Gabriel franziu a testa, confuso. — Mas… por quê? Ela passou as mãos pelo rosto úmido, sentindo o peito arder. — Para que minha mãe não nos encontrasse. — Sua voz quebrou, e ela engoliu em seco antes de continuar. — Ela… ela era violenta com meu pai. E quando percebeu que eu começava a ver quem ela realmente era, virou contra mim também. Gabriel ficou em silêncio, os olhos arregalados, absorvendo aquela confissão. — Um dia, ela disse que, se eu ficasse do lado do meu pai, ela acabaria comigo. — Elana fechou os olhos, tremendo ao lembrar. — Meu pai acreditou nela. Ele sempre teve medo do que ela poderia fazer. Então fugimos. Um soluço escapou, e Gabriel deu um passo à frente, hesitante, como se quisesse tocá-la, mas sem saber se deveria. — Elana… — ele murmurou, e ela percebeu que a frieza em sua voz tinha desaparecido. Ela balançou a cabeça, as lágrimas rolando livremente agora. — Eu queria te dizer… queria te explicar, mas não podia. Eu era só uma garota de quinze anos sendo
Ela engoliu em seco, hesitando. Mas então virou-se para ele, a incerteza dando lugar a uma súbita determinação. — Você se lembra? — perguntou, apontando para o pé do carvalho. — A gente enterrou uma coisa ali. Os olhos de Gabriel se arregalaram por um segundo, e então um sorriso surgiu em seu rosto. — Nossa... — Ele passou a mão pelos cabelos, soltando uma risada baixa. — Eu não pensava nisso há anos. Elana já estava se movimentando, caminhando até o local. Gabriel a seguiu sem questionar. — Você acha que ainda está aqui? — ele perguntou, meio cético. Ela lançou um olhar desafiador. — Só tem um jeito de descobrir. Gabriel olhou ao redor e, por sorte, encontrou uma pequena pá de jardinagem esquecida perto de um dos canteiros. — Isso deve ajudar. — Ele pegou a ferramenta e jogou para Elana, que a segurou no reflexo. — Ótimo, já estava imaginando minhas unhas cheias de terra. — Ela sorriu, antes de começar a cavar com mais facilidade. A terra estava úmida e pesada, mas não dem
Um riso ecoa pela multidão. Elana sente o rosto esquentar, o coração disparando no peito. Cada palavra de Sophie a atinge como um golpe. O olhar de Gabriel se estreita, e ele parece prestes a dizer algo, mas antes que qualquer um possa reagir, Elana se vira e sai da quadra. As lágrimas já escorrem pelo seu rosto quando ela empurra as portas duplas e sai, sem olhar para trás. [...] O barulho das teclas do notebook preenchia o silêncio da casa, misturando-se com a respiração acelerada de Elana. Ela havia chegado em casa ainda tremendo, o rosto manchado de lágrimas. Mas, em vez de se afundar na humilhação, pegou seu computador e começou a escrever. As palavras saíam furiosas, urgentes, como se cada letra fosse uma válvula de escape para tudo o que estava preso dentro dela. A protagonista da sua história não fugia. Não se encolhia. Ela se levantava e respondia à altura. Elana olha para o sofá, onde o paletó de Gabriel está jogado, e suspira profundamente. Ela apoiou as costas no
Elana abriu a boca para retrucar, mas acabou espirrando alto, fazendo Isabella segurar o riso do outro lado da tela. — Ok, doente emocional e fisicamente. — Isabella zombou. — Sério, amiga, você precisa colocar esse homem para fora da sua cabeça. Elana se aninhou ainda mais no cobertor, sua mente girando. Como se fosse tão fácil. — Bem, eu não pretendo ir em mais nenhuma reunião ridícula de escola, e recusei o contrato da editora dele. — Elana murmura. — Não há mais nenhum motivo para que eu e Gabriel nos encontremos. A campainha rouca ecoou pela casa, interrompendo a conversa. — Acho que tenho visita. — Elana murmurou, puxando o cobertor mais para cima. Do outro lado da tela, Isabella arqueou uma sobrancelha e abriu um sorriso travesso. — Já pensou se é ele? Elana revirou os olhos, soltando uma risada fraca que rapidamente se transformou em um ataque de tosse. — Até parece. — Respondeu, desligando a chamada antes que a amiga pudesse provocá-la mais. Ela deslizou para fora d
