Capítulo 5
Ao ver as coisas no chão, o coração de Naiara deu um salto.

Ela tinha tentado escondê-las, mas não sabia como Afonso as tinha encontrado.

Por um momento, ela ficou visivelmente nervosa, mas então se lembrou de algo e começou a gaguejar, — Amanhã é o aniversário da morte dos meus pais, essas coisas são para eles. Vou queimá-las como oferenda.

Ao ouvir a explicação dela, Afonso finalmente reprimiu o sentimento estranho em seu peito, fez uma pausa e disse: — Amanhã, eu vou com você visitá-los.

— Não, tio, você deve passar tempo com Amélia e se concentrar no trabalho. Eu já causei muitos problemas para você, não serei mais um fardo.

Afonso estava preparado para que ela ficasse feliz com sua oferta, mas ficou surpreso ao ver Naiara recusar. Atônito, ele a viu sair antes que pudesse dizer mais alguma coisa.

Ela silenciosamente arrancou outra página da agenda, rasgando-a em pedaços e jogando-os no lixo.

Restavam apenas quatro dias.

Ao observar Naiara se afastando, Afonso lembrou-se das palavras dela e, quase inconscientemente, murmurou:

— Para mim, você nunca foi um fardo.

Sua voz era suave, e Naiara, que já havia voltado para o quarto, não pôde ouvir essa frase.

Quando faltavam apenas quatro dias para o fim, Naiara decidiu ir sozinha ao cemitério onde estavam sepultados seus pais. Ela caminhou até as lápides, colocou um buquê de flores diante delas e fixou o olhar nas fotos dos seus pais, que, coladas nas lápides, mostravam os rostos amáveis e sorridentes que ela guardava na memória.

Naiara sentou-se entre os dois túmulos, como costumava fazer entre seus pais quando era criança.

— Papai, mamãe, não sei se vocês já reencarnaram, mas por favor, não me culpem por ser tão teimosa, por sacrificar minha alma por apenas sete dias a mais.

— Sempre invejei os outros por terem pais que os amavam, enquanto eu não tinha. Mas depois percebi que não precisava invejar, porque eu tinha o tio, que me amou, cuidou de mim e me deu todo o seu carinho. E foi por isso que, contra todas as normas, acabei me apaixonando por ele.

— Agora, porém, percebo que sou um fardo para ele. Ele terá sua própria família um dia e, no final das contas, sempre fui apenas eu, sozinha.

— O mundo dos vivos não é bom, então, na próxima vida, não quero voltar. Não me arrependo desta decisão, apenas lamento que, antes de morrer, não tenha sido verdadeiramente amada.

Naiara conversou longamente com seus pais no cemitério. Quando terminou, não partiu imediatamente. Em vez disso, procurou o administrador do cemitério.

Após discutir com o responsável, Naiara comprou um lote para si ao lado do túmulo dos pais, garantindo assim que, quando chegasse sua hora, estaria ao lado deles, encontrando, finalmente, seu lugar de descanso.

Ao sair do cemitério, vendeu todo o patrimônio que seus pais lhe deixaram, assim como todos os presentes que Afonso lhe dera ao longo dos anos, convertendo-os em uma soma considerável de dinheiro.

Decidiu devolver todo esse dinheiro a Afonso, como uma forma de retribuir os dez anos de cuidados que ele lhe dedicou.

Naiara transferiu todo o dinheiro para um cartão bancário e, ao voltar para a mansão, já era tarde da noite.

Desta vez, Afonso não estava em casa, o que facilitou sua tarefa.

Com o cartão em mãos, Naiara entrou silenciosamente no escritório, escondendo-o em uma das gavetas da escrivaninha.

Quando estava prestes a sair, percebeu que, talvez devido à correria do trabalho, o escritório estava um pouco desorganizado.

Ela suspirou e, olhando para os documentos espalhados, decidiu organizá-los. Enquanto arrumava, acidentalmente abriu uma gaveta.

Ao tentar fechá-la, seus olhos pousaram em algo que a deixou paralisada: uma pilha espessa de cartas de amor!

Sua respiração ficou suspensa ao ver as cartas, e ela não pôde deixar de pegá-las, surpresa com a descoberta.

Seriam essas cartas escritas pelo tio? Ele escrevia cartas de amor? Para quem?

Perguntas surgiam em sua mente, confusas como um novelo de lã.

Em meio a seus devaneios, Afonso entrou no escritório.

Ele percebeu imediatamente as cartas nas mãos de Naiara, e sua expressão mudou radicalmente. Sua voz, cheia de leve tremor e ansiedade, soou severa ao perguntar:

— Quem te deu permissão para mexer nas minhas coisas?
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