A tentativa de leveza funcionou o suficiente para quebrar o gelo por alguns segundos. Giana soltou uma risada curta. — Então vocês dois estão... trabalhando — ela reforçou, voltando os olhos para Elana com um brilho provocador. — E o Gabriel, será que já sabe dessa parceria? Elana manteve o sorriso. — Gabriel está ciente de tudo que precisa estar. Giana apertou levemente os lábios, sem saber se aquilo era um elogio ou uma cutucada. Talvez fosse ambos. — Claro. — respondeu, olhando uma última vez para Ryan. — Bem, não vamos interromper mais. Lara odeia perder tempo na fila e eu... odeio perder paciência. Bom dia para vocês. As duas se afastaram em passos elegantes. Mas antes de cruzar a porta, Lara virou o rosto por um segundo e os olhos que encontrou os de Elana, pareciam dizer o que a boca jamais ousaria. Quando a porta se fechou atrás delas, Ryan virou-se com uma expressão que misturava espanto e diversão. — Se isso é só o começo da sua história, mal posso esperar pelo clíma
— Eu não acredito que vou mesmo fazer isso. — Elana disse, segurando o celular com uma mão enquanto a outra remexia cabides dentro do armário. — Isso é loucura, né? Do outro lado da tela, Isabella estava esparramada no sofá com uma taça de vinho e uma expressão de quem estava se divertindo horrores. — Loucura é você cogitar sair com esse cardigã bege. Elana, por Deus. Você quer jantar com um homem interessante, não parecer que vai revisar uma monografia. — Isso é o que eu tenho, Isa! Eu nem sei mais o que é estar “arrumada” para alguma coisa. Ainda mais para um… jantar? Encontro? Entrevista informal? Eu nem sei o que isso é! — Isso é claramente um encontro. — Isabella respondeu, girando a taça devagar, com um sorriso malicioso. — E ele claramente está interessado. Você precisa parar de agir como se estivesse indo para uma reunião de condomínio. Elana soltou um riso nervoso e jogou um vestido floral em cima da cama. — Esse? — Só se vocês forem jantar num jardim de infância. Elan
O shopping parecia ainda mais barulhento do que o normal. Elana desceu do carro de aplicativo e, por um instante, cogitou voltar para casa. Mas a voz da Isabella ecoava na mente como uma trilha sonora teimosa: “Compra um vestido que diga ‘eu sou incrível’.” Respirou fundo e seguiu pelos corredores até uma loja que chamava atenção até mesmo de longe. Vidros impecáveis, manequins com expressões quase arrogantes e vestidos que pareciam custar o triplo do que ela costumava pagar por uma peça de roupa. Entrou. — Boa tarde. — disse ao cruzar a porta. A vendedora, uma mulher alta, magra e de coque impecável, a avaliou dos pés à cabeça com um olhar de quem esperava que Elana tivesse entrado na loja errada. — Posso… ajudar? — perguntou, com um sorriso educado, mas forçado. O tipo de sorriso que grita “você não pertence a este lugar”. — Estou procurando um vestido para hoje à noite. Algo elegante, mas não exagerado. — Elana respondeu, tentando manter a postura, mesmo diante da recepção ge
Ryan já estava sentado à mesa, de frente para a entrada, com uma taça de vinho tinto nas mãos. Ao vê-la, seus olhos se acenderam num brilho imediato. Sem hesitar, ele se levantou. Elana parou a poucos passos de distância, surpresa com o gesto; quase ninguém fazia isso mais. Mas ele fez. Com naturalidade, como se fosse a única coisa possível a se fazer diante da visão que ela era. — Uau… — disse ele, com um sorriso lento e sincero. — Cedo, na cafeteria, você estava linda. Elana abriu um sorriso tímido, já sentindo o rubor subir pelas bochechas. — Mas agora… — ele continuou, olhando-a dos olhos ao vestido, com admiração evidente — nesse vestido, você está simplesmente incrível. Ela baixou os olhos por um segundo, envergonhada, mas o sorriso se alargou, genuíno, impossível de conter. — Obrigada… você também não está nada mal. Ryan riu suavemente e puxou a cadeira para ela, como se tivesse todo o tempo do mundo só para apreciar aquele momento. Elana sentou-se, ajeitando o sobretudo
