— Eu... — sua voz falhou, e ela precisou fechar os olhos por um instante. Quando os abriu, estavam cheios de firmeza. — Não. Eu não quero o seu dinheiro, Gabriel. Nem seu contrato. — Você pode fingir o quanto quiser, Elana. Mas está recusando mais do que dinheiro. Ela se manteve firme. — Prefiro recusar agora a me arrepender depois. Pode sair. Ele demorou um segundo, analisando-a de cima a baixo, como se quisesse decorar a imagem. Então ajeitou o paletó e saiu, sem dizer mais nada. Quando a porta se fechou, Elana respirou fundo e só então percebeu o quanto estava tremendo. [...] — Você só pode ter ficado doida. — Isabella grunhe do outro lado da tela. — TREZENTOS MIL DÓLARES! ELANA! O celular de Elana estava apoiado na garrafa de vinho, com a imagem de Isabella a encarando como se fosse uma louca, enquanto ela segurava o bolo de cartas que escreveu para Gabriel anos atrás com uma mão e na outra uma taça cheia de vinho. — Eu não quero o dinheiro dele, Isa. — Elana rebateu, be
Decidida a sair um pouco de casa para respirar, pegou a bolsa e foi até o mercado da esquina. Não precisava de nada específico, mas andar pelos corredores gelados parecia um bom plano. Elana estava colocando uma garrafa de café no carrinho quando ouviu uma voz exageradamente surpresa atrás dela. — Meu Deus, Elana Kingsley? Ela se virou devagar, já sentindo um arrepio incômodo subir pela espinha. Sophie Miller. Os anos haviam sido generosos com ela. O cabelo loiro continuava sedoso, os olhos azuis mantinham aquele brilho avaliador de sempre, e o sorriso… ah, o sorriso continuava carregado da mesma malícia disfarçada que Elana lembrava muito bem. — Uau! — Sophie exclamou, olhando-a de cima a baixo. — Nunca pensei que fosse te encontrar aqui. Está visitando alguém? Elana respirou fundo, tentando manter a calma. — Na verdade, me mudei para cá. Definitivamente. O sorriso de Sophie vacilou por um segundo antes de se tornar ainda mais doce. — Ah… É mesmo? — Sim. — Interessante. —
Mas agora era diferente. A mulher refletida no vidro escuro da entrada não era a mesma menina que se encolhia nos corredores, evitando olhares e sussurros. Desta vez, ela estava impecável. O vestido preto, justo na medida certa, abraçava suas curvas com elegância. O tecido suave deslizava até seus joelhos, e a fenda lateral revelava um vislumbre ousado de pele. O blazer estruturado em um tom caramelo equilibrava a sensualidade do vestido com um toque de sofisticação. Nos pés, saltos finos a faziam caminhar com firmeza, cada passo um lembrete de que não era mais a garota assustada de antes. Seu cabelo caía em ondas perfeitas sobre os ombros, um brilho sedoso refletindo sob as luzes artificiais do colégio. A maquiagem estava impecável: olhos marcados com um esfumado sutil, lábios pintados de vermelho profundo. Um contraste provocante contra sua pele iluminada. Nada ali era acidental. Ela queria ser vista. Queria ser lembrada. Inspirou fundo e endireitou os ombros antes de dar o prime
Sophie abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida por uma voz animada chamando seu nome do outro lado da quadra. Ela respirou fundo, ajeitou o cabelo e lançou um último olhar para Elana. — Bem, eu vou... Um burburinho começou a se fazer presente por toda a quadra. O barulho inclusive ultrapassava o volume da música que tocava. Elana e Sophie viraram para a mesma direção em que toda a quadra olhavam. — Quem é ele? — Sophie murmura. Gabriel. Ele caminhava pelo espaço com uma postura relaxada, mas havia algo nele que fazia com que todos olhassem. Talvez fosse o terno bem cortado, o cabelo perfeitamente alinhado ou a confiança que parecia emanar dele sem esforço. Os cochichos se espalharam como fogo. — Ele parece famoso… — alguém comentou. — Eu conheço esse rosto de algum lugar… — Meu Deus, ele é aquele empresário? O homem dos negócios milionários? Elana sentiu um arrepio subir pela espinha quando Sophie apertou o braço do namorado, arregalando os olhos. — Espera… — a lo
