Na mansão vazia, Naiara Brito estava sentada no sofá, imóvel, até que, após um longo tempo, a porta da frente se abriu e Afonso Dias entrou. Ao pousar os olhos sobre ela, ele hesitou por um breve momento, mas logo seu rosto endureceu. — Hoje a Amélia está com febre, por que você me ligou tantas vezes?
Ler maisAfonso finalmente partiu.Depois que Naiara terminou os procedimentos de alta sozinha, não demorou muito para ele receber o pagamento das despesas médicas enviado por Naiara.Ele não queria aceitar, mas a próxima frase dela o deixou sem palavras para recusar.— Afonso, afinal, sua situação financeira não é boa, então não exagere. Eu posso pagar minhas próprias despesas médicas. Eu ficaria mal se você precisasse fazer mais um bico por minha causa.Afonso abaixou a cabeça envergonhado, talvez por causa dos sonhos frequentes, seu comportamento estava cada vez mais parecido com o do homem dos sonhos.Mas o homem dos sonhos era herdeiro do Grupo Dias, um astro do mundo dos negócios que, mesmo rompendo com a família Dias, poderia recomeçar com suas próprias habilidades.E ele era apenas um estudante pobre, que nem tinha se formado ainda.Ao voltar para o dormitório, ele se jogou na cama desanimado, sem entender por que tudo estava indo bem e, de repente, em uma noite, tudo mudou.De repente,
Não que Naiara tivesse se arrependido; as palavras que pronunciou antes de sua alma se dispersar ainda eram verdadeiras.— Embora haja arrependimento, não há remorso.Mas naquela ocasião, ela ainda tinha algo a dizer,‘Se houver uma próxima vida, ela não quer amar Afonso novamente.’Naquele dia, ela realmente acreditou que iria desaparecer para sempre.Mas, já que agora tinha uma nova chance de viver, não queria mais se envolver com ele; queria viver por si mesma.Quando Naiara acordou do torpor, já era tarde da tarde do dia seguinte.O cheiro forte de desinfetante e o teto branco, a leve dor na mão causada pela agulha e o gotejamento ao lado fizeram-na entender imediatamente onde estava.Ela virou a cabeça e viu Afonso ao lado da cama.Ele estava debruçado sobre a cama, parecia dormir inquieto, e era possível ver a barba por fazer em seu queixo, indicando que não havia descansado bem naquela noite.Antes, ela talvez sentisse pena ou se sentisse tocada, mas agora, olhando para ele, seu
Naiara Lopes teve um sonho longo, muito longo.Ela não conseguia ver claramente o rosto do protagonista do sonho, mas de alguma forma sabia que aquele era eles.No sonho, havia um homem chamado Afonso Dias, que não era um estudante pobre, mas sim o herdeiro do Grupo Dias. Ele havia decidido deixar a família Dias, renunciando ao título de herdeiro, para cuidar daquela menina com o mesmo nome, mas sobrenome diferente, Naiara Brito, que sempre fora frágil e doente desde a infância, e que ele amava como um tio amoroso.Ele a criou, deu-lhe um amor único e a tratava com um carinho que parecia tirar estrelas do céu para ela.Dos oito aos dezoito anos, ele cuidou dela por dez anos inteiros, e ela acabou se apaixonando por ele.Ninguém a entendia, nem mesmo o tio que antes a adorava.O homem chamado Afonso Dias retirou todo o amor que um dia havia lhe oferecido e começou uma série de encontros para casamento, até encontrar uma noiva que o satisfazia em todos os aspectos.Ele achava que assim e
— Você me chamou para sair hoje por algum motivo especial? — Naiara perguntou, tentando manter uma expressão neutra, embora seu coração estivesse batendo mais rápido.Afonso, ainda sentindo o calor subir ao rosto, ficou ainda mais corado ao ouvir a pergunta dela. Então, ele tirou um saco de dentro do casaco e o entregou a ela, sua voz saindo um pouco mais baixa.— Eu trouxe isso para você.Ao perceber que ele queria lhe dar um presente, Naiara tentou devolver o saco, recusando com gestos, mas ele, como se já previsse sua reação, rapidamente retirou o conteúdo do saco.Era um cachecol branco de tricô, cujos pontos de tamanhos variados deixavam claro que não fora comprado. Afonso logo confirmou essa suspeita com suas palavras seguintes.— Eu ainda não tenho muito dinheiro, então não posso te dar algo caro. Este cachecol foi feito por mim. É a primeira vez que faço isso e ainda estou aprendendo. Espero que você não se importe.Com o rosto levemente corado, Afonso falava com tanto sentimen