Ryan assentiu lentamente, como se compreendesse cada palavra. Ele pegou sua taça de vinho, mas antes de beber, disse: — Então você escolheu se mover. Escolheu recomeçar. Isso exige coragem. Muita. Ela deu uma risada baixa, desviando o olhar para a vela acesa no centro da mesa. — Não sei se foi coragem… acho que foi desespero. Mas agora, depois de tudo, sinto que talvez tenha sido a melhor coisa que me aconteceu. Dói admitir, mas às vezes a queda te coloca no caminho certo. — Ou nas pessoas certas. — Ryan completou, com um sorriso gentil. Elana o olhou, surpresa com a delicadeza da frase, e por um segundo, os dois apenas se encararam, como se o tempo tivesse diminuído a velocidade ao redor deles. — Você tem esse talento, não é? — ela brincou. — De dizer as coisas certas na hora certa. — Eu prefiro pensar que é só sinceridade. — ele disse, dando de ombros. — E talvez um pouco de sorte por estar aqui com você essa noite. O garçom se aproximou com os pratos, interrompendo o moment
— Prometo que não é. — ele disse, levantando as mãos em rendição. — Só pensei… que tal uma caminhada? Nada demais. Só... esticar as pernas, aproveitar a noite, conversar mais um pouco. Ela hesitou por um segundo, mas o convite tinha um quê de simplicidade reconfortante. A noite lá fora estava fria, sim, mas o sobretudo a protegeria — e, no fundo, algo nela queria prolongar aquele momento. — Caminhar. — repetiu, como se testasse a ideia. — Com um advogado desajeitado que odeia gravatas. — Exatamente. — ele confirmou, rindo. — E que promete não te empurrar numa poça ou tropeçar nas próprias pernas. Ela pegou a bolsa, levantando-se. — Nesse caso… vamos. Mas se eu escorregar nos meus saltos, a culpa vai ser sua. — Já estou pronto para assumir total responsabilidade. — ele respondeu, oferecendo o braço para ela. Elana o olhou por um segundo, antes de entrelaçar o braço no dele. Saíram do restaurante como se o mundo tivesse diminuído a velocidade só para eles. A calçada ainda estava
O som estridente de um copo se estilhaçando contra a parede preencheu a sala. O peito de Elana subia e descia rapidamente, o coração martelando no peito como se quisesse escapar da dor que a sufocava. Diante dela, Michael mantinha os braços erguidos, como se pudesse se defender das acusações que caíam sobre ele como uma tempestade. — Você acha que eu sou estúpida, Michael? — A voz dela saiu embargada, mas firme. — Eu vi as mensagens, eu vi as fotos. Não tem mais desculpas, não tem mais mentiras. Michael passou a mão pelos cabelos escuros, o rosto contraído em uma expressão de exasperação. — Elana, não é o que você está pensando... Ela soltou uma risada amarga. — Não? Então me explica, porque pelo que eu vi, você está com outra mulher! Faz tempo, não faz? — Seus olhos ardiam, mas ela se recusava a chorar. Não na frente dele. O silêncio que se seguiu foi a confirmação que ela precisava. Michael desviou o olhar, os ombros caídos em derrota. Ele não tinha nada a dizer. Nenhuma jus
Elana inspirou fundo, tentando recuperar o controle. Ela não podia se permitir desmoronar completamente. Já tinha chorado demais. Passou as mãos pelo rosto, secando as lágrimas, e endireitou os ombros. Precisava sair dali. Precisava ir para um lugar onde ainda houvesse um resquício de segurança, onde não se sentisse tão perdida e sozinha. Ligou o carro e saiu do estacionamento com as mãos firmes no volante, mas seu coração ainda estava em pedaços. A cidade passava por ela em flashes borrados pelas lágrimas remanescentes, e cada semáforo parecia um lembrete cruel de que sua vida estava em pausa, parada no momento exato em que descobriu a traição. Quando finalmente chegou ao prédio de Isabella, estacionou sem se preocupar se estava alinhada corretamente. Saiu do carro, pegou sua mala e atravessou o pequeno jardim que levava à entrada. Seus passos estavam pesados, e o cansaço emocional ameaçava derrubá-la a qualquer momento. Apertou a campainha e esperou, o coração batendo forte contr