Elana pisca algumas vezes, a cabeça virando com tanta informação.
— Sim... eu... eu morava em Detroit, mas agora estou em Nova Iorque..., mas, espera. Editora Buzzy? Seu chefe?
— Sim, senhora Kingsley. — a voz de Alice soava profissional, mas com um entusiasmo contido. — A Editora Buzzy tem interesse em autores com um apelo emocional forte e uma base de leitores engajados. Seu vídeo chamou a atenção do nosso diretor editorial, e ele pediu para entrarmos em contato o mais rápido possível.
Elana piscou, tentando absorver aquelas palavras. Seu coração parecia querer escapar do peito.
— Vocês querem... falar comigo? Sobre um livro?
— Exatamente. Seu vídeo demonstra uma narrativa intensa e autêntica, algo que buscamos. Meu chefe gostaria de agendar uma reunião para discutir possibilidades. Se a senhora estiver disponível, podemos organizar um encontro ainda hoje.
Elana engoliu em seco. Ainda estava processando a ideia de que, de um dia para o outro, havia ganhado dezenas de milhares de seguidores. Agora, uma editora queria falar com ela?
— Eu... — sua voz falhou, e ela limpou a garganta. — Sim, claro.
— Perfeito! Enviarei os detalhes para o e-mail que está nas suas redes sociais. Estamos animados para conversar.
Elana murmurou um "obrigada" antes de a ligação se encerrar. Ficou parada, segurando o celular, sem saber se ria ou chorava.
Em menos de vinte e quatro horas, sua vida havia virado de cabeça para baixo.
Antes de pensar em ligar para Isabella e contar as novidades, o e-mail de Alice chegou. Ela tinha que estar no centro da cidade em uma hora. Em segundos Elana jogou algumas almofadas para o alto e subiu as escadas. Ela jogou suas malas em cima da cama e começou a procurar uma roupa.
Revirando as malas, Elana soltou um gemido frustrado ao perceber que as roupas estavam amassadas. Antes de pensar em se arrumar, decidiu que precisava de um banho. Correu até o banheiro, ligou o chuveiro e deixou a água quente cair sobre seu corpo, tentando lavar não só a ressaca, mas também a avalanche de emoções que a atingira nos últimos minutos.
Enquanto a água escorria, ela fechou os olhos e inspirou fundo, como se tentasse recuperar o controle de si mesma. É só uma reunião... com uma editora importante... nada demais, tentou se convencer, mesmo sabendo que era, sim, muito mais do que isso.
Ao sair do banho, ainda com os cabelos pingando, vestiu um roupão e voltou para o quarto, onde começou a vasculhar as malas. Escolheu um vestido preto simples, um de seus favoritos por sempre a fazer parecer mais segura do que realmente se sentia, e uma jaqueta jeans para disfarçar o ar de improviso. Enquanto se olhava no espelho, percebeu os olhos inchados e a expressão cansada, então tratou de fazer uma maquiagem rápida, só para não parecer tão abatida.
Depois de secar o cabelo, ela o prendeu em um coque apressado, mas elegante. Pegando a bolsa, saiu de casa às pressas, sentindo a adrenalina correr pelo corpo. As ruas da vizinhança, antes cinzentas e sufocantes, pareciam agora o cenário de uma nova chance. Uma chance que ela jamais imaginou que teria.
E ao entrar no metrô lotado em direção ao centro da cidade, Elana segurou firme em sua bolsa, repetindo para si mesma: você consegue.
Quarenta minutos depois, Elana desceu do metrô. Seguindo o GPS do celular, ela caminhou pelas ruas lotadas, até chegar em frente ao enorme prédio da Editora Buzzy.
O prédio era imponente, com grandes janelas de vidro espelhado e o nome da editora gravado em letras douradas logo acima da entrada. Por um instante, Elana sentiu as pernas vacilarem. Não parecia real. Tudo aquilo era grande demais, diferente demais do mundinho limitado ao qual ela se acostumou nos últimos anos.
Respirou fundo e atravessou as portas de vidro, sendo recebida por um saguão movimentado, repleto de pessoas apressadas, empilhando papéis, falando ao telefone ou equilibrando copos de café. Elana se sentiu minúscula, mas ao mesmo tempo, determinada a não recuar.
Aproximou-se da recepção, e com a voz ainda hesitante, disse:
— Eu... tenho uma reunião. Com Alice Montclair.
A recepcionista, sem sequer erguer os olhos do monitor, apontou para o elevador.
