— Você me chamou para sair hoje por algum motivo especial? — Naiara perguntou, tentando manter uma expressão neutra, embora seu coração estivesse batendo mais rápido.Afonso, ainda sentindo o calor subir ao rosto, ficou ainda mais corado ao ouvir a pergunta dela. Então, ele tirou um saco de dentro do casaco e o entregou a ela, sua voz saindo um pouco mais baixa.— Eu trouxe isso para você.Ao perceber que ele queria lhe dar um presente, Naiara tentou devolver o saco, recusando com gestos, mas ele, como se já previsse sua reação, rapidamente retirou o conteúdo do saco.Era um cachecol branco de tricô, cujos pontos de tamanhos variados deixavam claro que não fora comprado. Afonso logo confirmou essa suspeita com suas palavras seguintes.— Eu ainda não tenho muito dinheiro, então não posso te dar algo caro. Este cachecol foi feito por mim. É a primeira vez que faço isso e ainda estou aprendendo. Espero que você não se importe.Com o rosto levemente corado, Afonso falava com tanto sentimen
Naiara Lopes teve um sonho longo, muito longo.Ela não conseguia ver claramente o rosto do protagonista do sonho, mas de alguma forma sabia que aquele era eles.No sonho, havia um homem chamado Afonso Dias, que não era um estudante pobre, mas sim o herdeiro do Grupo Dias. Ele havia decidido deixar a família Dias, renunciando ao título de herdeiro, para cuidar daquela menina com o mesmo nome, mas sobrenome diferente, Naiara Brito, que sempre fora frágil e doente desde a infância, e que ele amava como um tio amoroso.Ele a criou, deu-lhe um amor único e a tratava com um carinho que parecia tirar estrelas do céu para ela.Dos oito aos dezoito anos, ele cuidou dela por dez anos inteiros, e ela acabou se apaixonando por ele.Ninguém a entendia, nem mesmo o tio que antes a adorava.O homem chamado Afonso Dias retirou todo o amor que um dia havia lhe oferecido e começou uma série de encontros para casamento, até encontrar uma noiva que o satisfazia em todos os aspectos.Ele achava que assim e
Não que Naiara tivesse se arrependido; as palavras que pronunciou antes de sua alma se dispersar ainda eram verdadeiras.— Embora haja arrependimento, não há remorso.Mas naquela ocasião, ela ainda tinha algo a dizer,‘Se houver uma próxima vida, ela não quer amar Afonso novamente.’Naquele dia, ela realmente acreditou que iria desaparecer para sempre.Mas, já que agora tinha uma nova chance de viver, não queria mais se envolver com ele; queria viver por si mesma.Quando Naiara acordou do torpor, já era tarde da tarde do dia seguinte.O cheiro forte de desinfetante e o teto branco, a leve dor na mão causada pela agulha e o gotejamento ao lado fizeram-na entender imediatamente onde estava.Ela virou a cabeça e viu Afonso ao lado da cama.Ele estava debruçado sobre a cama, parecia dormir inquieto, e era possível ver a barba por fazer em seu queixo, indicando que não havia descansado bem naquela noite.Antes, ela talvez sentisse pena ou se sentisse tocada, mas agora, olhando para ele, seu
Afonso finalmente partiu.Depois que Naiara terminou os procedimentos de alta sozinha, não demorou muito para ele receber o pagamento das despesas médicas enviado por Naiara.Ele não queria aceitar, mas a próxima frase dela o deixou sem palavras para recusar.— Afonso, afinal, sua situação financeira não é boa, então não exagere. Eu posso pagar minhas próprias despesas médicas. Eu ficaria mal se você precisasse fazer mais um bico por minha causa.Afonso abaixou a cabeça envergonhado, talvez por causa dos sonhos frequentes, seu comportamento estava cada vez mais parecido com o do homem dos sonhos.Mas o homem dos sonhos era herdeiro do Grupo Dias, um astro do mundo dos negócios que, mesmo rompendo com a família Dias, poderia recomeçar com suas próprias habilidades.E ele era apenas um estudante pobre, que nem tinha se formado ainda.Ao voltar para o dormitório, ele se jogou na cama desanimado, sem entender por que tudo estava indo bem e, de repente, em uma noite, tudo mudou.De repente,
