Agora, anos depois, ela segurava aquela mesma carta em suas mãos. As palavras, ainda tão vívidas, traziam de volta um passado que ela tentou esquecer. Com a respiração entrecortada, ela deslizou os dedos pelo papel amarelado, sentindo as lágrimas arderem em seus olhos.
[...]
Elana ainda segurava as cartas nas mãos quando algo lhe chamou a atenção. No fundo da pequena caixa metálica, havia um amarrado de cartas diferente dos outros. O papel amarelado pelo tempo estava preso por uma fita vermelha desbotada, e o nome "Gabriel" fora escrito à mão na parte superior da primeira folha.
Seu coração acelerou. Gabriel. Seu melhor amigo de infância e adolescência. A única pessoa que a fizera sentir que não estava completamente sozinha naquele mundo. Seus dedos deslizaram pela fita antes de desfazê-la com cuidado. Dentro daquele maço de cartas, escondiam-se palavras que ela nunca teve coragem de dizer em voz alta.
Com um suspiro trêmulo, Elana puxou uma das cartas e começou a ler.
“Meu querido sol,
Eu não sei por que ainda escrevo essas cartas que nunca terei coragem de te entregar. Talvez porque seja a única maneira de colocar para fora tudo o que eu sinto. Sei que você me vê como sua melhor amiga, e eu tento me convencer de que isso é o suficiente, mas a verdade é que não é. Não para mim.
Eu queria poder te contar que, quando você sorri, meu coração se aquece de um jeito que nada mais consegue. Que cada vez que você segura minha mão para me puxar em alguma aventura sem sentido, eu quero que o tempo pare ali mesmo. Eu queria te dizer que, quando você fala sobre a garota que gosta, eu sorrio por fora, mas por dentro estou desmoronando.
Talvez um dia eu tenha coragem de te contar. Talvez um dia eu pare de esconder esse amor dentro de cartas que só acumulam poeira. Ou talvez eu continue assim, te amando em silêncio, desejando que, de alguma forma, você perceba sem que eu precise dizer.
Com todo o amor que nunca pude confessar, Elana.”
As palavras dançavam diante de seus olhos, mas a visão de Elana estava turva com as lágrimas que ameaçavam cair. Ela nunca teve coragem de dizer nada a ele. Nunca soube se ele poderia ter sentido o mesmo.
Seu peito se apertou com uma dor antiga, mas ainda intensa. Quando seus pais se separaram, seu pai a levou embora da cidade do dia para a noite. Não houve tempo para despedidas, para explicações. Simplesmente arrancaram-na de sua casa, de sua vida, e, principalmente, de Gabriel. Ela nunca soube como ele reagiu ao seu desaparecimento repentino, nunca recebeu uma carta, uma ligação. O tempo passou, e o silêncio entre eles se tornou um abismo.
Mas agora, segurando aquela carta, a saudade se tornou insuportável. Ela precisava saber. Precisava ver se Gabriel ainda estava ali, se ainda morava naquela casa no fim da rua.
Tomada pela emoção, Elana saiu da casa sem nem perceber seus passos. Caminhou pela calçada, sentindo o vento frio tocar seu rosto. A cada metro percorrido, seu coração batia mais rápido. E se ele ainda estivesse lá? E se abrisse a porta ao vê-la? Ou pior… e se ele tivesse ido embora para sempre?
Ao virar a última esquina, seu olhar se fixou na casa que um dia fora tão familiar. Mas algo estava diferente. As janelas estavam fechadas, as cortinas puxadas. O jardim que antes era bem cuidado agora estava tomado pelo mato. E, no portão, uma placa enferrujada deixava claro: "Vende-se".
Elana sentiu seu estômago afundar. Ele não estava mais ali.
Tudo a tomou de uma só vez. A dor de ter sido traída; a morte da mãe que ela sequer tinha contato; a incerteza sobre sua própria vida. Mas, acima de tudo, o vazio de perceber que Gabriel, a única pessoa que realmente a fazia se sentir segura, agora só existia em suas lembranças.
Elana voltou pela mesma rua, os pensamentos embaralhados pelo impacto do que havia acabado de ver. A casa de Gabriel, fechada, abandonada. Era como se um pedaço de sua história tivesse sido arrancado sem aviso. Sentia-se sufocada, como se o peso de todas as lembranças caísse sobre ela de uma só vez.