— Você é um idiota. — Elana resmungou, ajoelhando-se à sua frente com um punhado de lenços de papel nas mãos. — Você já disse isso umas três vezes. — Ele murmurou, fechando os olhos quando ela pressionou o papel contra o ferimento. — E direi quantas vezes for necessário. Por que você não simplesmente foi embora, Gabriel? Por que teve que revidar? Ele abriu os olhos e olhou para ela, sua expressão séria. — Porque eu não sou do tipo que abaixa a cabeça. Elana bufou, balançando a cabeça enquanto continuava limpando o sangue. — E agora está aqui, sangrando. Parabéns. — Você está cuidando de mim, não está? — Ele arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios. Elana sentiu o rosto esquentar, mas revirou os olhos para disfarçar. — Não se acostume. Ela se lembrava daquele momento com uma nitidez absurda. Lembrava-se do calor da pele dele sob seus dedos, do cheiro amadeirado que sempre parecia envolvê-lo. E agora, anos depois, estava ali, no mesmo lugar, com ele a pouc
Gabriel franziu a testa, confuso. — Mas… por quê? Ela passou as mãos pelo rosto úmido, sentindo o peito arder. — Para que minha mãe não nos encontrasse. — Sua voz quebrou, e ela engoliu em seco antes de continuar. — Ela… ela era violenta com meu pai. E quando percebeu que eu começava a ver quem ela realmente era, virou contra mim também. Gabriel ficou em silêncio, os olhos arregalados, absorvendo aquela confissão. — Um dia, ela disse que, se eu ficasse do lado do meu pai, ela acabaria comigo. — Elana fechou os olhos, tremendo ao lembrar. — Meu pai acreditou nela. Ele sempre teve medo do que ela poderia fazer. Então fugimos. Um soluço escapou, e Gabriel deu um passo à frente, hesitante, como se quisesse tocá-la, mas sem saber se deveria. — Elana… — ele murmurou, e ela percebeu que a frieza em sua voz tinha desaparecido. Ela balançou a cabeça, as lágrimas rolando livremente agora. — Eu queria te dizer… queria te explicar, mas não podia. Eu era só uma garota de quinze anos sendo
Ela engoliu em seco, hesitando. Mas então virou-se para ele, a incerteza dando lugar a uma súbita determinação. — Você se lembra? — perguntou, apontando para o pé do carvalho. — A gente enterrou uma coisa ali. Os olhos de Gabriel se arregalaram por um segundo, e então um sorriso surgiu em seu rosto. — Nossa... — Ele passou a mão pelos cabelos, soltando uma risada baixa. — Eu não pensava nisso há anos. Elana já estava se movimentando, caminhando até o local. Gabriel a seguiu sem questionar. — Você acha que ainda está aqui? — ele perguntou, meio cético. Ela lançou um olhar desafiador. — Só tem um jeito de descobrir. Gabriel olhou ao redor e, por sorte, encontrou uma pequena pá de jardinagem esquecida perto de um dos canteiros. — Isso deve ajudar. — Ele pegou a ferramenta e jogou para Elana, que a segurou no reflexo. — Ótimo, já estava imaginando minhas unhas cheias de terra. — Ela sorriu, antes de começar a cavar com mais facilidade. A terra estava úmida e pesada, mas não dem
Um riso ecoa pela multidão. Elana sente o rosto esquentar, o coração disparando no peito. Cada palavra de Sophie a atinge como um golpe. O olhar de Gabriel se estreita, e ele parece prestes a dizer algo, mas antes que qualquer um possa reagir, Elana se vira e sai da quadra. As lágrimas já escorrem pelo seu rosto quando ela empurra as portas duplas e sai, sem olhar para trás. [...] O barulho das teclas do notebook preenchia o silêncio da casa, misturando-se com a respiração acelerada de Elana. Ela havia chegado em casa ainda tremendo, o rosto manchado de lágrimas. Mas, em vez de se afundar na humilhação, pegou seu computador e começou a escrever. As palavras saíam furiosas, urgentes, como se cada letra fosse uma válvula de escape para tudo o que estava preso dentro dela. A protagonista da sua história não fugia. Não se encolhia. Ela se levantava e respondia à altura. Elana olha para o sofá, onde o paletó de Gabriel está jogado, e suspira profundamente. Ela apoiou as costas no