De Vida Passada à Atual, Sempre Foi Você
De Vida Passada à Atual, Sempre Foi Você
Por: Eloy Guedes
Capítulo 1
Na mansão vazia, Naiara Brito estava sentada no sofá, imóvel, até que, após um longo tempo, a porta da frente se abriu e Afonso Dias entrou.

Ao pousar os olhos sobre ela, ele hesitou por um breve momento, mas logo seu rosto endureceu.

— Hoje a Amélia está com febre, por que você me ligou tantas vezes?

Naiara se levantou, mas manteve a cabeça baixa e permaneceu em silêncio. Ela não respondeu, e Afonso também não saiu. Depois de um tempo, ele finalmente falou em voz baixa: — Eu precisava falar com você.

— Falar o quê? Você está aqui, de pé, sem problemas, que assunto poderia ser?

Sua explicação não obteve compreensão; ao contrário, a voz dele ficou ainda mais fria: — Eu já não te disse que a Amélia estava indisposta e que eu passaria o dia todo com ela? Por que você fez isso, Naiara? Eu já disse para você não ter esses pensamentos impróprios sobre mim. Eu sou seu tio, isso é impossível! Se você continuar assim, terá que ir embora.

Após essas palavras, Afonso subiu as escadas e bateu a porta do quarto.

Lá embaixo, Naiara permaneceu onde estava, olhando calmamente para ele enquanto subia as escadas, e disse suavemente:

— Tio, desculpe, não haverá próxima vez.

— Porque, eu já morri.

Sua voz era tão baixa que Afonso, já no andar de cima, não ouviu. Naiara não se importou, voltou a sentar-se no sofá, mas não conseguiu evitar lembrar-se do passado.

Afonso não era seu tio de sangue, mas apenas um amigo de seu pai.

Desde pequena, ela gostava de ficar grudada nele, chamando-o de irmão. Sempre que isso acontecia, Afonso pacientemente corrigia:

— Não é irmão, é tio.

O ano em que ela realmente mudou a forma de chamá-lo foi quando tinha oito anos, após seus pais morrerem tragicamente em um acidente de carro. Ela foi então acolhida pela família Dias.

Ela era a rosa que ele cultivava com carinho, dando a ela quase todo o seu amor.

Quando chegou à família Dias, por sentir-se uma estranha, estava muito insegura e passava noites sem dormir. Ele era quem, mesmo com o trabalho, a acalmava para dormir.

Ela sempre teve saúde frágil, dependia de remédios para sobreviver. Aos doze anos, quando outros membros da família Dias se opuseram a Afonso continuar cuidando dela, insistindo que ele a mandasse embora,

Afonso discordou, preferiu abrir seu próprio caminho e sair da família Dias para continuar cuidando dela, até que, mais tarde, ele fundou o Grupo SQ com seu próprio esforço, elevando-o a um nível comparável ao Grupo Dias, e as relações entre Afonso e a família Dias finalmente se acalmaram.

Aos quinze anos, Naiara participou de um passeio escolar e, inesperadamente, ocorreu um deslizamento de terra, quase tirando sua vida. No momento mais crítico, ele não hesitou em entrar na área de risco para resgatá-la.

Durante toda a vida dela, sempre que desejava algo, mesmo as estrelas no céu, ele prometia sem hesitar que as traria para ela.

Mas o que Naiara mais lembra é do ano em que seus pais faleceram. Sua saúde estava especialmente debilitada e, em uma ocasião, ela teve uma febre alta que a levou a ficar internada por três dias.

Ao acordar, estava aterrorizada e abraçou Afonso, chorando incontrolavelmente, soluçando enquanto perguntava:

— Tio, estou morrendo?

Naquela época, ele disse: — Naiara, enquanto eu não permitir, ninguém pode te tirar de mim. Nem mesmo a morte, eu te trarei de volta para longe dele.

Ele falou com tanta convicção naquela época e realmente a protegeu por dez anos completos, dos oito aos dezoito anos. Não importava o quão difícil fosse, ele nunca pensou em desistir dela.

Mas hoje, assaltantes invadiram a casa, esfaqueando-a várias vezes. Naiara ligou para ele repetidamente, mas ele desligou cada vez, para cuidar da febre de Amélia Cardoso.

Amélia apareceu em suas vidas três meses atrás. Naquele dia, Naiara aproveitou que ele estava dormindo para roubar um beijo dele, mas ele acordou diretamente, com o rosto frio, perguntando o que ela estava fazendo.

Afonso já havia percebido os sentimentos de Naiara, então ela decidiu não mais esconder e corajosamente se declarou para ele.

No entanto, ele a rejeitou com severidade, demonstrando descontentamento. Para desencorajá-la ainda mais, ele frequentemente participava de encontros arranjados, até que finalmente trouxe para casa Amélia Cardoso, que agradava em todos os aspectos, e demonstrava afeto por ela na frente de Naiara diariamente.

Quando Naiara faleceu, ela tentou ligar várias vezes para Afonso. Na verdade, Amélia atendeu uma das ligações, mas antes que Naiara pudesse expressar seu pedido de ajuda, Amélia, do outro lado da linha, disse:

— Naiara, o que você precisa? O Afonso está fazendo comida para mim agora, ele não tem tempo para atender seu telefonema.

Após essas palavras, Amélia desligou o telefone.

No instante em que a ligação foi cortada, Naiara também exalou seu último suspiro. Após sua morte, seu espírito, devido a um forte apego, não se dissipou imediatamente. O ceifador notou a anomalia e a procurou. Aproveitando a oportunidade, Naiara fez um acordo com o ceifador.

Ela aceitou o preço de ter sua alma destruída e nunca mais renascer em troca de retornar ao mundo dos vivos por sete dias para resolver seus assuntos pendentes.

Naiara caminhou até a agenda; se Afonso fosse atento, perceberia que havia apenas sete dias anotados nela.

Ela arrancou uma página e murmurou baixinho: — Tio, este é o primeiro dia em que me despeço de você.
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