parecia conspirar contra mim. Aquele piso escorregadio, projetado para desacelerar os passos e seduzir os olhos para vitrines, era um obstáculo irritante. Caminhei o mais rápido que pude, torcendo para que meus saltos não me traíssem como ele fez. Não me importei com as pessoas encarando minhas lágrimas enquanto eu avançava, cega pela mistura de dor e raiva.

Quando finalmente alcancei o estacionamento, Gustavo me alcançou também. Ele agarrou meu braço e me puxou para si.

— Não é nada do que você está pensando.

Aquela frase. Aquela m*****a frase.

— Você não acha que essa resposta é muito clichê, Gustavo? — retruquei, empurrando ele, desesperada para abrir a porta do meu carro.

— Julia...

Eu não olhei para trás. Entrei no carro com os olhos embaçados de lágrimas e um nó na garganta que me sufocava. Liguei o motor, sentindo que a qualquer momento perderia o controle das minhas emoções, pisei no acelerador e sai cantando pneu.

Ao sair do estacionamento subterrâneo do shopping, o mundo parecia se dissolver à minha volta. O ronco do motor, o vento entrando pelas frestas do vidro, a imagem dele beijando outra mulher — tudo pulsava em minha mente.

Ao pegar a avenida beira-mar, meu pé continuava pressionando o acelerador. O limite de 40 km/h parecia uma piada. Olhei pelo retrovisor, esperando ver luzes de sirenes dos guardas de transito ou a aproximação de algum policial. Mas quem apareceu foi ele!

Filho da puta! — gritei, socando o volante com força.

Sempre deixei claro que poderia perdoar qualquer coisa, exceto traição. Traição era o ponto final, a linha que não podia ser cruzada. Por mais que eu o amasse, a confiança quebrada era uma barreira insuperável. Não havia como voltar atrás.

Devido à velocidade, não demorei para chegar ao meu prédio. Estacionei o carro de qualquer jeito, pouco me importando se ele ocupava metade da pista ou se deixei a porta aberta. Sufocada pela raiva, passei pelo porteiro como um furacão, corri até o elevador e, desesperada, apertei o botão várias vezes.

O som dos pneus freando bruscamente na avenida ecoou na recepção do prédio. Eu sabia que só podia ser ele. Sem a menor vontade de falar com Gustavo, desisti de esperar o elevador, que o síndico insistia que não precisava ser trocado. Qualquer tartaruga chegaria antes daquela m*****a caixa de ferro.

Mesmo com meu coração disparado e meus pulmões implorando por misericórdia depois de encarar sete lances de escadas, continuei andando o mais rápido possível pelo corredor que levava ao meu apartamento. Ao virar à direita, trombei com um rapaz que me segurou, evitando que eu caísse. Ansiosa para chegar, murmurei algumas desculpas enquanto procurava as chaves dentro da bolsa e, sem sequer encará-lo, segui apressada até a minha porta. O nervosismo era tão grande que levei alguns segundos para finalmente conseguir encaixar a m*****a chave na fechadura.

Quando finalmente consegui abrir a porta, entrei. Mas antes que eu pudesse fechá-la, Gustavo colocou o pé e empurrou, entrando também. Naquele dia, eu provei para mim mesma que, quando se odeia alguém com tanta intensidade, é porque, em algum momento, se amou essa pessoa profundamente.

— Saia da minha casa, Gustavo! — gritei

— Precisamos conversar, Julia.

Ele entrou, fechando a porta atrás de si.

— Você tem coragem de me pedir isso? Depois do que você fez?

— Julia, por favor. Me dá uma chance de explicar.

— Explicar? — gargalhei sem humor, batendo palmas de puro sarcasmo. — Você acha que existe uma explicação para o que eu vi?

— Eu sei que errei, mas...

— Errou? Errou, Gustavo? Isso é o que você chama de “erro”? Enganar a mulher com quem você passou oito anos da sua vida, com quem fez planos, a quem jurou amar? Chega, Gustavo! Não quero ouvir suas desculpas vazias. O que você fez é imperdoável. Agora, saia da minha casa antes que eu faça algo de que vou me arrepender.

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