O elevador se abriu, interrompendo seus pensamentos. O andar era moderno, decorado com livros e quadros de capas de best-sellers. O logo da Buzzy estampado na parede parecia sorrir para ela de forma quase irônica.
— Elana Lewis? — chamou uma voz feminina e em seguida deu um pigarro. — Kingsley.
Elana virou-se e encontrou uma mulher de cabelo curto e loiro platinado, bem-vestida e com um sorriso profissional.
— Sou Alice Montclair. — a mulher estendeu a mão. — Seja bem-vinda à Buzzy. — Elana apertou a mão de Alice rapidamente e em seguida a secou na própria roupa. — Meu chefe a está esperando. Venha comigo, por favor.
Elana seguiu a mulher, sentindo o coração bater tão forte que parecia ecoar pelo corredor. Seus passos soavam amortecidos sob o tapete elegante, e tudo ao redor parecia irreal. Como poderia sua vida ter mudado tanto da noite para o dia?
Alice parou diante de uma porta de madeira escura, bateu de leve e girou a maçaneta.
— Elana Kingsley já chegou.
Elana respirou fundo e entrou. E então, o mundo pareceu parar.
Atrás da grande mesa de madeira, de pé, ajeitando as mangas do blazer, estava alguém que ela imaginava nunca mais ver.
— Gabriel...
Gabriel não era mais o garoto magricela de quem Elana se lembrava. Antes, ele mal passava dos ombros dela, tinha o cabelo ralo e um resquício de bigode malfeito que sempre o deixava envergonhado nas fotos. Agora, diante de seus olhos, estava um homem completamente diferente.
Ele era alto, tão alto que Elana precisou levantar o queixo para encará-lo direito. Os ombros largos e o porte forte pareciam prestes a rasgar o terno perfeitamente ajustado ao corpo. Os braços, definidos e marcados, denunciavam anos de academia ou alguma rotina que exigisse muito mais do que as aventuras inocentes de quando eram adolescentes.
A barba, antes inexistente, agora era cheia e bem aparada, encaixando-se perfeitamente no rosto de traços marcantes. E o cabelo, que quando criança caía liso e sem graça sobre a testa, estava preso num corte moderno, puxado para trás e amarrado em um pequeno coque samurai.
Gabriel parecia ter saído diretamente das páginas dos romances que Elana escrevia. Só que ele era real. E estava bem ali na sua frente.
— Pode sair, Alice. — a voz dele soou grave, rouca e autoritária. Bem diferente da que Elana se lembrava. Ela sentiu um arrepio subir pela espinha.
Alice assentiu, lançando um último olhar curioso para Elana antes de sair e fechar a porta.
O silêncio que se instalou foi sufocante.
Gabriel cruzou os braços, encostando-se à borda da mesa de madeira escura, sem desviar os olhos dela.
— Então... — ele começou, arqueando uma sobrancelha. — Depois de todos esses anos, é assim que a gente se reencontra? Viralizando no I*******m?
Elana mordeu o lábio inferior, sentindo o peso das palavras. O silêncio entre eles era quase sufocante. Gabriel recostou-se na cadeira, os olhos varrendo Elana de cima a baixo, como se a estudasse. Mas não havia ternura ali; só distância.
— Então... — ele começou, ajeitando distraidamente as abotoaduras da camisa — Depois de quinze anos, aqui estamos. Tão repentino quanto a sua ida.
Elana apertou a bolsa contra o corpo, buscando ar. O tom cortante de Gabriel a atingiu como uma lâmina.
— Eu não escolhi ir daquele jeito. — ela murmurou, a voz vacilante. — Meu pai me tirou daqui de uma hora para outra, eu não tive escolha.
Gabriel soltou uma risada breve, sem humor, balançando a cabeça.
— E nos quinze anos seguintes? Ainda era culpa do seu pai? Ou, quem sabe, dos correios, da internet, das linhas telefônicas?
Ela sentiu o rosto arder.
— Eu...
Elana tinha tanto o que dizer. Tanto para explicar.
— Olha, — ele levantou as mãos, como se não se importasse — não estou aqui para discutir o passado. Não importa mais. A vida seguiu.
O jeito como ele falava, a frieza na voz, era como se cada palavra tivesse sido ensaiada ao longo dos anos. Como se ele tivesse aprendido a não sentir.