— Décimo quinto andar.
Elana assentiu, apertando a bolsa contra o peito, e seguiu até o elevador. Enquanto subia, seu reflexo no espelho de fundo mostrava não só sua imagem, mas toda a ansiedade que carregava. A cada andar que passava, parecia que o peso aumentava. E se tudo isso fosse um engano? E se não fosse nada?
O elevador se abriu, interrompendo seus pensamentos. O andar era moderno, decorado com livros e quadros de capas de best-sellers. O logo da Buzzy estampado na parede parecia sorrir para ela de forma quase irônica. — Elana Lewis? — chamou uma voz feminina e em seguida deu um pigarro. — Kingsley. Elana virou-se e encontrou uma mulher de cabelo curto e loiro platinado, bem-vestida e com um sorriso profissional. — Sou Alice Montclair. — a mulher estendeu a mão. — Seja bem-vinda à Buzzy. — Elana apertou a mão de Alice rapidamente e em seguida a secou na própria roupa. — Meu chefe a está esperando. Venha comigo, por favor. Elana seguiu a mulher, sentindo o coração bater tão forte que parecia ecoar pelo corredor. Seus passos soavam amortecidos sob o tapete elegante, e tudo ao redor parecia irreal. Como poderia sua vida ter mudado tanto da noite para o dia? Alice parou diante de uma porta de madeira escura, bateu de leve e girou a maçaneta. — Elana Kingsley já chegou. Elana respirou f
Ela mordeu o lábio, contendo as lágrimas que insistiam em se formar. Sabia que não podia desmoronar ali. Não na frente dele. Gabriel respirou fundo, endireitando-se na cadeira. Pegou uma pasta preta sobre a mesa e a empurrou lentamente na direção de Elana. — O contrato. — disse ele, sem emoção. — Já está pré-aprovado pela Buzzy, mas tem uma cláusula adicional que eu exigi. Elana arqueou as sobrancelhas, desconfiada. — Cláusula adicional? — repetiu, sem conseguir esconder o nervosismo. Eles sequer conversaram e já há um contrato. — Sim. — Gabriel cruzou os braços. — Eu quero total supervisão editorial. Toda e qualquer linha, cena ou capítulo vai passar por mim antes de ser aprovado. Inclusive as temáticas e o tom geral dos livros. Elana piscou, sem acreditar no que ouvia. — Isso não é normal... você quer censurar minha história? — Quero garantir que o material atenda aos interesses da editora. — disse ele, frio. — E, honestamente, evitar que certas... emoções pessoais — ele lan
Seguiu até a pequena mesa no canto da sala, abriu seu notebook antigo e, com dedos ainda trêmulos, criou um novo documento. Respirou fundo, e então digitou: “CAPÍTULO UM” Por um instante, ficou olhando para aquelas duas palavras. Era simples, mas era um começo. E, dessa vez, seria por ela, não por Gabriel ou pela Buzzy. Seria pela menina que, anos atrás, sonhava em escrever as próprias histórias. Pegou o celular e, sem pensar demais, tirou uma foto da tela. Em segundos, postou no Instagram com uma legenda simples, mas que carregava tudo o que sentia: "Novidades a caminho." O celular vibrou novamente. Curtidas instantâneas. Um sorriso, pequeno e tímido, surgiu em seu rosto. Mas, antes que pudesse se deixar levar pela animação, três batidas firmes na porta interromperam o momento. O som seco na velha madeira fez Elana saltar da cadeira, o coração disparando. Ainda admirando, quase hipnotizada, os números que cresciam em sua rede social, ela caminhou hesitante até a porta. Sua men
— Eu... — sua voz falhou, e ela precisou fechar os olhos por um instante. Quando os abriu, estavam cheios de firmeza. — Não. Eu não quero o seu dinheiro, Gabriel. Nem seu contrato. — Você pode fingir o quanto quiser, Elana. Mas está recusando mais do que dinheiro. Ela se manteve firme. — Prefiro recusar agora a me arrepender depois. Pode sair. Ele demorou um segundo, analisando-a de cima a baixo, como se quisesse decorar a imagem. Então ajeitou o paletó e saiu, sem dizer mais nada. Quando a porta se fechou, Elana respirou fundo e só então percebeu o quanto estava tremendo. [...] — Você só pode ter ficado doida. — Isabella grunhe do outro lado da tela. — TREZENTOS MIL DÓLARES! ELANA! O celular de Elana estava apoiado na garrafa de vinho, com a imagem de Isabella a encarando como se fosse uma louca, enquanto ela segurava o bolo de cartas que escreveu para Gabriel anos atrás com uma mão e na outra uma taça cheia de vinho. — Eu não quero o dinheiro dele, Isa. — Elana rebateu, be
