Elana Kingsley sempre sonhou em ser escritora, mas a vida real nunca foi generosa com ela. Depois de uma série de decepções, ela se vê sozinha em Nova Iorque, agarrando-se aos poucos fragmentos de esperança que ainda lhe restam. Entre cartas nunca enviadas ao seu primeiro amor e rascunhos de romances engavetados, Elana tenta sobreviver às sombras do passado. Contudo, em um ato impulsivo regado a vinho e lágrimas, ela compartilha nas redes sociais um vídeo íntimo de suas cartas antigas, sem imaginar que, em poucas horas, seu vídeo se tornaria viral e transformaria sua vida. O inesperado sucesso chama a atenção da prestigiada Editora Buzzy, cujo CEO é ninguém menos que Gabriel, o melhor amigo e primeiro amor secreto que ela abandonou e sem despedidas, há quinze anos. Frio, ressentido e agora irremediavelmente profissional, Gabriel parece disposto a tratá-la apenas como mais um contrato. Mas quando antigas emoções ressurgem e Gabriel passa a ocupar mais do que as reuniões de negócios, Elana se vê dividida entre o medo de reviver as dores do passado e a tentadora possibilidade de reescrever sua história. Ao lado dele, desta vez.
Leer más— Prometo que não é. — ele disse, levantando as mãos em rendição. — Só pensei… que tal uma caminhada? Nada demais. Só... esticar as pernas, aproveitar a noite, conversar mais um pouco. Ela hesitou por um segundo, mas o convite tinha um quê de simplicidade reconfortante. A noite lá fora estava fria, sim, mas o sobretudo a protegeria — e, no fundo, algo nela queria prolongar aquele momento. — Caminhar. — repetiu, como se testasse a ideia. — Com um advogado desajeitado que odeia gravatas. — Exatamente. — ele confirmou, rindo. — E que promete não te empurrar numa poça ou tropeçar nas próprias pernas. Ela pegou a bolsa, levantando-se. — Nesse caso… vamos. Mas se eu escorregar nos meus saltos, a culpa vai ser sua. — Já estou pronto para assumir total responsabilidade. — ele respondeu, oferecendo o braço para ela. Elana o olhou por um segundo, antes de entrelaçar o braço no dele. Saíram do restaurante como se o mundo tivesse diminuído a velocidade só para eles. A calçada ainda estava
Ryan assentiu lentamente, como se compreendesse cada palavra. Ele pegou sua taça de vinho, mas antes de beber, disse: — Então você escolheu se mover. Escolheu recomeçar. Isso exige coragem. Muita. Ela deu uma risada baixa, desviando o olhar para a vela acesa no centro da mesa. — Não sei se foi coragem… acho que foi desespero. Mas agora, depois de tudo, sinto que talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu. Dói admitir, mas às vezes a queda te coloca no caminho certo. — Ou nas pessoas certas. — Ryan completou, com um sorriso gentil. Elana o olhou, surpresa com a delicadeza da frase, e por um segundo, os dois apenas se encararam, como se o tempo tivesse diminuído a velocidade ao redor deles. — Você tem esse talento, não é? — ela brincou. — De dizer as coisas certas na hora certa. — Eu prefiro pensar que é só sinceridade. — ele disse, dando de ombros. — E talvez um pouco de sorte por estar aqui com você essa noite. O garçom se aproximou com os pratos, interrompendo o moment
Ryan já estava sentado à mesa, de frente para a entrada, com uma taça de vinho tinto nas mãos. Ao vê-la, seus olhos se acenderam num brilho imediato. Sem hesitar, ele se levantou. Elana parou a poucos passos de distância, surpresa com o gesto; quase ninguém fazia isso mais. Mas ele fez. Com naturalidade, como se fosse a única coisa possível a se fazer diante da visão que ela era. — Uau… — disse ele, com um sorriso lento e sincero. — Cedo, na cafeteria, você estava linda. Elana abriu um sorriso tímido, já sentindo o rubor subir pelas bochechas. — Mas agora… — ele continuou, olhando-a dos olhos ao vestido, com admiração evidente — nesse vestido, você está simplesmente incrível. Ela baixou os olhos por um segundo, envergonhada, mas o sorriso se alargou, genuíno, impossível de conter. — Obrigada… você também não está nada mal. Ryan riu suavemente e puxou a cadeira para ela, como se tivesse todo o tempo do mundo só para apreciar aquele momento. Elana sentou-se, ajeitando o sobretudo
O shopping parecia ainda mais barulhento do que o normal. Elana desceu do carro de aplicativo e, por um instante, cogitou voltar para casa. Mas a voz da Isabella ecoava na mente como uma trilha sonora teimosa: “Compra um vestido que diga ‘eu sou incrível’.” Respirou fundo e seguiu pelos corredores até uma loja que chamava atenção até mesmo de longe. Vidros impecáveis, manequins com expressões quase arrogantes e vestidos que pareciam custar o triplo do que ela costumava pagar por uma peça de roupa. Entrou. — Boa tarde. — disse ao cruzar a porta. A vendedora, uma mulher alta, magra e de coque impecável, a avaliou dos pés à cabeça com um olhar de quem esperava que Elana tivesse entrado na loja errada. — Posso… ajudar? — perguntou, com um sorriso educado, mas forçado. O tipo de sorriso que grita “você não pertence a este lugar”. — Estou procurando um vestido para hoje à noite. Algo elegante, mas não exagerado. — Elana respondeu, tentando manter a postura, mesmo diante da recepção ge