— Só estou aqui porque o vídeo viralizou e chamou a atenção da editora. — Gabriel se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Eles trouxeram para mim e... você tem talento. Isso sempre foi óbvio. Mas tudo isso aqui, serão apenas negócios. Nada mais.
Ela mordeu o lábio, contendo as lágrimas que insistiam em se formar. Sabia que não podia desmoronar ali. Não na frente dele. Gabriel respirou fundo, endireitando-se na cadeira. Pegou uma pasta preta sobre a mesa e a empurrou lentamente na direção de Elana. — O contrato. — disse ele, sem emoção. — Já está pré-aprovado pela Buzzy, mas tem uma cláusula adicional que eu exigi. Elana arqueou as sobrancelhas, desconfiada. — Cláusula adicional? — repetiu, sem conseguir esconder o nervosismo. Eles sequer conversaram e já há um contrato. — Sim. — Gabriel cruzou os braços. — Eu quero total supervisão editorial. Toda e qualquer linha, cena ou capítulo vai passar por mim antes de ser aprovado. Inclusive as temáticas e o tom geral dos livros. Elana piscou, sem acreditar no que ouvia. — Isso não é normal... você quer censurar minha história? — Quero garantir que o material atenda aos interesses da editora. — disse ele, frio. — E, honestamente, evitar que certas... emoções pessoais — ele lan
Seguiu até a pequena mesa no canto da sala, abriu seu notebook antigo e, com dedos ainda trêmulos, criou um novo documento. Respirou fundo, e então digitou: “CAPÍTULO UM” Por um instante, ficou olhando para aquelas duas palavras. Era simples, mas era um começo. E, dessa vez, seria por ela, não por Gabriel ou pela Buzzy. Seria pela menina que, anos atrás, sonhava em escrever as próprias histórias. Pegou o celular e, sem pensar demais, tirou uma foto da tela. Em segundos, postou no Instagram com uma legenda simples, mas que carregava tudo o que sentia: "Novidades a caminho." O celular vibrou novamente. Curtidas instantâneas. Um sorriso, pequeno e tímido, surgiu em seu rosto. Mas, antes que pudesse se deixar levar pela animação, três batidas firmes na porta interromperam o momento. O som seco na velha madeira fez Elana saltar da cadeira, o coração disparando. Ainda admirando, quase hipnotizada, os números que cresciam em sua rede social, ela caminhou hesitante até a porta. Sua men
— Eu... — sua voz falhou, e ela precisou fechar os olhos por um instante. Quando os abriu, estavam cheios de firmeza. — Não. Eu não quero o seu dinheiro, Gabriel. Nem seu contrato. — Você pode fingir o quanto quiser, Elana. Mas está recusando mais do que dinheiro. Ela se manteve firme. — Prefiro recusar agora a me arrepender depois. Pode sair. Ele demorou um segundo, analisando-a de cima a baixo, como se quisesse decorar a imagem. Então ajeitou o paletó e saiu, sem dizer mais nada. Quando a porta se fechou, Elana respirou fundo e só então percebeu o quanto estava tremendo. [...] — Você só pode ter ficado doida. — Isabella grunhe do outro lado da tela. — TREZENTOS MIL DÓLARES! ELANA! O celular de Elana estava apoiado na garrafa de vinho, com a imagem de Isabella a encarando como se fosse uma louca, enquanto ela segurava o bolo de cartas que escreveu para Gabriel anos atrás com uma mão e na outra uma taça cheia de vinho. — Eu não quero o dinheiro dele, Isa. — Elana rebateu, be
Decidida a sair um pouco de casa para respirar, pegou a bolsa e foi até o mercado da esquina. Não precisava de nada específico, mas andar pelos corredores gelados parecia um bom plano. Elana estava colocando uma garrafa de café no carrinho quando ouviu uma voz exageradamente surpresa atrás dela. — Meu Deus, Elana Kingsley? Ela se virou devagar, já sentindo um arrepio incômodo subir pela espinha. Sophie Miller. Os anos haviam sido generosos com ela. O cabelo loiro continuava sedoso, os olhos azuis mantinham aquele brilho avaliador de sempre, e o sorriso… ah, o sorriso continuava carregado da mesma malícia disfarçada que Elana lembrava muito bem. — Uau! — Sophie exclamou, olhando-a de cima a baixo. — Nunca pensei que fosse te encontrar aqui. Está visitando alguém? Elana respirou fundo, tentando manter a calma. — Na verdade, me mudei para cá. Definitivamente. O sorriso de Sophie vacilou por um segundo antes de se tornar ainda mais doce. — Ah… É mesmo? — Sim. — Interessante. —
