O shopping parecia ainda mais barulhento do que o normal. Elana desceu do carro de aplicativo e, por um instante, cogitou voltar para casa. Mas a voz da Isabella ecoava na mente como uma trilha sonora teimosa: “Compra um vestido que diga ‘eu sou incrível’.” Respirou fundo e seguiu pelos corredores até uma loja que chamava atenção até mesmo de longe. Vidros impecáveis, manequins com expressões quase arrogantes e vestidos que pareciam custar o triplo do que ela costumava pagar por uma peça de roupa. Entrou. — Boa tarde. — disse ao cruzar a porta. A vendedora, uma mulher alta, magra e de coque impecável, a avaliou dos pés à cabeça com um olhar de quem esperava que Elana tivesse entrado na loja errada. — Posso… ajudar? — perguntou, com um sorriso educado, mas forçado. O tipo de sorriso que grita “você não pertence a este lugar”. — Estou procurando um vestido para hoje à noite. Algo elegante, mas não exagerado. — Elana respondeu, tentando manter a postura, mesmo diante da recepção ge
Ryan já estava sentado à mesa, de frente para a entrada, com uma taça de vinho tinto nas mãos. Ao vê-la, seus olhos se acenderam num brilho imediato. Sem hesitar, ele se levantou. Elana parou a poucos passos de distância, surpresa com o gesto; quase ninguém fazia isso mais. Mas ele fez. Com naturalidade, como se fosse a única coisa possível a se fazer diante da visão que ela era. — Uau… — disse ele, com um sorriso lento e sincero. — Cedo, na cafeteria, você estava linda. Elana abriu um sorriso tímido, já sentindo o rubor subir pelas bochechas. — Mas agora… — ele continuou, olhando-a dos olhos ao vestido, com admiração evidente — nesse vestido, você está simplesmente incrível. Ela baixou os olhos por um segundo, envergonhada, mas o sorriso se alargou, genuíno, impossível de conter. — Obrigada… você também não está nada mal. Ryan riu suavemente e puxou a cadeira para ela, como se tivesse todo o tempo do mundo só para apreciar aquele momento. Elana sentou-se, ajeitando o sobretudo
Ryan assentiu lentamente, como se compreendesse cada palavra. Ele pegou sua taça de vinho, mas antes de beber, disse: — Então você escolheu se mover. Escolheu recomeçar. Isso exige coragem. Muita. Ela deu uma risada baixa, desviando o olhar para a vela acesa no centro da mesa. — Não sei se foi coragem… acho que foi desespero. Mas agora, depois de tudo, sinto que talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu. Dói admitir, mas às vezes a queda te coloca no caminho certo. — Ou nas pessoas certas. — Ryan completou, com um sorriso gentil. Elana o olhou, surpresa com a delicadeza da frase, e por um segundo, os dois apenas se encararam, como se o tempo tivesse diminuído a velocidade ao redor deles. — Você tem esse talento, não é? — ela brincou. — De dizer as coisas certas na hora certa. — Eu prefiro pensar que é só sinceridade. — ele disse, dando de ombros. — E talvez um pouco de sorte por estar aqui com você essa noite. O garçom se aproximou com os pratos, interrompendo o moment
— Prometo que não é. — ele disse, levantando as mãos em rendição. — Só pensei… que tal uma caminhada? Nada demais. Só... esticar as pernas, aproveitar a noite, conversar mais um pouco. Ela hesitou por um segundo, mas o convite tinha um quê de simplicidade reconfortante. A noite lá fora estava fria, sim, mas o sobretudo a protegeria — e, no fundo, algo nela queria prolongar aquele momento. — Caminhar. — repetiu, como se testasse a ideia. — Com um advogado desajeitado que odeia gravatas. — Exatamente. — ele confirmou, rindo. — E que promete não te empurrar numa poça ou tropeçar nas próprias pernas. Ela pegou a bolsa, levantando-se. — Nesse caso… vamos. Mas se eu escorregar nos meus saltos, a culpa vai ser sua. — Já estou pronto para assumir total responsabilidade. — ele respondeu, oferecendo o braço para ela. Elana o olhou por um segundo, antes de entrelaçar o braço no dele. Saíram do restaurante como se o mundo tivesse diminuído a velocidade só para eles. A calçada ainda estava