No meio do caminho, avistou um pequeno mercadinho de bairro. Sem pensar muito, entrou. As prateleiras eram estreitas, os produtos amontoados de maneira quase desorganizada, mas nada disso importava. Caminhou até a sessão de bebidas e pegou duas garrafas de vinho barato. O atendente, um senhor de idade com óculos grandes e uma expressão cansada, lançou-lhe um olhar de curiosidade, mas nada disse. Elana pagou rapidamente e saiu dali. Ao chegar em casa, trancou a porta e foi direto até a cozinha. Abriu os armários antigos, vasculhou as prateleiras cobertas de poeira, mas não encontrou uma única taça. Frustrada, soltou um suspiro exasperado e bateu a porta do armário com força. Pegou uma das garrafas e, sem paciência para cerimônias, girou a rolha e bebeu direto do gargalo. O vinho desceu forte, queimando sua garganta e aquecendo seu peito. Com o tempo, os goles se tornaram mais frequentes, e a sensação de torpor começou a tomar conta de seu corpo. A primeira garrafa estava pela metade
Elana pisca algumas vezes, a cabeça virando com tanta informação. — Sim... eu... eu morava em Detroit, mas agora estou em Nova Iorque..., mas, espera. Editora Buzzy? Seu chefe? — Sim, senhora Kingsley. — a voz de Alice soava profissional, mas com um entusiasmo contido. — A Editora Buzzy tem interesse em autores com um apelo emocional forte e uma base de leitores engajados. Seu vídeo chamou a atenção do nosso diretor editorial, e ele pediu para entrarmos em contato o mais rápido possível. Elana piscou, tentando absorver aquelas palavras. Seu coração parecia querer escapar do peito. — Vocês querem... falar comigo? Sobre um livro? — Exatamente. Seu vídeo demonstra uma narrativa intensa e autêntica, algo que buscamos. Meu chefe gostaria de agendar uma reunião para discutir possibilidades. Se a senhora estiver disponível, podemos organizar um encontro ainda hoje. Elana engoliu em seco. Ainda estava processando a ideia de que, de um dia para o outro, havia ganhado dezenas de milhares
O elevador se abriu, interrompendo seus pensamentos. O andar era moderno, decorado com livros e quadros de capas de best-sellers. O logo da Buzzy estampado na parede parecia sorrir para ela de forma quase irônica. — Elana Lewis? — chamou uma voz feminina e em seguida deu um pigarro. — Kingsley. Elana virou-se e encontrou uma mulher de cabelo curto e loiro platinado, bem-vestida e com um sorriso profissional. — Sou Alice Montclair. — a mulher estendeu a mão. — Seja bem-vinda à Buzzy. — Elana apertou a mão de Alice rapidamente e em seguida a secou na própria roupa. — Meu chefe a está esperando. Venha comigo, por favor. Elana seguiu a mulher, sentindo o coração bater tão forte que parecia ecoar pelo corredor. Seus passos soavam amortecidos sob o tapete elegante, e tudo ao redor parecia irreal. Como poderia sua vida ter mudado tanto da noite para o dia? Alice parou diante de uma porta de madeira escura, bateu de leve e girou a maçaneta. — Elana Kingsley já chegou. Elana respirou f
Ela mordeu o lábio, contendo as lágrimas que insistiam em se formar. Sabia que não podia desmoronar ali. Não na frente dele. Gabriel respirou fundo, endireitando-se na cadeira. Pegou uma pasta preta sobre a mesa e a empurrou lentamente na direção de Elana. — O contrato. — disse ele, sem emoção. — Já está pré-aprovado pela Buzzy, mas tem uma cláusula adicional que eu exigi. Elana arqueou as sobrancelhas, desconfiada. — Cláusula adicional? — repetiu, sem conseguir esconder o nervosismo. Eles sequer conversaram e já há um contrato. — Sim. — Gabriel cruzou os braços. — Eu quero total supervisão editorial. Toda e qualquer linha, cena ou capítulo vai passar por mim antes de ser aprovado. Inclusive as temáticas e o tom geral dos livros. Elana piscou, sem acreditar no que ouvia. — Isso não é normal... você quer censurar minha história? — Quero garantir que o material atenda aos interesses da editora. — disse ele, frio. — E, honestamente, evitar que certas... emoções pessoais — ele lan