Mas agora era diferente. A mulher refletida no vidro escuro da entrada não era a mesma menina que se encolhia nos corredores, evitando olhares e sussurros. Desta vez, ela estava impecável. O vestido preto, justo na medida certa, abraçava suas curvas com elegância. O tecido suave deslizava até seus joelhos, e a fenda lateral revelava um vislumbre ousado de pele. O blazer estruturado em um tom caramelo equilibrava a sensualidade do vestido com um toque de sofisticação. Nos pés, saltos finos a faziam caminhar com firmeza, cada passo um lembrete de que não era mais a garota assustada de antes. Seu cabelo caía em ondas perfeitas sobre os ombros, um brilho sedoso refletindo sob as luzes artificiais do colégio. A maquiagem estava impecável: olhos marcados com um esfumado sutil, lábios pintados de vermelho profundo. Um contraste provocante contra sua pele iluminada. Nada ali era acidental. Ela queria ser vista. Queria ser lembrada. Inspirou fundo e endireitou os ombros antes de dar o prime
Sophie abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida por uma voz animada chamando seu nome do outro lado da quadra. Ela respirou fundo, ajeitou o cabelo e lançou um último olhar para Elana. — Bem, eu vou... Um burburinho começou a se fazer presente por toda a quadra. O barulho inclusive ultrapassava o volume da música que tocava. Elana e Sophie viraram para a mesma direção em que toda a quadra olhavam. — Quem é ele? — Sophie murmura. Gabriel. Ele caminhava pelo espaço com uma postura relaxada, mas havia algo nele que fazia com que todos olhassem. Talvez fosse o terno bem cortado, o cabelo perfeitamente alinhado ou a confiança que parecia emanar dele sem esforço. Os cochichos se espalharam como fogo. — Ele parece famoso… — alguém comentou. — Eu conheço esse rosto de algum lugar… — Meu Deus, ele é aquele empresário? O homem dos negócios milionários? Elana sentiu um arrepio subir pela espinha quando Sophie apertou o braço do namorado, arregalando os olhos. — Espera… — a lo
— Você é um idiota. — Elana resmungou, ajoelhando-se à sua frente com um punhado de lenços de papel nas mãos. — Você já disse isso umas três vezes. — Ele murmurou, fechando os olhos quando ela pressionou o papel contra o ferimento. — E direi quantas vezes for necessário. Por que você não simplesmente foi embora, Gabriel? Por que teve que revidar? Ele abriu os olhos e olhou para ela, sua expressão séria. — Porque eu não sou do tipo que abaixa a cabeça. Elana bufou, balançando a cabeça enquanto continuava limpando o sangue. — E agora está aqui, sangrando. Parabéns. — Você está cuidando de mim, não está? — Ele arqueou uma sobrancelha, um sorriso brincando em seus lábios. Elana sentiu o rosto esquentar, mas revirou os olhos para disfarçar. — Não se acostume. Ela se lembrava daquele momento com uma nitidez absurda. Lembrava-se do calor da pele dele sob seus dedos, do cheiro amadeirado que sempre parecia envolvê-lo. E agora, anos depois, estava ali, no mesmo lugar, com ele a pouc
Gabriel franziu a testa, confuso. — Mas… por quê? Ela passou as mãos pelo rosto úmido, sentindo o peito arder. — Para que minha mãe não nos encontrasse. — Sua voz quebrou, e ela engoliu em seco antes de continuar. — Ela… ela era violenta com meu pai. E quando percebeu que eu começava a ver quem ela realmente era, virou contra mim também. Gabriel ficou em silêncio, os olhos arregalados, absorvendo aquela confissão. — Um dia, ela disse que, se eu ficasse do lado do meu pai, ela acabaria comigo. — Elana fechou os olhos, tremendo ao lembrar. — Meu pai acreditou nela. Ele sempre teve medo do que ela poderia fazer. Então fugimos. Um soluço escapou, e Gabriel deu um passo à frente, hesitante, como se quisesse tocá-la, mas sem saber se deveria. — Elana… — ele murmurou, e ela percebeu que a frieza em sua voz tinha desaparecido. Ela balançou a cabeça, as lágrimas rolando livremente agora. — Eu queria te dizer… queria te explicar, mas não podia. Eu era só uma garota de quinze anos sendo