No segundo dia, Naiara acordou bem cedo e saiu para destruir seus documentos de identificação.Sua morte foi repentina, e após uma noite de pesquisa, ela descobriu que ainda tinha muitas coisas para resolver. Como Afonso já tinha alguém com quem queria formar uma nova família, ela, como filha adotiva, era apenas um fardo. Não queria que Afonso tivesse que lidar com essas questões, causando-lhe mais problemas.Quando chegou ao local para cancelar seu registro, a funcionária ficou incrédula ao ouvir que ela queria cancelar sua própria identidade, e confirmou várias vezes:— Menina, só é possível cancelar o registro de pessoas falecidas. Você realmente quer fazer isso?Naiara sorriu amargamente e assentiu. — Em seis dias, eu desaparecerei completamente deste mundo.Ao ouvir isso, a funcionária pensou que ela tinha câncer e olhou para ela com simpatia, lamentando ainda mais ao ver seus documentos.Apenas dezoito anos.Sem fazer mais perguntas, a funcionária procedeu com o cancelamento do r
Depois de dizer isso, ele a puxou de volta para a mesa de jantar, sentando-a novamente na cadeira antes de retornar ao lado de Amélia.Naiara levantou o olhar, observando Afonso enquanto ele consolava Amélia. Quando ele percebeu seu olhar, lançou-lhe outro olhar severo de advertência.Reprimindo a amargura em seu coração, Naiara ergueu a tigela e, suportando a dor, comeu cada pedaço de comida.Com a cabeça baixa, lágrimas caíram na tigela. Ao engolir mais uma garfada, a sensação de queimação desceu pela garganta, misturada com o gosto salgado das lágrimas. Naquele momento, ela não sabia dizer o que doía mais: o estômago ou o coração.O jantar finalmente terminou em meio ao silêncio de Naiara e à intimidade entre Afonso e Amélia. Assim que ela colocou os talheres na mesa, o som de um carro foi ouvido do lado de fora.— Deve ser minha encomenda chegando. — Ao ouvir o som, Amélia sorriu e correu em direção à porta.Enquanto isso, Afonso virou-se para Naiara, — A partir de hoje, Amélia vai
No dia seguinte, Naiara levantou-se cedo e, ao ir até a sala de jantar, viu que já havia alguém na cozinha.Era Afonso, vestindo um avental, cozinhando, com Amélia abraçando-o por trás. Ele não resistia, e até olhava para ela de vez em quando, sorrindo ternamente.A visão de sua intimidade era clara para Naiara, o que a fez lembrar do passado.Naquela época, havia muitos empregados na casa, mas ele estava sempre tão ocupado que passava noites fora. Aqueles empregados viam Naiara como apenas uma criança fácil de ignorar e frequentemente deixavam de alimentá-la.Depois que ele descobriu a negligência dos empregados, demitiu todos e aprendeu a cozinhar para cuidar dela, preparando cada refeição com atenção.Mas agora, ela não podia mais amá-lo como antes.Se Amélia fosse realmente a pessoa que pudesse trazer felicidade a ele, Naiara não teria mais nada a fazer além de desejar-lhes felicidades.Naiara desviou o olhar silenciosamente e, sem perceber, foi novamente até a agenda.Amélia, sem
Ao ver as coisas no chão, o coração de Naiara deu um salto.Ela tinha tentado escondê-las, mas não sabia como Afonso as tinha encontrado.Por um momento, ela ficou visivelmente nervosa, mas então se lembrou de algo e começou a gaguejar, — Amanhã é o aniversário da morte dos meus pais, essas coisas são para eles. Vou queimá-las como oferenda.Ao ouvir a explicação dela, Afonso finalmente reprimiu o sentimento estranho em seu peito, fez uma pausa e disse: — Amanhã, eu vou com você visitá-los.— Não, tio, você deve passar tempo com Amélia e se concentrar no trabalho. Eu já causei muitos problemas para você, não serei mais um fardo.Afonso estava preparado para que ela ficasse feliz com sua oferta, mas ficou surpreso ao ver Naiara recusar. Atônito, ele a viu sair antes que pudesse dizer mais alguma coisa.Ela silenciosamente arrancou outra página da agenda, rasgando-a em pedaços e jogando-os no lixo.Restavam apenas quatro dias.Ao observar Naiara se afastando, Afonso lembrou-se das palavr