Seguiu até a pequena mesa no canto da sala, abriu seu notebook antigo e, com dedos ainda trêmulos, criou um novo documento. Respirou fundo, e então digitou: “CAPÍTULO UM” Por um instante, ficou olhando para aquelas duas palavras. Era simples, mas era um começo. E, dessa vez, seria por ela, não por Gabriel ou pela Buzzy. Seria pela menina que, anos atrás, sonhava em escrever as próprias histórias. Pegou o celular e, sem pensar demais, tirou uma foto da tela. Em segundos, postou no Instagram com uma legenda simples, mas que carregava tudo o que sentia: "Novidades a caminho." O celular vibrou novamente. Curtidas instantâneas. Um sorriso, pequeno e tímido, surgiu em seu rosto. Mas, antes que pudesse se deixar levar pela animação, três batidas firmes na porta interromperam o momento. O som seco na velha madeira fez Elana saltar da cadeira, o coração disparando. Ainda admirando, quase hipnotizada, os números que cresciam em sua rede social, ela caminhou hesitante até a porta. Sua men
— Eu... — sua voz falhou, e ela precisou fechar os olhos por um instante. Quando os abriu, estavam cheios de firmeza. — Não. Eu não quero o seu dinheiro, Gabriel. Nem seu contrato. — Você pode fingir o quanto quiser, Elana. Mas está recusando mais do que dinheiro. Ela se manteve firme. — Prefiro recusar agora a me arrepender depois. Pode sair. Ele demorou um segundo, analisando-a de cima a baixo, como se quisesse decorar a imagem. Então ajeitou o paletó e saiu, sem dizer mais nada. Quando a porta se fechou, Elana respirou fundo e só então percebeu o quanto estava tremendo. [...] — Você só pode ter ficado doida. — Isabella grunhe do outro lado da tela. — TREZENTOS MIL DÓLARES! ELANA! O celular de Elana estava apoiado na garrafa de vinho, com a imagem de Isabella a encarando como se fosse uma louca, enquanto ela segurava o bolo de cartas que escreveu para Gabriel anos atrás com uma mão e na outra uma taça cheia de vinho. — Eu não quero o dinheiro dele, Isa. — Elana rebateu, be
Decidida a sair um pouco de casa para respirar, pegou a bolsa e foi até o mercado da esquina. Não precisava de nada específico, mas andar pelos corredores gelados parecia um bom plano. Elana estava colocando uma garrafa de café no carrinho quando ouviu uma voz exageradamente surpresa atrás dela. — Meu Deus, Elana Kingsley? Ela se virou devagar, já sentindo um arrepio incômodo subir pela espinha. Sophie Miller. Os anos haviam sido generosos com ela. O cabelo loiro continuava sedoso, os olhos azuis mantinham aquele brilho avaliador de sempre, e o sorriso… ah, o sorriso continuava carregado da mesma malícia disfarçada que Elana lembrava muito bem. — Uau! — Sophie exclamou, olhando-a de cima a baixo. — Nunca pensei que fosse te encontrar aqui. Está visitando alguém? Elana respirou fundo, tentando manter a calma. — Na verdade, me mudei para cá. Definitivamente. O sorriso de Sophie vacilou por um segundo antes de se tornar ainda mais doce. — Ah… É mesmo? — Sim. — Interessante. —
Mas agora era diferente. A mulher refletida no vidro escuro da entrada não era a mesma menina que se encolhia nos corredores, evitando olhares e sussurros. Desta vez, ela estava impecável. O vestido preto, justo na medida certa, abraçava suas curvas com elegância. O tecido suave deslizava até seus joelhos, e a fenda lateral revelava um vislumbre ousado de pele. O blazer estruturado em um tom caramelo equilibrava a sensualidade do vestido com um toque de sofisticação. Nos pés, saltos finos a faziam caminhar com firmeza, cada passo um lembrete de que não era mais a garota assustada de antes. Seu cabelo caía em ondas perfeitas sobre os ombros, um brilho sedoso refletindo sob as luzes artificiais do colégio. A maquiagem estava impecável: olhos marcados com um esfumado sutil, lábios pintados de vermelho profundo. Um contraste provocante contra sua pele iluminada. Nada ali era acidental. Ela queria ser vista. Queria ser lembrada. Inspirou fundo e endireitou os ombros antes de dar o prime