Na mansão vazia, Naiara Brito estava sentada no sofá, imóvel, até que, após um longo tempo, a porta da frente se abriu e Afonso Dias entrou.Ao pousar os olhos sobre ela, ele hesitou por um breve momento, mas logo seu rosto endureceu.— Hoje a Amélia está com febre, por que você me ligou tantas vezes?Naiara se levantou, mas manteve a cabeça baixa e permaneceu em silêncio. Ela não respondeu, e Afonso também não saiu. Depois de um tempo, ele finalmente falou em voz baixa: — Eu precisava falar com você.— Falar o quê? Você está aqui, de pé, sem problemas, que assunto poderia ser?Sua explicação não obteve compreensão; ao contrário, a voz dele ficou ainda mais fria: — Eu já não te disse que a Amélia estava indisposta e que eu passaria o dia todo com ela? Por que você fez isso, Naiara? Eu já disse para você não ter esses pensamentos impróprios sobre mim. Eu sou seu tio, isso é impossível! Se você continuar assim, terá que ir embora.Após essas palavras, Afonso subiu as escadas e bateu a po
No segundo dia, Naiara acordou bem cedo e saiu para destruir seus documentos de identificação.Sua morte foi repentina, e após uma noite de pesquisa, ela descobriu que ainda tinha muitas coisas para resolver. Como Afonso já tinha alguém com quem queria formar uma nova família, ela, como filha adotiva, era apenas um fardo. Não queria que Afonso tivesse que lidar com essas questões, causando-lhe mais problemas.Quando chegou ao local para cancelar seu registro, a funcionária ficou incrédula ao ouvir que ela queria cancelar sua própria identidade, e confirmou várias vezes:— Menina, só é possível cancelar o registro de pessoas falecidas. Você realmente quer fazer isso?Naiara sorriu amargamente e assentiu. — Em seis dias, eu desaparecerei completamente deste mundo.Ao ouvir isso, a funcionária pensou que ela tinha câncer e olhou para ela com simpatia, lamentando ainda mais ao ver seus documentos.Apenas dezoito anos.Sem fazer mais perguntas, a funcionária procedeu com o cancelamento do r
Depois de dizer isso, ele a puxou de volta para a mesa de jantar, sentando-a novamente na cadeira antes de retornar ao lado de Amélia.Naiara levantou o olhar, observando Afonso enquanto ele consolava Amélia. Quando ele percebeu seu olhar, lançou-lhe outro olhar severo de advertência.Reprimindo a amargura em seu coração, Naiara ergueu a tigela e, suportando a dor, comeu cada pedaço de comida.Com a cabeça baixa, lágrimas caíram na tigela. Ao engolir mais uma garfada, a sensação de queimação desceu pela garganta, misturada com o gosto salgado das lágrimas. Naquele momento, ela não sabia dizer o que doía mais: o estômago ou o coração.O jantar finalmente terminou em meio ao silêncio de Naiara e à intimidade entre Afonso e Amélia. Assim que ela colocou os talheres na mesa, o som de um carro foi ouvido do lado de fora.— Deve ser minha encomenda chegando. — Ao ouvir o som, Amélia sorriu e correu em direção à porta.Enquanto isso, Afonso virou-se para Naiara, — A partir de hoje, Amélia vai
No dia seguinte, Naiara levantou-se cedo e, ao ir até a sala de jantar, viu que já havia alguém na cozinha.Era Afonso, vestindo um avental, cozinhando, com Amélia abraçando-o por trás. Ele não resistia, e até olhava para ela de vez em quando, sorrindo ternamente.A visão de sua intimidade era clara para Naiara, o que a fez lembrar do passado.Naquela época, havia muitos empregados na casa, mas ele estava sempre tão ocupado que passava noites fora. Aqueles empregados viam Naiara como apenas uma criança fácil de ignorar e frequentemente deixavam de alimentá-la.Depois que ele descobriu a negligência dos empregados, demitiu todos e aprendeu a cozinhar para cuidar dela, preparando cada refeição com atenção.Mas agora, ela não podia mais amá-lo como antes.Se Amélia fosse realmente a pessoa que pudesse trazer felicidade a ele, Naiara não teria mais nada a fazer além de desejar-lhes felicidades.Naiara desviou o olhar silenciosamente e, sem perceber, foi novamente até a agenda.Amélia, sem