Depois de finalmente acalmar a discussão animada no dormitório, Naiara estava prestes a descansar um pouco quando seu celular emitiu um som de notificação.Ela olhou para baixo e viu que era uma mensagem de Afonso Melo.【Sinto muito por ter derramado seu mingau hoje. Que tal eu te convidar para alMeninar outro dia, para compensar?】Um rosto curioso apareceu ao lado do seu ombro e logo avistou a mensagem na tela do celular de Naiara, seguido rapidamente pela voz inconfundível de Vanessa: — Olha só, ele quer te convidar para alMeninar! Ouvi dizer que a família dele não tem boas condições financeiras. Isso não é gostar?Ao ouvir sobre a situação financeira de Afonso, Naiara franziu levemente a testa.Não sabia exatamente o porquê, mas ao ouvir falar das condições de vida dele, imaginou que a família dele fosse abastada.Mas foi só quando Vanessa mencionou a situação econômica dele que Naiara se lembrou de já ter ouvido sobre Afonso Melo.Afinal, ele havia sido o primeiro colocado no vesti
A tigela virou, derramando a maior parte do mingau sobre o rapaz e parte no chão. Felizmente, Naiara não se queimou.— Ai!Afonso não esperava que o mingau estivesse tão quente. Sentindo a dor no peito e no abdômen, não conseguiu evitar um suspiro.Assustada, Naiara rapidamente perguntou, — Você está bem?Afonso respirou fundo algumas vezes antes de acenar para Naiara, — Estou bem, desculpe, foi minha culpa. Deixe-me comprar outro mingau para você!O pedido de desculpas foi tão rápido que Naiara não soube como reagir imediatamente. Quem se machuca e ainda se desculpa?Além disso, não era totalmente culpa dele.— Não precisa, eu compro outra, — disse ela, olhando com pena para o mingau no chão, mas ainda assim balançou a cabeça e tirou um lenço do bolso, entregando a ele e apontando para sua roupa manchada, — O mingau não é caro, mas você, a queimadura não está doendo?Afonso aceitou o lenço, limpando cuidadosamente o mingau da roupa, e sorriu sem jeito para ela.Vanessa, que voltava ao
A voz provocativa parecia vir de longe, embora estivesse próxima, e tudo ao redor foi excluído de sua atenção. Naquele momento, ele só tinha olhos para a garota.Até que seu colega de quarto deu-lhe um tapa forte nas costas, trazendo-o de volta à realidade com um tom um pouco impaciente:— Chega disso, está quase na hora da Chamada Matinal. Não fique aí parado olhando. Se você gosta dela, encontre uma chance para conhecê-la. Caso contrário, não adianta ficar parado aqui.Seu colega o puxou para continuar andando, e ele finalmente voltou a si, desviando o olhar e seguindo em frente.Do outro lado, Naiara Lopes percebeu que havia um olhar fixo sobre ela que não se dispersava. Ela olhou na direção de onde vinha essa sensação, mas só viu a multidão fluindo, sem conseguir identificar quem a observava.Curiosa, ela desviou o olhar, e a pessoa ao seu lado, ao ver sua inquietação, olhou para o professor que já se preparava para falar e perguntou em voz baixa: — O que foi?A sensação de estar s
Ela se declarou.Surpreendentemente, Afonso podia sentir o movimento nos olhos do homem ao ouvir a declaração dela, mas no final, ele apenas a empurrou com um rosto frio.— Sou seu tio, só a vejo como uma criança.Ao ouvir isso, Afonso não conteve um riso irônico, murmurando — mentiroso, hipócrita.O ônibus passou por uma estrada esburacada, e o balanço contínuo despertou Afonso de seu sono. Ele olhou para o ambiente e percebeu que, por ter dormido profundamente, havia passado do ponto.Assustado, ele desceu rapidamente na próxima parada. Os dois pontos de ônibus estavam um pouco distantes, e voltar caminhando levaria algum tempo.Enquanto caminhava pela calçada de volta, não pôde deixar de lembrar do sonho que tivera.Mas, por algum motivo, ele conseguia lembrar muito pouco.Após pensar cuidadosamente por um tempo, além de sua última frase — mentiroso, hipócrita, — ele não conseguia mais se lembrar do que havia sonhado.Uma sensação de perda repentina surgiu em seu coração, sem saber
Hoje era domingo. Ele estudava em uma universidade local, então tinha tempo para voltar para casa.Afonso Melo veio de uma família pobre. Seus pais, devido ao trabalho árduo de anos, estavam doentes e, quando ele ainda estava no ensino médio, já haviam perdido completamente a capacidade de trabalhar.A família não tinha economias, mas, felizmente, ele era muito esforçado e sempre conseguia bolsas e auxílios estudantis, o que lhe permitia continuar seus estudos.Por causa dos pais, ao se inscrever na universidade, ele escolheu a melhor da cidade, para não se distanciar muito.Assim, ele conseguia reservar um tempo toda semana para voltar e passar algum tempo com eles.Ele olhou o relógio. Já eram quatro da tarde. Quando desceu do sótão, seus pais, André Melo e Patrícia, estavam tentando colocar as frutas que ele trouxera de volta na sua mochila.Ao ouvir o barulho de Afonso descendo, eles apressaram ainda mais os movimentos.Vendo isso, Afonso rapidamente interveio, tirando as frutas no