Capítulo7

Antes mesmo de o sol nascer, estou de pé, segurando uma xícara de café enquanto observo o mundo acordar pela minha janela. A sensação de ver o dia tomando o lugar da noite é relaxante, é lindo, mas, depois de presenciar isso tantas vezes, começo a sentir falta de estar mergulhada no mundo dos sonhos. Sinto falta de dormir uma noite inteira.

Infelizmente, já faz meses que o máximo que consigo dormir são três horas, e ainda é um sono leve e fragmentado. Já tentei de tudo: chá de camomila, erva-doce, evitar o celular na cama, aromaterapia, ler... nada funciona. A única coisa que ainda não experimentei é tomar remédios, mas não quero recorrer a isso. Eu sei exatamente qual é o meu problema; quando me deito e fecho os olhos, tudo o que vejo é Gustavo cuspindo na minha cara o quanto aquela ruiva é superior a mim.

Melissa é tudo o que você nunca foi: divertida, alegre...

Tomo mais um gole de café, sentindo o gosto amargo percorrer minha garganta, enquanto o calçadão, que há poucos minutos estava vazio, começa a ganhar vida.

Vejo os pescadores empurrando suas jangadas para o mar, os barraqueiros preparando as mesas e cadeiras na faixa de areia, e as primeiras pessoas que aproveitam para correr ou caminhar antes que o lugar se transforme em um verdadeiro formigueiro humano.

Diante dos meus olhos, o céu vai mudando de cor, passando de um azul profundo para um tom claro, quase índigo. Quando o sol finalmente desponta no horizonte, a paciência que me resta se esgota. Ficar no apartamento é sufocante, e o silêncio me atordoa.

Deixo a xícara no balcão da cozinha e vou até o quarto, onde as roupas do dia já estão separadas sobre a cama. Escolho um terninho azul-escuro, elegante e não muito justo. Vestida, me posiciono diante do espelho, escovo os cabelos e os prendo em um coque firme. Com as pontas dos dedos, passo um pouco de gel para garantir que nenhum fio fique fora do lugar. Coloco um par de brincos discretos e calço meu scarpin preto. Pronta para mais um longo dia de trabalho.

Antes de sair, pego a bolsa no sofá e já começo a mentalmente revisar a agenda do dia: revisar o relatório da loja 46 assim que chegar ao escritório e a reunião às dez horas.

Abro e fecho a porta do apartamento, quando me lembro de um detalhe importante: a videochamada com Itamar, o encarregado da loja 16. Mais uma coisa para administrar...

— Bom dia, Júlia! — A voz animada interrompe meus pensamentos, e imediatamente reconheço a quem pertence. Um suspiro me escapa enquanto termino de girar a chave na fechadura. Buscando ter a paciência de Jó, me viro devagar, quase como em câmera lenta, para encarar meu novo assistente que, por ironia do destino, também é meu vizinho.

— Bom dia, Eduardo. — Esforço-me para não deixar o tom azedo transparecer.

— Vai caminhando?

A resposta "não" está na ponta da língua, mas penso melhor. Não é de bom tom começar o primeiro dia de trabalho dele sendo grosseira.

— Sim.

— Posso lhe acompanhar?

Conto até três mentalmente, tentando evitar o impulso de revirar os olhos.

— Claro. — Engulo em seco enquanto caminhamos em direção ao elevador. Deixo que ele aperte o botão, e quando as portas se abrem, entramos. Permaneço em silêncio, não tenho interesse em conversar e espero que ele perceba isso. O elevador para no quinto andar e alguns moradores entram, fazendo Eduardo se aproximar de mim. Ele é mais alto do que eu imaginava, e seu perfume amadeirado, ao mesmo tempo refrescante, invade meu espaço. Fecho os olhos, permitindo que cada nota aromática me envolva.

As portas do elevador se abrem e logo saímos do prédio, caminhando lado a lado em silêncio, graças a Deus. Vencemos o primeiro quarteirão, faltando apenas três para chegar ao prédio da empresa, e sigo torcendo para que permaneça assim.

— Faz tempo que mora aqui, Júlia?

Eu deveria saber que minhas preces geralmente não são ouvidas...

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