Capítulo 9
No último dia do seu prazo, quando Naiara desceu as escadas, Afonso estava prestes a sair com Amélia. Ela o chamou na entrada.

— Tio, sei que você está ocupado, mas hoje você poderia jantar comigo? Só uma refeição, apenas nós dois.

Eu gostaria... de me despedir de você.

Seus olhos estavam cheios de saudade e esperança, mas ao ouvir isso, sua primeira reação foi pensar que era apenas mais uma de suas declarações de amor, e ele estava prestes a recusar. Amélia, no entanto, tocou sua mão e, compreensiva, disse: — Vou me encontrar com minhas amigas, faz tempo que não as vejo. Você é o adulto, não precisa ficar guardando rancor de uma criança.

Com a persuasão dela, Afonso acabou concordando.

Apesar de ter conseguido a resposta que queria, o coração de Naiara estava tomado por um sentimento amargo.

Observando as duas pessoas entrarem no carro e se afastarem ao som do motor que se distanciava, Naiara reprimiu a tristeza que lhe invadia o coração e virou-se para entrar na casa.

Diziam que, após a morte de alguém, seus pertences deveriam ser queimados. Hoje era o último dia, e ela não queria causar mais incômodos ao tio, então decidiu organizar seus próprios pertences e queimá-los.

Havia muitos vestígios de Afonso em seu quarto.

Desde os produtos de higiene pessoal até as roupas que vestia, tudo era meticulosamente cuidado por Afonso.

Na verdade, inicialmente ele não tinha o hábito de cuidar de alguém com tanta atenção. Na maioria das vezes, delegava as tarefas de alimentação, abrigo e vestuário à empregada e ao seu assistente. Até que um dia, a empregada começou a ser negligente com a comida dela, e o assistente, ocupado entre a casa e a empresa, também não lhe deu a devida atenção.

Até que um dia, ela pegou um resfriado e ficou com febre, sem que ninguém percebesse. Se Afonso não tivesse, por acaso, passado em casa naquele dia e descoberto que Naiara estava ardendo em febre, ela poderia realmente ter ficado com sequelas, como o médico havia alertado.

Desde então, ele nunca mais confiou a responsabilidade por ela a mais ninguém.

Retirando-se de suas lembranças, ela olhou para os pertences queimados, agora reduzidos a cinzas, e sentiu uma certa melancolia. A partir de agora, o mundo não teria mais sua presença.

Ela limpou a casa completamente, exceto pelo armário, que permaneceu selado com fita adesiva.

Não sabia qual seria a reação do tio ao encontrar seu corpo. Será que ele ficaria triste?

Sem ela como um fardo, ninguém mais o incomodaria com assuntos que ele não gostava de ouvir. Talvez, o tio até se sentisse aliviado.

Após arrumar a casa, Naiara decidiu preparar a última refeição para ela e Afonso.

Na verdade, ela não era muito habilidosa na cozinha. No passado, Afonso a levava para comer fora, ou ele mesmo cozinhava para ela.

Naiara já havia expressado a vontade de aprender a cozinhar para preparar algo especial para ele. No entanto, depois que se queimou com óleo quente uma vez, ele a proibiu de tentar novamente.

Mesmo assim, ela secretamente tentou aprender a cozinhar, querendo surpreendê-lo. Mas, antes que pudesse dominar a habilidade, ocorreu o acidente que a transformou em uma alma errante.

Ao menos, agora não precisava mais se preocupar com queimaduras de óleo quente.

Naiara levou cinco horas para preparar uma refeição farta. Sentou-se à mesa, esperando por muito tempo. Os pratos esfriaram, foram reaquecidos e esfriaram novamente, mas ele não voltou.

Ela enviou uma mensagem para Afonso, mas não obteve resposta.

Também tentou ligar, uma, duas vezes... mas ninguém atendeu.

Após a chamada ser automaticamente encerrada novamente, Naiara ficou olhando para o celular, quando repentinamente recebeu uma notificação do Instagram. Era uma postagem de Amélia.

Com um pressentimento ruim, Naiara, quase sem querer, abriu a postagem. Na foto, havia duas passagens aéreas, e a legenda dizia:

【Amar alguém é dizer que quero ver a neve na Suíça, e ele imediatamente deixar tudo para ir comigo】

Ao terminar de ler a postagem, seu rosto empalideceu. Com as mãos tremendo, discou novamente o número de Afonso. Desta vez, alguém atendeu.

— Você foi com ela para a Suíça? Você prometeu que...

Antes que pudesse terminar, uma voz feminina do outro lado interrompeu. Naiara então percebeu que quem atendeu foi Amélia.

— Naiara, você realmente achou que Afonso voltaria para estar com você? Pare de sonhar. O que você deve fazer agora é arrumar suas coisas e sair da casa dele.

Amélia desligou sem esperar por uma resposta.

O som do telefone desligado ressoou por muito tempo, e Naiara permaneceu em silêncio até que o relógio marcou meia-noite. Apenas então ela se levantou e jogou a comida no lixo.

Logo em seguida, ouviu a voz do ceifeiro ecoando no ar.

— Naiara, o prazo de sete dias chegou ao fim. Você se arrepende de ter feito este pacto comigo?

A voz sombria e fria reverberou pela casa. Quando finalmente se dissipou, Naiara esboçou um sorriso amargo, e sua voz triste finalmente se fez ouvir.

— Apesar das decepções, não há arrependimento.

Levantando-se, ela foi até a agenda e arrancou a última página da contagem regressiva. — Pode me levar.

Com essas palavras, Naiara assistiu enquanto seu corpo gradualmente se tornava translúcido.

Ela estendeu a mão à sua frente, observando seu corpo espiritual, há muito transparente, começar a se dissipar lentamente desde as pontas dos dedos. Em seguida, suas mãos e pernas, até que todo o corpo desapareceu por completo.

Por fim, sumiu sem deixar vestígios.

Antes de desaparecer, ela olhou para o horizonte e esboçou um sorriso.

— Tio, adeus.

Para nunca mais ver.
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