Capítulo 2
No segundo dia, Naiara acordou bem cedo e saiu para destruir seus documentos de identificação.

Sua morte foi repentina, e após uma noite de pesquisa, ela descobriu que ainda tinha muitas coisas para resolver. Como Afonso já tinha alguém com quem queria formar uma nova família, ela, como filha adotiva, era apenas um fardo. Não queria que Afonso tivesse que lidar com essas questões, causando-lhe mais problemas.

Quando chegou ao local para cancelar seu registro, a funcionária ficou incrédula ao ouvir que ela queria cancelar sua própria identidade, e confirmou várias vezes:

— Menina, só é possível cancelar o registro de pessoas falecidas. Você realmente quer fazer isso?

Naiara sorriu amargamente e assentiu. — Em seis dias, eu desaparecerei completamente deste mundo.

Ao ouvir isso, a funcionária pensou que ela tinha câncer e olhou para ela com simpatia, lamentando ainda mais ao ver seus documentos.

Apenas dezoito anos.

Sem fazer mais perguntas, a funcionária procedeu com o cancelamento do registro.

Após cancelar o registro, Naiara foi tirar uma foto para o obituário, comprou uma urna e uma roupa. Em cada lugar que ia, recebia olhares de compaixão ou pena, mas ela não se importou.

Naquele momento, seu único pensamento era resolver tudo por si mesma, para que Afonso não precisasse se preocupar com seus assuntos.

Quando voltou para casa, já era noite. Ao entrar, viu Amélia na cozinha usando um avental, ocupada com os preparativos.

Ao vê-la, Amélia se aproximou calorosamente para cumprimentá-la.

— Naiara, você voltou! Estou cozinhando hoje e estava esperando você para jantar.

Depois de dizer isso, notou o que ela carregava nas mãos e perguntou curiosa: — O que você comprou?

Naiara balançou a cabeça sem responder, subiu as escadas para guardar suas coisas e depois desceu para ajudar Amélia.

As duas ficaram ocupadas na cozinha por mais um tempo até que Afonso finalmente chegou. Na casa não havia as discussões ou a indiferença que ele esperava, mas sim um ambiente de harmonia.

Ao presenciar essa cena, Afonso ficou, sem dúvida, surpreso.

Ele sabia que os sentimentos de Naiara por ele eram sempre claros em sua expressão; no passado, ela jamais conseguiria se dar bem com Amélia dessa maneira.

Logo o jantar estava pronto, e os três se sentaram à mesa para comer.

Durante a refeição, Amélia manteve sua atitude calorosa, servindo comida para Naiara o tempo todo.

— Naiara, experimente este camarão, está especialmente macio. Fiz especialmente para você.

Olhando para o prato já quase cheio de comida, Naiara hesitou. Embora agora tivesse um corpo físico, ela já era uma morta. Quando fez o acordo com o ceifador, ele a alertou:

Nestes sete dias, ela poderia permanecer no mundo, mas não poderia consumir a comida dos vivos. Por isso, hesitava e não comia o que Amélia lhe servia.

Ao perceber que Naiara hesitava em comer, Afonso notou o constrangimento de Amélia e lançou-lhe um olhar de advertência.

— Amélia te serviu, coma.

A ordem soou ao lado de Naiara, que permaneceu em silêncio, mas ainda assim ergueu a tigela e comeu o que estava dentro.

Ao engolir a comida, uma dor intensa a atingiu, como se seu estômago estivesse em chamas, e Naiara não conseguiu mais suportar, correndo imediatamente para o banheiro, onde vomitou tudo que havia ingerido, sentindo-se um pouco aliviada em seguida.

A súbita mudança de eventos fez com que os olhos de Amélia se enchessem de lágrimas. Ela olhou para Afonso, com uma voz carregada de mágoa.

— A Naiara não gosta de mim, não é?

Assim que essas palavras saíram, a expressão de Afonso mudou imediatamente. Ele deu um leve tapinha na mão de Amélia para tranquilizá-la, — Como ela não gostaria de você? Vou verificar como ela está.

Dizendo isso, ele também se levantou e foi ao banheiro.

No banheiro, após vomitar, Naiara sentiu a dor no estômago diminuir. Ela olhou para o espelho, observando seu rosto pálido, e suspirou levemente.

Parece que não está dando certo mesmo. Talvez seja melhor arrumar uma desculpa para sair mais tarde.

Com esse pensamento, ela se virou e abriu a porta do banheiro, apenas para encontrar Afonso, com uma expressão sombria, esperando do lado de fora.

Naiara ficou surpresa, mas acreditou que ele estava lá para demonstrar preocupação com ela. Pensando nisso, decidiu falar,

— Tio, não estou me sentindo bem. Vocês podem continuar comendo. Vou voltar para o meu quarto.

Ela achou que, ao dizer isso, ele voltaria para Amélia, mas para sua surpresa, a expressão dele ficou ainda mais severa. De repente, ele falou, deixando-a completamente perplexa.

— Quando cheguei, vi você se dando bem com Amélia e pensei que finalmente tinha aprendido a se comportar. Mas vejo que ainda insiste em fazer birra e envergonhar Amélia.

— Tio, eu não... — Sua expressão ficou ainda mais pálida, e ela sentiu uma dor no peito. Tentando forçar um sorriso, ela tentou se explicar, mas foi interrompida sem piedade.

— Não me importa qual seja a sua desculpa. Você vai terminar essa refeição.
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