— Eu não acredito que vou mesmo fazer isso. — Elana disse, segurando o celular com uma mão enquanto a outra remexia cabides dentro do armário. — Isso é loucura, né? Do outro lado da tela, Isabella estava esparramada no sofá com uma taça de vinho e uma expressão de quem estava se divertindo horrores. — Loucura é você cogitar sair com esse cardigã bege. Elana, por Deus. Você quer jantar com um homem interessante, não parecer que vai revisar uma monografia. — Isso é o que eu tenho, Isa! Eu nem sei mais o que é estar “arrumada” para alguma coisa. Ainda mais para um… jantar? Encontro? Entrevista informal? Eu nem sei o que isso é! — Isso é claramente um encontro. — Isabella respondeu, girando a taça devagar, com um sorriso malicioso. — E ele claramente está interessado. Você precisa parar de agir como se estivesse indo para uma reunião de condomínio. Elana soltou um riso nervoso e jogou um vestido floral em cima da cama. — Esse? — Só se vocês forem jantar num jardim de infância. Elan
A tentativa de leveza funcionou o suficiente para quebrar o gelo por alguns segundos. Giana soltou uma risada curta. — Então vocês dois estão... trabalhando — ela reforçou, voltando os olhos para Elana com um brilho provocador. — E o Gabriel, será que já sabe dessa parceria? Elana manteve o sorriso. — Gabriel está ciente de tudo que precisa estar. Giana apertou levemente os lábios, sem saber se aquilo era um elogio ou uma cutucada. Talvez fosse ambos. — Claro. — respondeu, olhando uma última vez para Ryan. — Bem, não vamos interromper mais. Lara odeia perder tempo na fila e eu... odeio perder paciência. Bom dia para vocês. As duas se afastaram em passos elegantes. Mas antes de cruzar a porta, Lara virou o rosto por um segundo e os olhos que encontrou os de Elana, pareciam dizer o que a boca jamais ousaria. Quando a porta se fechou atrás delas, Ryan virou-se com uma expressão que misturava espanto e diversão. — Se isso é só o começo da sua história, mal posso esperar pelo clíma
Elana olhou em volta, desesperada por uma rota de fuga, qualquer coisa que a livrasse daquela situação. Seus olhos pararam na mesa ao lado, onde um homem de barba por fazer e olhos curiosos tomava um espresso e rabiscava em um caderno de anotações. Sem pensar duas vezes, inclinou-se na direção dele e sussurrou: — Me desculpa... você pode fingir que está conversando comigo? É meio urgente. O homem ergueu os olhos, surpreso, mas pareceu captar a gravidade do pedido rapidamente. — Ex-namorado, ex-chefe ou alguém que você deve dinheiro? — Esposa do editor que vai publicar meu livro. — ela respondeu rápido. — E... é complicado. Muito complicado. Ele sorriu com o canto da boca e fechou o caderno. — Então vamos improvisar. Curvou-se na direção dela e apontou para a tela do laptop, como se estivessem analisando algo juntos. Elana forçou um sorriso e começou a balbuciar qualquer coisa, torcendo para que Giana passasse reto. Mas aquilo não aconteceu. Giana não só não passou reto, como
Alguns dias se passaram desde que Elana entregou o manuscrito para Gabriel e eles decidiram, oficialmente, trabalhar juntos. O silêncio que pairava desde então não era incômodo; pelo contrário, era necessário. No dia seguinte à reunião, o adiantamento prometido caiu em sua conta. Elana ficou encarando a notificação no celular por longos minutos, sem conseguir se mover. Cem mil dólares. A soma parecia grande demais para ela, para a garota que cresceu com medo de pedir um sorvete no meio da rua, porque sabia que seus pais nadavam em dívidas. Ela transferiu uma parte para uma conta separada, pagou algumas dívidas pequenas e ainda assim, a maior parte do valor continuava lá. Intocado. Como se ainda não fosse real. Enquanto isso, o dinheiro que Eilen deixara na caixa de sapatos também continuava guardado, envolto no mesmo papel pardo e com a carta repousando sobre ele. Elana ainda não tinha coragem de usar nada daquilo. Era como se mexer naquela quantia fosse apagar o último - talvez p
Ela engoliu em seco e entrou com o pacote nos braços, trancando a porta atrás de si com mãos ligeiramente trêmulas. Largou a bolsa no chão e foi direto para a mesa da cozinha, onde pousou a caixa com cuidado. Ficou olhando por alguns segundos, tentando entender o que exatamente estava sentindo. Com delicadeza, desfez o laço de barbante e puxou o papel pardo, revelando uma caixa de sapatos antiga, daquelas que a mãe costumava guardar cartas, fotografias e recortes de jornal. Dentro, havia um envelope com seu nome escrito à mão, seguido de um empacotamento apertado de cédulas dobradas; notas de cem, cinquenta, vinte. Elana arregalou os olhos. Havia maços de dinheiro ali. Muitos. Ela não sabia quanto, mas era mais do que poderia contar de uma vez. Tirou o envelope com o próprio nome, abrindo-o com mãos que já não disfarçavam o tremor. No interior, uma carta, escrita com a mesma letra que a fez chorar nas tarefas da escola, quando a mãe a ajudava a copiar. “Minha querida Elana, Se voc