Antes que pudesse terminar a frase, um ataque de tosse a atingiu com força, fazendo-a se inclinar para frente, sufocada. Gabriel se aproximou dela rapidamente e a segurou, colocando a mão em sua testa. — Você está queimando em febre. — ele informa. Sem forças para afastá-lo, Elana apenas balançou a cabeça, exausta. Gabriel a guiou com cuidado até o sofá, ajudando-a a se deitar. Seu toque era firme, mas gentil, e por mais que quisesse protestar, ela simplesmente não tinha energia para isso. Ele ajeitou uma almofada atrás da cabeça dela e então se levantou. — Onde você guarda os cobertores? Elana fechou os olhos por um instante, sentindo a febre nublar seus pensamentos. — Você conhece o caminho do meu quarto. — murmurou, rouca. Gabriel hesitou por um segundo, como se estivesse ponderando algo, mas logo seguiu escada acima, sem dizer nada. Quando Gabriel entrou no quarto de Elana, foi como se tivesse voltado no tempo. Tudo estava praticamente igual. As paredes ainda eram cobert
Ela piscou, surpresa. — Espera… o quê? Gabriel cruzou os braços, inclinando-se um pouco para frente. — A editora. Buzzy. Eu sou o fundador. Elana abriu a boca para responder, mas nada saiu. Seu cérebro febril tentava processar aquela informação. — Você… você é o dono da editora que queria publicar meu livro? — Ainda quero. Ela piscou, sentindo a confusão se misturar com a febre. — Mas… por quê? Gabriel soltou um suspiro e apoiou os cotovelos nos joelhos, observando-a com intensidade. — Porque você é uma escritora incrível, Elana. Porque eu li cada palavra e vi você em cada linha. E porque eu sempre acreditei em você, mesmo quando você não acreditava em si mesma. O coração dela bateu mais forte, e não tinha nada a ver com a febre. — Pelo que me lembro, seu sonho era ser médico. — Era. — ele dá de ombros. — Mas eu descobri que não posso lidar com sangue. Então eu me afundei em empréstimos, aluguei um andar naquele prédio chique e comecei. Deu certo. Elana o encarou por um
Gabriel passou a mão pelo rosto, soltando um longo suspiro. Deveria ir embora. Já tinha feito sua parte, garantido que ela estava bem. Mas algo o mantinha ali, imóvel, como se qualquer movimento pudesse quebrar o frágil momento de paz que se instalara entre eles. Apoiando os cotovelos nos joelhos, ele desviou o olhar para a janela. A chuva fina batia no vidro, e o cheiro de terra molhada invadia o ambiente. Era estranho como estar ali, naquela sala, ao lado dela, fazia tudo parecer menos complicado. Se fechasse os olhos, poderia fingir, ainda que por um instante, que nada tinha mudado. Que eles ainda eram Gabriel e Elana, dois amigos inseparáveis. Mas a aliança fria em seu dedo era um lembrete cruel de que ele não era mais um menino. Ele passou a língua pelos lábios, inquieto, e olhou para Elana novamente. O peito subiu e desceu em um ritmo tranquilo, a febre parecia estar cedendo. Pelo menos isso. Gabriel soltou um suspiro pesado, forçando-se a levantar. Era hora de ir. [...]
Quando os primeiros raios de sol bateram na janela de Elana, ela ainda estava digitando. Os olhos ardiam, os dedos estavam cansados, mas a mente… a mente estava acesa como não ficava havia muito tempo. Ela parou por um instante, leu os últimos parágrafos e sorriu. Um sorriso pequeno, mas cheio de algo que há muito não sentia: orgulho. Imprimiu os primeiros capítulos, com o coração acelerado a cada folha que saía da impressora. Papel após papel, sua história tomava forma. Sua verdade ganhava espaço. Sem perder tempo, foi para o chuveiro. A água quente levou embora o resto da febre, o peso da indecisão e os fantasmas da noite anterior. Em frente ao espelho, maquiou-se com leveza, como se pintasse uma nova versão de si mesma. Escolheu sua melhor roupa — aquela que a fazia sentir poderosa — e calçou os sapatos com um brilho nos olhos. Elana conferiu os papéis mais uma vez, prendendo os primeiros capítulos impressos com um clipe dourado. Guardou tudo na pasta que costumava usar quando