Ouvindo a pergunta de Afonso, Naiara finalmente recobrou os sentidos. Vendo as cartas em suas mãos, apressou-se em devolvê-las à gaveta, murmurando uma explicação: — Eu só queria ajudar a organizar...Mas sua explicação não pareceu aplacar Afonso. Pelo contrário, sua voz ficou ainda mais fria: — Você leu o que está lá dentro?Naiara ficou pasma, não esperando que ele se importasse tanto com essa questão.Diante de seu olhar cada vez mais sombrio, ela rapidamente balançou a cabeça e respondeu: — Não, não li.Afonso relaxou um pouco ao ouvir isso, mas ainda havia raiva em sua voz ao falar:— Saia daqui. E não mexa nas minhas coisas sem minha permissão.— Desculpe, não farei mais isso.Naiara abaixou a cabeça, sem argumentar, e deixou o escritório.De volta ao seu quarto, ela deitou-se na cama, mas sua mente não conseguia evitar lembrar das cartas de amor que vira no escritório.Nunca ouvira falar que Afonso tivesse alguém especial. Desde que se lembrava, não havia visto ninguém ao lado d
Afonso a olhou, aceitando o presente com um olhar enigmático.— Você pode nos felicitar novamente na festa de noivado.Festa de noivado?Mas ela não conseguiria esperar até o noivado dele.Com a cabeça baixa, Naiara permaneceu em silêncio, sem explicar ou contestar. Após entregar o presente, ela se retirou para um canto isolado.Ela se foi, e Afonso não pareceu se importar muito, continuando a caminhar com Amélia entre os convidados, apresentando-a pacientemente a todos que vinham cumprimentá-los.Pouco tempo depois, após cumprimentarem todos, Afonso e Amélia sumiram na multidão.Naiara ficou sozinha por um tempo, mas logo decidiu deixar o salão de festas.Ela nunca se habituou a esse tipo de evento; desde pequena, não gostava de lugares lotados. Antes, era Afonso quem a retirava discretamente dessas situações, e agora, seu hábito não havia mudado.O que mudou foi a pessoa que ele escolheu levar consigo.Do lado de fora do salão, havia um espaço amplo, e Naiara se lembrou de um jardim
Estava prestes a falar quando algo inesperado aconteceu: duas crianças brincando com skates vieram em direção à piscina. Não viram as pessoas à frente e, ao perceberem, não conseguiram parar a tempo, empurrando Amélia para dentro da piscina.A água da piscina levantou-se em grandes ondas, e Naiara ficou paralisada por um momento. Em seguida, reagiu rapidamente, sem se importar com as crianças, e se preparou para pular na água para ajudar. Mas foi ultrapassada por uma figura que passou rapidamente ao seu lado.Logo, uma força a empurrou para trás, e Naiara, ao se equilibrar, viu que a pessoa que emergiu apressadamente era Afonso.Ele tirou o casaco sem hesitar e pulou na piscina, salvando Amélia antes de olhar para Naiara com a testa franzida.— O que aconteceu?Antes que pudesse explicar, Amélia, envolta no casaco dele, começou a falar.— A culpa é minha, provoquei a Naiara e ela me empurrou na água. Mas estou bem, não a culpe... — Sua voz frágil e suplicante, junto com seus movimentos
No último dia do seu prazo, quando Naiara desceu as escadas, Afonso estava prestes a sair com Amélia. Ela o chamou na entrada.— Tio, sei que você está ocupado, mas hoje você poderia jantar comigo? Só uma refeição, apenas nós dois.Eu gostaria... de me despedir de você.Seus olhos estavam cheios de saudade e esperança, mas ao ouvir isso, sua primeira reação foi pensar que era apenas mais uma de suas declarações de amor, e ele estava prestes a recusar. Amélia, no entanto, tocou sua mão e, compreensiva, disse: — Vou me encontrar com minhas amigas, faz tempo que não as vejo. Você é o adulto, não precisa ficar guardando rancor de uma criança.Com a persuasão dela, Afonso acabou concordando.Apesar de ter conseguido a resposta que queria, o coração de Naiara estava tomado por um sentimento amargo.Observando as duas pessoas entrarem no carro e se afastarem ao som do motor que se distanciava, Naiara reprimiu a tristeza que lhe invadia o coração e virou-se para entrar na casa.Diziam que, apó