Decidida a sair um pouco de casa para respirar, pegou a bolsa e foi até o mercado da esquina. Não precisava de nada específico, mas andar pelos corredores gelados parecia um bom plano. Elana estava colocando uma garrafa de café no carrinho quando ouviu uma voz exageradamente surpresa atrás dela. — Meu Deus, Elana Kingsley? Ela se virou devagar, já sentindo um arrepio incômodo subir pela espinha. Sophie Miller. Os anos haviam sido generosos com ela. O cabelo loiro continuava sedoso, os olhos azuis mantinham aquele brilho avaliador de sempre, e o sorriso… ah, o sorriso continuava carregado da mesma malícia disfarçada que Elana lembrava muito bem. — Uau! — Sophie exclamou, olhando-a de cima a baixo. — Nunca pensei que fosse te encontrar aqui. Está visitando alguém? Elana respirou fundo, tentando manter a calma. — Na verdade, me mudei para cá. Definitivamente. O sorriso de Sophie vacilou por um segundo antes de se tornar ainda mais doce. — Ah… É mesmo? — Sim. — Interessante. —
Mas agora era diferente. A mulher refletida no vidro escuro da entrada não era a mesma menina que se encolhia nos corredores, evitando olhares e sussurros. Desta vez, ela estava impecável. O vestido preto, justo na medida certa, abraçava suas curvas com elegância. O tecido suave deslizava até seus joelhos, e a fenda lateral revelava um vislumbre ousado de pele. O blazer estruturado em um tom caramelo equilibrava a sensualidade do vestido com um toque de sofisticação. Nos pés, saltos finos a faziam caminhar com firmeza, cada passo um lembrete de que não era mais a garota assustada de antes. Seu cabelo caía em ondas perfeitas sobre os ombros, um brilho sedoso refletindo sob as luzes artificiais do colégio. A maquiagem estava impecável: olhos marcados com um esfumado sutil, lábios pintados de vermelho profundo. Um contraste provocante contra sua pele iluminada. Nada ali era acidental. Ela queria ser vista. Queria ser lembrada. Inspirou fundo e endireitou os ombros antes de dar o prime
Sophie abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida por uma voz animada chamando seu nome do outro lado da quadra. Ela respirou fundo, ajeitou o cabelo e lançou um último olhar para Elana. — Bem, eu vou... Um burburinho começou a se fazer presente por toda a quadra. O barulho inclusive ultrapassava o volume da música que tocava. Elana e Sophie viraram para a mesma direção em que toda a quadra olhavam. — Quem é ele? — Sophie murmura. Gabriel. Ele caminhava pelo espaço com uma postura relaxada, mas havia algo nele que fazia com que todos olhassem. Talvez fosse o terno bem cortado, o cabelo perfeitamente alinhado ou a confiança que parecia emanar dele sem esforço. Os cochichos se espalharam como fogo. — Ele parece famoso… — alguém comentou. — Eu conheço esse rosto de algum lugar… — Meu Deus, ele é aquele empresário? O homem dos negócios milionários? Elana sentiu um arrepio subir pela espinha quando Sophie apertou o braço do namorado, arregalando os olhos. — Espera… — a lo
— Você é um idiota. — Elana resmungou, ajoelhando-se à sua frente com um punhado de lenços de papel nas mãos. — Você já disse isso umas três vezes. — Ele murmurou, fechando os olhos quando ela pressionou o papel contra o ferimento. — E direi quantas vezes for necessário. Por que você não simplesmente foi embora, Gabriel? Por que teve que revidar? Ele abriu os olhos e olhou para ela, sua expressão séria. — Porque eu não sou do tipo que abaixa a cabeça. Elana bufou, balançando a cabeça enquanto continuava limpando o sangue. — E agora está aqui, sangrando. Parabéns. — Você está cuidando de mim, não está? — Ele arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios. Elana sentiu o rosto esquentar, mas revirou os olhos para disfarçar. — Não se acostume. Ela se lembrava daquele momento com uma nitidez absurda. Lembrava-se do calor da pele dele sob seus dedos, do cheiro amadeirado que sempre parecia envolvê-lo. E agora, anos depois, estava ali, no mesmo lugar, com ele a pouc