O som estridente de um copo se estilhaçando contra a parede preencheu a sala. O peito de Elana subia e descia rapidamente, o coração martelando no peito como se quisesse escapar da dor que a sufocava. Diante dela, Michael mantinha os braços erguidos, como se pudesse se defender das acusações que caíam sobre ele como uma tempestade. — Você acha que eu sou estúpida, Michael? — A voz dela saiu embargada, mas firme. — Eu vi as mensagens, eu vi as fotos. Não tem mais desculpas, não tem mais mentiras. Michael passou a mão pelos cabelos escuros, o rosto contraído em uma expressão de exasperação. — Elana, não é o que você está pensando... Ela soltou uma risada amarga. — Não? Então me explica, porque pelo que eu vi, você está com outra mulher! Faz tempo, não faz? — Seus olhos ardiam, mas ela se recusava a chorar. Não na frente dele. O silêncio que se seguiu foi a confirmação que ela precisava. Michael desviou o olhar, os ombros caídos em derrota. Ele não tinha nada a dizer. Nenhuma jus
Elana inspirou fundo, tentando recuperar o controle. Ela não podia se permitir desmoronar completamente. Já tinha chorado demais. Passou as mãos pelo rosto, secando as lágrimas, e endireitou os ombros. Precisava sair dali. Precisava ir para um lugar onde ainda houvesse um resquício de segurança, onde não se sentisse tão perdida e sozinha. Ligou o carro e saiu do estacionamento com as mãos firmes no volante, mas seu coração ainda estava em pedaços. A cidade passava por ela em flashes borrados pelas lágrimas remanescentes, e cada semáforo parecia um lembrete cruel de que sua vida estava em pausa, parada no momento exato em que descobriu a traição. Quando finalmente chegou ao prédio de Isabella, estacionou sem se preocupar se estava alinhada corretamente. Saiu do carro, pegou sua mala e atravessou o pequeno jardim que levava à entrada. Seus passos estavam pesados, e o cansaço emocional ameaçava derrubá-la a qualquer momento. Apertou a campainha e esperou, o coração batendo forte contr
Elana sorriu de forma melancólica, porém aliviada de ter alguém que realmente se importe com ela. O telefone continuava tocando incessantemente, deixando Elana irritada. — Quem é? — Isabella pergunta, ao ver a amiga soltar o aparelho pela terceira vez. — Sei lá. É restrito. Provavelmente aquele imbecil do Michael ligando para me perturbar. Isabella bufou, pegou o telefone de Elana e atendeu sem hesitar. — Olha aqui, seu cretino! A Elana não quer falar com você! Some da vida dela, seu desgraçado! Eu juro que se você continuar ligando, eu mesma vou aí te socar até você se arrepender de ter nascido! Os olhos de Isabella se arregalam, quando ela ouve a voz do outro lado da linha. Com um sorriso sem graça, ela estica o telefone para Elana. — Não é o Michael. Elana franziu a testa, pegando o telefone hesitante. — Alô? Uma voz masculina, firme e profissional, soou do outro lado. — Boa noite, senhora Elana. Meu nome é Antony Shell, sou advogado da família Kingsley. Preciso falar
Com a escritura e as chaves em mãos, Elana cruzou o pequeno jardim da frente, onde a grama crescia de forma desigual. Pequenas flores ainda tentavam sobreviver em meio às folhas secas que se acumulavam nos canteiros. Seu olhar vagou pelo espaço, reconhecendo cada detalhe e ao mesmo tempo sentindo que aquele lugar não lhe pertencia mais. Parando diante da porta, passou os dedos pela madeira áspera antes de inserir a chave na fechadura. A maçaneta girou com um leve estalo, e a porta se abriu com um rangido baixo. O cheiro do interior da casa a atingiu imediatamente: um misto de poeira, madeira envelhecida e um perfume distante que lhe era estranhamente familiar. O coração de Elana deu um salto no peito. Ela entrou hesitante, os passos ecoando no piso de madeira. A sala ainda tinha os mesmos móveis, embora cobertos por lençóis brancos que acumulavam poeira. O sofá, onde sua mãe costumava sentar-se com uma xícara de chá, estava no mesmo lugar. A estante de livros ainda exibia os mesmos